terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Pequena Garota, de Sébastien Lifshitz


O documentário não é somente um gênero cinematográfico visto que existem documentários de vários formatos e podemos encontrar os dramáticos, os históricos, de comédia, musicais, hibridismos com a ficção e até alguns que se assemelham ao formato de reportagem. Mas não podemos negar que o termo traz uma conotação que coloca o espectador à espera de um tipo de filme específico. A expectativa, normalmente, é a de que o filme tratará de fatos (da verdade, talvez?), com alguma separação entre as personagens e a máquina cinematográfica.

Logo nos primeiros minutos, Pequena Garota apresenta a mãe de Sasha (a pequena garota do título) explicando ao diretor do colégio que sua filha, apesar do aparato biológico "masculino", é uma menina. A mãe conta que desde que aprendeu a falar, Sasha, uma garota de 7 anos, dizia que seria uma mulher quando crescesse, que gostaria de carregar uma criança em seu ventre um dia. O diretor a aconselha a ir procurar acompanhamento profissional em Paris, já que a pequena cidade não possui psicólogos que possam ajudar a família a entender como lidar com a disforia de gênero daquela criança. Logo depois, vemos a mãe dar seu depoimento sobre como luta para garantir os direitos da filha. O filme, então, passa a acompanhar o clã nessa jornada para que Sasha possa ter uma infância plena protegida do preconceito e que tenha seus direitos garantidos.

O depoimento da mãe no início é substancial para a forma como o diretor carrega o filme. Já a partir do enquadramento, sentimos que assistimos um desabafo, uma conversa franca entre duas pessoas. A conversa com o diretor do colégio nos deixa com a sensação de que, na cena seguinte, a mãe também fala com alguém (a psicóloga parisiense talvez?). A facilidade com que a mãe – e toda a família – lida com a câmera dá a sensação de atuação. Já os planos próximos, quase sempre close-ups, e a “missão” de mudar oficialmente na escola o gênero de Sasha para que ela possa viver plenamente e ser vista como a garota que é entre os coleguinhas e professores, dá a todo o filme a sensação de que acompanhamos uma ficção. Uma narrativa é simples, mas progressiva, clara e direta. Certamente, os documentários mais tradicionais também se sustentam sobre narrativas para que acompanhemos o encadeamento de ideias, mas em Pequena Garota “parece” um filme de ficção. 


O argumento pode parecer tirar a força do filme, dando a ele uma sensação de falseamento das relações e dos acontecimentos, mas o que acontece é justamente o contrário. Em vez de se separar de suas personagens atrás de um aparato técnico, Lifshitz se aproxima de todos com seus close-ups que ocupam quase todo o filme. Tampouco, o diretor se faz presente na história como observador ativo – método comum nos documentários que buscam questionar a aparência de verdade ou isenção que o “gênero” cinematográfico suscita em níveis mais superficiais. Recusando ambas as abordagens, Lifshitz dá a seus personagens as imagens que precisam para levar ao colégio, à cidade, à França, quiçá ao mundo, a mensagem que precisa ser ouvida: Sasha é uma garota que merece todos os direitos de uma criança, seja ela menina ou menino.


Afinal, a condição social que Sasha habita é o limbo. Não consegue viver plenamente sua vida de garota que é, mas também não recebe o mesmo tratamento como o menino que a veem. Esse lugar difuso é dilacerante, mas Lifshitz se abstém de conciliar as visões entre os lados ou de colocar a luta em uma perspectiva política (por exemplo, o movimento LGBT francês, dados históricos, ou qualquer coisa que o valha). O filme escolhe um lado, o de Sasha. Sem questionar qualquer condição, o filme dá a Sasha o único tratamento humano possível, enxergar a existência da garota por quem ela é. Acompanhamos a abordagem cinematográfica do acolhimento. 



Aqui, a forma do longa também se mostra como limbo entre a ficção e o documentário. Não exatamente ao misturar cenas de um formato com o outro, mas ao perceber que definições são limitadoras. Assim como cada ser humano tem seu direito de ser, não cabe ao cinema demarcar-se por gêneros que se mostraram ultrapassados no mundo. Gêneros que existiam para definir, circunscrever e formatar visões sobre o mundo, sobre nossas relações e sobre nossos próprios corpos. 


Pequena Garota é um filme simples, mas muito forte. Sua potência se encontra justamente na escuta, não se faz como a mosca na parede dos documentários estadunidenses dos anos 50 e 60, mas também não se intromete numa batalha que é alheio e que provavelmente repercutirá pelo resto da vida de Sasha. Lifshitz apenas escuta e reverbera as vozes que decidiu iluminar.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Petite Fille,2020. Direção: Sébastien Lifshitz. Elenco: Sasha. Gênero: Documentário. Nacionalidade: França. Som: Yolande Decarsin. Fotografia: Paul Guilhaume. Edição: Pauline Gaillard. Produção: Muriel Meynard. Distribuição: Imovision. Duração: 85min. 
EM CARTAZ NOS CINEMAS

Listão 2020 - Ultima Parte - Redação Wanna be Nerd


A última parte da nossa lista traz uma baita análise de uma das melhores produções lançadas este ano naquela que nem é tevê, é HBO. 

Raisa

De tempos em tempos a DC Comics lança uma história em quadrinhos que acaba por mudar os rumos dos próximos anos para as suas publicações e o ano de 1986 foi marcante por conta disso. Com a Crise Nas Infinitas Terras, uma ambiciosa série em 12 edições, o destino de muitos personagens da editora e o que conhecíamos como o Multiverso dos quadrinhos foi redefinido. Apesar de não ter sido o primeiro grande evento de histórias em quadrinho, a Crise nas Infinitas Terras pavimentou o caminho para eventos igualmente grandiosos tanto na DC quanto na Marvel; de tal forma que tudo na DC hoje em dia ou é “Pré-Crise” ou “Pós-Crise”. Além disso, muitos outros eventos na DC tem “Crise” no nome por conta da Crise nas Infinitas Terras: Infinite Crisis, Final Crisis, Heroes in Crisis. Se com a Crise nas Infinitas Terras o que mudou foi o destino dos personagens do universo da DC, com Watchmen (lançado no mesmo ano e finalizado em 1987) nós vemos uma mudança na indústria de histórias em quadrinhos em si.

Durante suas 12 edições, Alan Moore (escritor), Dave Gibbons (artista) e John Higgins (colorista), articulam algumas das tensões sociais presentes naquele momento do mundo; a iminência de uma nova guerra que acabaria com o mundo, conflitos sociais, enquanto tentam imaginar como seriam os superherois dentro desse mundo. A resposta parece ser que esses super-heróis são seres egoístas, iludidos com os seus próprios poderes, por vezes sádicos e assassinos. Nesse universo não parece que existem heróis, e sim indivíduos poderosos sendo usados como máquinas de morte por grandes Estados; a graphic novel é uma desconstrução da ideia de um herói e mostra o quão perigosos eles podem ser quando eles são meios de um governo fascista. O resultado dessa publicação foi uma mudança que se reflete até hoje nas publicações na DC; uma busca por histórias mais centradas em temas “reais”, com personagens mais colados na nossa realidade e com um tom muito mais sério e violento do que o que víamos antigamente.

Se o gibi nos oferece respostas, a série de 2019 da HBO nos oferece muito mais perguntas. Eu leio gibis desde os meus 12 anos e toda vez que alguma produtora lança algum filme ou seriado baseado em alguma história em quadrinhos eu fico animada mas, ao mesmo tempo, há sempre uma certeza em mim de que seja lá qual for o seriado ou o filme, o gibi vai ser melhor. Não por razões puristas ou por um desgosto que eu tenha por seriados e filmes, é só por eu considerar que o material de origem é não só superior como também uma forma subestimada de contar histórias. Quando o trailer da série da HBO saiu eu tinha quase certeza de que eu não iria gostar do seriado, pois parecia que ele tentava realizar algumas mudanças no quadrinho que eu considerava desnecessárias; torná-lo ainda mais violento, mudanças de roteiro, inserir personagens novos. Talvez por isso eu tenha demorado para assistir; apesar de ter saído em 2019 eu só fui assistir em 2020.

Sem querer dar muitos spoilers, a premissa básica do seriado, escrito por Damon Lindelof, um dos criadores de Lost e The Leftovers, é que ele se passa 34 anos após o final da história em quadrinho em um mundo no qual os vigilantes são tratados como uma ameaça. Nesse universo, policiais usam roupas de freiras, como a protagonista Angela Abar (Regina King), uma máscara reflexiva como o detetive Looking Glass (Tim Blake Nelson) ou uma máscara de panda. 


Ao invés de nos responder como seria um mundo no qual policiais andam mascarados e caçam vigilantes, a minisérie nos joga perguntas sobre a sociedade estadunidense; e se esses heróis que são introduzidos no gibi na verdade fazem parte de uma minoria que foi violentada desde sempre? Será que nossa sociedade não está obcecada pelo vigilantismo? O americano consegue falar abertamente como a sociedade em que vive foi fundada na desigualdade racial e brutalização de minorias? Sem querer ser mais esperto do que o telespectador, a série navega pelos temas do racismo, violência policial, corrupção, fascismo, cultura pop enquanto desenvolve seus muitos personagens e consegue amarrar todas as histórias em um final épico. 

Os maiores destaques vão para o episódio 6, “This Extraordinary Beinge o 8, “A God Walks Into a Bar”. 

No episódio 6, Angela Abar consome uma droga chamada Nostalgia, usada para que pacientes consigam lembrar de seu passado. No entanto, ela toma as pílulas de seu avô, um sobrevivente do conhecido Massacre de Tulsa, no qual homens brancos atacaram negros e suas casas, o que faz ela embarcar em um pesadelo de lembranças que não pertencem a ela enquanto revive os traumas de seu avô.

E já no episódio 8, o antepenúltimo da série, nós vemos como Angela e Doctor Manhattan (um dos principais personagens da história em quadrinhos original). O episódio, escrito por Damon e Jeff Jensen, e dirigido por Nicole Kassell, consegue condensar um dos melhores aspectos do seriado que é pegar uma história dos anos 80 e colocá-la no contexto de 2019 ao mesmo tempo em que expande o que conhecemos do material de origem. É um episódio no qual a trama principal do seriado é suspendida para que possamos ouvir Doctor Manhattan contar uma história, tanto para Angela quanto para nós, os telespectadores. 

O grande triunfo do seriado, é que ele consegue proporcionar experiências diferentes e igualmente incríveis para quem conhece as HQ's e quem não consegue. É um seriado atual, que revela sua grandiosidade narrativa em seus muitos detalhes e cujas camadas de narrativa fazem com seja possível redescobri-lo a cada assistida. 

A série levou 11 Prêmios Emmy, incluindo, ''Melhor Minissérie, Melhor Atrzi em Minissérie' e Melhor Roteiro em Minissérie''

Trailer

ASSISTA NA HBO

FIM.

Listão 2020 Part. II - Redação Wanna be Nerd

 


A segunda parte do Listão WBN vem com dicas poderosas das nossas colaboradoras poderosas. Segue o fio.

HELEN

Vou indicar filmes que vi no começo do ano, quando ainda tínhamos cabines presenciais. Além de serem filmes de grande impacto pelas temáticas abordadas, ver na telona fez toda diferença.
Confesso que cabine em casa, para mim, tira um pouco da magia do cinema. 


1) Os Miseráveis


O diretor Ladj Ly mostra a França sem as luzes e o glamour. O considerado "novo Spike Lee francês", traz uma nova ótica permeada por desníveis sócio- econômico e preconceito racial. Um curta metragem de 2017, indicado ao Cesar originou este longa de 1h42min. Vale conferir! Fiz resenha dele, clica aqui para ler.

2) The Cave 

Documentário real e impactante, produzido pela National Geografic e baseado nos diários secretos da Dra. Amani Ballou. Recebeu indicação ao Oscar de Melhor Documentário em 2020. Nele, as câmeras adentram um hospital subterrâneo na região de Ghouta - Síria, fronteira com Damasco. Prepare o psicológico! Outra resenha que vocês pode ler por aqui.

E para quem não era muito fã de cinema francês...ora, ora! Minha terceira indicação é a bela animação do roteirista e diretor Michel Ocelot.

3) Dilili em Paris


Um presente ao público que perdeu visibilidade devido à Pandemia e o fechamento dos cinemas. Merece ser visto pela deliciosa viagem no tempo que traz ao espectador e com  um primor visual íncrivel. Realmente uma história interessante com o plus de canções agradáveis. Para toda a família. Disponível no TELECINEPLAY.

Uma indicação extra, vai de um longa visto em casa.

4) Mães de Verdade

O filme que, não por acaso, abriu a Mostra de Cinema Internacional de São Paulo este ano, realizada em formato online. A produção é comovente, terna, sensível. E apresentauma fotografia impecável com roteiro envolvente. Um filme para se refletir o papel da maternidade e suas responsabilidades. Imperdível e que chega logo, logo ao circuito comercial. (Texto da cobertura do WBN aqui).

Para aliviar, já que 2020 teve toda uma carga emocional inesperada e pesada, indico ainda uma série "novelinha" por qual me apaixonei.

Virgin River 

Não preciso falar nada, né? Netflix ganhando nosso amor e ainda nos faz ficar em casa, seguros e com o coração quentinho!

A trilha sonora da minha Pandemia foi musicada pela banda mineira Jota Quest. Nada novo, nada original, mas elevou meu astral nos momentos mais tensos quando não podia socializar no cinema ou em shows. Cantar e dançar na sala foi meu remédio "antideprê" neste ano surreal. Também ouvi muitas playlists Spotify até porque a vida sem música não teria sentido! 

Minha playlist de 2020 
 

 LUANA

Destacamento Blood |Assista na Netflix


Algo que já é consenso entre os cinéfilos mais exigentes é que os originais Netflix não estão com nada. São filmes genéricos, com uma cinematografia pobre contendo muitas vezes falhas técnicas e que no dia seguinte já evaporaram de nossas mentes. Claro, há exceções. É possível listar vários longa-metragens bons que a plataforma trouxe ao longo dos anos. Mas quando colocados ao lado das dezenas de porcarias lançadas mensalmente, a quantidade é ínfima. Além disso, para encontrá-los no catálogo, é preciso garimpar muito uma vez que o serviço de streaming parece escondê-los para promover títulos mais populares. Por isso, quando é anunciado que um grande diretor irá lançar um filme por meio dela, é motivo de alegria, pois há ao menos alguma garantia de qualidade. Já havia acontecido com Cuarón e Scorsese e em 2020 a plataforma trouxe Destacamento Blood, de Spike Lee.

O filme narra a saga de quatro veteranos negros que retornam ao Vietnã para recuperar o corpo de um antigo companheiro e, de quebra, uma grande quantidade de ouro que deixaram escondida. O filho de um deles faz uma aparição surpresa no meio da viagem e sua chegada inicia os conflitos que, a partir daí, não param de eruptir. Mesmo em uma trama em que personagens pegam em armas e matam uns aos outros, Spike Lee não aponta vilões. Todos são personas complexas cheias de contradições e cicatrizes. A brilhante decisão de utilizar os mesmos atores para interpretar os numerosos flashbacks de mais de quarenta anos antes escancara o mote do filme:os únicos capazes de ir embora de uma guerra são aqueles que morrem nela. Os outros a carregam consigo eternamente. O diretor faz apontamentos atualíssimos e muito pertinentes sobre racismo e colonialismo, seja por frases ditas por seus protagonistas, seja por detalhes do cenário. E se o tema e os motivos políticos não te motivam a assistir, saiba que a tensão empregada faz com que este seja um daqueles filmes em que mal conseguimos piscar.

I Know This Much is True

Uma preciosidade escondida! I Know This Much is True é uma produção original da HBO baseada em um romance homônimo escrito em 1998 por Wally Lamb. Curtinha, a minissérie tem apenas seis episódios e não vai nos perturbar com uma continuação ruim que ninguém pediu no ano que vem. Os cinéfilos que não gostam muito de séries podem assistir a essa tranquilos, pois tem final. E que final! Não vá esperando grandes arroubos ou plot twists carpados. A série é intensa, é tensa, mas é sobre a vida de um homem comum. Bom, talvez não tão comum. Mas a anormalidade de Dominick reside apenas no fato de que a vida foi um pouco mais cruel com ele que com a maioria de nós. O protagonista interpretado por Mark Ruffalo tem um irmão gêmeo esquizofrênico, por quem é responsável. O resto das desventuras eu vou deixar vocês descobrirem.

A questão é que a obra, ao contar a vida de um homem especialmente desafortunado, discorre sobre a vida de todos nós. Não, não é uma história piegas e edificante com lições de moral e um ensinamento otimista. Eu diria que é o exato oposto disso. Em certos momentos, é desesperador assistir à trama e pensar: “Quantos traumas cabem na vida de uma pessoa?”. 


ISABELA

Série: Julie and the Phantoms |Assista na NETFLIX 


Quando eu era criança, de vez em quando assistia Julie e os Fantasmas na televisão. Mas se tivessem me dito que 10 anos depois o Kenny Ortega, diretor de High School Musical, faria uma versão norteamericana dessa série brasileira de baixo orçamento pra Netflix, eu não acreditaria. E cá estamos, no que pra mim parece uma realidade paralela que deu muito certo, porque Julie and the Phantoms é maravilhosa. 

Essa série conta com um elenco talentoso, carismático e cheio de química. A história e as músicas aquecem o seu coração, te fazem chorar, rir e também shippar um fantasma com uma garota viva. Prestem atenção na Madison Reyes, que interpreta a protagonista Julie. A atriz tem apenas 16 anos e tem um talento absurdo! Tente não se emocionar no final do primeiro episódio, quando ela solta a voz com a música “Wake Up”. 


Livro: Porém Bruxa, da Carol Chiovatto  (Disponível naAmazon Brasil)

No livro da Carol Chiovatto, bruxos existem e são monitores de crimes que envolvem forças sobrenaturais. Mas a Ísis, que cuida de São Paulo, não consegue fechar os olhos às injustiças que não envolvem magia e vive infringindo essa regra do Conselho, mesmo já tendo sido duramente punida no passado por isso, mas a intuição dela não falha: em um curto período de tempo, Ísis se vê investigando três casos que estão perigosamente interligados. 

Esse livro é perfeito. A Ísis é uma Xeroque Rolmes com poderes e intuição que sempre ajuda a Delegacia da Mulher, mesmo quando o caso não envolve magia. Além da protagonista forte e incrível, ela tem amigos leais e com personalidades maravilhosas que sempre a ajudam. Mas preste atenção no Corregedor, o Victor. Ele é o responsável por fiscalizar o trabalho da Ísis e é um personagem surpreendente. Que venha o segundo livro no ano que vem!

Continua...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Listão 2020 Part. I - Redação Wanna be Nerd


Não é exatamente uma tradição o WBN fazer listinhas de fim de ano, mas vez ou outra, conseguimos nos motivar e listar algo do que vimos ao decorrer do ano que se passou e destacar por aqui. Sem Muitas delongas, ai vai o que nossa equipe de super colaboradores <3 escolheu para comentar.

FRAN

Com a pandemia, muito da minha vontade de consumir música, literatura e cinema ficaram travados com a vida toda concentrada dentro de casa, conciliando a faculdade, o trabalho e os hobbys no mesmo cômodo. Para tentar fugir desse "novo normal", o meu 2020 foi todo saudoso: Revi filmes que eu gosto, reli meu livro favorito da adolescência, escutei álbuns antigos e assisti algumas novelas noventistas.


Na literatura, reli o roteiro da minissérie Anos Rebeldes, escrito por Gilberto Braga, e lançado em 2010 pela editora Rocco (ver aqui). Além da história do casal formado por Maria Lúcia (Malu Mader) e João Alfredo (Cassio Gabus Mendes) que fez sucesso no folhetim da Rede Globo em 1992, o livro traz algumas memórias de Gilberto sobre o período ditatorial que instaurou no nosso país durante 21 anos.

A minissérie conta a história de Maria Lúcia, uma jovem que só queria viver longe da política e de todos os problemas do Brasil, isso porque ela tem traumas com a história do pai, que é um jornalista conhecido no Rio de Janeiro e membro do Partido Comunista que sempre colocou seus ideais acima da realização pessoal. Quando ela conhece João Alfredo, percebe que ele tem os mesmos ideais que os de seu pai, e por isso sente um medo constante de dar o seu amor ao rapaz. João é um jovem extremamente preocupado com as lutas sociais do país e está disposto a tudo para lutar pelo que acha correto. Ao se apaixonar por Maria Lúcia, ele fica dividido entre o relacionamento afetivo e a militância política.

No cinema, não vi tantos filmes como gostaria (se tudo der certo, até o dia 31/12 chego em 100 filmes assistidos no ano, muito pouco para o que costumo ver). Aproveitei o tempo para conferir sagas que nunca tinha visto, como Harry Potter e Crepúsculo (disponível no TELECINEPLAY). Adorei a experiência, pois assisti no auge dos 26 anos e achei gostoso, quebrei alguns preconceitos enraizados e só consegui pensar: "A Fran de 10/15 anos atrás, se tivesse a oportunidade de ter visto tudo isso, teria amado igual todos os amigos dela que hyparam na época, rs".  Além dessas sagas, maratonei longas de alguns diretores e o meu favorito do ano é o senhor Spike Lee. Enquanto revisitava alguns filmes dele, assisti pela primeira vez o filme FAÇA A COISA CERTA (Do the Right Thing, 1989) e esse sem dúvidas foi o que mais marcou. O filme mostra o dia a dia da pizzaria italiana de Sal (Danny Aiello), no meio do Brooklyn, bairro que tem a maior concentração de negros e latinos, sendo considerada uma das áreas mais pobres de Nova York. Sal toca a pizzaria junto com seus filhos Vito (Richard Edson) e Pino (John Turturro), e para a entrega das pizzas contam com o officeboy Mookie (o próprio Spike Lee), morador do bairro. Dentro da pizzaria, Sal mantém em uma das paredes diversas fotos de estrelas ítalo-americanas do cinema, da música e do esporte. Um dos moradores e freguês assíduo da pizzaria, Buggin' Out (Giancarlo Esposito), ao notar essa "parede da fama" entra em atrito com Sal, pois não concorda com o mural ter apenas famosos brancos num local onde a maioria dos moradores são negros. A partir desse desentendimento, Buggin' Out tenta o resto do dia boicotar o estabelecimento. Esse desentendimento desencadeia uma série de atritos até chegar na cena clímax da produção. Com a confusão armada, a polícia chega e tenta prender um dos moradores, Radio Raheem (Bill Nunn) que se envolve em uma briga dentro da pizzaria, esses policiais, brancos, na tentativa inútil de imobilizá-lo, enforcam o morador que já nem estava na briga e afastado de todo o tumulto. Com o despreparo clássico, eles asfixiam Radio até a morte, o que acaba gerando uma grande revolta nos demais moradores que por fim acabam destruindo e botando fogo na pizzaria que foi o estopim de toda a confusão.

'Faça a Coisa Certa' (1989) está no catalogo TELECINE (clique aqui)

Seria muito clichê dizer que a vida imita a arte e vice-versa, mas quem lembra no mês de maio quando George Floyd foi assassinado em Minneapolis no dia 25 de maio de 2020 ao ser asfixiado por um policial? E após essa morte cruel, o movimento Black Lives Matter tomou força e muitos protestos foram feitos desde então? Pois bem, essa cena de Faça a Coisa Certa se correlaciona exatamente com este ocorrido cruel. Acredito que foi justamente por esse fato que o filme me marcou muito, Spike Lee é super cirúrgico em seus filmes, uma pena que a genialidade do seu trabalho foi ignorada pela academia na temporada de premiações daquele ano.

Na música, minha banda do ano foi o Interpol. Liderada por Paul Banks, a banda já é velha de estrada e não houve nenhum lançamento recente deles, então viajei no tempo e voltei para 2002 com o álbum de estreia Turn on the Bright Lights. Naquela época esse álbum abriu portas para uma sonoridade que hoje conhecemos como indie rock, de bandas como The Killers ou até os Strokes que já estavam na estrada desde 98. A banda pega algumas características pós-punk e é uma ótima pedida para quem ama um vocal em tom melódico e grave como os que Ian Curtis do Joy Division ou Robert Smith do The Cure trouxeram ao mundo. As músicas trazem reflexão, mas entregam uma sonoridade enérgica que eu chamo particularmente de "músicas para dançar chorando".

Principais hits: Obstacle 1, PDA

Músicas Favoritas: Obstacle 2, The New e Stella Was a Diver and She Was Always Down

 


 LEANDRO

Este ano foi cheio de momentos loucos para todo mundo, mas algumas coisas trouxeram acalento. Seja como leitura, música ou cinema, passar bastante tempo dentro de nossas residências fez com que consumíssemos muito mais mídia digital e, dessa maneira, aqui estão algumas das coisas que melhoraram meu humor e renovaram minhas energias neste desgastante 2020. 

Na leitura, o livro Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus foi, sem dúvidas um grande momento de reflexão de vida, identificação familiar e análise de uma sociedade que, em 60 anos, mudou pouco ou quase nada. O livro reflete o diário de uma favelada, que, página a página, vai contando as mais diversas situações pelas quais passou com seus filhos.

Além de Quarto de Despejo, como professor, tive a oportunidade de ler o Aprenda, Desaprenda e Reaprenda, da professora e pesquisadora Leila Ribeiro (ver aqui). Em um ano que foi necessário aprender conceitos novos, desaprender antigos ou reaprende-los, esse livro me fez pensar que, cada vez mais, a educação precisa ser animadora, motivadora e inclusiva. 

É muito difícil me ver sem um fone de ouvido e, o principal álbum que posso indicar para este ano é o Ungodly Hour, da Chloe X Halle. Que álbum maravilhoso, meu deus. As meninas compõem, dançam, cantam super bem e apresentam um disco com várias nuances de musicalidade. Comece por Ungodly Hour, homônimo do álbum, passe por Do it e vá para Forgive Me. Tenho certeza que este álbum pode ter pelo menos uma música que vai te conquistar.

 

De filme, um que me aqueceu o coração e me fez chorar de alegria/orgulho foi o "3 idiotas" (2009). Que, aliás, é um título indiano e conta a história de dois amigos que partem em busca de um terceiro camarada desaparecido. Eles vão revivendo e relembrando histórias e a maneira ímpar com a qual um deles enxerga e busca mudar o mundo te emociona. 


MARCELINO

(observação da editora: o Marcelino mandou as dicas dele com uma precisão de colunista exemplar, então curtam ai)

Filme: Isso Não É um Enterro, É Uma Ressureição (This is not a burial, it’s a resurrection), de Lemohang Jeremiah Mosese

Fábula filmada em Lesoto, este filme narra a jornada de uma mulher sofrida que sacrifica tudo em prol de seu povo. Com simbologia inspirada na religiosidade cristã desta aldeia nas montanhas africanas, as imagens belíssimas da narrativa, quase pinturas barrocas espanholas, contam o calvário e enterro desta líder tão carismática. Um Bacurau africano que mostra a luta de uma comunidade contra o poder e o capitalismo, é uma história mítica que nos assombra após sua conclusão. Tem crítica dele disponível no site (clique aqui).


Livro : A OCUPAÇÂO. Julián Fuks. Editora Companhia das Letras (ver aqui).

Lançado no final de 2019, este livro dialoga bem com o ano de 2020, na sua mescla de desesperança, sofrimento, retomadas e resistências. Representante da auto-ficção tão utilizada pelos escritores em nossos dias, narra “autobiograficamente” a luta do autor com o pai doente, do seu desejo de ter um filho com a esposa, do seu contato com os ocupantes de um prédio abandonado no centro de São Paulo. 

Narrativa muito humana que faz uma reflexão política sobre a nossa atualidade, essa mescla de dores cotidianas nos fazem ver uma luz no final do túnel: a ocupação das nossas vidas e de nosso espaços.

Série: A MALDIÇÃO DA MANSÃO BLY. Netflix. Criação: Mike Flanagan.

Série de terror da Netflix adaptada dos contos do Henry James, é uma delícia acompanhar essa modernização de alguns dos contos de horror vitorianos mais conhecidos. Estórias classudas, ambientadas em mansões campestres sinistras, com muitos serviçais, fantasmas e crianças inocentes. A Outra Volta do Parafuso é o eixo central e já rendeu várias adaptações cinematográficas. Terror de altíssimo nível literário!

Trailer


BÁRBARA

2020 ficando para história como um aninho complicado e memorável, neh?! E se tem uma coisa que nos ajudou a sobrevivê-lo, ao menos a mim ajudou horrores, foi a cultura pop. Sim, Sim, Sim! Filmes, séries, livros e muita música fizeram meu ano, não diferente de todas as outras 32 voltas ao sol que dei, mas com um gostinho peculiar dessa questão toda de se proteger e proteger que amo.

Duas séries britânicas fizeram a minha quarentena. A primeira foi a maravilhosa Normal People, de Lenny Abrahamson, da qual falei horrores neste post aqui  - e sei lá amo pra sempre por tanta emoção que me causou- e a segunda a tremenda Staged, dos criadores  Simon Evans e Phin Glynn. A minissérie com apenas seis capítulos, e duração de 20 minutos, foi produzida, filmada e lançada pela rede de televisão BBC durante a pandemia. Aliás, todos os atores interpretam a si mesmos e estão frente a uma webcam por todo o show. 

A trama traz um diretor preocupado em perder a chance que acabara de conseguir: conduzir a peça "Six Characters In Search of An Author", que em português literal significa: Seis Personagens em Busca de um Autor. Para que isto não ocorra, ele decide então chamar seus protagonistas, os dois super atores David Tennant e Michael Sheen, para ensaiar o texto via zoom. Claro, a iniciativa sai fora do controle e tanto o diretor quanto a roteirista acabam tendo que lidar com brigas e egos de Tennant e Sheen. Em cenas hilárias, vemos a dupla, que outrora trabalhou junta na excelente Good Omens, lidarem com os vizinhos velhinhos, com as esposas, com os filhos em idade escolar e ainda com o crescente tédio de tudo. Fora que a amizade, ou melhor, o bromance entre eles vai ficando cada dia mais desenvolto em cena e quando o sexto episódio chega você não quer dar tchau de forma alguma. O mais íncrivel ainda é rolam participações especiais de muitas gente bacana, entre eles, o ator Samuel L. Jackson e a Dama Judi Dench. O show foi ao ar em meados de 2020 e só agora no finzinho do ano teve confirmação de uma segunda temporada para o inicio de 2021 (YES YES YES). 

David Tennant e Michael Sheen em imagem de divulgação de STAGED (2020)

Na literatura, foquei nos livros do Clube do Livro voltado para clássicos que o WBN organiza aqui em Brasília. Lemos 11 incríveis obras este ano. Entre eles, Mulherzinhas, O Jogo da Amarelinha, Grande Sertão Veredas, O Diário de Anne Frank e até o gigante Dom Quixote. Com a pandemia, o clube até virou internacional e contou com participações de gente de todo o mundo, pois fizemos todas as reuniões (pós março) virtuais. E ano que bem continuaremos os trabalhos assim. Para saber mais do clube, basta visitar:                                                                  https://www.instagram.com/clubedolivroclassicos 

Acabei indo ao cinema até mais do que pensava que iria, mas três filmes que vi em casa, me deixaram bem feliz e com certeza não entram nos melhores do ano, mas se destacam pela emoção/diversão que me proporcionaram no período de pandemia. São eles, Summerland (trailer), Dating Amber (trailer) e A Pequena Morte (este último está disponível no TELECINEPLAY)

O primeiro é estrelado pela estupenda Gemma Arteton e escrito e dirigido por Jessica Swale e conta como a vida às vezes dá volta e reencontramos o amor, apesar de achar tê-lo perdido. A temática dele é LGBTQ então espere uma história muito fenomenal. Dating Amber também vem nessa narrativa, mas fala de descobrimento. O filme, com direção e roteiro de David Freyne, traz dois amigos no highschool que são gays, Amber, papel de Lola Petticrew, e Eddie, papel de Fiona O'Shea (que também está em Normal People), e decidem namorar para que todos ali parem de encher a paciência deles ou praticar bullying, já que desconfiam que eles não são heteros. Já o último filme, é uma produção australiana que vem falar da sexualidade de casais de diversas idade e como eles chegam ao orgasmo. Seus fetiches malucos e como isso afeta a relação de cada um. Um dos casais, aliás, que tem uma das narrativas mais legais está lá pelo final do filme e, apesar de eles não necessariamente ficarem juntos, tem um momento engraçadíssimo. Acontece que Mônica (Erin James) trabalha em um telemarketing para pessoas com deficiência auditiva e a moça tem que falar o que a pedirem. Assim, Sam (T.J. Power) liga na central e pede para que ela telefone para uma garota de programa e transmita o que ele quiser. Claro, a cena começa hilária e termina de um jeito muito fofo fazendo você pensar em como os desdobramentos das relações humanas podem ser surpreendentes e muito necessários. 

Pra fechar, claro, não poderia deixar de fora o que eu ouvi este ano. Uma lista cheia de divas e cantores pop's, mas aqui ali com um bom Indie Rock. Apesar de ter ouvido Harry Styles até ele estar em primeiro lugar no meu top2020, uma das músicas que mais me tocou este ano foi ''Ordinary Man'' do pai das sombras, Ozzy Osbourne.  A música tem uma pegada setentista e tem feat com Elton John para deixar você ainda mais embasbacado em como o morcegão teve a sacada de presentear seu público com um álbum tão incrível e cheio de diversidade de gêneros. 


Continua...

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A Garota Invisível | Disponível nas plataformas de Streaming

 

A doce Ariana (Sophia Valverde) é uma menina nota dez que passa seus dias a escrever em seu diário. Também não esquece de sempre estar em contato com o amigo Téo (Matheus Ueta) e falar de um tudo que se passa em sua vida. Aliás, como ambos já estão aprovados na escola tem tempo para jogar ou ficarem de bobeira na internet. Diferente da turma deles, Diana (Mharessa Fernanda), Khaleb (Guilherme Brumatti), Paty (Bia Jordão), Edu (Kaik Pereira) e Jade (Bianca Paiva) que precisam fazer atividades virtuais com o professor Chicão (Marcelo Várzea) por estarem de recuperação. 

Diana é uma influencer bombada e popular e namora Khaleb, o gatão da turma e por quem Ariana tem um crush gigantesco, mas mal sabe Ariana que seu amigo Téo é seu admirador desde sempre e gosta muita dela. Assim, quando Khaleb e Diana terminam, Ariana vê sua chance chegar, porém a menina deixa cair um vídeo na internet que revela seu crush por Khaleb e todos acham super ridiculo e fazem zoação. O menino, por outro lado, se aproxima dela com intenções de ter ajuda na escola e eles acabam engatando um romance, mas mal sabe Ariana que entrou em uma furada. 

A Garota Invisível é estrelada por Sophia Valverde (As Aventuras de Poliana) e revela uma comédia teen sutil e que pode agradar os adolescentes. O filme já está disponível para aluguel e compra.


Com um texto próprio a idade dos adolescentes, o filme dirigido por Mauricio Eça traz um elenco fresquinho que não faz uma performance de destaque, mas que encanta mesmo assim. A narrativa é simples, causos que até já vimos antes por ai, entretanto que se preenche com o dom musical da turma de atores. Estes que até choram na parede para enfatizar os dramas adolescentes de términos de namoros. 

Temos muitos clichês também. A amiga burra, a loura popular e insuportável, o garoto popular sem noção, com amigos mais sem noção ainda, e, claro, os nerds. Há diversidade no elenco, mas não em si nos protagonistas. Temos conflitos que quaisquer um pode se identificar, ainda que se passe num palco da classe média rica brasileira. E ao fim de tudo, um final feliz ao passo que a protagonista entende o quadro amplo de seus erros.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: A Garota Invisível, 2020. Direção: Mauricio Eça. Roteiro: Lívia Alcade e C. Jos Bravo. Elenco: Sophia Valverde, Mharessa Fernanda, Matheus Ueta, Kaik Pereira, Clarinha Jordão, Marcelo Várzea, Bia Jordão, Bianca Paiva, Guilherme Brumatti. Gênero: Comédia. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Keller KDG. Direção de Arte: Denise Dourado. Montagem: Tony Tiger, AMC. Musica Original: Maestro Petreca. Figurino: Nicole Nativa. Maquiagem: Marcelo Brito. Som Direto: Akira Katsurayama. Supervisão de Edição de Som: Miriam Biderman, ABC. Desenho de Som e Mixagem: Ricardo Reis, ABC. Produção: Santa Rita Filmes. Distribuição: Synapse Distribution. Duração: 01h23min. 

Com design moderno e arrojado, por inserir a forma virtual das nossas vidas atuais, A Garota Invisível diverte pela leveza e se torna uma opção para quem tem adolescentes em casa e está procurando entretenimentos à eles. 

A produção chegou hoje as seguintes plataformas: iTunes, Apple TV app, YouTube, Google Play, NOW e Vivo Play.

Hotsite do Filme

Avaliação: Dois 

See Ya!


B-

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Mulher Maravilha 1984 | Assista Nos Cinemas

 

Mulher Maravilha 1984 é o nono filme do universo estendido da DC Comics na telona e não tem nada e nem ninguém que não exalte esta mega produção. Anunciado já no embalo do sucesso do primeiro filme que trouxe a super-heroína e deusa aos cinemas, MM1984 é um daqueles casos onde a 'pipoca' diverte, mas não esquece de trazer mensagens positivas, uma que vem a calhar no momento atual por qual o mundo passa com a pandemia da Covid-19.  

A película tem também aquele gostinho empolgante de 'super experiência cinemática'. Ademais enlouquece sua mente com a trilha sonora do já aposentado Hanz Zimmer e faz os olhos brilharem com todo o visual que apresenta. O elenco reune novamente Gal Gadot, Cris Pine, Robin Wright e Connie Nielsen e tem a adição saborosa de Kristen Wiig e Pedro Pascal. Patty Jenkings volta a direção e é cabeça do projeto. Sua idéia de emplacar tempo a narrativa consegue fazer o espectador viajar aos anos 80 e delirar de nostalgia.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Wonder Woman 1984, 2020. Direção: Patty Jenkins. Roteiro: Patty Jenkings, Geoff Johns, Dave Callaham, William Moulton Marston. Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Kristen Wiig, Pedro Pascal, Robin Wright, Connie Nielsen, Lilly Aspell, Amr Waked, Kristoffer Polaha, Natasha Rothwell, Ravi Patel e Jade Johnson. Gênero: Ação, Fantasia,Aventura. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Hans Zimmer. Fotografia: Matthew Jensen. Figurino: Lindy Hemming. Edição: Richard Pearson. Distribuição: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 02h31min.

Ao inicio do filme, voltamos a ilha das amazonas onde a pequena Diana (Lilly Aspel) está indo ao encontro de um torneio que começa em instantes. As amazonas não acreditam que a menina tentará provar sua força e resistência, mas ela realmente se alinha a turma e consegue ir bem, no inicio, se mostrando ser quase uma ''super triatleta''. Contudo, Diana tem um percalço e fica fora da prova. Ao tentar voltar e chegar ao ponto inicial de largada é frustrada pela tia Antíope (Robin Wright) que a repreende por tentar ganhar a prova sendo desonesta. Antíope a explica com muita sapiência que nada na vida de bom é ganho com mentiras ou trapaças. 

É então que chegamos aos anos oitenta onde encontramos Diana (Gal Gadot) trabalhando com antropologia e arqueologia e mantendo seu disfarce para em outros horários se dedicar a ajudar as pessoas passando por algum problema. Prendendo bandidos que tentam furtar lojas em shoppings ou salvando mulheres de atropelamentos. No trabalho, Diana conhece a quase invisível Barbara Minerva (Kristen Wiig). Bárbara é uma super profissional, mas não faz sucesso com os homens ou tem muitas amigas. Ali a moça fica responsável por artefatos estranhos e um deles, uma pedra em formato de cristal e pontiaguda, parece poder conceder pedidos dos mais diversos a quem entende o poder da mesma. Como ninguém no departamento tem esse conhecimento, mal sabem ainda, que o empresário do ramo petrolífero Maxwell Lord (Pedro Pascal) esta na caça deste artefato para por em vigor todos os seus planos mirabolantes. Assim, ele se aproxima de Minerva até conseguir o que quer. Porém, antes disto, tanto Minerva quanto Diana tem contato com a pedra e a mesma escuta seus desejos mais íntimos e os torna realidade. No entanto, algo delas parece desvanecer com tal realização.


O roteiro do segundo filme da Mulher Maravilha, diria, tem pontos mais positivos que o primeiro. Principalmente, pela questão romântica que no anterior (ler comentários no post) parece estar ali de forma forçada e não tão bem dosada. Aqui vemos a personagem sentir falta deste amor precocemente interrompido e reencontrá-lo de forma mágica, mas seus passos a fazem entender que a liberdade na vida está em deixar ir e seguir em frente, apesar de querer tanto estar próximo a quem se ama. Quando cai a ficha aliás, Diana entende que não só ela, porém, todo o universo tem dificuldade em ceder. E este gancho vem exatamente por conta do artefato que pode trazer a qualquer um qualquer coisa. Se para Bárbara ser uma mulher empoderada e sexy como Diana era algo inalcançável, só tendo isto a ponto exagerado, se tornando a anti-heroína Cheetah, para compreender que super poderes não te fazem melhor que ninguém. O grande vilão da história, vivido por Pascal lindamente, também tem sua lição sobre egoísmo e ganância. Todavia, os finais felizes aqui são entediantes e acontecem em um salto quando talvez a narrativa necessita-se de um fim mais trágico em si para consumar as mensagens dadas degrau por degrau. 

Patty Jenkings é uma diretora admirável. Consegue trazer um resultado na mesma medida de seu primeiro filme e que pode não ser tão perfeito, mas agrada pelo simbolismo e força das mensagens de fé, amor e liberdade. Filmado em 70mm e com câmeras IMAX, MM84 é coloridasso e impecável no sentido técnico. Takes abertos e super cheio de efeitos. A coreografia de lutas entre Gadot e Wiig é super sincronizada, aliás, os efeitos digitais nem estão tão fortes, mas percebe-se que a Cheetah vem totalmente assim, por conta da pelagem que deve ter como característica. O figurino oitentista é outro que está fenomenal. Gadot com roupas saídas das paginas das revistas Vogue e Pine e Wiig altamente a gosto popular.

Ao fim, fica a admiração pela protagonista da história que mais uma vez consegue abraçar a causa das mulheres. E trabalha a questão de amizade entre elas ou ainda o respeito ao encontro romântico de cada uma e sua libertação bem como o sucesso no campo profissional. Se prepare para inúmeras referências a série com Linda Carter e fique até o fim para ver a cena pós-créditos. Ela trará muita nostalgia.

Avaliação: Três libertações em voo livre. (3/5)

HOJE NOS CINEMAS

see ya

-b

atualizado em 22.12.2020

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Arritmia, de Boris Khlebnikov |Festival de Cinema Russo

 

Relações conjungais nem sempre são fáceis. Imagine as de casais que trabalham na mesma área ou lugar. É preciso não só manter a ética e o profissionalismo, mas saber também dosar a conexão e não deixa-la se quebrar.

Em Arritmia, de Boris Khlebnikov, toma-se tempo para acompanhar a vida de um paramédico e uma enfermeira que são extremamente dedicados ao trabalho e mantem um rítmo acelerado diariamente, relaxando aqui e ali, apenas. Ele é Oleg (Aleksandr Yatesenko) e ela é Katya (Irina Gorbacheva). 

Oleg não respeita regras, mas realizar um ótimo trabalho e salva milhares de pessoas todos os dias. Katya, contudo, tem pouco tempo com o marido, e quando estão juntos, Oleg parece não perceber o tesouro a sua frente. Talvez pelo cansaço, pelo jeito rebelde, ou pela ineficácia de pensar em sua relação, dá a entender que pouco se importa com a mulher. E ela começa a se sentir invisivel, frágil e a situação se torna frustrante.

O homem acredita, precipidatamente, que Katya se acha superior, enquanto vemos a moça apenas não sentir carinho e atenção por parte do marido, quando ela é preocupada e até mesmo persistente em estar ao lado dele. Muitos dos momentos são levados pela falta de comunicação. Até mesmo no trabalho deles , que os é tão importante. Por outro lado, o drama faz com que o espectador vivencie também uma leva de problemas que o sistema de saúde enfrenta. Ainda que se troque a gestão ou tente se construir novas formas de atendimento aos pacientes, o mesmo sempre esquece de algo e são aqueles que estão em campo trabalhando que percebem de imediato o que realmente precisam fazer para não deixar  que as pessoas morram.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Arrythmia, 2017. Direção: Boris Khlebnikov. Roteiro: Boris Khlebnikov e Nataliya Meshchnaninova. Elenco: Irina Gorbacheva, Alexandr Yatesenco, Nikolay Schrayber, Maksim Lagashkin, Lyudmilla  Motornaya, Sergey Nasedkin. Gênero: drama. Nacionalidade: Russia. Fotografia: Alisher Khamidkhodzhaev. Edição: Yuliya Batalova e Ivan Lebedev. Duração: 116min.
Boris Khlebnikov é diretor, produtor, roteirista e tem em sua filmografia desde curtas, a séries de tevê e também longas. Aqui não só dirige como é co-autor do texto em parceria com Nataliya Meshchnaninova e as intenções do roteiro bem como da sua direção ficam claras: examinar as relações e sentir sua frequencia. Que no filme vem como no significado literal da própria palavra ''arritimia'', irregulares, lentas ou até aceladas.

O filme já ganhou cerca de 28 prêmios e faz parte do Festival de Cinema Russo que acontece na plataforma da SPcine Play e é extremamente necessário que você o assista!

SERVIÇO:

FESTIVAL DE CINEMA RUSSO/ RUSSIAN FILM FESTIVAL

DE 10 a 30 DE DEZEMBRO – Spcine Play

Exibições Gratuitas


See Ya!


-B

Freaky: No Corpo de um Assassino | Assista nos Cinemas

Há uma lista considerável de produções cinematográficas que trabalham o uso da "troca de corpos" entre personagens como ferramenta de movimentação da narrativa e funciona muito bem. 'Se Eu Fosse Minha Mãe', comédia lançada em 1976, protagonizada por Barbara Harris e Jodie Foster nos papaéis centrais é um exemplo clássico e de sucesso. O filme até ganhou remake em 2003 com Lindsay Lohan e Jamie Lee-Curtis reprisando os papéis que foram de Foster e Harris em narrativa repaginada por Mark Waters.  

Mas se os filmes citados são inusitados e totalmente cômicos a nova iniciativa da Blumhouse Productions na telona vai além e adiciona um terror sangrendo para apimentar a pipoca do espectador.  Assim, em Freaky: No Corpo de um Assassino assistimos uma jovem doce e inocente passar a residir o corpo de um homenzarão bizarro e assassino. A película tem no elenco Vince Vaughn e Kathryn Newton e a direção é de Christopher Landon (A Morte Te Dá Parabéns 2).

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Freaky, 2020. Direção: Christopher Landon. Roteiro: Michael Kennedy, Christopher Landon. Elenco: Vince Vaughn, Kathryn Newton, Celeste O'Connor, Misha Oscherovich, Emily Holder, Nicholas Stargel, Kelly Lamor Wilson,  Mitchell Hoog Dana Drori, Katie Finneran, Alonzo Ward, Dustin Lewis, Jennifer Pierce Mathus, Urian Shelton, Melissa Collazo e Allan Ruck. Gênero: Terror, Comédia. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Bear McCreary. Fotografia: Ben Baudhuin. Figurino: Whitney Anne Adams. Distribuidora: Universal Pictures Brasil. Duração: 01h42min.

Freaky é fenomenal. Nos apresenta personagens que sempre fomos acostumados a ver, porém em uma baita situação inusitada e com uma nova 'carcaça'. Millie, personagem da impressionante Kathryn Newton, é a menina impopular e nerd da escola, mas com aquele estereotipo de loura e bonita. É amiga de Nyla (Celeste O'Connor) e Josh (Misha Oscherovich), ela é uma menina negra e ele um jovem gay. Millie é perseguida por garotas populares que são a cara da madrasta da bela adormecida e claro curte um carinha do time do futebol que ela pensa não ter olhos para ela. No dia de um dos jogos, vemos a moça fazer sua participação no evento como o mascote do time e ser bastante zuada. Ao término da partida noturna, fica esperando a mãe ir buscá-la e acaba ficando sozinha no lugar por algum tempo. 

Anteriormente a conhecermos um pouco da vida de Millie, temos um encontro fatal com um serial killer (Vince Vaughn) e sua sede por sangue de jovens de classe média. Aliás, é no local que o assassino encontra uma misteriosa adaga e sai de lá com ela. Assim, no dia em que a doce Millie está sozinha esperando a mãe que adormeceu e não foi a buscar, ela é perseguida por este monstro e ele a fere com a faca encontrada dias antes. O interessante é que quando ele o faz, ocorre uma troca de lugares. A alma de Millie começa então a ser hospedada no corpo do assassino e a do assassino passa a viver no belo estereotipo de Millie. Obviamente quando eles se descobrem estar passando por isso sentem aflição e alegria pela nova moradia, mas se para o assassino ganhou a chance de não ser reconhecido por alguns dias, Millie por outro lado tem apenas algumas horas para desfazer a troca e recuperar sua vida.

E são estas cenas que nos fazem ficar com animadissimos com o filme. Uma experiência muito divertida, aliás.


Michael Kennedy e Christopher Landon entregam um roteiro danado de bom e que é executado por Landon divinamente. Reconhecemos, inclusive, um pouquinho do que ele já fez em iniciativas similares. O tom, a comédia bem dosada e a baita criatividade.

Não é um terror exagerado, mas vemos mortes bem uuuurrrgggh. Os conflitos são bem manejados e o climáx da história chega na hora certa. Há um drama por trás da história da família de Millie com questões sobre o pai falecido afetando a mãe e a irmã, mas não é algo chateante.

O elenco é maravilhoso. Kathryn Newton e Vince Vaughn são a dupla perfeita. Ela encarna tanto a menina boazinha bem como o assassino e Vince Vaughnn não fica atrás. O ator e comediante dá um showzão agindo como um jason robotico e forte ou como uma menininha adolescente em perigo. Celeste O'Connor e Misha Oscherovich são coadjuvantes e muito representativos. Há uma participação do ator Allan Ruck, o eterno Cameron de Curtindo a Vida Adoidado, como um professor bem grotesco e o fim dele talvez não seja muito bom, como o da turma de garotas e garotos populares aqui. E se eles não estão seguros, imagina o crush da Millie (Eita)!!


A Blumhouse Productions tem investido muito no gênero de produções mais teens com um terror basicão para levar a galera ao cinema. Este aqui mesmo tem muito a cara de filme de ''verão norte-americano'' e não fosse a crise mundial, teria encabeçado uma baita bilheteria pelo ótimo resultado que apresenta. 

Freaky: No Corpo de um Assassino é uma ótima pedida e diverte a beça, até mesmo quando você acha que vai fechar os olhos para não ver alguém sendo cortado ao meio. 

Avaliação: Quatro Facas Sangrentas (4/5)


SOMENTE NOS CINEMAS