Se os norte-americanos tem os Ramones como uma das referências mais populares entre as bandas de Punk Rock, nós temos o Garotos Podres, que estão longe de ser versão de qualquer outro grupo e tem seu estilo e canções próprias muito bem afirmados no underground. Formado no inicio dos anos 80, a partir do fim da ''Submundo'', em Mauá, ABC paulista, o conjunto deu gás e energia ao cenário musical brasileiro e sempre evidenciaram em suas letras o ódio ao Fascismo, a direita, a atos desumanos e, com certeza, a exploração dos trabalhadores.
Nos últimos anos, o Garotos raxou devido a divergências ideológicas entre os membros originais e José Rodrigues Mao Júnior, o vocalista, até chegou a tocar com outro nome que não fosse o que já conhecemos (O Satânico Dr. Mao e Os Espiões Secretos), pois toda a situação foi levada a justiça. Por volta de 2016, ele então retorna a se apresentar usando o nome que ajudou a construir, mas assumem os instrumentos outros músicos.
Este documentário, com pouco mais de uma hora, é honesto e focado em apresentar um personagem combatente e resistente a idéias fascistas. Usa de entrevistas do início da ascenção da banda para deflagrar que os membros já não pensavam da mesma forma desde muito antes e que nossa figura central sempre foi assertiva ao abordar pautas da esquerda e trabalhar por elas. Na sequência, retornamos aos dias atuais para acompanhar Mao lecionar, e dar um segundo show, quando se volta a explicar sobre teorias políticas e a construção destas na China ou em outros países.
O músico e professor é filmado em situações cotidianas e, ao falar com a câmera, exibe sua coleção simbólica de chapéus ou até adereços com figuras da revolução chinesa que, coincidentemente, tem o mesmo sobrenome que ele - e elevam o titulo do documentário a nível sem igual pela criatividade.
No palco, vestes quadrinescas e abordagens sobre como surgiram algumas das canções, fora dele, um senhor envolvido na militância e consciente de sua origem e classe. Alguém que claramente não fugiu da luta: "todos nós somos filhos da pobreza".
Ficha Técnica
Título original e ano: As Faces do Mao, 2021. Direção e roteiro: Dellani Lima e Lucas Barbi. Entrevistas com: Alberto Rinaldi "Deedy", Tony Karpa, Ueslei Tolentino (Uel), Alex Silva, Roddy Sonnesso, Rafael Prego, Lincoln Secco, José Rodrigues Mao Júnior, Ciro Seiji, André Simões Costa "Deeh", Tato Caniggia, Raphael Doddy Oliveira. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Brasil. Edição de Som e Mixagem: Ricardo Zollner. Montagem: Dellani Lima. Cor: Lucas Barbi. Produção Executiva: Daniel Pech. Duração: 01h18min.
O grupo faz shows intimistas em espaços acadêmicos, escolas, sindicatos, e é bonito ver que seu público é de todas as idades e se renova a cada dia. Não há o porquê chamá-lo de retrógrado, tudo que ele canta e protesta continua, infelizmente, muito atual. Aliás, se o nome da banda significa liberdade para protestar e não ser rotulada, de certa forma, depois de quase 30 anos, a bandeira ainda tem poder.
Conhecemos mais a fundo as nuances de Mao e entendemos que sua garra para ser vocalista é alinhada ao lema punk do "faça você mesmo" em todos os sentidos. Ele tem uma presença tremenda e revela ter lido "Os Miseráveis", de Vitor Hugo, aos 12 anos. Fora sua rebeldia para matar aula e ir para as greves que aconteciam naquele momento. E se tem um lugar que ele não deixa de visitar é o sindicato para falar com e para a classe de trabalhadores. O vemos inúmeras vezes ali. Um destes momentos, um dos mais históricos dos últimos anos, o que o presidente Lula saiu da prisão injusta e foi falar ao povo sobre sua resistência.
Seu primeiro contato com a política foi em casa. E ele conta histórias engraçadas sobre a luta contra o fascismo. Diz ter satisfação na profissão de educador e vídeos antigos exibem falas de protesto ao sistema ao mesmo tempo em que ele também contesta o atual (des)governo.
Se suas letras, em parceria com Ciro Seiji (preste atenção quando um senhor japonês aparecer para um papo com Mao e mais um amigo), foram a base de tudo para o Garotos, sua voz inconfundível e única emplacaram identidade e não há razão para o desvincular do material do Garotos. Os músicos da nova formação não só representam bem e tocam bem como sabem o lugar que ocupam e ficam maravilhados quando tem a oportunidade de ir a estúdio gravarem material mais recente ou versões de músicas dos anos 80 que são tão punks quanto eles.
Se hoje não há censura explícita, em décadas passadas, explica que era obrigado a entregar seu trabalho ao departamento da polícia, bem como o endereço de todos do grupo, e se teve músicas censuradas como o clássico atual "Eu Vou Fazer Cocô", não deixou de impactar a juventude e chegou a vender 50 mil cópias.
As Faces de Mao é um trabalho muito necessário e Dellani e Barbi não são desrespeitosos ou se valem de polêmicas para abordar a vida do personagem. A montagem é certeira e a seleção de canções que ouvimos conseguem se conectar a cada prosa que assistimos aqui.
Avaliação: Quatro botinas de combate (4/5).
Vinheta da 45ª Mostra
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