Durante a Ditadura Militar no Brasil, a tensão se acirrou ainda mais quando grupos da oposição começaram a revidar armados à repressão do regime, atacando agências bancárias e quartéis. Foi o suficiente para que estes opositores ganhassem status de terroristas domésticos. Em meados de 1970, militares adotaram uma prática que se tornaria recorrente a partir de então: usar presos políticos torturados para dar declarações públicas de teor antirrevolução e anti-esquerda e exaltar a Ditadura. A intenção era enfraquecer o senso de unidade da frente rebelde e desacreditar as pautas defendidas por manifestantes que eram contra o governo militar.
O documentário de Ricardo Calil e Armando Antenore tem como protagonistas as primeiras vítimas desta estratégia de tortura e de intimidação à resistência, conhecida como “arrependimento”. Alguns destes “arrependidos” comentam, 50 anos depois, suas experiências como revolucionários e os horrores vivenciados por eles ao serem torturados e usados como propaganda pelos militares no início da década de 1970. Como uma amostra do ultranacionalismo cego da época, a edição do filme entrecorta entrevistas nas quais estas personalidades relatam as chocantes e desumanas torturas sofridas, exibindo entre elas comerciais carregados de mensagens patrióticas idealistas que exaltavam símbolos nacionais e o amor à pátria.
Os Arrependidos relembra este vergonhoso período histórico, mostrando, também, como a mídia era usada pelo regime como propaganda pró-sistema, celebrando o patriotismo brasileiro e, ao mesmo tempo, sutilmente usando o medo como artifício de repressão, enfatizando o poderio dos militares e criminalizando as pessoas que se opusessem a eles. Ponto importante do documentário é a “crise existencial” política sofrida pelas vítimas destes “arrependimentos” forçados, usadas como manobra política. À época, suas declarações foram repudiadas pela esquerda brasileira, que passou a tratá-los como traidores do movimento. Sendo obrigados a defender opiniões com as quais não concordavam para se livrarem da violência e abandonados por seus ex-companheiros de revolução, tornavam-se, assim, párias ideológicos. Uma tortura que continuava mesmo após acabar.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Os Arrependidos, 2021. Direção: Ricardo Calil e Armando Antenore. Gênero: Documentário. Idioma: Português. Nacionalidade: Brasil. Duração: 74 min. Classificação Indicativa: Livre.
No momento em que discursos favoráveis à Ditadura e à tortura voltam a ser defendidos livremente no Brasil, documentários como Os Arrependidos se mostram muito mais do que relevantes: obras como esta são necessárias.
Festival É Tudo Verdade
Serviço:
Dir. Armando Antenore e Ricardo Calil / Brasil, 2021, 83’
Competição Internacional de Longas
Como Acessar o Looke:
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