Ben Affleck e Matt Damon são amigos desde que Ben tinha 14 anos e Matt 16. Iniciaram a carreira juntos e se ajudaram mutuamente ao longo de todo esse período. Como produtores, roteiristas e atores chegaram a levar Oscar (O Gênio Indomável) e a parceria de longa data gerou mais um excelente trabalho entre os dois. É a adaptação do livroO Último Duelo, livro lançado em 2011 no Brasil pela editora Intrínseca. A obra fora escrita pelo autor Eric Jager.
A trama, que é baseada em fatos ocorridos na França do século XIV, apresenta uma jovem mulher que declara a seu marido ter sido estuprada por um cavaleiro da corte. O acusado, anteriormente, era um grande amigo de seu cônjuge, mas todas as situações que foram decorrendo durante os anos colocaram em xeque a amizade entre os dois. A produção tem direção de Ridley Scott (Perdido em Marte e Gladiador) e traz no elenco além de Affleck e Damon, Jodie Comer, Adam Brody e Harriet Walter.
Com distribuição da 20th Century Studios, o filme entra em cartaz hoje no Brasil, após ter passado pelos Festivais de Veneza e Zurique e o Film Festival Gent, na Bélgica.
As cenas iniciais desta super produção de época se iniciam já durante o duelo entre Sir Jean de Carrouges (Damon) e Sir Jacques Le Gris (Driver). Ao centro, vemos Marguerite de Carrouges (Comer) toda vestida de negro, apreensiva com os momentos que virão em seguida. Um duelo que significa muito mais do que a honra do marido, mas sim a continuidade da vida desta mulher. A história nos leva então ao passado daqueles dois homens e nos permite entender o porquê eles chegaram aquela arena e vão lutar até a morte de um deles. Primeiramente, a versão de Jean é exibida e, na sequência, a versão de Le Gris ficando por último a de Marguerite.
Carrouges e Le Gris lutavam lado a lado por seu rei. Jean, era um homem destemido fez aqui e ali burrices no campo de batalha, mas sempre conseguiu sair vivo e, vez ou outra, também trouxe alegria a nobreza. Se Jean vê em Le Gris um amigo fiel, isto vai mudando de acordo com o tempo até então ele necessitar de dinheiro e decidir se casar com a filha de um renegado da sociedade que possui muitas terras, a bela Marguerite. Certo dia, Jean vai a Paris para receber pagamentos e deixa ordens de que a esposa não fique sozinha no castelo ou que saia deste. A mãe do cavalheiro não o dá ouvidos, já que não tem tanta afeição assim pela nora, e deixa a mulher sozinha. É então quando Marguerite é atacada por Le Gris que invade o lugar com a ajuda de seu escudeiro e entende que a mulher quer sim ter relações com ele. Quando o marido de Marguerite retorna, ela conta todo o corrido e exige punição. E este fica enraivecido com as atitudes que tem recebido do ex-amigo, com o respaldo do Conde de Alencon (Aflleck). O Conde é um nobre fanfarrão que tem grande confiança em Le Gris e não gosta nada de Carrouges. Mas este consegue sim permissão do rei para enfrentar o estuprador até que um deles morra. Caso Jean não consiga vencer o duelo, Marguerite será queimada viva.
Sir Jean de Carrouges (Damon) - ''Estou arriscando minha vida por você''.
Marquerite de Carrouges (Comer) - ''Você está arriscando A MINHA VIDA para salvar seu orgulho.''
A versão/capítulo que vemos na sequência é a do estuprador e fica fácil entender que o homem agia não por amizade a Carrouges em muitos momentos, mas por sentir que este era realmente um forte guerreiro. Le Gris, contudo, usa a simpatia que o Conde tem por ele para arrumar um trabalho de contador das finanças do nobre e ainda aproveitar as festinhas regadas a bebidas e sexo com inúmeras mulheres. Vez ou outra tenta falar bem de Carrouges, mas aos poucos vai trabalhando sim para conseguir o seu status na corte e não exatamente dizer que é aliado de Jean. Em certo momento, brigam feio por conta de terras que eram de direito de Carrouges ao se casar e voltam a se falar tempos depois quando o casal é convidado a um evento social e Marguerite é apresentada a todos como esposa de Jean. Fica óbvio desde então a intensa inveja/cobiça que Le Gris passa a cultivar pela mulher e é na versão dela que entendemos que em nenhum momento o sentimento fora incentivado, mas sim ela tenta ser cortês e educada para não causar problemas ao esposo.
Matt e Ben escreveram o roteiro em parceria com Nicole Holofcener. Hoje em dia, mais atentos ao movimento #MeToo e a causa das mulheres em busca de sua própria voz nas telas, a dupla teve a perspicácia de não só dar tempo para que os personagens homens tivessem suas versões masculinas e padrões, mas que sim a personagem feminina conseguisse ser construída não só pela atuação excepcional de Jodie Comer como pelo texto de Nicole. Assim, conseguimos compreender o quão importante é que as mulheres ganhem sim papéis escritos por mulheres e pensem como mulheres, não como homens. Não fosse isto, sim teríamos um filme totalmente masculinizado e que retrataria somente o valor da honra dos homens e etc. Por outro lado, sentimos um baita murro no estômago quando ouvimos Marguerite dizer que ''não teria valor algum, se não tivesse o apoio de um homem''. O que sempre foi explicitamente demonstrado na sociedade. Não importa a época. O caminhar da história nos faz chegar aos créditos finais e ter ainda mais admiração pelo personagem de Comer na vida real.
Trailer
FichaTécnica
Título original e ano: The Last Duel, 2021. Direção: Ridley Scott. Roteiro: Nicole Holofcener, Matt Damon e Ben Affleck - adaptado do do livro de Eric Jager. Elenco: Matt Damon, Adam Brody, Ben Affleck, Jodie Comer, Harriet Walter, Oliver Cotton, Alex Leather, Marton Csokas. Gênero: Época, Drama histórico, Romance. Nacionalidade: EUA, UK. Trilha Sonora Original: Harry Gregson-Williams. Fotografia: Dariusz Wolski. Edição: Claire Simpson. Figurino: Janty Yates. Distribuidora: 20th Century Studios. Duração: 02h32min.
O Último Duelo seria dirigido por Francis Lawrence, mas Ridley acabou sendo contratado e, como sabemos, o diretor de Gladiador entrega como ninguém dramas de época. Aqui, assistimos a grande cenas de batalhas, mortes no campo, aliás, que chocam e trazem realidade. Cada take grandioso de tirar o cinéfilo da cadeira e fazê-lo ainda mais chatinho quando for falar sobre ''a fotografia espetacular'' da produção. Temos uma trilha certeira de Harry Gregson-Williams e um figurino super acentuado de Janty Yates. As caracterizações para cada um dos atores protagonistas surpreendem. Ben Aflleck e Matt Damon ganhando cabelos coloridos e até barba (Damon nunca é visto de barba). As cicatrizes no rosto ou no corpo dos atores também demonstram a preocupação com cada detalhe aqui. Ademais, estas e os tipos e tamanhos de cabelos que o elenco vai utilizando servem para ajudar o espectador a se situar quanto a passagem de tempo. Afinal, o filme se inicia no futuro e volta ao passado. Adam Driver, por exemplo, ganha vários tamanhos de cabelo durante o longa. Seu arquétipo de ''galã estranho'' (alto, narigudo e cabeludo), inclusive, se encaixou perfeitamente ao de um homem francês de décadas passadas.
As atuações são deliciosas. Se Ben, Matt e Adam, trazem homens com personalidades distintas e fortes, Jodie e Harriet, esta última interpreta a mãe de Carrouge, nos apresentam a mulher ainda mais empoderadas. No caso da sogra de Marguerite, temos uma mulher amargurada com o tempo e os ocorridos à ela e a doce e bela esposa de Carrouge, muita delicadeza e sapiência adquirida nos livros que esta adorava ler. Ah, algo fenomenal da edição é que as duas horas e meia de filme passam e você nem sente.
O filme é com certeza daqueles para entrar na lista ''MELHORES DO ANO'' e deve muito ser assistido na maior tela possível.
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