Não há o que se vangloriar ou exaltar em ditaduras, pelo contrário, tem-se de ter horror e repulsa para que não volte a ocorrer!
O Brasil, aliás, por muito tempo foi palco de uma dura realidade e sangue inocente manchou as páginas da nossa história, como em toda a América Latina. Edna Rodrigues de Souza, personagem real do mais recente filme de Eryk Rocha, escreveu em cadernos o que viu e viveu por anos e toda uma jornada de dor e reflexões sobre o que se passou é exibida em filme que estreia hoje no É TUDO VERDADE, com reprise e debate marcados para o sábado à tarde.
Uma das sete filhas de sua mãe, Diná, como também é conhecida, não conheceu seu pai, mas viu de perto as invasões em terras amazônicas e a ganância dos homens a deixou marcas profundas. Os conflitos e mortes, ela até chega a contar alguns destes, foram horripilantes. Mulheres foram estupradas, maridos presos e muitos como a sofrida senhora, foram presos e jogados em lugares minúsculos e sem ar por conta da Guerrilha do Araguaia e da Guerra dos Perdidos.
Edna conta que ao passo que tudo isto se deu, sequer teve noção de quanto tempo foi. Hoje, madura, sonha em abandonar o lugar que vive e buscar reescrever seus passos. Com uma narração pausada, ao som de vozes cantarolando, a mulher vive sua rotina de simplicidade e fala do tanto que a terra é rica e como todos deveriam agradecer a isto. Mas eles não tem o seu olhar, não sabem o que ela passou para pensar assim.
Ao lado de seu companheiro, questiona sobre amor e paixão e confirma que amor é algo diferente do que eles sentem um pelo outro. E mesmo com este sentimento, não deixa de se proclamar insegura e sequer ter o que fazer em relação a situações de perigo com os que estão a sua volta. As mortes ocorridas foram muitas e ela teve que apreender a sobreviver, a pensar, a não dar razão a quem é abusivo e autoritário. A se calar.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Edna, 2021. Direção: Eryk Rocha. Assistente de Direção: Gabriela Carneiro da Dunha. Roteiro: Gabriela Carneiro da Cunha, Eryc Rocha e Renato Vallone. Argumento Original: Gabriela Carneiro da Cunha. Com: Edna Rodrigues de Souza e Antonio Maria Cabral (Carlos). Gênero: Documentário. Nacionalidde: Brasil. Trilha Sonora Original: Guilherme Kastrup, Manoel Cordeiro e Ava Rocha. Pesquisa: Paulo Fontele Filho, Marcelo Zelic e Gabriela Carneiro da Cunha. Produção do set: Fernanda Haucke. Produção Associada: Waldir Xavier. Som Direto: Bruno Carneiro da Cunha. Montagem: Renato Vallone. Mixagem: Bernardo Adeodato. Fotografia: Erik Rocha e Jorge Chichile. Duração: 64min.
Rocha nos leva por essa estrada do conhecimento de um passado tenebroso e nos pede que vivamos o que esta mulher viveu. E que tenhamos força para suportar suas falas calmas e sempre de muita dor. Assistimos então um filme sem cor que ao passar reflexão, ganha som, sabor e colorido.
Não chegando a uma hora e cinco minutos, Edna transparece lucidez. É um dos documentários mais belos desta edição do festival e se faz necessário e importante para a parte da sociedade brasileira que ainda insiste em 'volta da ditadura' ou sequer se arrependem de seus apoios tortuosos os últimos dois anos.
Vinheta Festival ''É Tudo Verdade''
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