quinta-feira, 5 de agosto de 2021

O Esquadrão Suicida

Há exatos cinco anos atrás, estreava mais um filme de boneco para o público que adora o universo Geek, "Esquadrão Suicida", de David Ayer (leia resenha do Leandro aqui). Trágicamente, a produção que traria vilões como protagonistas e os colocaria para trabalhar em equipe, não conseguiu agradar nem os fãs das histórias em quadrinhos e menos ainda quem gosta de cinema como um todo. 

Em um primeiro momento, tentou-se entender o que era aquela união entre Arlequina, Deadshot, Diablo, Enchantress, Killer Croc e Capitão Bumerangue e foi possível perceber o quão criativa era a ideia inicial, além de todo o potencial que esta sugava da obra original pensada por Robert Kanigher e Ross Andru, e modernizada por John Ostrander, mas as constantes interferências do estudio, durante a realização do filme, o fizeram seguir uma fórmula torta e cair em um caminho sem volta, apesar do seu acúmulo mundial de 746.8 milhões de dólares ao redor mundo.   

Sequência ou não, O Esquadrão Suicida, nova interação com alguns dos personagens da primeira iniciativa, vem renovado e cheio de cor graças ao inventivo James Gunn. Despedido da Marvel após "piadas" postadas por ele, lá na rede do passarinho azul, ressurgirem e darem de cara com um mundo politicamente correto, não deu outra e ele foi parar novamente nas páginas dos quadrinhos. 

Com o aval para criar, Gunn leva o público a acompanhar uma jornada de libertação de estereótipos - as personagens femininas não estão de shortinho e apresentam muito Girl Power. Ele também aproveita o tempo para entregar muito sangue e explosões meio a fofura de criaturas geneticamente modificadas e piadas para maiores de 18 anos. Aliás, se as "notas" que ele diz ter recebido da Warner de alguma forma o ajudaram, não sabemos. Contudo, também não o atrapalharam, pois sua condução se permeia por todo o filme.


Aqui somos apresentados a mais uma tentativa de Amanda Waller, personagem da sempre excelente Viola Davis, a induzir criminosos a usarem seu poder para trabalharem a favor do Governo estadounidense. Quando a missão se inicia, entedemos que um time formado por Sanguinário (Idris Elba), Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Harley Quinn (Margot Robbie), e entre outros, liderados ainda por Rick Flag (Joel Kinnaman), deverá destruir um projeto de cunho duvidoso titulado ''Projeto Starfish'' na ilha de Corto Maltese, um lugar que recentemente sofrera um golpe politico.

Enquanto o primeiro grupo tenta penetrar a ilha, uma segunda equipe chega ao lugar e toma a frente da missão. Temos algumas baixas logo de cara e o grupo se mistura. Para ter mais força e conseguir concluir a tarefa, eles também precisam de ajuda local e Rick consegue encontrar em Sol Soria (Alice Braga), uma mulher envolvida na luta armada e defesa de seu lar, o que precisa. 


São claras as referências ao cinema de ação/guerra dos anos 70, ainda mais aqueles filmes que trazem o imperialismo invadindo os países de terceiro mundo. Desta vez, há melhor desenvoltura para envolver o público nos dramas pessoais do grupo, como os traumas do PolkaDot Man, ou o Bolinha, vivido por David Dastmalchian, que até ganha certa comicidade. O Sanguinário de Idris Elba também tem uma vertente no drama e consegue emplacar a simpatia que se pede. Seu personagem cria vinculos paternais com a Caça-Ratos, papel de Daniela Melchior, e o arco narrativo de ambos convencem. Aliás, a garota que consegue controlar os roedores tem apresentação de background e se prepare para ver uma ilustre participação quando este momento chegar. 

Arlequina se desvencilhou do ar de 'mulher objeto' que ganhou no primeiro filme e esta repaginada eleva o valor da personagem tanto quanto sua aventura solo apresentada no inicio de 2020 (texto aqui). Logo, ela consegue se livrar bem das situações, sem precisar do seu eterno amante ou qualquer outro homem para a salvar. A forte mulher que nossa compatriota Alice Braga interpreta no blockbuster não tem em si muito destaque na produção, porém fica claro que ela entra empoderada em cena. Sol Soria, aliás, é referência a outro personagem dos quadrinhos. Juan Soria. Um criminoso que também foi convidado ''por livre e espontânea pressão'' a se juntar ao Esqudrão.


Se Gunn deu força a personagens como Groot e Rocket no incrivel 'Guardiões das Galáxias', em O Esquadrão Suicida traz momentos cômicos e fofura não só com seu texto, mas com o incremento de uma Doninha vesga e um Tubarão-Rei. Personagens que ganham vida com o uso dos efeitos especiais e tem design mais próprio ao cinema. Sean Gunn, irmão do diretor, aparece como figurante em certa cena no presídio e foi o ator usado para encarnar a Doninha usando a técnica de captura de movimentos. Já Sylvester Stallone, a pedido de Gunn, empresta sua voz ao Tubarão comilão e de força inimaginável. John Cena é, sem dúvida, uma das boas surpresas do filme, pois entrega um 'Pacificador' sem escrupulos para chegar onde foi mandado e, além de tudo, está hilário em seu uniforme saido direto das HQ's (aliás, a cena pós crédito evidencia algo ligado ao futuro do personagem). 

O elenco é tão bem articulado que fica até dificil falar de todos, mas a problemática é não esquecer de mencionar que Peter Capaldi é um ser ilustre aqui. Seu cientista malucão adentra a trama de jeitos e ações dúbias e é fabuloso! Outro super ponto para o filme. Ademais, Pete Davidson, Michael Rooker e Nathan Fillion tem participações hilárias. À parte o núcleo dos anti-heróis, temos a equipe de Waller encenando também  instantes de razão e emoção e complementando a história. 


Com um roteiro que trabalha muito bem camadas diferentes dos personagens, Gunn consegue imprimir sua marca e, sinceramente, há zero motivos para que algum fã fique na internet clamando por 'versão x ou y'. É evidente que a visão dele está em cada detalhe dos fotogramas. Humor inteligente, sagaz e uma leve sacanagem, para não deixar tudo muito família. Ah, e ele não faz questão de dar luz ao caminho de um protagonista somente, ele ilumina todos e foca no trabalho em equipe deixando a algazarra e a fanfarronice das situações se sobressaírem, o que faz com que muitas das cenas tenham entretenimento de bom gosto.

Falar de trilha sonora em um filme Warner é repetitivo, neh?! Todavia, cada vez mais o estúdio tem emplacado boas canções, além de um bom ritmo melódico ao filme. Neste aqui ouvimos Johnny Cash, Pixies, Louis Prima e outros. Aliás, ''Just a Gigolo/I Ain't Got Nobody'', de Prima, ganha uma baita cena com Quinn a interpretando de forma eloquente. A música também pode ser ouvida na voz do vocalista da banda Van Halen, David Lee Roth. A clara mudança no direcionamento da união dos vilões ganha uma fotografia quadrinesca e deslumbrante. A edição não cansa e também tem o corte certeiro.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: The Suicide Squad, 2021. Direção e Roteiro:: James Gunn. Elenco: Idris Elba, Joel Kinnaman, Viola Davis, Margot Robbie, Michael Rooker, Jai Cortney, Alice Braga, Pete Davidson, Stephen Blackehart, Steve Agee, John Cena, Daniela Melchior, Storm Reid, Peter Capaldi, Sean Gunn, John Ostrander e Sylvester Stallone. Gênero: Ação, Comédia. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: John Murphy. Fotografia: Henry Braham. Edição: Fred Raskin e Christian Wagner. Figurino: Judianna Makovsky. Produtores: Peter Safran, Zack Snyder, Walter Hamada, Simon Hatt, Charles Roven, Deborah Snyder. Distribuição: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 02h12min.

A deixa aqui é ''Se tempos difíceis pedem reflexão, não há dúvida que também demandam descontração. E em ''O Esquadraão Suicida'': o público encontrará de sobra.

Não esqueça de ficar até o fim dos créditos!

Avaliação: Três bastões dourados e meio vôo alucinógeno (3,5/5) 

NOS CINEMAS E NA HBOMAX

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