A modernidade pode ter mudado a forma como consumimos informações e cada vez mais temos que tomar cuidado com o que compartilhamos ou lemos em aplicativos, mas uma coisa não mudou, a relevância do trabalho de jornalistas e repórteres. Sabemos que este campo é muito diverso e o quadro de notícias que talvez mais ganhe atenção da população seja o sensacionalismo. Todavia, nem sempre ele vem acompanhando de fatos verídicos, pois quer apresentar os casos mais sangrentos e chocantes para chamar a atenção do espectador, sem exatamente lidar com as consequências ou o que pode fazer à vida daqueles personagens reais apresentados nas matérias.
Em ''A Cisterna'', de Cristiano Vieira, uma jornalista de sucesso vê sua vida ficar em perigo quando é sequestrada logo após ganhar um prêmio por suas matérias cheias de opiniões e dignas de crítica, apesar das denúncias que traz. Além de ter feito parte da seleção oficial do Festival de Havana, em 2020, o filme deve passar em breve pelo 'New York Cinema Festival, em outubro. No elenco, Fernanda Vasconcelos, Juan Alba e Cristobal Tápia Montt.
Lorena (Vasconcelos), é uma jornalista/apresentadora e está sempre trazendo os casos de maior comoção pública aos espectadores. Mãe, mulher e profissional determinada, Lorena já tem fama nacional e almeja ainda mais. Emocionalmente envolvida com o diretor (Alba) do veículo no qual trabalha as escondidas, ela pensa em ir para o centro da comunicação no país, São Paulo. E os dois sabem que essa oportunidade pode vir em algum momento.
Ainda resolvendo questões em família, pois a filha tem tido mais tempo com o pai e este pensa em pedir a guarda da menina, a jornalista joga tudo no trabalho e não avalia muito suas atitudes na vida pessoal e profissional.
Paralelo a todo o arco narrativo da protagonista, o roteiro entrega problemas reais que aconteceram no DF em dias passados. A questão do racionamento de água, é um deles. Alia o ocorrido as reportagens fortes de denúncias contra políticos e pessoas comuns que Lorena entrega e como resultado a mulher acaba criando inimizades em diversos âmbitos da sociedade. Por fim, instaura um sentimento de suspeita sobre o que pode vir ocorrer à ela e quem está por trás de tudo. Nesse meio tempo, conhecemos um estrangeiro que vive a fazer bicos e está por perto fazendo trabalhos a mando de terceiros.
O filme tem uma idéia similar a 'Jogo do Dinheiro', estrelado por George Clooney e Julia Roberts', mas se no filme de Vieira a jornalista é posta para refletir consigo mesma sobre seu trabalho, no filme Hollywoodiano de 2016, tudo é exposto e mostrado ao vivo na tevê. E ambos os filmes são grandes em suas propostas. Alimentam a análise e o julgamento do espectador e deixam que ele decida se existe ou não redenção para aqueles que elegem o que é certo e errado conforme suas ambições e não avaliam as situações que podem causar.
O texto apresentado tem suas horas piegas, mas também é confrontativo e se eleva quando a situação toma o rumo que tem de tomar. Temos uma direção capaz e aguçada. Brasília é mostrada por drones e conseguimos captar que realmente o filme foi rodado na cidade. Takes noticiários são ilustrações ao pano de fundo da trama e também trarão ao brasiliense a memória do que se assiste na capital diariamente.
As atuações começam frias e esquentam. Caminham como o filme. Tanto Fernanda como Cristobal chamam a atenção pelo empenho. Os momentos finais do filme tem seu clímax e resoluções abertas. O que fará o espectador tirar suas próprias conclusões e dar a chance a quem precisa se redimir perante a sociedade.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: A Cisterna, 2021. Direção e roteiro: Cristiano Vieira. Assistência de roteiro: Tui Segall. 1º Assistência de direção: Bruno Caldas. 2º Assistência de direção: Paola Veiga. Elenco: Fernanda Vasconscelos, Juan Alba, Cristobal Tápia Montt, Luiza Guimarães. Gênero: Suspense. Nacionalidade: Brasil. Montagem: Cristiano Vieira e Fred Fernandes. Trilha sonora original: Dudu Maia. Som direto: Apollo Maneschi. Direção de arte: Sarah Noda. Maquiagem e cabelo: Lidiana Queiroz. Figurinista: Juliana Ramos. Assistência de produção executiva: Priscila Emanoele Alves Dias, Sirley Silva. Direção de produção: Andréa Glória. Produção de locação e Platô de set: Cláudio Figueiredo. Coordenação de produção: Kamala Ramers. 1º assistente de produção: Mateus Vasconcelos. Direção de fotografia: Marconni Andrade. 1º assistente de câmera: Fábio Barbosa. 2º assistente de câmera: Produção de elenco: Hugo Aldado e Marcelo Pelucio. Consultoria de jornalismo: Alzimar Ramalho. Fotografia still: Cleverson Oliveira (Kenny Olee). Making of: Sylvio Lima (GRANMIDIA). Produção executiva: Andréa Glória, Bruno Caldas, Cristiano Vieira.
Apesar da condução se iniciar um pouco desequilibrada, ao passo que o filme mostra as consequências dos atos da Jornalista, a história engrena e consegue convencer.
Avaliação: Dois baldes de água e meia crítica social (2,5/5).
Assista hoje nas plataformas digitais (Now, Google Play, Vivo e Oi).
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