É incrível como alguns filmes que em "outras eras" passariam despercebidos na grade de programação caem no gosto do grande público, e quem sabe, até da crítica, em tempos de Pandemia e isolamento social. Uma temática que, aliás, pode até vir a ser estudada por psicólogos e analistas comportamentais, afinal, será que o fato de estarmos mais sensíveis e emotivos nos levou a procurar na ficção algo que auxilie em como extravasar nossas emoções?
O fato é que "Milagre da Cela 07" fez um sucesso enorme na NETFLIX e levou muita gente às lágrimas. Mas veja bem, não estamos falando daquele chorinho sorrateiro que nos surpreende no escurinho do cinema não. O que a produção da A2 Filmes faz é incrível, pois são verdadeiros rios e soluços que lavam a alma. E quando esta acaba nos sentimos leves e descompromissados já que se torna óbvio que tudo não passou de uma historinha.
Deixando de lado a qualidade do roteiro, que no caso é bem superficial, e mirando nos outros atributos técnicos, este dramalhão foi um dos mais vistos em 2020 e com certeza um dos mais recomendados no grupo da família.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original e ano: 7 Kogustaki Mucize, 2019. Direção: Mehmet Ada Öztekin. Roteiro: Özge Efendioglu, Kubilay Tat. Elenco: Aras Bulut Iynemli, Nisa Sofiya Aksongur, Deniz Baysal, Celile Toyon Uysal, Ilker Aksum, Mesut Akusta, Yurdaer Okur, Sarp Akkaya. Gênero: Drama. Nacionalidade: Turquia. Distribuição: A2 Filmes. Duração: 132min. Classificação: 12 anos.
O filme é um remake do original sul-coreano de 2013, que nem apresentava uma pegada tão chorosa, e foi adaptado à realidade da Turquia, abordando o sistema judicial e a pena de morte por enforcamento. Dirigido por Mehmet Ada Oztekin, que entrega uma linha mais religiosa, a película também agradou em demasiado o público Turco.
As lembranças de uma noiva voltam a tona com o foco em um objeto na gaveta e assim se inicia a trama.
O longa nos pega pela emoção desde as primeiras cenas quando introduz a pequena Ova (Nisa Sofiya Aksongur) sofrendo bullying na saída da escola ao encontrar seu pai Memo (Aras Bulut Iynemli). O homem tem déficit de desenvolvimento mental e, segundo a doce avó (Celine Toyon Uysal) da menina, tem a "mesma idade" da filha. Uma definição lindinha da família!
Apenas o olhar carinhoso e a intervenção da professora Mine (Deniz Baysal) parecem demonstrar alguma empatia e entender o amor desse pai pela criança. A avó cuida dos dois, pois a mãe de Ova morreu quando a menina nasceu e certos acontecimentos não ficam bem explicados, mas sabe-se que "ela virou uma estrela".
A relação familiar humilde de criadores de ovelhas (que tem nomes de pessoas) no árido povoado cria um clima bem sentimental. Uma mochilinha bem cara da personagem Heidi desencadeia uma série de fatos que culminam em um incidente e a acusação de Memo pela morte de uma coleguinha escolar da filha. A menina é herdeira do Comandante do Exército (Yurder Okur) e este manipula os fatos para vingar a morte da criança. Memo é então condenado à pena de morte por enforcamento. Não sem antes comer o pão que o diabo amassou e nos fazer chorar cântaros. Aparece ainda uma única testemunha que poderia reverter a situação e evitar a morte do homem, porém esta é eliminada brutalmente, o que nos causa grande revolta.
Na prisão temos momentos que beiram o realismo e outros bem forçados, porém que transmitem a mensagem contida no título do filme. O milagre, no caso, não seria algo surreal ou divino, mas a transformação que a convivência com aquela pessoa de natureza infantil, ingênua e sem maldade, irá trazer à vida daqueles detentos.
Devemos destacar a atuação excelente de Aras que consegue encarnar a personagem com realismo impressionante e respeito àqueles nesta situação. O carisma da pequena Nisa ganha nossos corações. O encontro entre pai e filha na prisão é de um encantamento único, fazendo-nos até relevar a forma como foi planejado o encontro.
O vilão da história, o Comandante do exército, transmite no olhar o sentimento contraditório entre a frieza da vingança e a dor pela perda da filha de forma trágica. Os colegas da cela 07, rudes e sofridos, aos poucos se mostram humanos, com sentimentos e seguindo a norma de conduta que eles mesmos criam.
O final inesperado redime os encarcerados, o diretor da prisão e alguns policiais e nos dá a chamada "esperança" na raça humana. Bem propícia ao momento, aliás.
Logo, se deixarmos de lado nosso aguçado senso crítico e assistirmos "O Milagre da Cela 07" com um olhar mais contemplativo veremos algo mais além dos furos em sua estrutura e clichês. O momento pede mais emoção e menos crítica! O mundo real já está duro o bastante.
A dica então é: assista e se emocione!
O filme tem transmissão na telinha da Globo, hoje, às 22h25min pelo Cinema Especial, mas também está disponível no catalogo do AMAZON PRIME VIDEO.
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