Não é exatamente uma tradição o WBN fazer listinhas de fim de ano, mas vez ou outra, conseguimos nos motivar e listar algo do que vimos ao decorrer do ano que se passou e destacar por aqui. Sem Muitas delongas, ai vai o que nossa equipe de super colaboradores <3 escolheu para comentar.
FRAN
Com a pandemia, muito da minha vontade
de consumir música, literatura e cinema ficaram travados com a vida toda
concentrada dentro de casa, conciliando a faculdade, o trabalho e os hobbys no
mesmo cômodo. Para tentar fugir desse "novo normal", o meu 2020 foi
todo saudoso: Revi filmes que eu gosto, reli meu livro favorito da
adolescência, escutei álbuns antigos e assisti algumas novelas noventistas.
Na literatura, reli o roteiro da minissérie Anos Rebeldes, escrito por Gilberto
Braga, e lançado em 2010 pela editora Rocco (ver aqui). Além da história do casal formado por Maria Lúcia (Malu Mader) e João Alfredo (Cassio Gabus Mendes) que fez sucesso no folhetim da Rede Globo em 1992, o livro traz algumas memórias de Gilberto sobre o período
ditatorial que instaurou no nosso país durante 21 anos.
A minissérie conta a história de Maria Lúcia, uma jovem que
só queria viver longe da política e de todos os problemas do Brasil, isso
porque ela tem traumas com a história do pai, que é um jornalista conhecido no
Rio de Janeiro e membro do Partido Comunista que sempre colocou seus ideais
acima da realização pessoal. Quando ela conhece João Alfredo, percebe que ele
tem os mesmos ideais que os de seu pai, e por isso sente um medo constante de dar o
seu amor ao rapaz. João é um jovem extremamente preocupado com as lutas
sociais do país e está disposto a tudo para lutar pelo que acha correto. Ao se
apaixonar por Maria Lúcia, ele fica dividido entre o relacionamento afetivo e a
militância política.
No cinema, não vi tantos filmes como gostaria (se tudo der
certo, até o dia 31/12 chego em 100 filmes assistidos no ano, muito pouco para o que costumo ver). Aproveitei o tempo para conferir sagas que nunca tinha visto, como Harry Potter
e Crepúsculo (disponível no TELECINEPLAY). Adorei a experiência, pois assisti no auge dos 26 anos e achei
gostoso, quebrei alguns preconceitos enraizados e só consegui pensar: "A
Fran de 10/15 anos atrás, se tivesse a oportunidade de ter visto tudo isso,
teria amado igual todos os amigos dela que hyparam na época, rs". Além dessas sagas, maratonei longas de alguns diretores
e o meu favorito do ano é o senhor Spike
Lee. Enquanto revisitava alguns filmes dele, assisti pela primeira vez o filme FAÇA A COISA CERTA (Do the Right Thing, 1989) e esse sem
dúvidas foi o que mais marcou. O filme mostra o dia a dia da pizzaria italiana
de Sal (Danny Aiello), no meio do Brooklyn, bairro que tem a maior concentração
de negros e latinos, sendo considerada uma das áreas mais pobres de Nova York.
Sal toca a pizzaria junto com seus filhos Vito (Richard Edson) e Pino (John
Turturro), e para a entrega das pizzas contam com o officeboy Mookie (o próprio Spike
Lee), morador do bairro. Dentro da pizzaria, Sal mantém em uma das paredes
diversas fotos de estrelas ítalo-americanas do cinema, da música e do esporte.
Um dos moradores e freguês assíduo da pizzaria, Buggin' Out (Giancarlo
Esposito), ao notar essa "parede da fama" entra em atrito com Sal, pois
não concorda com o mural ter apenas famosos brancos num local onde a maioria dos
moradores são negros. A partir desse desentendimento, Buggin' Out tenta o resto
do dia boicotar o estabelecimento. Esse desentendimento desencadeia uma série
de atritos até chegar na cena clímax da produção. Com a confusão armada, a polícia
chega e tenta prender um dos moradores, Radio Raheem (Bill Nunn) que se envolve
em uma briga dentro da pizzaria, esses policiais, brancos, na tentativa inútil
de imobilizá-lo, enforcam o morador que já nem estava na briga e afastado de
todo o tumulto. Com o despreparo clássico, eles asfixiam Radio até a morte, o
que acaba gerando uma grande revolta nos demais moradores que por fim acabam
destruindo e botando fogo na pizzaria que foi o estopim de toda a confusão.
'Faça a Coisa Certa' (1989) está no catalogo TELECINE (clique aqui) Seria muito clichê dizer que a vida imita a arte e
vice-versa, mas quem lembra no mês de maio quando George Floyd foi assassinado
em Minneapolis no dia 25 de maio de 2020 ao ser asfixiado por um policial? E após essa morte cruel, o
movimento Black Lives Matter tomou força e muitos protestos foram feitos desde
então? Pois bem, essa cena de Faça a Coisa Certa se correlaciona exatamente com este ocorrido cruel.
Acredito que foi justamente por esse fato que o filme me marcou muito, Spike
Lee é super cirúrgico em seus filmes, uma pena que a genialidade do seu trabalho foi ignorada pela academia na temporada de premiações daquele ano.
Na música, minha banda do ano foi o Interpol. Liderada por
Paul Banks, a banda já é velha de estrada e não houve nenhum lançamento recente
deles, então viajei no tempo e voltei para 2002 com o álbum de estreia Turn on the Bright Lights. Naquela
época esse álbum abriu portas para uma sonoridade que hoje conhecemos como indie rock, de bandas como The Killers ou até os Strokes que já estavam na estrada desde 98. A banda pega algumas características pós-punk e é uma ótima pedida
para quem ama um vocal em tom melódico e grave como os que Ian Curtis do Joy Division ou Robert Smith do The Cure trouxeram ao mundo. As músicas trazem reflexão, mas entregam uma sonoridade enérgica que eu chamo particularmente de "músicas
para dançar chorando".
Principais hits: Obstacle 1, PDA
Músicas Favoritas: Obstacle 2, The New e Stella Was a Diver and
She Was Always Down
LEANDRO
Este ano foi cheio de momentos loucos para todo mundo, mas algumas coisas trouxeram acalento. Seja como leitura, música ou cinema, passar bastante tempo dentro de nossas residências fez com que consumíssemos muito mais mídia digital e, dessa maneira, aqui estão algumas das coisas que melhoraram meu humor e renovaram minhas energias neste desgastante 2020.
Na leitura, o livro
Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus foi, sem dúvidas um grande momento de reflexão de vida, identificação familiar e análise de uma sociedade que, em 60 anos, mudou pouco ou quase nada. O livro reflete o diário de uma favelada, que, página a página, vai contando as mais diversas situações pelas quais passou com seus filhos.
Além de Quarto de Despejo, como professor, tive a oportunidade de ler o Aprenda, Desaprenda e Reaprenda, da professora e pesquisadora Leila Ribeiro (ver aqui). Em um ano que foi necessário aprender conceitos novos, desaprender antigos ou reaprende-los, esse livro me fez pensar que, cada vez mais, a educação precisa ser animadora, motivadora e inclusiva.
É muito difícil me ver sem um fone de ouvido e, o principal álbum que posso indicar para este ano é o Ungodly Hour, da Chloe X Halle. Que álbum maravilhoso, meu deus. As meninas compõem, dançam, cantam super bem e apresentam um disco com várias nuances de musicalidade. Comece por Ungodly Hour, homônimo do álbum, passe por Do it e vá para Forgive Me. Tenho certeza que este álbum pode ter pelo menos uma música que vai te conquistar.
De filme, um que me aqueceu o coração e me fez chorar de alegria/orgulho foi o "3 idiotas" (2009). Que, aliás, é um título indiano e conta a história de dois amigos que partem em busca de um terceiro camarada desaparecido. Eles vão revivendo e relembrando histórias e a maneira ímpar com a qual um deles enxerga e busca mudar o mundo te emociona.
MARCELINO
(observação da editora: o Marcelino mandou as dicas dele com uma precisão de colunista exemplar, então curtam ai) Filme: Isso Não É um Enterro, É Uma Ressureição (This is not a burial, it’s a resurrection), de Lemohang Jeremiah Mosese
Fábula filmada em Lesoto, este filme narra a jornada de uma mulher sofrida que sacrifica tudo em prol de seu povo. Com simbologia inspirada na religiosidade cristã desta aldeia nas montanhas africanas, as imagens belíssimas da narrativa, quase pinturas barrocas espanholas, contam o calvário e enterro desta líder tão carismática. Um Bacurau africano que mostra a luta de uma comunidade contra o poder e o capitalismo, é uma história mítica que nos assombra após sua conclusão. Tem crítica dele disponível no site (clique
aqui).
Livro : A OCUPAÇÂO. Julián Fuks. Editora Companhia das Letras (ver
aqui).
Lançado no final de 2019, este livro dialoga bem com o ano de 2020, na sua mescla de desesperança, sofrimento, retomadas e resistências. Representante da auto-ficção tão utilizada pelos escritores em nossos dias, narra “autobiograficamente” a luta do autor com o pai doente, do seu desejo de ter um filho com a esposa, do seu contato com os ocupantes de um prédio abandonado no centro de São Paulo.
Narrativa muito humana que faz uma reflexão política sobre a nossa atualidade, essa mescla de dores cotidianas nos fazem ver uma luz no final do túnel: a ocupação das nossas vidas e de nosso espaços.
Série: A MALDIÇÃO DA MANSÃO BLY. Netflix. Criação: Mike Flanagan.
Série de terror da Netflix adaptada dos contos do Henry James, é uma delícia acompanhar essa modernização de alguns dos contos de horror vitorianos mais conhecidos. Estórias classudas, ambientadas em mansões campestres sinistras, com muitos serviçais, fantasmas e crianças inocentes. A Outra Volta do Parafuso é o eixo central e já rendeu várias adaptações cinematográficas. Terror de altíssimo nível literário!
BÁRBARA
2020 ficando para história como um aninho complicado e memorável, neh?! E se tem uma coisa que nos ajudou a sobrevivê-lo, ao menos a mim ajudou horrores, foi a cultura pop. Sim, Sim, Sim! Filmes, séries, livros e muita música fizeram meu ano, não diferente de todas as outras 32 voltas ao sol que dei, mas com um gostinho peculiar dessa questão toda de se proteger e proteger que amo.
Duas séries britânicas fizeram a minha quarentena. A primeira foi a maravilhosa
Normal People, de Lenny Abrahamson, da qual falei horrores neste post
aqui - e sei lá amo pra sempre por tanta emoção que me causou- e a segunda a tremenda
Staged, dos criadores
Simon Evans e
Phin Glynn. A minissérie com apenas seis capítulos, e duração de 20 minutos, foi produzida, filmada e lançada pela rede de televisão
BBC durante a pandemia. Aliás, todos os atores interpretam a si mesmos e estão frente a uma webcam por todo o show.
A trama traz um diretor preocupado em perder a chance que acabara de conseguir: conduzir a peça "
Six Characters In Search of An Author", que em português literal significa: Seis Personagens em Busca de um Autor. Para que isto não ocorra, ele decide então chamar seus protagonistas, os dois super atores
David Tennant e
Michael Sheen, para ensaiar o texto
via zoom. Claro, a iniciativa sai fora do controle e tanto o diretor quanto a roteirista acabam tendo que lidar com brigas e egos de Tennant e Sheen. Em cenas hilárias, vemos a dupla, que outrora trabalhou junta na excelente
Good Omens, lidarem com os vizinhos velhinhos, com as esposas, com os filhos em idade escolar e ainda com o crescente tédio de tudo. Fora que a amizade, ou melhor, o
bromance entre eles vai ficando cada dia mais desenvolto em cena e quando o sexto episódio chega você não quer dar tchau de forma alguma. O mais íncrivel ainda é rolam participações especiais de muitas gente bacana, entre eles, o ator
Samuel L. Jackson e a Dama
Judi Dench. O show foi ao ar em meados de 2020 e só agora no finzinho do ano teve confirmação de uma segunda temporada para o inicio de 2021 (YES YES YES).
David Tennant e Michael Sheen em imagem de divulgação de STAGED (2020)
Na literatura, foquei nos livros do Clube do Livro voltado para clássicos que o WBN organiza aqui em Brasília. Lemos 11 incríveis obras este ano. Entre eles, Mulherzinhas, O Jogo da Amarelinha, Grande Sertão Veredas, O Diário de Anne Frank e até o gigante Dom Quixote. Com a pandemia, o clube até virou internacional e contou com participações de gente de todo o mundo, pois fizemos todas as reuniões (pós março) virtuais. E ano que bem continuaremos os trabalhos assim. Para saber mais do clube, basta visitar: https://www.instagram.com/clubedolivroclassicos
Acabei indo ao cinema até mais do que pensava que iria, mas três filmes que vi em casa, me deixaram bem feliz e com certeza não entram nos melhores do ano, mas se destacam pela emoção/diversão que me proporcionaram no período de pandemia. São eles, Summerland (trailer), Dating Amber (trailer) e A Pequena Morte (este último está disponível no TELECINEPLAY).
O primeiro é estrelado pela estupenda
Gemma Arteton e escrito e dirigido por
Jessica Swale e conta como a vida às vezes dá volta e reencontramos o amor, apesar de achar tê-lo perdido. A temática dele é LGBTQ então espere uma história muito fenomenal. Dating Amber também vem nessa narrativa, mas fala de descobrimento. O filme, com direção e roteiro de
David Freyne, traz dois amigos no
highschool que são gays, Amber, papel de
Lola Petticrew, e Eddie, papel de
Fiona O'Shea (que também está em Normal People), e decidem namorar para que todos ali parem de encher a paciência deles ou praticar
bullying, já que desconfiam que eles não são heteros. Já o último filme, é uma produção australiana que vem falar da sexualidade de casais de diversas idade e como eles chegam ao orgasmo. Seus fetiches malucos e como isso afeta a relação de cada um. Um dos casais, aliás, que tem uma das narrativas mais legais está lá pelo final do filme e, apesar de eles não necessariamente ficarem juntos, tem um momento engraçadíssimo. Acontece que Mônica (
Erin James) trabalha em um telemarketing para pessoas com deficiência auditiva e a moça tem que falar o que a pedirem. Assim, Sam (
T.J. Power) liga na central e pede para que ela telefone para uma garota de programa e transmita o que ele quiser. Claro, a cena começa hilária e termina de um jeito muito fofo fazendo você pensar em como os desdobramentos das relações humanas podem ser surpreendentes e muito necessários.
Pra fechar, claro, não poderia deixar de fora o que eu ouvi este ano. Uma lista cheia de divas e cantores pop's, mas aqui ali com um bom Indie Rock. Apesar de ter ouvido Harry Styles até ele estar em primeiro lugar no meu top2020, uma das músicas que mais me tocou este ano foi ''Ordinary Man'' do pai das sombras, Ozzy Osbourne. A música tem uma pegada setentista e tem feat com Elton John para deixar você ainda mais embasbacado em como o morcegão teve a sacada de presentear seu público com um álbum tão incrível e cheio de diversidade de gêneros.
Continua...