Um grupo de forasteiros adentra uma floresta para investigar misteriosos desaparecimentos que podem ter envolvimento com a antiga lenda de uma bruxa que assombra a comunidade local. O uso de câmeras manuais é fator vital para registrar os acontecimentos que se desenrolam durante a busca, mesmo que não seja fácil entender ao certo o que é captado pelas lentes. Mas é bastante improvável que a equipe saia da mata com vida.
Esta descrição poderia ser sobre A Bruxa de Blair, blockbuster do fim dos anos 1990 que popularizou a técnica found-footage na Cultura Pop, mas não é. Trata-se do terror russo A Viúva das Sombras, que pega emprestado de seu primo estadunidense escolhas narrativas e estéticas, como a técnica de simular filmagens com câmeras amadoras (ainda que a use apenas pontualmente).
Na história, centenas de pessoas têm desaparecido nas florestas de São Petersburgo todos os anos. Residentes evitam a mata fechada, temendo se tornarem mais uma vítima. Atribui-se a responsabilidade por estas mortes a uma lenda urbana, a viúva do título do filme. Segundo a fábula, uma jovem filha de camponeses foi vítima de um linchamento por ter assassinado seu marido. Torturada e abandonada nua numa vala, jurou vingar-se de todos que cruzassem seu caminho. Quando, nos dias atuais, uma equipe de resgate invade inadvertidamente o território amaldiçoado em busca de uma criança desaparecida, pouco a pouco vão todos sendo tragados pela fúria do espírito rancoroso.
A produção estabelece inicialmente um clima de exploração, construindo um primeiro ato razoavelmente sólido e condizente com a sua proposta, utilizando de câmeras tremidas e closes que diminuem a sensação de se tratar de um filme profissional, mas deixando claro que a técnica found-footage será usada em apenas poucas cenas (o que diverge do que era prometido no trailer de divulgação do filme). O clima de tensão e mistério vai se intensificando conforme a trama avança, porém o uso preguiçoso de sua trilha sonora previsível para potencializar sustos fáceis e desnecessários faz com que a produção perca sua credibilidade com truques baratos. Infelizmente, o folclore no qual o filme é baseado (seu diferencial) não ganha o destaque que deveria, e acaba por ser diluído num mar de clichês óbvios que parecem mais querer tornar o produto final mais palatável para públicos internacionais do que em valorizar a história que se propõe a contar. Ainda que tenha alguns bons momentos, A Viúva das Sombras sacrifica seu potencial pra se tornar algo genérico, menor.
Criado pela equipe responsável por outros títulos inspirados em lendas aterrorizantes, como A Sereia: Lago dos Mortos e o ainda inédito no Brasil Baba Yaga, o terror dá continuidade à proposta de levar às telas figuras mitológicas tradicionais do folclore europeu. Um projeto bastante ambicioso e louvável. Mas que não necessariamente se reflete em excelência cinematográfica, diminuindo-se injustamente e resultando em obras esquecíveis.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: The Widow, 2020. Direção: Ivan Minin. Roteiro: Natalya Dubovaya, Ivan Kapitonov e Ivan Minin. Elenco: Viktotiya Potemina, Anastasiya Gribova, Margarita Bychkova, Ilya Agapov, Aleksey Aniskin, Konstantin Nesterenko, Oleg Chugunov. Gênero: Terror, Suspense. Nacionalidade: Russia. Trilha Sonora Original: Nick Skachkov. Fotografia: Maksim Mikhanyuk. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h20min.
Sessões a partir de 25 de Fevereiro
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