sexta-feira, 23 de julho de 2021

Godzilla vs. Kong | Disponível na HBOMAX


Quando o mundo testemunhou a megalomaníaca versão de King Kong dirigida por Peter Jackson, a grandiosidade do filme parecia exagerada até mesmo para os padrões do aclamado cineasta de O Senhor dos Anéis. Contudo, o remake foi muito bem aceito pelo público e pela crítica, rendendo toneladas de dinheiro em bilheteria e venda de DVDs. Anos depois, a possibilidade de uma sequência chegou a ser considerada por Jackson, que cederia seu cargo para o jovem diretor Adam Wingard, conhecido na época pelo slasher Você é o Próximo. A continuação acabou nunca indo pra frente, uma vez que os direitos de uso do personagem voltaram para a Warner Bros. Era apenas questão de tempo até o estúdio reavivar King Kong, o que aconteceu no segundo capítulo da franquia MonsterVerso, Kong: Ilha da Caveira, sem nenhum envolvimento de Peter Jackson ou Adam Wingard. O nome de Wingard, porém, aparentemente nunca saiu da lista de contatos da equipe. Após dirigir Bruxa de Blair e a versão estadunidense em live action de Death Note, o cineasta foi anunciado pela Legendary Pictures como diretor do esperado crossover entre Kong e Godzilla.

Adiado diversas vezes devido à pandemia de COVID-19, Godzilla vs. Kong finalmente foi lançado em 2021, tanto nas salas de cinema quanto na HBOMAX (apenas em solo Estadunidense). No longa, o outrora aliado da Humanidade, Godzilla, mostra-se inexplicavelmente hostil e ataca instalações da companhia Apex Cibernética. Uma equipe científica encabeçada pelo geólogo Nathan Lind (Alexander Skarsgård) e pela antropóloga Ilene Andrews (Rebecca Hall), recorre a Kong para tentar deter a fúria de Godzilla. Paralelamente a isso, o paranoico funcionário da Apex e especialista em monstros gigantes, Bernie Hayes (Brian Tyree Henry), a jovem-prodígio Madison (Millie Bobby Brown) e seu amigo Josh (Julian Dennison), investigam a verdade por trás dos ataques de Godzilla, assim como as intenções secretas da Apex, que podem ser ainda mais perigosas do que o próprio poder das criaturas.

Levemente inspirado no filme King Kong vs. Godzilla, de 1962, a versão atualizada do confronto entre titãs dá continuidade tanto a Kong: Ilha da Caveira quanto a Godzilla II: Rei dos Monstros. A mitologia do MonsterVerso segue sendo expandida, adentrando temas já apresentados nos longas anteriores, como, por exemplo o reino pré-histórico subterrâneo inexplorado pela Humanidade, chamado carinhosamente de Terra Oca (não confundir com Terra Plana, por favor). Este mundo secreto nas profundezas do planeta é uma das grandes novidades e acaba sendo palco de alguns dos momentos mais memoráveis do longa. Outro cenário icônico do filme é Hong Kong. Com prédios imponentes cravejados de luzes neon, a metrópole se torna um ringue futurista quando os monstrões que dão nome à obra finalmente se encontram por lá. As grandiosas cenas de luta, não apenas entre os protagonistas, mas também envolvendo outras criaturas, são muito bem coreografadas e não ficam devendo em nada às vistas nos capítulos anteriores da saga. Os efeitos visuais criam ambientes virtuais críveis que conseguem manter o senso de escala e realismo (ilusão sustentada muito mais pela estética dos efeitos do que pela qualidade do roteiro).

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Godzilla vs. Kong, 2021. Direção: Adam Wingard. Roteiro: Eric Pearson e Max Borenstein com argumentos de Terry Rossio, Michael Dougherty e Zach Shields. Elenco: Alexander Skarsgård, Rebecca Hall, Julian Dennison, Brian Tyree Henry, Millie Bobby Brown, Kyle Chandler, Demián Bichir, Lance Reddick. Gênero: Ação, Scifi, Thriller. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Junkie XL. Fotografia: Ben Seresin. Edição: Josh Schaeffer. Distribuidora: Warner Bros Pictures do Brasil. Duração: 01h53min.
Enquanto o MonsterVerso avança, é palpável o distanciamento do senso de realidade que o Godzilla de 2014 tentou criar, o que faz o filme inaugural da franquia soar cada vez mais uma história isolada. As continuações ampliaram a estrutura de universo compartilhado ao mesmo tempo que incentivaram uma aparente isenção de verossimilhança. Agora, a Ficção Científica (muito mais ficção do que científica, diga-se de passagem), é a palavra de ordem. E a verdade é que a Ciência deste mundo de monstros gigantes existe mais em função da aventura do que de qualquer embasamento científico concreto. Isso pode até ser encarado como demérito, se considerarmos o esforço do diretor Garrett Edwards em tornar o Godzilla de 2014 mais do que "apenas" um filme de monstro. Porém, os episódios posteriores do MonsterVerso abraçaram um ensinamento bastante valioso:  não há nada de errado em ser “apenas” um filme de monstro. Não importa quão vazia ou absurda seja a ciência especulativa por trás do enredo, porque ela existe unicamente em favor do entretenimento. É a existência dos tais titãs que rege as leis da Física e da lógica neste universo, não o contrário. O mesmo se aplica aos seres humanos da trama de Godzilla vs. Kong: com exceção do elo entre a personagem de Rebecca Hall, sua filha adotiva, Jia (Kaylee Hottle), e Kong, os demais personagens são meros avatares e estão lá só para que a história avance. Mesmo o luto, motivação de alguns dos personagens, é tratado com tanta superficialidade que é usado somente para criar algum background para eles, e só. E tudo bem: a história não é sobre eles. Aliás, o protagonista não é ninguém além de Kong. Ele é o centro de tudo, o condutor emocional da trama. Mesmo com as limitações do roteiro, o filme é muito bem-sucedido em fazer o público se simpatizar com o titã peludinho, construindo um arco dramático até bastante competente para desenvolver a história que o leva até o lendário título de King Kong. Godzilla, obviamente, tem bastante destaque, já que o longa é sequência direta da última aventura protagonizada por ele. Mas, narrativamente, desta vez sua função é simplesmente fazer contraponto a Kong. 





A parte boa do crescente desprendimento da saga em relação a amarras realistas é bem mais profunda do que aparenta. Este espírito de aventura fantasiosa foi por décadas a base do universo cinematográfico de monstros gigantes produzidos pelo estúdio japonês Toho. Enquanto o primeiro filme de Godzilla, lançado em 1954, serviu como uma introdução séria e fúnebre do lagartão atômico (originalmente, uma alegoria que simbolizava os horrores do holocausto nuclear) os capítulos subsequentes a ele se tornaram aventuras episódicas cada vez mais mirabolantes e até mesmo engraçadas. Talvez o MonsterVerso esteja seguindo o caminho de suas raízes clássicas, não apenas em estrutura e temática, mas também em seu legado espiritual. A esperança para o futuro (ainda incerto) da franquia é que esta “emancipação” também se reflita na liberdade criativa para cineastas na cadeira de direção, já que a Legendary Pictures parece vir evitando algum tom mais autoral nos últimos filmes, de modo que a longa jornada de Adam Wingard até Godzilla vs. Kong, infelizmente, resultou num filme que não tem muito da identidade de seu diretor.

Com certeza é uma experiência bastante divertida acompanhar o “enfarofamento” desta franquia. Pode não ser uma culinária muito refinada, nem agradar a todos os paladares. Mas, pra quem gosta, este entretenimento ultraprocessado com certeza é uma delícia! A fórmula funcionava há 60 anos e continua funcionando hoje. Alguns clássicos não saem de moda.


ESTREIA DA SEMANA NO CATÁLOGO DA HBOMAX.

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