Um mosquito transmissor da malária, em algum momento não exibido, pica o soldado Zacarias (João Nunes Monteiro). E este fato muda toda a sua história. Alistado voluntariamente para a primeira guerra mundial, o jovem português de apenas 17 anos tem um discurso inflamado e patriota ao desembarcar em Moçambique para combater tropas alemãs. No entanto, tendo contraído a doença, é deixado para trás por seu batalhão no acampamento, junto com os “os estropiados, os maluquinhos, os inúteis”.
Ainda com a lavagem imperialista em seu cérebro adolescente, o protagonista parte em jornada atrás de seus companheiros, correndo o risco de encontrar adversários, feras selvagens e enfrentando inimigos ainda mais terríveis como a inanição e o isolamento logo que se perde no continente que seu povo teoricamente “domina”.
A cada obstáculo encontrado, Zacarias parece ter mais garra para seguir. Não por uma coragem invicta, mas pelo medo de constatar que foi enganado, que suas escolhas e desejos eram infantis, que se voluntariar foi um erro. Zacarias quer servir a seu país e ser um herói. E a cada provação que passa fica mais difícil de se resignar e mudar de ideia, pois isso significaria que sua jornada, sacrifícios e traumas foram em vão. Lutar na guerra justificaria toda a violência que ele sofreu e cometeu. Mas sempre esta lhe escapa pelos dedos.
Título original e ano: Moquito, 2020. Direção: João Nuno Pinto. Roteiro: João Nuno Pinto, Fernanda Polacow, Gonçalo Waddington. Elenco: João Nunes Monteiro, João Lagarto, Filipe Duarte, Alfredo Brito, Miguel Moreira, Miguel Borges, Cesário Monteiro, João Vicente, Manuel João Vieira, Nuno Preto. Gênero: Drama, Guerra. Nacionalidade: Brasil, Portugal. Trilha Sonora Original: Justin Mellad. Fotografia: Adolpho Veloso. Edição: Gustavo Giani. Direção de arte: Nuno Mello. Figurino: Lucha d'Orey. Produzido por: Paulo Branco, Ana Pinhão Moura, Mario Peixoto e Enrico Saraiva. Duração: 2h5min.
O mais interessante no filme é experienciar uma visão ibérica da 1ª GM. Depois de décadas do gênero de filmes de guerra sendo pautado majoritariamente pelo ponto de vista estadunidense - mesmo que cheio de mea culpa - é no mínimo interessante assistir a uma perspectiva diferente; uma perspectiva mais próxima para nós brasileiros; uma perspectiva de quem costumava ser colonizador e em tempos de colonização cultural tem que se contentar com as beiradas.
João Nuno Pinto compõe magistralmente esse olhar que alterna entre a dominância e a não-dominância. Contrariando o que diz um dos sargentos portugueses, o diretor expõe que eles estão longe de serem leões naquela terra desconhecida. E o trecho em que Zacarias acaba capturado e escravizado por uma aldeia matriarcal é imageticamente poderoso por representar senão uma reparação histórica, uma reparação visual. Nossos olhos acostumados a ver corpos pretos serem açoitados diante das câmeras, presenciam um rapaz branco ocupar esse papel. Outro prisma relevante abordado pelo diretor é a compreensão de que terrenos de guerra eram (são) uma verdadeira Babel. Aqui, vemos os europeus debaterem-se com o português, o alemão e línguas diversas de povos africanos.
Terras desconhecidas, línguas desconhecidas, destino incerto e horrores inimagináveis. O filme mergulha na subjetividade de Zacarias com seus monólogos que tentam lembrá-lo da própria identidade, uma câmera íntima do personagem e uma trilha eletrônica que mescla-se ao som dos insetos compondo seu pesadelo.
O filme faz parte da Competição ''Novos Diretores''.
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Exibições DRIVE INBELAS ARTES DRIVE-IN |Memorial da América Latina – Entrada pela Rua Tagipuru s/no. – Portão 2. Valores de Ingresso: R$60,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 100 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação. Valores de Ingresso: R$65,00 para carro com até 4 pessoas
CINESESC DRIVE-IN | Sesc Parque Dom Pedro II Unidade Sesc Parque Dom Pedro II – Praça São Vito s/n | Centro Valores de Ingresso: R$40,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 30 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação.
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