Competição Novos Diretores - Exibido na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes e no Festival de Londres.
Ao contrário do que se poderia esperar, o filme de estreia de Panah Panahi vai na direção contrária às célebres películas de seu pai, Jaffar Panahi. Ao invés de abraçar a metalinguagem do fazer cinematográfico e o flerte com a linguagem documental, Panahi filho inaugura sua carreira de diretor com um road movie musical localizado na dramédia. A semelhança com o cinema de Jaffar que mais salta aos olhos é a presença de um personagem mirim caótico e barulhento como Mina, a garotinha protagonista de O Espelho (1997).
A criança de “Pegando a Estrada" é o caçula de um casal de meia-idade que viaja em um carro alugado dirigido pelo filho mais velho até a fronteira do país. Os detalhes da viagem como sua motivação, destino e precedentes vão se revelando muito aos poucos e de maneira indireta, de forma a ainda restarem enigmas ao fim da narrativa. Os diálogos dos personagens não são guiados pelo objetivo de informar à audiência seus backgrounds, necessidades e sentimentos. Funcionam de maneira muito mais orgânica e, consequentemente, anárquica.
Passar boa parte da narrativa sem entender o contexto da viagem cria uma tensão muito bem conduzida (e bem pontuada pelas necessidades infantis do rebento mais novo) e causa no espectador uma gostosa sensação de descoberta a cada novo detalhe apreendido e pescado entre uma conversa e outra da família. Mãe, pai e filhos têm uma relação preenchida de conflitos que transbordam em xingamentos e patadas à menor das desavenças. No entanto, quando o estresse de determinadas situações nos leva a esperar que as brigas retornem, uma piada ou comentário espirituoso rouba a cena, revelando uma dinâmica mais complexa do que o esperado.
Ficha Técnica
Título original e ano: Hit The Road | Jaddeh Khaki. Direção e roteiro: Panah Panahi. Elenco: Hassan Madjooni, Pantea Panahiha, Rayan Sarlak, Amin Simiar. Nacionalidade: Irã. Gênero: Drama. Trilha Sonora Original: Peuman Yazdanian. Fotografia: Amin Jafari. Edição: Amir Etminan, Ashkan Mehri. Efeitos visuais: Reza Noferesti, Mohammad Sanifar. Duração: 93 min.
Os momentos musicais em que os personagens dublam e performam músicas iranianas traz períodos de harmonia e união entre a família, se encaixando perfeitamente na noção de números musicais como momentos fantásticos que contrastam com a realidade, como preconizado por Richard Dyer em seu texto "Entretenimento e Utopia".
Além de interessante por si só, este primeiro longa-metragem do diretor nos deixa desejosos por acompanhar o desenrolar de sua produção.
Vinheta da 45ª Mostra
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