No Japão é possível ''alugar'' um parente ou uma família para dizer que é sua desde 1991. O funcionamento de empresas que trabalham com o serviço é extremamente profissional, mas ainda assim é intrigante, ou até mesmo, estranho para alguns. Contudo, a oferta deste produto sem igual no mercado pode nos fazer refletir sobre como os seres humanos talvez não aceitem bem a partida de alguém querido, ainda que vivamos numa diga "sociedade moderna e evoluída".
Na trama de "Uma História de Família", novo longa do sempre relevante Werner Herzog, uma mãe solteira e independente contrata um pai fictício para sua filha de doze anos. A menina nunca teve contato com o homem antes, pois este desapareceu. Além da narrativa principal, o espectador é levado a acompanhar o trabalho do dono da empresa e de seus funcionarios em outras contratações, tais quais enterros, casamentos e etc.
O longa foi exibido no Sakhalin International Film Festival, no Festival de Cannes e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e chega hoje aos cinemas de Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza e São Paulo. A distribuição é da Arteplex Filmes.
Já imaginou contratar alguém para te levar ao altar, caso seu pai não possa ir? E se uma tragédia aflige sua família e alguém falece e o corpo não é encontrado? Sabia que no Japão é possível ter alguém que represente está falta para você? Poisé. Para as personalidades dos dias atuais que também desejam fama e não sabem como chamar a atenção que tal contratar seguidores e fotógrafos para te perseguir na rua? Uma maluquice só. Mas tem doido para tudo nesse globo azul que vivemos sabe se lá até quando.
E é essa reflexão que Herzog traz em sua mais recente película. Assistimos a jovem Mahiro, uma doce menin criar vínculo com um homem que foi contratado pela mãe, Ishii Yuishi, para exercer a figura de pai que ela nunca teve. Logo, eles começam a sair e se ver para tentar então conhecer um ao outro. Mahiro também nos exibe sua grande alma quando um desses dias em que está com o pai, que ela não sabe que é de mentira, leva uma pequena garotinha com eles a uma loja de bichinhos. Mahiro conta a Ishii que a doce criança sofre bullying na escola por ser japonesa, mas ter o tom de pele mais escuro e os cabelos encaracolados como o de uma criança negra. A cena dos três ali passando a mão em criaturinhas fofas é super leve, mas está revelação deixa qualquer um frustrado com as atitudes dos seres que se dizem humanos e caminham em qualquer lugar do mundo.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Family Romance, LLC, 2019. Direção e roteiro: Werner Herzog. Elenco: Yuichi Ishii, Mahiro Tamimoto, Miki Fujimaki, Airi Coats. Gênero: Drama. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Ernst Reijseger. Montagem: Sean Scannell. Fotografia: Werner Herzog. Produção: Roc Morin. Distribuição: Arteplex Filmes. Duração: 89min.
Herzog usa um pouco do seu estilo documental aqui e este se mistura a ficção, mas nem tudo é tão de mentirinha assim. A começar por personagens que tem o mesmo nome que levam na vida real. O ator que interpreta o dono da empresa, Yuichi Ishii, na verdade, é dono de uma empresa do mesmo ramo. Vários dos "atores" em cena são pessoas reais e auxiliam a transmitir essa ideia de
realidade que o diretor quer imprimir.
Se vemos o lado positivo do preenchimento de um laço familiar, há muito deixado de lado, conhecemos também a dificuldade que é para que os "profissionais" desta empresa vivam vidas múltiplas. Ademais, podem surgir a questões morais onde "enganar" outra pessoa entra em debate interno, por mais que a intenção do serviço seja positiva. Além do lado humano como produto, é evidenciado como o Japão lida com os meios de produção quando um hotel já nem usa mais recepcionistas reais e tem apenas robôs para fazer o atendimento. Algo que a própria "Family Romance, LCC' está buscando entender para melhorar a entrega de bons resultados aos clientes.
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