Um homem e uma mulher vivendo a ânsia de retomar suas carreiras: os laços fraternais não são a única coisa em comum entre os irmãos Lisa (Nina Hoss) e Sven (Lars Eidinger). Compartilhando até o mesmo nascimento (Sven é apenas dois minutos mais velho), os gêmeos têm uma ligação muito forte de companheirismo e dividem um semelhante gosto pela Arte. Ele, um renomado ator de teatro que se afastou dos palcos após ser diagnosticado com Leucemia; ela, uma brilhante dramaturga que se diminuiu à sombra de seu marido.
O drama suíço Minha Irmã tinha tudo para ser um dramalhão e repetir vários clichês de filmes que abordam o câncer, mas as diretoras Stéphanie Chuat e Véronique Reymond conduzem a trama de forma sensível e acertada. Acaba por ser um poderoso e reflexivo drama familiar, um mergulho agridoce nas relações que, para o bem ou para o mal, nos definem.
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Ficha Técnica
Título original e ano: Schwesterlein, 2020. Direção e Roteiro: Stéphanie Chuat e Véronique Reymond. Elenco: Nina Hoss, Lars Eidinger, Marthe Keller, Jens Albinus, Thomas Ostermeier, Noah Tscharland, Moritz Gottawald e Urs Jucker. Gênero: Drama. Nacionalidade: Alemanha e Suiça. Trilha Sonora Original: Christian Garcia. Fotografia: Filip Zumbrunn. Edição: Myriam Rachmuth. Figurino: Anne Van Brée. Distribuição: A2 Filmes. Duração: 01h39min.
A história começa com a saída de Sven do hospital e sua aparente recuperação, o que pode significar seu retorno ao teatro. Lisa adota uma postura inegavelmente materna em relação ao irmão, fazendo tudo o que está ao seu alcance para que ele volte a atuar. Tal atitude de cuidado e superproteção não é à toa. A matriarca da família, viúva e displicente, não parece tão preocupada com o bem estar dos filhos, chegando ao ponto de negligenciar o tratamento de Sven. Não faltam críticas ao trabalho de Lisa, ao qual a mãe nunca deu o devido reconhecimento. Neste sentido, pode-se dizer que Lisa e Sven também têm isso em comum: uma ausência afetiva familiar que parece fortalecer ainda mais seu vínculo especial. De certa forma, eles só têm um ao outro.
Entretanto, a maior proximidade com o irmão lentamente faz com que o casamento de Lisa entre em colapso, já que a distância proporciona melhor perspectiva de questões que antes ela ignorava, como, por exemplo, o fato de ter deixado de lado sua carreira na dramaturgia para se dedicar aos papeis de esposa e mãe. Todas as escolhas e certezas de Lisa se despedaçam quando entra em cena a doença do irmão, sua cara-metade, fazendo-a reavaliar o que realmente importa.
Minha Irmã é uma obra tocante que possibilita contemplação sobre as relações que nos inspiram e nos lembram de quem realmente somos, ao passo que o cínico e cruel mundo real tenta roubar nossa inocência e criatividade. Isso fica ainda mais óbvio quando Lisa resolve escrever uma versão adulta de João e Maria, clássico dos irmãos Grim que se consagrou com os filmes Disney, como um monólogo para ser interpretado por Sven, uma tentativa de manterem a conexão que têm um com o outro e resgatar sentimentos acolhedores de outrora. Tanto Lisa quanto Sven almejam os holofotes e a validação que vem com o reconhecimento. Mas, mais do que isso, desejam estar em paz na completude que encontram um no outro, seu reflexo. No fim das contas, tudo que querem é ir pra casa.
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