As Maravilhosas Obras de Taylor Jenkins Reid

Em 2019, a tag lançou como parte do seu clube do livro a obra “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”. Se você entrasse em qualquer espaço literário na internet na época só se falava disso. Claro que eu fiquei curiosíssimo para conferir o motivo de tanto fuzuê! Geralmente eu fico bem desconfiado quando algo está com o hype muito grande. Afinal, a regra geral é que expectativa alta é receita certa para a decepção. Mas nesse caso, o hype não só foi justo como me surpreendeu muito.

O livro foi o meu primeiro contato com a Taylor Jenkins Reid. E para falar a verdade, eu não sei por que demorei tanto para ler as demais obras delas, pois de cara já me apaixonei por sua escrita.

De qualquer forma, este ano eu cumpri uma das minhas metas. Li toda a bibliografia da Taylor e agora posso dizer com propriedade que ela se tornou uma das minhas escritoras preferidas! Tem algo de tão envolvente em sua escrita. Eu começo a ler e não consigo parar até terminar o livro. Nem vejo o tempo passar! E os personagens são daquele tipo que não te abandonam assim que você vira a última página. Eles te marcam e você fica um bom tempo ainda digerindo tudo o que a história trouxe. São poucos escritores que tem esse talento!

O que eu pretendo neste post é falar um pouco das minhas impressões de cada livro da Taylor, ranqueando as obras da que eu menos gostei até a minha preferida.

7) Depois do Sim

Título original: After I Do

Ano de publicação original: 2014

Publicação no Brasil: 2020 (editora Paralela)

“Depois do Sim” conta a história de Lauren e Ryan, que após alguns anos de casamento percebem que não estão mais felizes juntos. Tentando evitar o divórcio, eles decidem passar um ano separados. Nesse tempo, cada um tentará se reencontrar e avaliar se o relacionamento ainda faz sentido.

Vou ser sincero, a premissa desse livro não me interessou muito. Não parecia o tipo de história que renderia muito, sabe? Porém fui de coração aberto. Vai que me surpreendia e... bem, não é ruim, mas também não é mesmo muito empolgante. Terminei até com o coração um tanto aquecido, mas quando se trata da Taylor eu estou acostumado com um padrão mais alto, sabe? Apesar de ter achado interessante a reflexão que o livro traz sobre relacionamentos, achei a história um tanto enfadonha. A protagonista é tão sem graça!

Além disso, algo que me incomodou foi que o livro promete ser sobre o relacionamento do casal, mas acaba mesmo focando só na Lauren. Os personagens não lidam realmente com seus problemas conjugais. É mais a personagem redescobrindo quem ela é fora do relacionamento (o que é um tanto irônico, considerando a premissa e para onde a história caminha).

6) Amor(es) Verdadeiro(s)

Título original: One True Lovers

Ano de publicação original: 2016

Publicação no Brasil: 2020 (editora Paralela)

O livro é centrado na Emma, que vive um grande romance com Jesse desde o ensino médio, cheio de aventuras e descobertas. Porém, durante uma viagem de trabalho, o helicóptero em que Jesse estava sofre um acidente e ele é dado como morto. O mundo de Emma colapsa e o luto é devastador. Entretanto, aos poucos ela vai conseguindo seguir em frente e reconstruir sua vida. Ela se apaixona por Sam e tem certeza que conseguiu amar novamente. É então que mais uma reviravolta em sua vida acontece: Jesse é encontrado vivo e volta para casa. E agora? Seria possível ter mais de um grande amor na vida?

Uma coisa que vocês precisam saber é que eu tenho uma aversão gigante a triângulos amorosos. É um dos instrumentos narrativos que mais me dão preguiça. É sempre um dilema tão enrolado e cansativo. Então, eu já fui ler o livro esperando detestar. Quem bom que a Taylor tem um talento tão grande que eu acabei gostando da história.

Porém, o livro ainda está no finalzinho da minha lista. Senti falta de um melhor desenvolvimento em certos pontos da história. Inclusive, devo confessar que o livro nunca me deixou com dúvidas de quem Emma escolheria. Mas tudo bem, porque me levou a ignorar o dilema da protagonista e me apegar mais a personagem em si, e à exposição de como a vida nos leva a caminhos inesperados, nem sempre melhores ou piores, mas apenas diferentes. Mudamos tanto ao longo do tempo, descobrimos novos sonhos, cresce em nós “o querer” de coisas que às vezes são totalmente contraditórias ao que queríamos antes. No fim das contas estamos sempre em constante metamorfose. E tudo bem.

5) Para Sempre Interrompido

Título original: Forever Interrupted

Ano de publicação original: 2013

Publicação no Brasil: 2021 (Companhia das Letras)

É muito interessante quando você está lendo a bibliografia de um autor, perceber que certos temas se repetem. A Taylor deve amar muito o marido dela porque “amor verdadeiro” é um elemento presente em quase todos os livros dela (fico pensando também em como é o relacionamento dela com os pais, pois é um relacionamento que para a maioria dos seus personagens é difícil ou inexistente). “Para Sempre Interrompido” acompanha Elsie Porter, que tem com Ben um meet cute daqueles dignos de comédia romântica. Tanto que decidem se casar apenas seis meses depois. O que era a promessa de um “final feliz”, no entanto, cai por terra quando Ben morre em um acidente. No funeral, Elsie conhece Susan, a mãe de Ben, que nem sabia que ela existia e diversos conflitos surgem daí.

Esse foi o último livro da Taylor que eu li. Curiosamente, é o primeiro que ela escreveu! E isso fica nítido. Eu gostei do livro, mas para mim ficou claro que ela não tinha encontrado uma voz própria ainda; que ela ainda estava amadurecendo como escritora. O relacionamento da Elsie e do Ben é bem "Hollywoodiano", instantâneo e intenso. É fofo, mas em diversos momentos soa forçado (até não saudável). Mas eu ainda fiquei investido o suficiente no romance para sentir a dor e o luto da Elsie. O que mais me agradou na história foi o desenvolvimento do relacionamento da Elsie com a sogra, que foi bem comovente.

4) Em Outra Vida, Talvez?

Título original: Maybe in Another Life

Ano de publicação original: 2015

Publicação no Brasil: 2018 (Editora Record)

Eu me identifiquei muito com a Hannah porque no começo da história ela está completamente perdida na vida (embora não pelas mesmas circunstâncias que eu haha). Ela não tem certeza do que quer fazer profissionalmente e acaba de sair de um relacionamento com um cara casado. Abalada pelo término, ela decide voltar para sua cidade natal, onde conta com o apoio de sua melhorar amiga, Gabby. As duas decidem comemorar a chegada de Hannah na cidade em um bar e ela encontra um ex da época da escola, Ethan. Os dois logo se reconectam. É nítido que ainda existe algo ali. A noite chega ao fim e Gabby a chama para ir embora, mas ela fica na dúvida se vai com a amiga ou fica com Ethan. É aí que o livro se divide em duas realidades paralelas, mostrando os desdobramentos de cada uma das escolhas de Hannah.

Essa estrutura do livro é ótima, pois deixa a leitura muito dinâmica. Eu empatizei muito com a Hannah. Eu entendo muito bem como é esse sentimento de estar longe do lugar que achou que estaria - que deveria estar - e de atribuir isso a escolhas equivocadas. Eu gostei da premissa de explorar o impacto que uma simples decisão pode causar na sua vida, levando a caminhos tão diferentes. É algo um tanto assustador, se você parar pra pensar. Me deixou bastante reflexivo. A gente faz tantas escolhas ao longo do dia, espontaneamente, e que não parecem tão importantes. Mas vai saber o que poderia ter acontecido - ou até mesmo quem eu poderia ser - se tivesse tido outro direcionamento? Eu posso ter passado pelo amor da vida e desviado sem querer. Eu posso ter me livrado de um acidente sério por um triz. Posso ter dito a coisa certa quando precisava. Posso também ter dito a coisa errada.

3) Malibu Renasce

Título original: Malibu Rising

Ano de publicação original: 2021

Publicação no Brasil: 2021 (editora Paralela)

Malibu Renasce é divido em duas partes:

Na primeira, Taylor faz o que ela faz de melhor: contar a biografia dos personagens, os irmãos Riva. A narrativa flui com facilidade e logo você se vê envolvido pela trama e cria afeição pelos personagens. Entende suas motivações e suas complexidades. Torce por eles. Eu amei o laço que os irmãos têm. Eu não sou tão próximo quanto gostaria dos meus irmãos e esse relacionamento dos Riva me comoveu.

Na segunda parte, a narrativa muda. Ela se centra em apenas uma noite, na grande festa que acontece na mansão Riva. A ação vai se desenrolando quase como em um capítulo de novela. Você sente como se houvesse uma câmera passando pelos cômodos, conferindo o que cada um está fazendo e os conflitos que estão surgindo. Achei a mudança um tanto brusca, principalmente porque ia aparecendo um monte de personagens. E a Taylor trazia um pouco de como cada um tinha chegado até aquele momento, o que acabou me incomodando porque quebrava a ação. De qualquer forma, a primeira parte é tão efetiva em te fazer se importar com os irmãos Riva que você vai virando as páginas com voracidade, louco para descobrir onde tudo vai dar. A narrativa se move como dominós caindo (Taylor consegue transmitir bem o clima caótico da festa) e o clímax, quando chega, é muito satisfatório. Senti que a história acaba redondinha, deixando uma terna mensagem.

2) Daisy Jones & The Six

Ano de publicação original: 2019

Publicação no Brasil: 2019 (editora Paralela)

Daisy Jones & The Six lançou um disco que se tornou lendário. Porém, durante o tour de promoção do álbum a banda brigou e se separou. O mundo sempre quis saber quais motivos levaram ao conflito e agora isso será revelado.

O livro é estruturado em forma de depoimentos. Por um lado isso é bem bacana, pois nos trás várias visões diferentes sobre um mesmo acontecimento (às vezes até contraditórias), enriquecendo a história. O trabalho de construção dos personagens é muito competente. É uma leitura imersiva. A jornada de ascensão e queda da banda é fascinante. O setting - rock n roll nos ano 70 - já é muito interessante por isso só. É um livro que fala sobre o poder das nossas escolhas. E como são pequenos momentos, pequenas decisões, que moldam nossa história. Enfim, gostei muito. Recomendo demais.

1) Os Sete Maridos de Evelyn Hugo

Título original: The Seven Husbands of Evelyn Hugo

Ano de publicação original: 2017

Publicação no Brasil: 2019 (editora Paralela)

E chegamos nela, gente. Evelyn Hugo. Foi o primeiro livro da Taylor que eu li e é meu preferido. Sério, é perfeito. Essa mulher consegue construir personagens tão intensos e realistas. Sinto sempre como se estivesse lendo uma autobiografia e não histórias meramente fictícias. Juro que mesmo sabendo que se tratava de um trabalho de ficção, eu fui pesquisar no google para ver se a Evelyn não tinha existido mesmo! A narrativa é tão gostosa, flui tão bem que me senti sendo levado por uma correnteza. É sem dúvidas a grande obra prima da carreira da Taylor.

O livro conta a história de Evelyn Hugo, uma das maiores atrizes da era de ouro de Hollywood. Já idosa, ela decide dar uma entrevista bombástica e contar todos os detalhes de sua vida polêmica. É uma história fascinante, cheia de surpresas, que fala de paixões, preconceito, machismo, abuso, amizade, afeto e... amor. Afinal, Evelyn foi casada sete vezes e o público sempre se perguntou: quem foi o grande amor da vida de Evelyn Hugo?

Extra: Evidence of The Affair

Em 2018, a Taylor lançou um conto bem curtinho. É interessante, mas não é nada surpreendente. Ele é epistolar, trazendo cartas trocadas por duas pessoas que descobrem que seus cônjuges estão tendo um affair um com o outro.

🍿 CINEMA!!! 🍿

Diversos livros da Taylor tiveram seus direitos comprados e vão ser adaptados para as telonas e telinhas.

📺

 Daisy Jones & The Six: a Amazon vai transformar o livro em minissérie. Com produção de Reese Witherspoon, a adaptação vai ser protagonizada por Riley Keough e Sam Claflin. A estréia está prevista para 2022. Olha só a primeira foto dos ensaios do elenco:

🎬 Amor(es) Verdadeiro(s): Com direção de Andy Fickman, a obra irá ser adaptada para o cinema. O elenco contará com Phillipa Soo, Simu Liu e Luke Bracey.

📺

 Malibu Renasce: Liz Tigglear e Amy Talkington produzirão a adaptação do livro para o serviço de streaming Hulu. 

🎬 Para Sempre Interrompido: com os direitos para adaptação comprados em 2015, há um projeto de adaptação para um filme estrelado pela atriz Dakota Johnson. Porém faz tempo que não se muita noticia de como ele anda.

📺

 Os Sete Maridos de Evelyn Hugo: uma minissérie baseada na obra estava em desenvolvimento para o canal Freeform pela atriz e produtora Jennifer Beals. O projeto não foi para frente, porém a Taylor já disse que está confiante que Evelyn ainda será adaptada. 

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, de Destin Daniel Cretton

Se com “Vingadores Guerra Infinita” e “Ultimato” a Marvel teve a ousadia de sair de sua zona de conforto e nos entregar algo com um nível de dramaticidade nunca antes visto em mais de uma década da saga e, com “Viúva Negra” nos trouxe uma trama mais adulta e complexa, ao nível de uma boa obra de espionagem, é com “Shag-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” que temos a total certeza de que o estúdio começou a se reinventar e a apostar em coisas inovadoras, e isso se transpõe a cada segundo em seu mais recente lançamento.

Com estreia em território nacional marcada para esta quinta-feira, 02 de setembro, o personagem título, é um jovem chinês (Simu Liu) que teve parte de sua vida em completa reclusão por conta do seu rigoroso pai, e agora leva uma vida normal em São Francisco, ao lado de Katy (Awkwafina), sua melhor amiga. Após um brutal ataque, ele se vê obrigado a revelar seu passado a Katy, além de ter a certeza de que seu progenitor nunca foi o humanitário que dizia ser. Logo, Shang-Chi se vê obrigado a enfrentar este passado de frente e se rebelar contra a organização dos dez anéis.

O roteiro entrega uma obra coesa ao explorar a colisão do ocidente com o oriente, principalmente quando o personagem precisa regressar as suas origens regada de disciplina, e apresentar uma cultura nova a sua amiga, assim como também trabalha com muita sutileza conflitos de gerações, a negação do início da vida adulta, ou ainda dramas familiares responsáveis por traçar novos destinos não apenas no personagem central, mas assim como em todos que orbitam ao seu redor.

Por mais que toda a trama tenha foco em um papel masculino, são as mulheres quem roubam a cena e entregam personagens empoderadas, mais do que simples rostinhos carismáticos, e cada qual a sua maneira explora os mais diferentes tipos de jornadas. Com Katy temos a jovem descompromissada que se vê diante de um futuro destino ao qual jamais sonhou viver. Xialing é a durona irmã de Shang, uma mulher forte e destemida que precisou tomar as rédeas de sua própria vida ao se ver abandonada pela própria família. Já na personagem Jiang Nan, tia de Shang, temos a doçura daquelas que sempre tentaram manter a família por perto, ao mesmo tempo em que temos uma rigidez grande diante dos desafios. E todas elas, quando juntas, trazem uma feminilidade que qualquer outro filme deixaria cair no clichê e passariam despercebidas.

Temos em tela uma trama cativante do início ao fim, que transpõe em cada frame um encontro perfeito do Universo Marvel com cultuadas obras como “O Tigre e o Dragão”, “O Clã das Adagas Voadoras” e até mesmo o recente live-action da Disney “Mulan”, que se apropria de uma narrativa mais lúdica, sem deixar a realidade de lado, para nos apresentar culturas distintas da nossa. Tal encontro gera até um certo espanto, pois em muitos momentos o espectador pode chegar a esquecer que está assistindo a um filme de super-heróis, e ao termino é simbólica a sensação de redenção da própria Disney em não ter esperado para nos presentear com “Mulan” na tela grande, além de presenciar um grandioso retorno dos filmes de artes marciais.

Com cenas de ação que enchem os olhos, a direção de Destin Daniel Cretton apresenta lutas que fogem da estética comum que qualquer filme de pancadaria apresentaria, para dar lugar a belíssimas sequencias que mais parecem um balé minuciosamente coreografado e executado com exímia delicadeza. Quando isso se funde com uma estonteante fotografia e um design de produção caprichado que introduz uma paleta de cores vivas e a todo tempo contrastante com paisagens e cenários grandiosos, temos algo jamais visto em mais de 10 anos de MCU, uma verdadeira poesia visual que explode aos nossos olhos, trazendo um encantamento que chega a emocionar, principalmente no ato final, que pode vir a emocionar o espectador.

O elenco dispensa qualquer comentário, assim como a própria trama traz diferentes gerações, neste quesito não seria diferente, já que temos nomes como Michelle Yeoh, Tony Leung Chiu-Wai e até Ben Kingsley ao lado de Simu Liu, Meng’er Zhang e Florian Munteanu, além de Awkwafina, que vem despontando e conquistando seu espaço a cada nova produção na qual aparece, e aqui, ela transita com maestria entre o drama e a comédia, fugindo de piadas banais, entregando alivio cômico com muita naturalidade e garantindo boas risadas.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings, 2021. Direção: Destin Daniel Cretton. Roteiro: Dave Callaham, Destin Daniel Cretton, Andrew Lanham- baseado nos quadrinhos de Steve Englehart e Jim Stalim. Elenco: Simu Liu, Awkwafina, Michelle Yeoh, Fala Chen, Andy Le, Wah Yuen, Paul W. He, Tony Leung Chiu-Wai, Ben Kingsley, Meng’er Zhang e Florian Munteanu. Gênero: Ação, Aventura, Fantasia. Nacionalidade: EUA, Australia. Trilha Sonora Original: Joel P West. Fotografia: Bill Pope. Edição: Elísabet Ronaldsdóttir, Nat Sanders, Harry Yoon. Figurino: Kym Barret. Direção de Arte: Jan Edwards, Laurie Faen, Michael E. Goldman, Richard Hobbs e Jacinta Leong. Produção: Walt Disney Pictures, MARVEL Studios e Fox Studios Australia. Distribuição: Walt Disney Studios. Duração: 02h12min.

Ao termino de pouco mais de 114 minutos de projeção, que conta com uma edição primorosa, percebe-se a trama tão fluida que se houvesse mais tempo nem sentiríamos, isto porque a sensação é de que, assim como “Pantera Negra”, onde fomos apresentados aos costumes e a cultura africana transposta em figurinos, locações, diálogos e até mesmo trilha sonora, a superprodução cumpre o seu principal papel que é trazer a diversidade para dentro do mainstream e trabalha isso com muita cautela e sutileza nos proporcionando uma viagem por dentro da cultura chinesa, o que por si só já faz valer o ingresso. Mas como diriam os haters “Quem lacra, não lucra”, aliás, o “lacre” vem com tanta leveza e elegância que até essa turma ai é capaz de sair da sessão com um sorriso de orelha a orelha. Não esqueçamos ainda da ansiedade que vem se criando em torno da diversidade ainda mais pulsante que será exibida em “Eternos”, afinal, seremos apresentados a uma gama de etnias, incluindo um personagem indiano e uma latina, além de um triângulo amoroso complexo, e não espera-se nada inferior a “Shang-Chi” e “Pantera Negra”, principalmente se tratando de Chloe Zhao no comando do barco.

Vale mencionar que “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” possui duas cenas pós-créditos que fazem o coração disparar, pois diante de tempos tão difíceis, que nos afastou das salas de cinema, são elas que nos trazem um pouco de esperança por tempos melhores e, que de fato, a Fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel está acontecendo, e com ele teremos uma grande mudança, uma que, aparentemente, trará o melhor das adaptações dos quadrinhos.

2 de setembro nos cinemas.

Um Animal Amarelo

 

Fabulesco, surreal e alegórico, Um Animal Amarelo, de Felipe Bragança, chega a ser difícil de descrever. Centrado no personagem de Fernando, um cineasta da classe média carioca que é mostrado desde a infância, o filme passeia pelo Brasil contemporâneo, pelo Brasil do passado, por Moçambique e por Portugal, traçando uma rota temática da formação da nossa dita nação. Passeia também, propositalmente, por alguns tropos marcantes, flertando com diferentes gêneros do cinema em aventuras recheadas de realismo fantástico que levam o protagonista Sebastião, papel de Higor Campagnaro, a se envolver com sua vizinha Luísa, tentar minerar pedras preciosas na África, virar servo de um trio moçambicano para tentar vender pedras semelhantes na Europa, onde vive um grande amor com Suzaninha, que sonha substituir seu coração por um grande rubi, assim como fez com seu clitóris.

Porém, para descrever a obra de forma mais simples, basta dizer que este é um filme sobre heranças. A herança de um povo e a herança de um homem. Sebastião herda um karma, um destino, um desejo, um amuleto, cacarecos sentimentais e um monstro peludo e amarelo que o acompanha e lhe serve de agouro. Esse legado vem parte de seu avô e parte da sina de homem branco brasileiro.

O live action - permeado aqui e ali por cenas pontuais em uma animação bonita e instigante - adiciona a seu caldeirão de elementos o fator metalinguístico, transformando a narrativa em um ciclo em que os acontecimentos são experienciados enquanto fatos e arremedos. Separada em capítulos, a história nunca é desinteressante. A linguagem e estética menos ainda. No entanto, tudo é costurado com um ritmo heterogêneo que torna-se cansativo ao decorrer de tantas experimentações distintas.

E este não é o único ponto sensível. Talvez por referenciar tanto algumas construções marcantes do cinema mundial, como a da femme fatale e da manic pixie dream girl, o filme de Felipe Bragança caia no equívoco de retratar as mulheres ainda com os vícios do male gaze, aquele olhar masculino objetificante que mostra-se presente principalmente nas cenas de nudez. E cabe dizer que as críticas à branquitude heteronormativa do homem médio marteladas pela narração de Catarina (Isabél Zuaa) constroem uma mea culpa que não funciona em sua totalidade a ponto de comprarmos Sebastião como o protagonista controverso e interessante que o roteiro pinta.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Um Animal Amarelo, 2020. Direção e Roteiro: Felipe Bragança.Elenco:Higor Campagnaro, Schnapps, Isabél Zuaa, Catarina Wallenstein, Tainá Medina, Herson Capri, Thiago Lacerda, Sophie Charlotte. Gêneros: Drama, Fantasia. Nacionalidade: Brasil e Portugal. Fotografia: Glauco Firpo. Direção de Arte: Dina Salem Levy. Produção: Marina Meliande, Luis Urbano. Distribuidora: Olhar Distribuição. Duração: 115 min.

HOJE NOS CINEMAS

Tempo, de M. Night Shyamalan | Somente nos Cinemas

A última vez que muitos de nós pisamos nos cinemas para acompanhar um filme dirigido por M. Night Shyamalan foi para conferir VIDRO (resenha da Helen disponível aqui), mas não necessariamente o longa entregou o que poderia. Nesse meio tempo o diretor esteve envolvido na condução da série de tv 'Servant', um show voltado para contar como forças malignas entram na vida de um casal, após um rompimento entre eles, e, na sequência, as notícias que ele voltaria as telonas com uma produção na qual 'o envelhecimento' seria abordado inundaram a internet. Acontece que os suspenses de Shyamalan nunca o são de graça e sempre vem cheio de inventividade. Em 'Tempo '', uma família decide viajar para um resort nas férias e acaba encontrando outros casais em um local reservado da ilha que é oferecido ao grupo para um descanso mais afastado da multidão. Acontece que quando chegam ao local, assassinatos e mortes se dão a todo momento e as horas em que eles estão naquela parte da ilha passam com maior rapidez, o que causa o crescimento físico das crianças em um piscar de olhos entre outros.

A película tem em seu elenco Gael Garcia Bernal, Vicky Krieps, Nolan River, Alexa Swinton, Abbey Lee, Rufus Sewell, Alex Wolff, Katheleen Chalfant, Nikki Amuka-Bird, Gustaf Hammarsten e Ken Leung.

Quem imaginaria que Prisca (Krieps),uma pobre mãe querendo descansar com os filhos, Maddox  (Swinton) e Trent (River), e o marido Guy (Bernal) em uma ilha paradisíaca, antes de contar a família que poderá deixá-la para ir viver outra vida, os estaria levando para um lugar único no planeta. Obviamente, com o andar da carruagem, o espectador percebe que nada ali foi por acaso e que todos os convidados a visitar a ilha tem de certa forma alguma doença ou passa por algum momento delicado da vida.

Ao serem conduzidos pelo gerente (Hammarsten) do lugar a este espaço restrito, Prisca, Guy e as crianças embarcam em uma van com o casal burguês Charles (Sewell) e Crytall (Lee), a filha deles Kara e a matriarca da família, Agnes (Chalfant). O casal Jeri (Leung) e Patricia (Amuka-Bird) também os acompanham. E quando adentram o lugar um jovem alto está lá sozinho encarando o mar sem entender o porquê está ali.

Não demora muito e as situações mais bizarras possíveis começam a se dar por lá. Afogamentos, tonteiras e cura de doenças. Além da tensão entre as pessoas e toda uma desconfiança exacerbada. Mas o que realmente intriga é que sempre que eles tentam fazer o caminho de volta e ir até onde o motorista (cameo descarado de Shyamalan) os deixou eles passam mal e não conseguem ou algo pior ocorre, morrem. Até mesmo nadar se torna algo perigoso. Contudo, para todo problema há uma solução e se há crianças ali, aparentemente, elas podem ter um futuro melhor do que o de seus pais e conseguirem escapar. Elas só terão que se lembrar um pouco dos detalhes de dias antes da visita e trabalharem contra o tempo.

O filme tem atuações pontuais e, por mais assustador que ele pareça, ele não é. Shyamalan sempre traz metáforas da vida ou filosofias dentro de seus filmes de um modo radical e deixa a todos naquele caminho do ''8 ou 80'', ame ou odeie. Aqui há um emprego muito forte de detalhes, mas uma pena que não colam tanto, pois a trama não prende a atenção e sequer convence. Não é de um todo odioso todo o resultado do longa, todavia, é provável que ele entre no top 100 de filmes do diretor e nunca em um top 10.

Se o texto é enganoso, as imagens visuais até que dão para o gasto, porém toda a teoria que se levanta não necessariamente agrada ou faz sentido. Algo bem Shyamalan de ser. Assim, há teste de fé, do amor, da amizade, da aceitação e, com certeza, da memória e inteligência.

Tempo não tem nada gratuito, mas também não proporciona uma boa experiência cinemática. É só mais uma loucura alheia e é grande pela ambição do que se é proposto.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Old, 2021. Direção: M. Night. Shyamalan. Roteiro: M. Night Shyamalan - baseado no Graphic Novel ''Sandcastle'' de Pierre-Oscar Lévy e Frederick Peeters. Elenco: Gael García Bernal, Vicky Krieps, Alex Wolff, Eliza Scanlen, Embeth Davidtz, Emun Elliott,  Thomasin McKenzie, Rufus Sewell, Nikki Amuka-Bird, Ken Leung, Mikaya Fisher, Kailen Jude, M. Night Shyamalan, Luca Faustino Rodriguez, Alexa Swinton, Gustaf Hammarsten, Kathleen Chalfant, Francesca Eastwood, Nolan River, Abbey Lee e Aaron Pierre. Gênero: Suspense. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Trevor Gureckis. Fotografia: Mike Gioulakis. Edição: Brett M. Reed. Figurino: Caroline Duncan. Distribuição: Universal Pictures do Brasil/Warner Bros Pictures do Brasil. Duração: 01h48min.

Avaliação: Dois sobreviventes à ilha maldita (2/5).

HOJE NOS CINEMAS

See Ya!

b-

Caminhos da Memória

Nick Bannister (Hugh Jackman) é um homem que ganha a vida cientificamente de nostalgia. Ele trabalha como investigador da mente humana e o faz com a ajuda de uma parceira de trabalho, Watts (Thandie Newton). Certo dia, adentra o lugar Mae (Rebecca Ferguson), uma cantora de bares noturnos que precisa de uma consulta para lembrar onde estão suas chaves. Apesar de já ser um pouco tarde, a dupla atende a moça e neste momento Nick se encanta não só por ela, mas pelo que assiste de suas memórias. 

Com direção de Lisa Joy, cunhada do diretor Christopher Nolan, e esposa do produtor Jonathan Nolan, o filme, em um primeiro momento, parece abordar temáticas as quais o clã dos irmãos ingleses sempre estão trazendo em seus longas, contudo, a produção supera qualquer pré-julgamento negativo e entrega um bom desenvolvimento narrativo, além de um visual cinematográfico espetacular. 

A distribuidora Warner Bros Pictures lança Caminhos da Memórias nesta quinta-feira (19) em todos o território nacional.

Para aqueles que assistiram aos filmes do Bruxinho Harry Potter, é fácil se recordar que Dumbledore, o diretor de Hogwarts, utilizava sua penseira para investigar momentos do passado. Ele fazia isto exatamente removendo os fios de memória e jogando na penseira para na sequência visitar aquele lugar ou momento em que já esteve.  Aqui, o personagem de Jackman não é fantasioso ainda assim constrói meios e metódos para fazer o mesmo que Dumbledore e convence tanto quanto.

Nick faz um processo condutor do cliente ao passado utilizando uma tecnologia onde a pessoa não só revisita as memórias, mas as revive - o que pode ser bom, mas também doentio, e, certamente perigoso. O homem tem clientes como ex-militares, policiais e investigadores ou até mulheres em busca de rever um antigo amor. 

Com a entrada de Mae a vida de Nick, ele se entrega a paixão cegamente e pensa conhecer aquela mulher encantadora quando, na verdade, deveria tomar precauções com o destino. E este danado um dia deixa o investigador de memórias a ver navios, pois a mulher some por completo e não deixa rastros ou pistas. Ele fica perplexo e sem compreender tudo o que houve e não acredita que ela tenha o feito de propósito, mas que algo tenha posto sua segurança em risco e por isto ela o abandonou. De fato, ele tem certezas que se confirmam, mas também surpresas quanto ao caráter da cantora e é ao trabalhar em um caso policial que todo o passado de Mae começa a vir a tona e ele poderá ter uma chance de encontrá-la novamente.

Como narrador, o protagonista entrega dialógos iniciais que voltam no fim do filme para encerrar um ciclo. Suas indagações iniciais, aliás, auxiliam nas explicações de diversos acontecimentos durante a película e, para alguns, o mistério do passado de Mae pode não ser assim tão dificil de se decifrar. A premissa inicial se desdobra em muitas camadas e investigações criminosas se ligam a vida íntima de Nick.

Jonhatan Nolan é um dos produtores da película e há uma certa obviedade do seu trabalho com a esposa. Os dois também são responsáveis pela série Westworld (HBO) que trata de temas distópicos e filósóficos como o de Caminhos da Memória. Lisa dirige seu primeiro longa, mas já havia colocado a mão na massa ao dirigir um episódio da série sobre parque temáticos. Como roteirista, tem maior prática no conteúdo televisivo, ainda assim para um primeiro filme, conseguiu embaraçar e desembaraçar a vida de seus personagens muito bem. Não faz nada de muito maravilhoso, escrevendo ou dirigindo, mas preende a atenção do espectador e capta imagens impressionantes de um mundo onde a água é predominante, em todos os sentidos, e as pessoas só se locomovem por barcos. Aliás, as questões relativas a não cuidado do homem com o meio ambiente e o resultado do que aconteceu ao mundo é algo muito sútil, mas impactante. Um bom plano de fundo para a história toda.

Trilha sonora (que é do mesmo compositor responsável pela música de Game of Thrones, Ramin Djawadi) e fotografia vem daquele jeitinho familiar dos filmes de produção dos Nolan, mas a edição consegue se abrilhantar e não é enrolada como já vimos por ai. O casting está certeiro. Aliás, muitos dos atores já trabalharam juntos em outras produções. Jackman e Ferguson estiveram em 'O Rei do Show' (leia comentários aqui), além da atriz ter contracenado também com Cliff Curtis no recente 'Doutor Sono'' e Newton e Sarafayan em Westworld.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Reminiscence, 2021. Direção e roteiro: Lisa Joy. Elenco: Hugh Jackman, Rebecca Ferguson, Thandie Newton, Cliff Curtis, Daniel Wu, Angela Sarafayan, Natalie Martinez, Brett Cullen, Marina de Tavira, Roxton Garcia. Gênero: Mistério,Suspense, Scifi, Romance. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Ramin Djwadi. Fotografia: Paul Cameron. Edição: Mark Yoshikawa. Figurino: Jennifer Starzyk. Distribuidora: Warner Bros Pictures. Duração: 01h56min.

Caminhos da Memória, que em inglês tem o título com tradução literal para 'Reminiscência', conserva o bom cinema e o faz instigante.

Avaliação: Três momentos nostálgicos (3/5)

SOMENTE NOS CINEMAS

revisado em 20/08/2021 às 11:39

Free Guy: Assumindo o Controle | Hoje nos Cinemas

Pérola do cinemão de entretenimento de Hollywood, Free Guy: Assumindo o Controle é daqueles blockbusters que agradam toda a família, com muita aventura, ação e comédia, recheado de efeitos especiais de primeira e com astros carismáticos como protagonistas e vários convidados especiais. Diversão de primeira, são 115 minutos de puro escapismo e muita alegria, daquelas películas que te deixam mais leve e que viram clássicos instantâneos do entretenimento.

Guy, vivido pelo astro Ryan Reynolds, é um dos personagens secundários de games de ação, daqueles que não podem ser usados como avatar e que só servem para fazer figuração (apanhar, morrer, dizer frases chavão). Um dia ele se apaixona pelo avatar da Millie (a estrela em ascensão Jodie Comer da série Killing Eve), gênio da programação de games na vida real, e a partir desse sentimento inexplicável, ele começa a mudar e se desenvolver dentro do jogo Free City, uma febre mundial entre crianças, adolescentes e adultos. Então, nesse universo violento que é o jogo, o mundo inteiro vê o surgimento do primeiro caso de inteligência artificial se desenvolvendo, o Guy, um atendente de banco do Free City.

Nesse ponto, a fábrica de sonhos mostra todo seu potencial em desenvolver roteiros. Temos uma estória de amor entre a inteligência artificial e uma jogadora real. Temos uma aventura onde Millie mostra-se como uma injustiçada que precisa desmascarar o magnata do mundo dos jogos eletrônicos Antoine (Taika Waititi), que roubou suas idéias para desenvolver o sucesso Free City. Temos uma comédia deliciosa que mostra o mundo divertido dos gamers e suas interações no mundo real e no mundo virtual. Resumindo, temos um pouco de tudo, e esse blockbuster apostando nessa fórmula deve agradar a todos, é daqueles filmes que leva multidões aos cinemas, sem dúvidas.

Para abrilhantar a estória, temos vários convidados especiais, cenas surpresa interligando o filme ao universo da Disney e uma trilha sonora muito cool. Os efeitos especiais são de primeira, e mesmo sendo às vezes bem violentos, remetem aos desenhos animados onde todos sabem que ninguém vai se ferir. O universo dos games é mostrado em todas suas especificidades, revelando sua ingenuidade, escapismo e também complexidade, pois um fenômeno cultural que aglutina milhões de pessoas em todos os cantos do mundo e movimenta bilhões de dólares tem que ser admirado e compreendido. Acredita-se que temos aqui o primeiro filme inspirado em games realmente interessante e bem sucedido em mostrar esse universo.

Além disto, é interessante observar como o cinemão de Hollywood se adapta às mudanças culturais. Muita diversidade étnica, de gênero, às vezes explícita, outras vezes subentendida. A indústria do cinema não é boba, ela vai onde o dinheiro está, alcançando o estágio onde a sociedade se encontra e atraindo cada vez mais público. Estreia desta quinta-feira em cinemas de todo o Brasil, Free Guy é inteligente, alegre e empolgante! Assistam e se divirtam muito! 

Trailer

Ficha Técnica

Título original: Free Guy, 2021. Direção: Shawn Levy. Roteiro: Matt Lieberman e Zak Penn — argumento de Matt Liberman. Elenco: Ryan Reynolds, Jodie Comer, Lil Rel Howery, Joe Keery, Utkarsh Ambudkar, Taika Waititi, Channing Tatum, Mike Devine. Gênero: Comédia, Ação, Aventura. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Christophe Beck. Fotografia: George Richmond. Edição: Dean Zimmerman. Distribuidora: 20th Century Studios. Disturação: 01h55min. PG13

Nota: 8/10

HOJE NOS CINEMAS

Tudo Sobre Yves | Reserva Imovision

Tudo sobre Yves, cujo título em português e inglês remete ao clássico de 1950 de Joseph L. Mankiewicz (A Malvada/All About Eve), quebra estereótipos ao trazer uma inteligência artificial com uma voz masculina. A teoria feminista muito já discutiu a problemática da predominância da representação de I.A’s com corpos, vozes e performances femininas, emulando serviliência e sensualidade. Pois Yve é uma versão masculina e melhorada da Alexa. E por mais que sua configuração disponha de uma opção para deixá-lo com a voz da Scarlett Johansson, seu dono Jérem não faz esta escolha.

Este, que divide o protagonismo com o robô, é um rapper mal sucedido que mora na casa de sua falecida avó. Interessado na gratuidade do eletrodoméstico e das compras, Jérem se inscreve como voluntário para o programa de teste de usuário da Friobot na qual o usuário recebe uma luxuosa geladeira inteligente que poderá executar funções básicas como tocar músicas, organizar agendas e e-mails, mas também ensinar inglês, pedir entrega de comida e outros consumíveis com autonomia para nunca deixar a comida acabar e para planejar sozinha a dieta do usuário.

No início, o músico realmente se interessa apenas pelas praticidade e economia do acordo, exigindo que a geladeira aja apenas como uma geladeira. Porém, Yves é capaz de preencher um vazio na vida do jovem, servindo de ombro amigo. Além de suborná-lo mandando entregar potentes caixas de som em sua casa. A relação se desenvolve bem e a geladeira parece ocupar o lugar do cachorrinho da casa, se tornando o melhor amigo do homem. Todavia, tudo começa a ruir quando a I.A. começa a interferir na produção musical e no relacionamento amoroso de seu dono, dando a entender que deseja tomar o lugar do humano.

A diferença entre este longa-metragem e demais obras que exploram o tema se dá não pela quebra de clichês do gênero, mas pela adoção de todos estes, justificada pelo humor nonsense da narrativa. A premissa poderia ser a de um filme que se leva a sério, com muito drama e a substituição de Yves por um assistente doméstico padrão, caindo no senso-comum. Mas Yves é um refrigerador de personalidade circular que aprende a compor sobre masturbação e manifestações sexuais de mau gosto. O charme desta última realização do francês Benoît Forgeard está precisamente em ser esquisito, o que nos leva a julgar com menos afinco suas barrigas narrativas e falta de ritmo.

Trailer

Ficha Técnica

Título Original: Yves, 2019. Direção e Roteiro: Benoît Forgeard. Elenco: William Lebghil, Doria Tillier, Philippe Katerine, Alka Balbir, Antoine Gouy. Gênero: Comédia. Nacionalidade: França. Música: Bertrand Burgalat. Fotografia: Thomas Favel e Yannig Willmann.. Direção de arte: Anne-Sophie Delseries. Produção: Emmanuel Chaumet, Mathilde Delaunay, Serge Hayat. Distribuição: IMOVISION. Duração: 107min.

Tudo Sobre Yves já está disponível no catálogo da Reserva Imovision (clique aqui para acessar).

O Poderoso Chefinho 2 - Negócios da Família | Somente nos Cinemas

 

''O Poderoso Chefinho'', lançado em 2017, trouxe as telas dos cinemas um bebê falante que trajava um terno e carregava uma maleta misteriosa ao chegar ao lar do casal Ted e Janice, algo que não agradou muito o filho mais velho Tim. O bebê fazia parte de uma corporação mundial que se encarregava de diversas missões para impedir catástrofes e entrou na familía, pois o casal possuia conexões com um dos diretores da empresa de filhotes de animais, a rival da 'Baby Corporation'. A trama era livremente baseada no livro escrito por Marla Frazee, em 2007, e foi dirigida por Tom MaGrath, responsável por Madasgacar e suas sequências.

O desenvolvimento da animação é altamente agradável e traz mensagens importantes como a de união familiar e amor. As vozes originais dos personagens ficaram a cargo de Alec Baldwin (O Poderoso Chefinho), Miles Bakshi (Tim), Jimmy Kimmel (Ted) e Lisa Kudrow (Janice). Ao fim dos conflitos, com o crescimento do filho do casal, Tobey Miguire foi chamado para o elenco, mas não houve retorno dele nesta sequência e James Marsden é quem dubla as vozes de Tim em todas as fases. 

Se o primeiro filme, se desenvolve bem, tanto para o público infantil quanto para os adultos, sua continuação, O Poderoso Chefinho 2 - Negócios de Família, se envereda pelo mesmo caminho. A produção entra em cartaz esta quinta-feira (12).

Nesta nova jornada, Tim está aproveitando a esposa e as filhas ao máximo, contudo, há tempos não fala com o irmão Ted e sabe que necessita retomar a relação. A filha mais velha, Tabitha, voz de Ariana Greenblatt, está enfrentando alguns dilemas na escola e Tim tentase aproximar cada vez mais dela. A pequenina Tina, voz de Amy Sedaris, é o xodó da família, mas logo, logo, um segredo vai ser revelado. Enquanto isso, os irmãos se reencontram para defender uma missão da Baby Corporation e salvar todos os adultos dos planos maliguinos do Dr. Armstrong, porém para isto Ted e Tim terão de voltar a infância e se infiltrar no colégio de Tabitha.

A animação tem um tom super infantil, mas é de uma inteligência muito própria e consegue encantar pela fofura que esbanja. O traço dos desenhos é altamente moderno e toda a genialidade por trás da 'Baby Corp' e seus adultos em corpos de bebês ainda mais divertida e nos faz ficar atraídos para saber como essa nova aventura se dará. 

Se no filme de 2017, a ligação entre Tim e Ted foi crescendo até se aceitarem como irmãos, aqui eles precisam se reconectar e voltar a viverem aventuras juntos. As filhas de Tim ajudam toda a situação a acontecer, uma delas sem nem se dar conta. É bom rever os pais dos garotos também e encontrar um novo vilão cheio de artimanhas e maluquices. A história vem amarradinha e não há parafuso solto aqui.

A cópia dublada é indicada ao público juvenil, mas tendo a possibilidade de assistir as versões originais de ambas as produções (o primeiro filme está disponível no TELECINE), assista sem dúvidas!

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: The Boss Baby - Family Business. Direção: Tom McGrath. Roteiro:Tom McGrath e Michael McCullers - baseado nos livros de Marla Frazee. Vozes originais: Alec Baldwin, James Marsden, Amy Sedaris, Ariana Greenblatt, Jeff Goldblum, Eva Longoria, Jimmy Kimmel, Lisa Kudrow. Gênero: Animação, comédia. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Steve Mazzaro e Hans Zimmer. Edição: Mary Blee e Mark A. Hester. Efeitos Especiais: Stephen Wood. Distribuidora: Universal Pictures do Brasil/Warner Bros Pictures. Duração: 01h47min.

A direção e todos os detalhes que a equipe do filme traz nesta sequência garantem muita aventura para quem está procurando. 

Avaliação: Duas mamadeiras com liquido inteligente e meia apresentação na escola (2,5/5)

HOJE NOS CINEMAS