Ser diferente do padrão quase sempre é motivo de desrespeito ou até abre espaço para que as pessoas sejam preconceituosas quando não deveriam o ser. E pode talvez ser relativo, mas o comportamento social das pessoas na cidade grande, muitas vezes, tem menos poder julgador que o mesmo comportamento mostrado no interior. Afinal, nas megalópoles o diferente é, no geral, tido como comum pelas inúmeras opções de estilo de vida que pode se levar ali.
Maria Araújo Lima ou melhor ''Pacarrete'' é um exemplo claro desta fala. Professora de Balé, dançarina e artista, a mulher viveu em Russas (CE), entre 1912 e 2005, e era chamada de 'maluca' por viver de uma certa forma fora do padrão em uma sociedade interiorana. Bailarina, de opinião e independente, Pacarrete, como gostava de ser chamada e que em francês significa 'Magarida', não teve o reconhecimento devido em vida, mas é agora lembrada na telona em longa que já chega premiadíssimo de festivais e aclamadíssimo pelo público.
A produção tem direção de Allan Deberton, conterrâneo de Pacarrete, distribuição da Vitrine Filmes e no elenco estão Maria Cartaxo, João Miguel, Zezita Matos, Soia Lira, Samya de Lavor Débora Ingrid, Edneia tutti Quinto e Rodger Rogério. Foi exibida no Festival do Rio em 2019, na Mostra Sp, também de 2019, como em muitos outros Festivais nacionais e internacionais, e saiu ganhador de 8 kikitos no Festival de Gramado ano passado. Incluindo, Melhor Filme, Melhor Filme pelo Jurí Popular, Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor Atriz (Marcelia Cartaxo), Melhor Atriz Coadjuvante (Soia Lira), Melhor Ator Coadjuvante (João Miguel) e Melhor Desenho Sonoro.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Pacarrete, 2019. Direção: Allan Deberton. Roteiro: Allan Deberton, André Araújo, Samuel Brasileiro e Natália Maia. Elenco: Marcélia Cartaxo , Zezita Matos, Soia Lira, João Miguel, Samya de Lavor, Débora Ingrid, Edneia Tutti Quinto e Rodger Rogério. Gênero: Drama, comédia. Nacionalidade: Brasil. Trilha Sonora: Fred Silveira. Fotografia: Beto Martins. Edição de Imagem: Joana Collier. Edição de Som: Cauê Custódio e Rodrigo Ferrante. Mixagem: Rodrigo Ferrante. Som Direto: Márcio Câmara.Figurino: Chris Garrido. Direção de Arte: Rodrigo Frota. Maquiagem: Tayce Vale. Produção Executiva: Allan Deberton e Ariadne Mazzetti. Produção: César Teixeira e Clara Bastos. Preparação de elenco: Christian Duurvoort. Coreografia: Fauller e Wilemara Barros. Parceria: Telecine, Canal Brasil, Mistika, Mix Estúdios e Governo do Estado do Ceará. Distribuição: Vitrine Filmes. Agente de vendas: O2 Play. Duração: 97 min.
A película enaltece toda a cultura que esta mulher de fibra possuía. Amante da dança e da cultura francesa, Pacarrete (Maria Cartaxo) não esquece quem foi e faz questão de lembrar a toda a vizinhança quem é. Os anos de juventude se passaram, mas ela não deixou de ser vaidosa, de ter etiqueta e de praticar sua arte, ainda que os ossos já não sejam os mesmos.
Sempre varrendo sua calçada e amaldiçoando até o vento que pisa nela, a mulher é sempre vista gritando e se irritando com àqueles que não a entendem, e sequer procuram o fazer. Ao saber então da festa de aniversário de Russas se programa a treinar todos os dias para performar um espetáculo de balé e fazer as pessoas engolirem seus olhares maldosos para com ela. Consegue uma reunião com a organizadora do evento, e, claro, parente do prefeito do município, mas a mesma só faz enrolar a bailarina. Ainda assim Pacarrete vai a costureira e solicita que faça um belo traje de dança. Daqueles que lembram as bailarinas de ''O Lagos dos Cisnes'' e durante a passagem de tempo fica visitando a mulher para ir ajustando a roupa.
A artista vive com a irmã já idosa e doente e mais uma amiga e está sempre falando de seus planos ou reeducando as mesmas. Vez ou outra também vai a mercearia de Miguel (João Miguel), seu único amigo nas redondezas, e pede para saber quanto está o preço do euro, pois quer ir a Paris em breve. O homem é sempre muito gentil com Pacarrete e cria um laço de amizade muito bonito. Isto porquê Miguel não só admira a doce cearense de voz forte, como também a respeita.
O filme é um dos mais belos que você verá neste ano, se der a chance merecida à ele. Abordando aspectos distintos como velhice, arte e respeito as diferenças ele ainda no faz perceber as dores do mundo feminino. Logo, Pacarrete encanta e derrete nossos corações. Também nos faz refletir por si só e é na certa é aquela sessão para se emocionar.
Aos aspectos técnicos da película também há de se bater palmas. Figurino acertadíssimo e bem pensado aos personagens. Claro, principalmente, ao papel de Cartaxo. Vestidos bem cortados e chapeuzinhos à la moda francesa. Maquiagem é também outro detalhe super bem destacado nela. E a atuação de Maria faz o resto. Traz um trabalho de corpo particular e uma voz característica e marcante. O que torna uma mulher real em um personagem lendário e para ser eternamente louvado. Direção de Arte faz os olhos enxerem também.
Allan entrega ao público seu primeiro longa e um que nos faz ficar atentos ao que ele fará em seguida, afinal, é preciso muita delicadeza para capturar a força de uma mulher incompreendida e rejeitada pelos seus.
Avaliação: Cinco cisnes encantadores no deserto cearense (5/5).
SOMENTE NOS CINEMAS
See Ya!
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