quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Judas e o Messias Negro | Assista nos Cinemas


A história do movimento negro norte-americano é permeada por muita luta e toda essa jornada vem manchada por opressores que derramaram o sangue de muitos nomes importantes do movimento, a começar pelo ilustre Martin Luther King. Claro, não esquecendo o dia histórico em que Rosa Parks decidiu dizer não a segregação racial, durante os anos 50, e negou-se a ceder seu lugar no ônibus para um branco, iniciando uma onda de protestos por toda a terra do tio Sam. Anos mais tarde, já em meados da década de sessenta, surgiu então o partido dos Panteras Negras com o intuito de defender a autodeterminação dos negros no país.

O movimento começou a crescer e guiado por um programa de dez pontos no qual defendia direito a liberdade, educação, emprego pleno, isenção de serviço militar para todos os jovens, justiça ao irmãos presos equivocadamente e muito mais, capitou mentes e as colocou para trabalhar pela causa. Uma delas foi a do jovem Fred Hampton. Fred era organizador do Comitê de Estudantes que lutavam contra a violência e com sua entrada para o partido, fez aliados com outros movimentos de resistência e conquistou o respeito da comunidade local em Chicago. O jovem de fala assertiva e ideais bem direcionados se tornou então presidente do partido na cidade. 

Para o FBI, toda a luta dos Panteras representava perigo a nação, e nesse momento, os detetives e investigadores forão incentivados por seus superiores a conter tais ações. Assim, eles conseguiram infiltrar um homem negro no partido e este auxiliou de forma aterrorizante a morte de Hampton aos 21 anos de idade, em 1969. O ocorrido se deu somente dois anos depois de Fred ter entrado para os Panteras. 


O drama histórico apresentado pelo roteirista e diretor Shaka King faz uma ótima analogia aos momentos finais do lider cristão mais conhecido do universo. Não deixando a jornada se tornar frágil, mas trabalhando passo a passo a construção desta. 

Conhecemos Hampton, papel de Daniel Kaluuya, falando ao povo e os incentivando a buscar dias melhores e uma vida melhor. Os fazendo revolucionários e plantando palavras de poder em seus inconscientes. E também conhecemos William O'Neal, vivido por Lakeith Stanfield, um homem que busca sobreviver e para isso não mede esforços. Um dia, O'Neal tenta roubar um carro e é preso em flagrante. Além das punições físicas que recebe, o rapaz é chantageado pelo agente Roy Mitchel, interpretado por Jesse Plemmons, e a partir daquele dia recebe uma missão: se infiltrar no partido dos Panteras Negras e repassar toda informação que eles precisem para acabar com o mesmo e com seu lider. 

Aos poucos, O'Neal vai ganhando a confiança dos membros dos Panteras e fazendo uma coisa ou outra. Começa como motorista, opção ficcional para a dramatização, e termina como segurança pessoal do alvo em questão, Fred Hampton, o que segue a linha real da história. Como plano de fundo a toda a situação de vermos mentiras sendo espalhadas para derrubar o partido ou até mesmo prisões orquestradas de Fred para deixa-lo mais fraco, assistimos o nascimento da história dele com a militante e poeta Deborah Johnson, vivida por Dominique Fishback. Uma relação que é simbolo de amizade, companheirismo e força. 

Na primeira imagem, Fred Hampton à esquerda e William O'Neal a direita. Na segunda, seus interpretes no filmes. Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield.

King nos entrega um resultado extremamente consistente e que desenvolve não só a relevância de um lider para um movimento como as falhas daquele que o traiu. Retrata ainda com veemência o qual chamativo Hampton era e o quão camaleão O'Neal também era. Claro, faz uso ao inicio e ao fim de dados e entrevistas, mas dramatiza com propriedade e criatividade a cruel caminhada final de um super homem. Seu elenco, está além do que se pode imaginar. Kaluuya e Stanfield trabalham juntos pela segunda vez e se você não sabe disso, precisa acelerar o passo e assistir Corra! (ler comentários aqui). 

Aqui os atores tem uma troca equilibrada, contudo, o foco da câmera segue mais aquele que movimenta a trama. Assim, Lakeith tem a vez e quando seu personagem traiçoeiro age da forma como precisa agir, o faz de forma convincente e uma que deve se aproximar bastante ao que rolou no passado. Há o momento em que ele também tem suas dúvidas, seus medos e inseguranças, mas continua a missão e a conlcui como o FBI queria e para se ver livre deste. Se sente culpa, esta é minima, afinal, ele não exatamente estava ali por vontade própria e nem de longe parecia ser o tipo de cara que se envolveria em movimentos que lutassem pelo coletivo. Kaluuya tem muita força também e são suas falas corajosas e encorajadoras que nos deixam ligados na performance dele. Seu par romântico, Dominique Fishback também deixa sua marca no filme, pois ilustra a inteligência das mulheres no movimento, contudo, há também aquelas que pegam em armas e ajudam os outros panteras a se defenderem em momentos de ataque. Jesse Plemmons nos revela um diabo cheio de lábia e amigo e não só suas cenas com Lakeith são muito boas como as que seu personagem parece estar sempre um passo atrás das ações dos superiores.

A produção passou pelo Sundance Filme Festival deste ano e também está indicada ao Globo de Ouro nas categorias de 'Melhor Ator Coadjuvante' para Daniel Kaluuya e 'Melhor Canção Original' para H.E.R, Thiara Thomas e D'Mile.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Judas and the Black Messiah, 2021. Direção: Shaka King. Roteiro: Will Berson e Shaka King, com argumentos de Kenneth Lucas e Keith Lucas. Elenco: Daniel Kaluuya, Lakeith Stanfield, Jesse Plemmons, Dominique Fishback, Ashton Sander, Algee Smith, Darrell Brit-Gibson, Lil Rel Rowery, Martin Sheen, Dominique Thorne. Gênero: Biografia, Histórico, Drama. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Craig Harris e Mark Isham. Fotografia: Sean Bobbitt. Edição: Kristan Sprague. Distribuição: Warner Bros Pictures. Duração: 02h06min.


Avaliação: Quatro punhos cerrados levantados!

HOJE NOS CINEMAS

See ya!

B-

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