Competição Novos Diretores - Exibido nos festivais de Veneza e Toronto.
True Things, ou melhor, Coisas Verdadeiras, é um drama psicológico adaptado do livro de Deborah Kay Davies, "True Things About Me" com roteiro de Molly Davies e Harry Wootliff, esta última que também dirigiu a película. Aliás, segundo declaração da própria, True Things é "um conto de advertência a um relacionamento sexual destrutivo, que é complexo e comum. Uma relação que de fato nos é tão familiar que é quase um rito de passagem."
Na trama, encontramos a jovem Kate Perkin (Ruth Wilson), dona de uma beleza comum, e na casa dos 30 e poucos anos. A mulher sonha com tórridos romances à beira mar e desperta em seu pequeno apartamento, como tantos outros imóveis de Ramsgate, cidade litorânea, metódica e tradicional em Kent, na Inglaterra, um pouco entediada. A primeira coisa que faz é checar as redes sociais e observar a vida "interessante" dos outros casais em belas fotos românticas.
Kate não tem relacionamentos sólidos, tampouco mantém um contato saudável com sua mãe (Elizabeth Rider) e seu pai (Frank McCusker). As poucas visitas que ganha deles, inclusive, acabam em discussão, cobranças e conselhos sobre sua vida social e relacionamentos.
Ficha Técnica
Título original e ano: True Things, 2021. Direção: Harry Wootliff. Roteiro: Harry Wootliff, Molly Davis - baseado no livro de Deborah Kay Davies. Elenco: Ruth Wilson, Tom Burke, Hayley Squires, Elizabeth Rider, Frank McCusker, Ann Firbunk, Nathan Ampofo, Michael Moreland, Tom Weston-Jones. Gênero: Drama. Nacionalidade: Reino Unido. Trilha Sonora Original: Alex Baranowski. Fotografia: Ashley Connor. Figurino: Matthew Price. Duração: 102min.
Atrasada, desmotivada, ela parte para mais um dia comum no trabalho que conseguiu graças à indicação da amiga Allison (Ann Firbank). Um dos clientes da ocasião chama sua atenção. Um rapaz atraente e misterioso, com respostas evasivas, passado duvidoso e sorriso enigmático. Ele lhe passa uma cantada nada sutil e a convida para um encontro casual. Ao final do expediente, Blond (Tom Burke) espera por ela na porta do escritório e em questão de minutos estão fazendo sexo violento no estacionamento.
O desconhecido desperta uma atração imediata e alimenta suas fantasias eróticas. Seu vazio emocional a faz mergulhar de cabeça em um relacionamento abusivo, que a consome e domina, sem que ela se dê conta. Aquele homem atrevido, atraente e carismático a faz agir por impulso, mudando totalmente sua personalidade. Suas atitudes inconsequentes chamam a atenção de Allison que a adverte. Sexo, drogas, álcool, noitadas insanas que irão pesar negativamente em seu lado profissional. Kate perde o emprego, que já estava por um fio e a atração destrutiva se transforma em obsessão sexual compulsiva.
O filme apresenta a jornada de autoconhecimento de Kate, com seus percalços e sofrimentos, beirando a depressão. Mas, além do desejo físico e carência afetiva, o que a prende àquele homem que a trata com desdém, nunca é pontual, faz comentários pejorativos sobre seus sapatos, some sem dar satisfação e só aparece quando lhe convém.
Kate quer fugir de sua vida metódica e se satisfaz com qualquer migalha de atenção. Blond sabe manter sua presa e distribui sexo a atenção em pequenas doses. A relação destrói a segurança e autoestima da mulher. As cenas confusas e a trilha sonora sufocante refletem seu abismo emocional. Mas, aos poucos Kate irá perceber que mais que ser apenas uma opção, ela ainda pode sim ter outras opções também.
Os atores tem uma boa química e as cenas são bem convincentes. Impossível não se lembrar de algum casal amigo ou mesmo se identificar com a situação em algum momento. O enredo leva a pensar o que faz uma pessoa a permanecer em um relacionamento ruim, mesmo quando todos os sinais de alerta se acendem? O filme também faz refletir sobre a era virtual e seus relacionamentos perfeitos e o perigo de se deixar iludir por esta falsa realidade.
Vinheta da 45ª Mostra
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