Isso Não É Um Enterro, É Uma Ressureição | 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Este filme é tecido com o mesmo fio com que se montam as fábulas, parábolas e contos de fadas! São estórias universais que se mesclam às nossas memórias coletivas e compõem nossa narrativa de humanidade. Assim, esta película de duas horas, dirigida magnificamente pelo diretor lesotiano Lemohang Jermiah Mosese, é sobre uma velha senhora que, após perder todos seus familiares, deseja morrer, mas ao mesmo tempo salvar sua vila de uma inundação prestes a acontecer, devido a construção de uma represa, e assim poupar seu povo de um exílio forçado na cidade grande.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: This is not a burial, It’s a resurrection, 2020. Direção e roteiro: Lemohang Jermiah Mosese. Elenco: Mary Twala, Jerry Mofokeng, Makhaola Ndebele. Gênero: Drama. Nacionalidade: Lesoto, África do Sul, Itália. Trilha Sonora Original: Yu Miyashita. Fotografia: Pierre de Villiers. Edição: Lemohang Jermiah Mosese. Duração: 2hrs.
É o mito da heroína que, para salvar seu povo, se sacrifica e que, nessa imolação, ressuscita algo e, de certo modo, dá um novo rumo à trajetória de seu povo. Essa heroína é vivida pela atriz Mary Twala. Que grande intérprete! Que força ela dá ao personagem com seu rosto marcado pelas agruras da idade, com seus diálogos, com sua incorporação magnética da personagem Mantoa.
Fábula africana por excelência, a paisagem montanhosa de Lesoto é linda e, no decorrer do filme, vamos entendendo a rotina dessa vila rural que será inundada para construção de uma represa. Conhecemos seus líderes políticos, seus pastores, caçadores, crianças e velhos. E a narrativa vai sendo conduzida por um contador de histórias que, tocando um instrumento tradicional africano, vai dando ao roteiro as características de uma fábula. Presenciamos a criação de uma mitologia, de uma heroína mítica!
A fotografia é muito cuidadosa em dar aos seus frames uma aura mística e compor muitos dos quadros como se fossem pinturas barrocas de santos. A expressividade da atriz principal é muito explorada nessas composições e suas cenas de solidão à espera da morte são comovedoras. Os seus diálogos com Deus nos fazem entender o que se está passando na cabeça da personagem e o contexto de morte e ressurreição dão ao filme um teor místico muito forte e belo.
Resumindo, é um filme belo e de uma intensidade impressionante! Essa fábula africana nos impressiona por sua narrativa de sofrimento e redenção. É como se alguém estivesse nos contando à beira de uma fogueira, num tempo imemorial, uma narrativa mitológica e desse exemplo moral, dessa parábola, aprendêssemos muito e nos enriquecêssemos como seres humanos.
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