quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Cry Macho: O Caminho Para a Redenção


N. Richard Nash escreveu ''Cry Macho'' durante os anos 70 como forma de roteiro, mas não conseguiu vender os direitos para produção de um longa-metragem. Sendo assim, o formatou e publicou como livro. Após uma longa jornada, o livro foi então adaptado para as telas pelo próprio autor com produção do renomado Clint Eastwood que também aparece na direção e protagoniza o filme.

A película segue a jornada de Mike, um cowboy que saiu dos trilhos após a morte da família inteira em um acidente, mas que continua tentando sobreviver. Ele passa seus dias chegando atrasado ao trabalho na fazenda de Howard (Dwight  Yoakam) e belo dia o amigo se cansa do que vê e o despede. Após algum tempo, Mike é procurado pelo antigo chefe para uma missão. Ir ao México buscar o filho de Howard e tirá-lo de perto de todo abuso sofrido pela criação desnorteada da mãe. O velho cowboy recebe o pedido com cara feia, mas acaba seguindo estrada devido a todo apoio que já teve do patrão quando precisou no passado.


A busca não é fácil. Mike encontra a mãe do menino e vê que ela não anda bem. A mulher até manda capangas ficarem de olho no cowboy e diz que ele não levará o jovem Rafael dali, mas o menino encontra Mike e tem vontade de reencontrar o pai. Os dois pegam o caminho da fronteira, mas antes passam por uma pequena vila onde fazem amizade com uma amorosa senhora. 


A produção consegue deflagrar algo muito óbvio: que Clint está velho. Sua figura já frágil até tenta ser altiva no longa, mas sentimos que ele veio aqui se despedir. Seu protagonismo é tão okay, quanto sua atuação ou direção. E não temos aqui um filme que entraria no seu Top10 de longas do artista. Quiça do Top5. Isto se deve não porquê ele tem um tom familiar e infantil, mas devido a releitura da adaptação não tentar destruir clichês da época em que fora escrita. Sequer trabalha a questão do idioma, pois norte-americano acredita mesmo que todo lugar em que ele aparece, ele deve ser compreendido.

Os personagens latinos, tanto o jovem Rafael como a senhora que o ajuda ou ainda a mãe do garoto e os capangas, apresentam carácter opostos. Se os dois primeiros são totalmente inocentes e andam com a  maré, os dois últimos são construídos rasamente e não necessariamente ganham força, pois são ambos estereótipos (criminoso e prostituta). O personagem do pai, Howard, acaba por ser revelar negativamente também e ainda assim a criança ultrapassa a fronteira para ir viver com aquele homem, que aparentemente não queria sua presença por laços familiares, mas sim por vínculos materiais e controle da ex-mulher. 

Há beleza na captação de imagens pela estrada, sintonia no que a trilha quer passar, porém, se aqui e ali tentam jogar um pouco de comédia no meio deste drama desacertado, não funciona muito bem. Há escolhas muito frágeis aqui e por mais que Clint tente trazer algo leve e familiar, não cola com tanta precisão nos que estão mais atentos ao mundo do politicamente correto. 

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Cry Macho, 2021. Direção: Clint Eastwood. Roteiro: Nick Schenk e N. Richard Nash - baseado no livro homonimo de N. Richard Nash. Elenco: Clint Eastwood, Dwight  Yoakam, Natalia Traven, Eduardo Minett, Fernanda Urrejola.Gênero: Drama. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Mark Mancina. Fotografia: Ben Davis. Edição: David S. Cox e Joel Cox. Distribuição: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 01h34min. 

 Avaliação: Dois galos mansos e meia gemada sem sal (2,5/5).

O filme teve sua estréia exclusiva no Rio de Janeiro e São Paulo em 16 de Setembro e chega agora a alguns Estados e Capitais. Em Brasilia, é possível assisti-lo no Cine Cultura, do Shopping Liberty Mall.

EM CARTAZ

See ya!
B-

007 - Sem Tempo Para Morrer | Assista nos Cinemas


Da última vez que vimos o senhor Bond na telona, o mundo era outro. Lançado em 2015, Spectre (leia aqui os comentários), não foi a melhor aventura de Daniel Craig como o agente britânico mais famoso do mundo e, ele até insistia em dizer nas milhares de entrevistas que fazia, que não retornaria ao papel, ao menos não tão cedo. O filme, com um mega elenco e toda a estrutura que as produções de Bond demandam, fez um sucesso mediano. Nada comparado a aclamação que Skyfall (2012) ou Casino Royale (2006) tiveram.

Anos se passaram e tibum. Anúncio direto da Jamaica de que Bond retornaria e com uma super trupe. Remi Malek fora escalado para viver o vilão do filme e este contaria com o retorno não só de Craig como também de Christiph Waltz, Ralph Fiennes, Ben Wishaw, Naomie Harris, JeffreyWright, Rory Kinnear e teria ainda a ilustre participação de Ana de Armas e Lashana Lynch

Outra novidade chamou a atenção nos anúncios, depois de anos de contrato com a Sony Pictures, a distribuição passaria para a Universal Pictures. Claro foram previstas datas e mais datas, mas a pandemia fez com que a chegada de "Sem Tempo Para Morrer" fosse atrasada em quase um ano. Enquanto isso, o estúdio e os produtores gastavam não só milhares de dólares como de libras esterlinas (atualmente valendo 7 reais cada, aí meu bolso) com a promoção do filme. Bem, nesse meio tempo tivemos tempo para conhecer a música tema, composta pela cantora sensação do momento, Billie Eilish, e seu produtor e irmão, Phinneas. O mais incrível é que a composição não só chegou ao topo das paradas como ainda levou um Grammy de "melhor música feita para mídia visual" sem nem o filme ter estreado. Pensa na responsa. 

Assim, após meses de espera chegou então a hora do mundo conferir esse baita filmão na maior tela possível e se deliciar com as últimas horas de Craig vivendo talvez um dos melhores Bonds da história.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: 007 No Time To Die, 2021. Direção: Cary Joji Fukunaga. Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade, Cary Joji Fukunaga, Phoebe Waller-Bridge - baseado no personagem criado por Ian Fleming. Elenco: Daniel Craig, Remi Malek, Léa Seydoux, Ana de Armas, Naomi Harris, Ralph Fiennes, Ben Wishaw, Lashana Lynch, Christoph Waltz, Jeffrey Wright, Rory Kinnear, Billy Magnussen. Gênero: Ação, Aventura. Nacionalidade: Reino Unido, EUA. Trilha Sonora Original: Hans Zimmer. Fotografia: Linus Sandgren. Edição: Tom Cross, Elliot Graham. Figurino: Suttirat Anne Larlarb. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 2h43min.

A trama se volta para os dias de aposentadoria de 007 e como ele tem aproveitado sua vida ao lado da amada Madeleine Swann, personagem de Léa Seydoux, em uma tour super ultra romântica pela Itália. Ao passo que chegamos na parte das cenas calientes, as de ação começam. Logo, o roteiro também é eficiente em construir um background para o passado da moça deixando claro sua ligação com vilões que podem vir a atormentar sua vida no futuro.

Durante a viagem do casal, homens começam a persegui-los e o agente suspeita imediatamente que a amada não seja exatamente quem ele pensa que é. Decide então averiguar o "porquê estão a sua caça e quem" com a ajuda de seu amigo Felix Leiter (Wright) que o encontra na Jamaica e o faz ir para Cuba onde Bond irá trabalhar com Paloma (Ana de Armas) para entender melhor toda a situação. Enquanto isso no quarteirão da MI6, uma agente (Lynch) altamente badass é designada para ir procurar um cientista que foi raptado e levado a Cuba. Para que não atrapalhe a missão, 007 é avisado por ela e por M (Fiennes) para não estragar tudo.

Em pouco tempo, o agente descobre que uma arma letal está a solta e nas mãos de quem não deveria e precisará retornar para uma última tarefa e contar com o auxílio de Q (Wishaw) e Moneypenny (Harris). Ademais, precisará rever um dos últimos criminosos que jogou na cadeia, Spectre (Waltz) para então eliminar dúvidas de quem está por trás de tudo que anda ocorrendo.


O gatilho da trama: o pano de fundo está relacionado a vírus, cientistas, armas letais, gente sendo contaminada por conta de dna x e gente contaminando gente. Não atoa, não teria mesmo como a produção ter saído um ano atrás, no ápice do ocorrido todo dessa loucura que ainda estamos vivendo. 

Saindo desse lugar e chegando a muitos outros, a narrativa é muito fantástica. Temos romance por todo o filme e ação, muita ação. Craig tem tempo de sobra para não só visitar os amigos ou dar umas namoradas como também usar seus dublês para as cenas mais intensas possíveis - afinal, ele se machucou muito em Spectre e sua esposa, Rachel Weisz, deixou claro que ele não iria bancar o Tom Cruise mais, pois é ela quem tem que aguentar a lamúria toda.


Aqui a parceria com Q e Moneypenny dá uma super incrementada com entrada de uma agente 00... Uma mulher porreta que está por cima da operação ao mesmo tempo que  vira aliada de Bond.

Lashana Lynch é essa musa.

Temos M revelando que o Reino Unido é cheio das pesquisas secretas e perigosas e vilões que não necessariamente são superiores ao nosso protagonista, mas fazem um bom bate bola. Felix Leiter, papel de Jeffrey Wright, parceiro de Bond de longa data (Casino Royale e Quantum of Solace) ganha outro nível aqui e a amizade com 007 se abala.


Se Lynch trouxe empoderamento e força, quando a incrível Ana de Armas entra em cena, temos o triplo disso tudo. A atriz, que aliás foi convidada por Craig qndo eles trabalharam em "Entre Facas e Segredos", tem tempo de comédia e manda ver na porradaria. Muito capaz que o público peça que ela retorne em outros filmes, hein?!


Daniel Craig atua profissionalmente desde 1992 e, em 2006, ganhou muito reconhecimento por ter aceito se tornar um Bond. Seu agente classudo, másculo e rebelde é talvez um dos mais humanizados já apresentados, fora a desconstrução que ele sofre. O ator chegou a interpretar o papel cinco vezes, perdendo tempo de tela apenas para Sean Connery e Roger Moore que o viveram seis e sete vezes, respectivamente. 

Nesta última aventura, Bond é romântico ao extremo e vemos camadas das quais poucas vezes foi possível termos tempo para analisar. Principalmente no quesito ''relações mais profundas e vontade de viver, não só existir". E o trabalho de Craig foi imprescindível para a construção do personagem e dessa era tão renovada e ambiciosa. Se puder, assista o documentário disponível na APPLETV+ sobre essa jornada, Being James Bond.

Um legado, é Um legado.

Casino Royale (2006) e No Time To Die (2021)

Cary Joji Fukunaga dirigiu anteriormente "Beasts of Nation" (2015), filme disponível na Netflix, e o drama de época Jane Eyre (2009). Também esteve a frente da condução de séries como Maniac e True Detective (HBO). Aqui, substituiu Danny Boyle e conseguiu entregar um filme cheio de carga emocional e muita ação. O roteiro escrito pela dupla Neal Purvis e Robert Wade, que sempre esteve a frente do texto dos Bonds nesta era, tem pitacos de Fukunaga, de Scott Z. Burns (O Ultimato Bourne) e da sensacional Phoebe Waller-Bridge, e convence. Aliás, as tiradas que os personagens tem são escaladas com ótimo timing e sagacidade. Assim, não há risada boba aqui, mas sim diversão pura. 

A trilha sonora mudou de compositor já na pós produção. Antes de Hans Zimmer assumir, Dan Romer estava escalado para o trabalho. O craque das trilhas nos presenteou com sons conhecidos da franquia de um modo ainda mais elegante aos ouvidos. E sim, temos que louvar o tema do filme, pois é uma canção incrível que capta perfeitamente bem toda a jornada de Bond aqui. 

#NoTimeToDie foi rodado na Jamaica, Escócia, Noruega, Inglaterra e Itália e valeu cada passagem gasta com o elenco e a equipe.

Avaliação: Quatro garrafas do melhor Whisky escocês (4/5).

Hoje nos Cinemas!

See ya 
-B


sexta-feira, 24 de setembro de 2021

A Arte de Ser Adulto | Assista no Telecine

 

Aquele que souber o que realmente quer da vida aos 20 e poucos anos, que atire a primeira pedra. Pois é uma fase de incertezas e muita indecisão, mas para o jovem Scott Carlin (Pete Davidson) este período está um pouco mais complicado. Aos 24 anos, ele ainda mora com a mãe Margie (Marisa Tomei), vê sua irmã mais nova Claire (Maude Apatow) se formar no ensino médio e partir para a vida de adulta e independente na Universidade, enquanto ele optou por ser um verdadeiro babaca que atormenta a vida de todos.

Scott abandonou os estudos e joga fora sua vida com drogas e companhias duvidosas. O rapaz não superou o trauma da perda do pai, um bombeiro que morreu em um trágico acidente. O fato abalou totalmente as estruturas familiares e o deixou sem objetivos de vida. Seu relacionamento amoroso com Kelsey (Bel Poley) é superficial e descompromissado. Ele deseja, sem muito afinco, montar um restaurante onde os clientes também façam tatuagens, uma ideia um tanto absurda. Scott tem talento como desenhista, mas suas tattoos deixam muito a desejar.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: The King of State Island, 2020. Direção: Judd Apatow. Roteiro: Pete Davidson,Judd Apatow e Dave Sirus. Elenco: Marisa Tomei, Pete Davidson, Bel Powley,  Lou Wilson, Moises Arias, Carly Aquilino, Maude Apatow, Angus Costello, Pauline Chalamet. Nacionalidade: Japão, EUA. Gênero: Drama, Dramédia. Trilha Sonora Original: Michael Andrews. Fotografia: Robert Elswit. Edição: JayCassidy, William Kerr, Brian Scott Olds. Distribuição: Universal Pictures. Duração: 2h16min.
A situação ganha um clima de competição, quando sua mãe, após 17 anos sozinha, encontra um novo amor. Por coincidência o novo namorado, Ray (Bill Burr), também é bombeiro e tem dois filhos pequenos, que farão diferença na vida de Scott. O clima pesa e Scott é expulso de casa. Ele precisa resignificar sua vida e encontrar equilíbrio e algum propósito. A família vive em Staten Island, um burgo de New York, conhecido como "borough esquecido", onde todos se conhecem por serem trabalhadores de classe média. Scott é acolhido na Central dos Bombeiros e ali passa a ter uma outra visão de família, solidariedade e valores, e passa a ver a figura paterna com um olhar mais realista. As cenas mais comoventes e emocionantes acontecem aqui, aliás.

O início do filme, por ter um estilo de comédia besteirol, pode não conquistar de cara. O espectador, inclusive, pode não sentir empatia por aquele jovem perdido. Entretanto, a narrativa escrita por Pete Davidson Dave Sirus e o próprio Judd Apatow (que assina a direção aqui) logo que ao envereda por caminhos mais emotivos e assume o estilo de dramédia, tem tudo para te ganhar. Pinceladas de humor em um assunto deveras sério e pesado - a difícil arte de crescer!

Pete Davidson e Judd Apatow com a equipe no set de filmagens

O elenco está bem seguro e consistente, e o fato de Davidson ter perdido o pai no World Trade Center e sofrer de depressão dá mais peso a obra. Sua dor foi transformada em um filme que merece ser visto. Hilário na medida certa, comovente e com uma mensagem de superação e esperança.

A produção está disponível no Streaming do NOSSO PARCEIRO, TELECINE (clique aqui).

Setembro Amarelo: Representatividade na Literatura


Estamos em setembro, mês das campanhas de conscientização e prevenção de suicídio. É um tema que ainda é um grande tabu. Pouco ainda é realmente discutido sobre saúde mental e muitas vezes são perpetuadas na mídia noções que contribuem para a existência desse estigma.

Eu sofro de depressão e ansiedade desde que era adolescente e por muito tempo eu me senti um ET, isolado e único em meu sofrimento. Hoje, é ainda muito difícil separar onde acaba a doença e eu começo. Por isso, é muito importante ter obras que tragam uma representatividade real, que façam você se enxergar e perceber que não está só. Elas também podem ajudar pessoas que tenham um ente querido que enfrente uma luta com a saúde mental a entenderem como essa pessoa se sente, para assim saber como ser de auxílio.

Trouxe aqui uma listinha com alguns livros que lidam com saúde mental e que eu super indico!

Observação: como os livros lidam com temas delicados, fica aqui o aviso de gatilhos!

Redoma de Vidro (Sylvia Plath)

Um dos grandes clássicos da literatura, o livro é tão comentado quanto a vida de sua autora, a escritora Sylvia Plath. Não poderia ser diferente, já que o livro é uma obra semiautobiográfica. Eu confesso que por muitos anos adiei a leitura, com medo de ser muito pesado. Quando finalmente parei para ler, me surpreendi. Sim, Sylvia lida de forma muito real e pungente com depressão, mas não é aquele livro cheio de tragédias. Ele é provocativo e te faz refletir sobre as pressões que a gente sofre para sermos pessoas “funcionais” na sociedade, como não há um cuidado e tolerância para transtornos mentais. É algo que a sociedade no geral não endente, e pior, vilaniza e oprime quem sofre como ela. O livro é considerado um grande clássico feminista, pois escancara as pressões que as mulheres – não só da época,  mas ainda hoje – sofrem para exalarem perfeição.

A história é centrada na personagem Esther Greenwood, que vai participar de um estágio em uma revista de Nova York. A vida na cidade nova trás grandes oportunidades, um ciclo social badalado e muitas expectativas. Porém, enquanto as colegas de Esther parecem se encaixar, ela começa a sentir um grande vazio. Ela, então, começa a questionar sua posição e seu futuro, o que gera uma grande uma crise existencial.   

"Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim."

Os Sofrimentos do Jovem Werther (Goethe)

Quando foi publicado, em 1774, na Alemanha, a obra gerou uma onda de suicídios pela Europa; o que mais tarde ficou conhecido como “efeito Werther”. Se ainda hoje “saúde mental” é um grande tabu, imagina no século XVIII! O que Goethe fez em sua obra prima foi dar voz ao sentimento que muitas pessoas carregavam em si, mas não conseguiam expressar. Talvez hoje em dia, ao ler o livro, você julgue as motivações do personagem (estamos afinal falando do ultrarromantismo), porém tudo o que ele descreve é muito identificável. Eu sinto que a depressão se manifesta de forma muito individual e pessoal, porém, ainda assim, é uma doença que deixa marcas que são universais. Eu vivo levando frases do livro pra terapia!

O livro é organizado em cartas que Werther manda para seu amigo Wilhelm. Werther é um artista e ele muda para uma pequena vila em busca de uma vida mais simples. Ele se encanta não só pela vila, mas também pela jovem Charlotte. Só tem um problema: a moça não retorna os sentimentos e acaba noiva de Albert. A angústia do amor não correspondido leva Werther a afundar cada vez mais em um poço de dor e sofrimento (você fica: meu deus homem, para com isso. É só um crush! Mas ao mesmo tempo se identifica profundamente com a dor e o vazio que ele descreve).  

"E tu, boa alma, que sentes o Ímpeto da mesma forma que ele sentiu, busca consolo em seu sofrimento e deixa que o livreto seja teu amigo se, por fado ou culpa própria, não puderes achar outro mais próximo do que ele."

Pessoas Normais (Sally Rooney)

Agora saindo dos clássicos e indo para obras contemporâneas. É muito bom ver que tem crescido a conscientização e a discussão sobre saúde mental na mídia. “Pessoas Normais” deu origem a uma série de mesmo nome que ano passado fez bastante sucesso e foi muito comentada (leia resenha da Bárbara sobre a adaptação aqui). A história segue o relacionamento de Marianne e Connell, desde a época do colégio até os últimos anos da faculdade. A autora faz um trabalho de construção de personagens fantástico. Marianne e Connell são ambos complexos, com suas virtudes, falhas e desafios. É daquele tipo de livro que você se apega intimamente aos personagens e sofre junto.

Connell é filho de mãe solteira. Na escola, ele é aquele garoto popular, que todo mundo gosta e todas as garotas querem. Porém, ele tem um lado sensível e inseguro que esconde. Quando se apaixona por Marianne, a garota esquisita do colégio, ele tenta esconder o relacionamento, pois tem medo do que as pessoas vão dizer. Mais tarde, Connell vai estudar em uma cidade grande. O que ele não esperava era ter tanta dificuldade para formar laços com os novos colegas. A solidão começa a ficar pesada. Na série tem uma cena em que o Connell desabafa para a terapeuta que é simplesmente de quebrar o coração. O ator Paul Mescal arrasou.

Já Marianne é vivida pela igualmente talentosa Daisy Edgar-Jones na série (disponível na Starzplay). A personagem tem muitas camadas. Marianne vem de um lar abusivo, com pais ausentes e uma mãe agressiva. Por isso, ela cresceu aprendendo que amar e sofrer são indissociáveis. Além disso, ela não acha que merece afeto real. Ela sempre se mete em cada roubada! O livro debate muito sobre relacionamentos tóxicos e auto estima através da personagem da Marianne.

“Marianne tinha a sensação de que sua vida real estava acontecendo em algum lugar distante, acontecendo sem ela. E ela não sabia se algum ia iria encontra-la ou mesmo fazer parte dela.”

O Lado Bom da Vida (Matthew Quick)

Outro livro que virou filme e, me atrevo a dizer, que esse é um dos raros casos em que o filme é melhor que o livro. As mudanças que o diretor David O. Russell fez (e eu nem gosto muito dele) trouxeram para a história uma profundidade ainda maior.

O protagonista é Pat Peoples, um professor que após flagrar a esposa o traindo teve um surto psicótico e foi admito em um hospital psiquiátrico. O livro começa após seu tempo no hospital, quando ele vai morar com os pais. Ele acredita que sua vida é como um filme, onde há conflitos antes de chegar ao final feliz, que seria conseguir reconquistar a esposa, Nikki. Ele conhece Tifanny, uma jovem que também mudou de volta para a casa dos pais após a morte de seu marido. Tiffany conhece Nikki e promete que vai ajuda-lo com a ex se ele aceitar ser seu parceiro de dança em uma competição. É uma história mais leve, que mostra como você pode encontrar alguém que realmente enxerga quem você é como um todo.

“A vida é escrota, aleatória e arbitrária, até que se encontre alguém que faça tudo isso fazer sentido, mesmo que apenas temporariamente.”

The Charm Offensive (Alison Cochrun)

Esse foi um dos últimos livros que eu li. É uma delícia! Daqueles que te deixam super envolvido e com o coração quentinho. Refletindo sobre meu estado de solteirice perpétuo, eu fico sempre me perguntando se eu simplesmente não sou “demais” para alguém aguentar; se sou muito instável, muito quebrado, muito antissocial e etc.. Histórias como essa são como um sopro de ar fresco, trazendo esperança de que há alguém para mim por aí (se é você, por favor entre em contato).

Dev é produtor de um reality show, Ever After. Claramente inspirado em The Bachelor, o programa coloca 12 mulheres para disputar um “príncipe”. Dev sempre acreditou na fantasia de finais felizes para sempre, mas não é o que ele tem encontrado na vida pessoal. Mesmo assim, ele continua certo que o programa é uma grande oportunidade para as pessoas acharem o amor da vida delas. Imagina o quão incomodado ele fica ao descobrir que o novo “príncipe” da temporada, Charlie, está ali só por causa da publicidade.

Charlie é um empreendedor da área de tecnologia lindo e rico. O que ninguém sabe, no entanto, é que ele sofre de TOC e ansiedade.  Por causas de suas crises, os membros do conselho da empresa em que ele criou decidem que ele não está mais em condição de comandar o negócio e, por isso, votam para que ele seja dispensado do cargo de CEO. Charlie vê no programa a chance de recuperar sua imagem e voltar a trabalhar no campo de tecnologia. Ele não está lá para achar o amor. Porém, à medida que Charlie e Dev vão se conhecendo, Charlie percebe que talvez o amor tenha o achado. O problema é que ele deveria se apaixonar por uma das participantes, e não pelo seu produtor.

(ainda indisponível no Brasil)

“Eu aprendi que é possível estar tão apaixonado com a idea de algo, que você fca cego para a realidade. E eu aprendi que quero algo real”

Brave Face (Shaun David Hutchinson)

Pensa em um livro que me fez desidratar de tanto chorar. É uma obra autobiográfica, mas eu juro que o Shaun parecia estar escrevendo sobre mim. Cada palavra me acertava como uma faca pontiaguda, mas também me confortava como um cobertor quente durante o inverno. A identificação foi tão poderosa que eu fiquei obcecado com os livros do autor! Já li quase todos (algum dia eu faço um post sobre ele).

Em “Brave Face”, Shaun conta como foi crescer no armário, acreditando que por ser diferente ele não teria um futuro. O livro deixa claro o quão vital é a representatividade. Tem uma passagem em que ele diz: “eu era só um garoto confuso, que aprendeu o vocabulário de ser gay em um mundo que odiava bichas”. Como isso ficou comigo. Como não ter sua auto estima sabotada vivendo assim? Qualquer um que cresce sendo “diferente” sofre um abuso psicológico gigantesco, que deixa marcas profundas, devastadoras e muito difíceis de ser superadas. Há uma razão para as taxas de suicídio entre a população LGBT serem tão altas.  Durante a maior parte da minha vida, eu mesmo não tinha nenhuma referência do que era ser gay. E assim como o Shaun, sofri muito por isso. Tenho certeza de que se eu tivesse livros como esse, minha história seria diferente. Me sentiria mais validado e confiante. Fico muito feliz que os jovens de hoje tem essa representatividade e enxergam “possibilidades” em ser quem são!

(ainda indisponível no Brasil) 

“Fica melhor. As vezes não rápido como queríamos, mas eventualmente. Você melhora. Você aprende e cresce e aceita quem você é e sabe que isso é o suficiente. Dá trbaalho. Exige paciência e, muitas vezes, exige ajuda. Mas fica e vai melhorar. E você não está só. Você não precisa fingir estar bem e que tudo vai ser perfeito. Tudo bem sentir dor, tudo bem pedir por ajuda. Você pode mostrar para as pessoas quem você realmente é e que você ainda é digno de ser amado.”

Tartarugas Até Lá em Baixo (John Green)

Há alguns anos eu estava bem obcecado com o John Green. Aqui no blog tem até um post em que comento dos livros dele (leia aqui)! “Tartarugas Até Lá em Baixo” foi a última obra lançada por ele. 

Embora não seja a melhor, o livro faz um ótimo trabalho retratando como é conviver com o TOC (condição que afeta o próprio escritor). A protagonista da história é a jovem Aza, que se envolve no mistério do desaparecimento de um bilionário, que é pai de um colega de escola.  

"A questão da espiral é que, se a seguimos, ela nunca termina. Só vai se afunilando, infinitamente."




Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo (Benjamin Alire Sáenz)

Um dos meus livros preferidos! Inclusive, mal posso esperar a sequência, que vai ser lançada na semana que vem. Acredito que ele me impactou tanto porque quando eu li estava em uma posição muito parecida com a do Dante e me sentia muito como ele descrevia. O livro tem uma linguagem poética, belíssima, e mostra o impacto de conhecer alguém que te enxerga e te aceita (algo que me identifico muito. No meu caso, minha vida mudou quando conheci minha melhor amiga). Lembro de ir comprar o livro morrendo de vergonha, pois sabia que tinha conteúdo LGBT e eu ainda estava no armário. Li, amei e depois escondi bem no fundo da estante, com medo de alguém ter curiosidade de ver sobre o que era.

A narrativa é contada pela perspectiva de Dante, um garoto solitário e deprimido que conhece Aristóteles em um clube e formam uma forte amizade. Amizade essa que vai abalar o mundo de ambos os meninos, levando-os a uma profunda jornada de autodescoberta.

"Pensei em falar que a felicidade era difícil para mim. Mas ela já sabia disso."

Uma História Meio Que Engraçada (Ned Vizzini)

Outro livro do qual eu vivo usando frases! Quando alguém me pergunta como é ter uma crise depressiva, dá vontade só de mandar ler esse livro. Tem uma adaptação para o cinema também, mas nesse caso o livro é bem melhor (embora seja fiel). O livro conta a história de Craig Gilner, que ao sentir o impulso de pular de uma ponte decide se internar em um hospital psiquiátrico. Lá, ele vai conhecer as peculiares figuras que habitam o hospital e desmitificar o que significa ser “louco”, ao mesmo tempo em que descobre seus potenciais e verdadeiros desejos para o futuro.

“O seu problema é que você tem uma visão de mundo totalmente moldada pela depressão.”



As Vantagens de Ser Invisível (Stephen Chbosky)         

Quando me perguntam qual é o meu livro preferido, eu sempre digo que é esse! Nem ligo que é uma obra jovem-adulta. Eu não sei nem expressar direito o que essa história significa pra mim, mas tentei aqui antes. Falei sobre o livro (leia aqui) e o filme (leia aqui). Eu me enxergo muito no Charlie e em toda sua jornada para achar pessoas que o aceitam e lidar com seus traumas. Eu acho que já li o livro umas cinco vezes (tenho uma cópia em português e uma em inglês) e chorei em todas elas.

O livro é estruturado em cartas que Charlie manda anonimamente (ou seja, Charlie não é o nome verdadeiro dele) para alguém que ele nem mesmo conhece pessoalmente.  Ele decide mandar a primeira carta depois de seu melhor (e único) amigo se suicidar e ele ficar com medo de enfrentar o começo do High School sozinho. Depois, o garoto continua a mandar os relatos contando o que acontece com ele durante aquele ano.

"Então, eu acho que somos o que somos por várias razões. E talvez nunca conheçamos a maior parte delas. Mas mesmo que não tenhamos o poder de escolher quem vamos ser, ainda podemos escolher aonde iremos a partir daqui. Ainda podemos fazer coisas. E podemos tentar ficar bem com elas."

Se sua saúde não vai bem e você está sofrendo, não hesite em pedir ajuda! Ligue 188 para o centro de valorização da vida. Ademais, muitas faculdades por todo o país oferecem atendimento psicológico a preços acessíveis! Clica nesse link!

Isso é TUDO!

Espero que tenham curtido e adicionado alguma das obras as listas de vocês. ah, e se gostaram ou já leram algum dos livros que citei, comenta aqui em baixo.

Love, Victor.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

A Casa Sombria | Hoje nos Cinemas


Uma colcha de retalhos pode ser muito bonita, vai depender da habilidade do costureiro de juntar os pedaços de tecido certos e fazer uma bela composição. Infelizmente, não é caso do “costureiro” desta produção. David Bruckner, diretor aqui, nos entrega uma colcha de retalhos confusa, uma mixórdia de gêneros mal justapostos que viram uma salada de clichês e desembocam num filme de 107 minutos fraco e sem sentido. Nele temos drama, estórias de fantasmas, crimes de psicopatas, mistérios arqueológicos, investigações de adultério, quer dizer, temos tudo e ao mesmo tempo não temos nada, pois o roteiro não consegue costurar as pontas e a trama fica sem sentido, sem tensão.

Beth (Rebecca Hall) perde o marido Owen (Evan Jonigkeit) para o suicídio. Devastada, ao voltar para sua bela casa, as margens de um lago, começa a viver experiências sobrenaturais, sentindo a presença do marido, de quem sente tantas saudades. Nas várias situações por que passa, começa a suspeitar de uma vida dupla do marido, descobrindo nesta investigação várias fotos de mulheres em seu celular. Além disso, a casa, construída pelo próprio marido, está nos moldes de um labirinto grego, talvez um portal para outras dimensões, duplicada no outro lado do lago e sendo habitada por outras mulheres parecidas com Beth. Nas anotações de Owen, a viúva descobre um falecido misterioso e desconhecido. Quem realmente era o marido suicida? Por que ele se matou?


Rebecca Hall é uma boa atriz. Seu papel de mulher confusa com os atos do falecido, ao mesmo tempo desejosa de um contato pós morte, é comovedor. Seus amigos, a professora Claire (Sarah Goldberg) e o vizinho Mel (Vondie Curtis-Hall) são muito mal aproveitados, servindo apenas como escada nos diálogos, consolando Beth ou passando novas informações sobre o passado do marido. Já Owen só faz caras e bocas, aparecendo peladão em algumas cenas. Os personagens do roteiro não são bem estruturados e ficamos todo o filme acompanhando principalmente a jornada da angustiada Beth desvendando o que está ocorrendo e à espera de um encontro com o amado, por quem sente tanto amor.

Mas o filme não tem tensão, nem provoca sustos dignos de menção. Percebe-se uma trama que poderia render muito, mas que ficou confusa pela mistura de gêneros diversos e que, para o cinéfilo mais atento, não deve conseguir segurar atenção nem empatia. Os valores técnicos dessa produção de 2020, com estreia tardia por causa da pandemia, são muito bons, mas a estória é muito fraca.

O filme entra em cartaz em cinemas de todo o país a partir desta quinta-feira, 23. Assistam e voltem aqui para comentar o que acharam.

Nota: 4/10.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e anoThe Night House, 2020. Direção: David Bruckner. Roteiro: Ben Collins e Luke Piotrowski. Elenco: Rebecca Hall, Sarah Goldberg, Vondie Curtis-Hall, Evan Jonigkeit, Stacy Martin, David Abeles, Christina Jackson, Patrick KleinNacionalidade: Reino Unido, EUA. Gênero: Terror, Suspense, Mistério. Trilha Sonora OriginalBen Lovett. FotografiaElisha Christian. EdiçãoDavid Marks. Distribuição: 20th Century Studios. Duração: 01h47min.

A produção passou pelo Festival de Sundance, em 2020. Confira o video da nossa parceria com o Site Razão de Aspecto sobre o filme.

HOJE NOS CINEMAS

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Tigerland | Assista no Petra Belas Artes À LA CARTE


Tigerland é um campo de treinamento militar. Como dito no filme, é um "Parque Temático da Guerra", onde os jovens aspirantes irão vivenciar seus piores pesadelos, antes de embarcarem para a Guerra do Vietnã, mas antes eles passam oir Fort Polk (Indiana).


"No Vietnã não existe história com final feliz."

Escrito por Ross Klaven e Michael McGrunter e dirigido por Joel Schumarcher, a ambientação da película acontece em 1971. Tigerland é a temida etapa conclusiva para a capacitação de militares norteamericanos, ali stress e eminência de morte se evidenciam de maneira a fazer com que toda e qualquer atitude ou comportamento se transforme em um barril de pólvora prestes a explodir.

O filme acompanha um esquadrão de jovens e entre eles está o insubordinado Roland Bozz (Collin Farrel). A narrativa é contada por seu melhor amigo e companheiro, o soldado Jim Paxton (Matthew Davis) de forma retroativa. Paxton é um jovem escritor, que anota tudo em seu diário. Ele se alistou sem imaginar as dificuldades e riscos que enfrentaria. Paxton, aliás, é o ponto de equilíbrio de Bozz. Este último já desafiou o sistema de todas as maneiras possíveis, sendo sempre punido e mandado a cumprir pena nas paliçadas (lugar de defesa dos exércitos que é formado por varas ou troncos fincados no solo). Reconhecido como um líder nato com grande potencial, porém irresponsável, ele é enviado para a prova de fogo de Tigerland, como esperança que o lugar o ajuste às regras da vida militar.

Matthew Davis e Colin Farrell como os soltados Bozz e Paxton
Foto: Divulgação

Mais que um filme de guerra, ou sobre a guerra em si, temos aqui um potente drama psicológico sobre os desafios da preparação para o combate. Os conflitos internos dos soldados, os motivos que os levaram a se alistar, a fuga da família e até a tentativa de provar o seu valor pessoal. Ademais, o enfrentamento da realidade dura e crua, o medo do inimigo desconhecido, a morte à espreita, são outros aspectos que fazem parte do treino.

Temos o fator desumano da Guerra do Vietnã, que levou a juventude despreparada para as frentes de batalha. O longa mostra militares desequilibrados, como o Soldado Wilson (Shea Whighan), em contraponto com superiores tiranos e dominadores, como o Capitão Saunders (Nick Searcy), que disfarçam suas inseguranças subjugando os mais fracos. Bozz é o anti-herói que pouco a pouco vai conquistando a confiança e a simpatia dos colegas do pelotão. Ele tem a ousadia de enfrentar o sistema em nome dos seus ideais, apesar de todas as consequências.


"Estamos numa guerra, ninguém sabe como vai voltar."

Foto: Divulgação

Filmado em grande parte com câmeras 16mm e som direto, o filme ganhas ares de documentário, trazendo veracidade às cenas. Boa técnica e atuações comoventes fazem de Tigerland uma excelente dica para um público específico. 

Cardápio de Setembro do Petra Belas Artes À LA CARTE

Ficha Técnica

Título original e ano: Tigerland, 2000. Direção: Joel Schumacher. RoteiroRoss Klaven e Michael McGrunter. ElencoColin Farrell, Matthew Davis, Clifton Collins Jr, Tom Guiry, Shea Whigham, Russell Richardson, Nick Searcy. Gênero: Drama. Nacionalidae: EUA. Trilha Sonora Original: Nathan Larson. Fotografia: Matthew Libatique. EdiçãoMark Stevens. Duração: 101 min. Classificação: 16 anos. 

Serviço

Onde assistir: Belas Artes À La Carte
Valor: Disponível para assinantes em planos mensal no valor de: R$ 9,90, ou anual custando R$ 108,90.
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Na minha lista STAR+ | Manchester À Beira Mar


Textpostado na época da estréia nos cinemas, cobertura para o blog Nem Um pouco Epico.

Longa escrito e dirigido por Kenneth Lonegan, traz Casey Affleck totamente entregue ao papel do zelador Lee que após receber a notícia da morte do irmão Joe (Kyle Chandler) tem de retornar a sua terra natal para preparar o funeral e dar apoio ao sobrinho Patrick (Lucas Hedges). A volta, contudo, coloca o homem em choque com as memórias do passado e com o verdadeiro motivo que o fez partir, anos antes. 

O drama teve exibição no Festival de Sundance de 2016 e é um dos primeiros filmes a ser distribuídos pelo estúdios Amazon, lá fora. No Brasil, a produção foi lançada pela Sony Pictures, em 2017, e está disponível na STAR+ (clique aqui para assistir). 

Com produção do ator Matt Damon que, inicialmente, iria estrelar e dirigir a película, ”Manchester à Beira Mar” ainda tem Michelle Williams, Tate Donovan, Heather Burns e Matthew Broderick no elenco.

O pequeno Patrick (O’Brien), Lee (Afleck) e Joe (Chandler) nas cenas iniciais da película.

A narrativa do filme é muito bem transcrita para as telas, pois se dá de forma não-linear e atrai a atenção em todas as suas mudanças de tempo. Há explicações para diversas situações, mas há também cenas que dão ao espectador a chance de refletir sobre o que ficou subentendido.

O conflito inicial, a morte do irmão de Lee, personagem de Afleck, constrói um patamar para todos os outros acontecimentos do filme, mas o seu papel é, na verdade, fazer com que o público saiba o porquê o zelador mora em outro Estado, longe da família. Tal revelação já ocorre com quase uma hora de filme e, depois daquele momento, Lee ganha um ar ainda mais sofrido.

O direcionamento de Lonegan, além do roteiro bem redigido, aproxima aquela história do espectador e não usa do melodrama para fazer a película crescer. Pelo contrário, ele busca o auxilio de outros elementos como a comédia para assegurar que a trama se desenvolva bem, o que realmente acontece. Além disso, os rumos que tio e sobrinho tomam acabam chegando a lugares legítimos.

Lucas Hedges vive Patrick na adolescência e contracena com o ganhador do Globo de Ouro, Casey Afleck.

O inverno adentra a tela com força e sua dureza se alia as dificuldades captadas. Michelle Williams interpreta a esposa de Lee e tem poucas cenas, mas se faz valer. Kyle Chandler é outro que aparece pouco e o interessante é que seu sobrenome no filme é idêntico ao que ele carrega na vida real (ironias do cinema), Heather Burns vive a mãe de um dos muitos interesses amorosos do jovem Patrick e até tenta flertar com o tio do garoto, porém, aquele não aparenta estar muito a fim. Matthew Broderick está na película como o padrasto do órfão e conduz as cenas de reencontro do garoto com a mãe de forma altamente conflituosa. Lucas Hedges é perfeito para o papel. O ator conseguiu ter um ótimo tom cômico e dá um show quando o seu personagem se dá conta de que sua vida mudou drasticamente. O bate bola que ele tem com Casey é um dos grandes destaques do longa.

Casey, aliás, está sempre muito concentrado e ele mantém um olhar carregado de tristeza e culpa Dando a quem assiste a chance de se emocionar inúmeras vezes. Sua interpretação vai ao ponto certo e se retira. Não traz exageros e nem é diminuta. O ator é sim o favorito para ganhar grandes prêmios nessa temporada de ouro: Baftas, SAG Awards, Oscars – e já levou o Globo de Ouro de melhor ator na categoria drama, mas chega indicado a talvez todos estes prêmios com a ajuda dos produtores e do irmão abafando casos do seu passado, onde fora acusado de ‘assediar sexualmente’ colegas de trabalho.

A polêmica ficou ainda mais em voga devido ao ator Nate Parker, protagonista e diretor de ‘O Nascimento de Uma Nação‘ (filme com grande potencial para estar entre os melhores do ano), ter sido completamente bombado pela mídia e esquecido pelos críticos, já que Parker também fora acusado por atos do mesmo tipo dos que Casey ‘aparentemente cometera’. Assim, não há em si uma explicação para o favorecimento de um e o esquecimento de outro, a não ser a mão branca de Hollywood se fazendo valer mais uma vez.

Robert Downey Jr. represente nossa cara de insatisfação com Hollywood, por favor! Afinal, Casey ganhou OSCAR de ''Melhor Ator'' pelo longa. O roteiro também foi premiado. 


Ademais, vale glorificar o bom trabalho da trilha sonora de Barber que acompanha todos os momentos e sabe simbolizar bem cada um deles dramatizando-os com corais e sons singelos de piano. A fotografia revela com muito cinza os ambientes frios e nublados que são palcos da história. A edição é certeira e,apesar de ser um filme de duas horas e alguns minutos, não chega a ser cansativo.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Manchester By The Sea, 2016 Direção e Roteiro: Kenneth Lonergan. Elenco: Casey Afleck, Kyle Chandler, Lucas Hedges, Tate Donovan, Michelle Williams, Matthew Broderick, Chloe Dixon, Ben O’Brien. Nacionalidade: Eua. Gênero: Drama. Trilha Sonora Original: Leslie Barber. Fotografia: Jody Lee Lipes. Edição: Jennifer Lame. Distribuidora: Sony Pictures Brasil. Duração: 02h18min.

AvaliaçãoQuatro  baldes de lágrimas e meio (4,5/5).

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See Ya!

B-