Druk – Mais uma Rodada é o novo filme de Thomas Viterberg, realizador dinamarquês que alçou sucesso internacional ao lado de Lars von Trier nos anos 90 com o movimento conhecido como Dogma 95, tal qual composto por série de regras radicais a serem cumpridas por um filme. Enquanto Lars von Trier seguiu o caminho das imagens controversas, Vinterberg entrou cada vez mais no terreno da simplicidade centrando, com o passar do tempo, suas narrativas em relações sociais comuns.
O último filme do diretor de sucesso no Brasil foi A Caça, indicado a filme estrangeiro no Oscar, que retrata a acusação de pedofilia de um professor de primário. Em Druk, temos novamente parceria com Mads Mikkelsen e este interpreta um professor colegial chamado Martin, pertencente a uma comunidade dinamarquesa. Há anos perdendo o interesse pelas coisas a seu redor, tanto a família quanto os alunos que leciona, Martin decide entrar num “experimento” com os amigos para testarem os benefícios do consumo de álcool na vida social. A hipótese é que o ser humano tem uma deficiência natural de álcool no sangue e que repô-la seria o ideal para ganho de energia, disposição e perda da timidez.
Assim como em A Caça, toda a história ocorre numa pequena comunidade, como se numa cidade de interior em que as famílias se conhecem e as fofocas têm um peso desmoralizador. É uma história de bairro. A escolha dessa ambientação parece apontar uma preocupação com o que forma o nosso tecido social, como se para mostrar um universo reduzido que repercute em universos maiores: a relação do bairro com a cidade de Copenhague, bem como da cidade com a Dinamarca, do país para o continente europeu e, então, o mundo.
Mas tanto o experimento dos professores alcoólicos, quanto o experimento de tecido social de Vinterberg, soam artificiais ao fim do filme. Vendo de fora, fica evidente que todos ali buscam justificativas para beber e usam o estudo que estão escrevendo como desculpa para movimentar a vida que andava parada. Isso levanta, no espectador brasileiro, uma pulga atrás da orelha. A organização, riqueza e cultura escandinava soam artificiais e utópicas se comparadas à realidade do lado de cá, especialmente quando vemos o esfacelamento das instituições e uma pandemia fora de controle com recordes mundiais de mortes há semanas.
As relações interpessoais encontram suas próprias dificuldades dentro de cada cultura e esse é o maior trunfo do cinema: dividir as experiências pelo mundo através de particularidades. Mas Vinterberg não se esforça muito para trazer as mazelas sociais que seu país enfrenta para um diálogo que ultrapasse a superficialidade e o óbvio do “álcool é uma droga perigosa”. O diretor até tenta na cena da briga do casal (clássico em histórias sobre vício), quando a esposa de Martin diz que: “o problema não é você beber, o país inteiro bebe”.
Portanto, Druk – Mais uma Rodada se basta no relato de um “experimento” de quatro homens de meia-idade desiludidos com o tédio de suas vidas sem tentar, por exemplo, discutir o motivo de uma geração de homens dinamarqueses estar passando por isso; ou porque a saída se mostra no álcool e não em relações mais significativas. Essas facetas do problema trariam possibilidades para criar conexões entre homens de muitos lugares diferentes, mas o filme prefere focar-se em uma narrativa previsível de derrota perante o abuso de uma droga que, justamente por ser legal e culturalmente importante, se mostra mais perigosa.
Trailer
Título original e ano: Druk, 2020. Direção: Thomas Vinterberg. Roteiro: Thomas Vinerberg, Tobias Lindholm. Elenco: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Magnus Millang, Lars Ranthe Maria Bonnevie, Helene Reingaard Neumann. Gênero: Drama. Nacionalidade: Dinamarca, Suiça e Holanda. Supervisor Musical: Mikkel Maltha. Fotografia: Sturla Brandth Grøvlen. Edição: Janus Billeskov Jansen e Anne Østerud. Figurino: Ellen Lens e Manon Rasmussen. Distribuição: Vitrine Filmes. Duração: 116min.
"DRUK - MAIS UMA RODADA" entrará em cartaz nesta quinta-feira (25) num circuito que contemplará salas de cinemas abertas, além de ter lançamento digital no NOW, iTunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes para compra. A partir do dia 8 de abril, com uma expansão de plataformas e formatos, incluirá também Vivo Play e Sky Play, para compra e aluguel.
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