O documentário de Carla Camurati, ''8 Presidentes, 1 Juramento'', nos faz caminhar pela história social e política brasileira por quase duas horas e meia e rever os momentos assombrosos por quais o povo teve de passar. O Brasil, não diferente de outros países da América Latina, viveu uma ditadura por intensos 21 anos e celebrou como nunca a publicação de sua Constituição. Ainda seguindo por caminhos tortos, viu a união de inúmeras figuras do cenário politico por uma causa maior, a necessidade do voto e da eleição de um presidente novamente. Logo, assistiu-se Tancredo Neves ser votado indiretamente em uma disputa contra Paulo Maluf, ainda nos anos 80. Neves, nem mesmo chegou a assumir devido ao adoecimento seguido de morte que lhe acometeu, pois teve de passar por quase 40 cirurgias em um periodo minúsculo de tempo.
Assistimos então seu vice, Sarney, a figura mais eterna deste meio, subir ao poder e ali ficar perante o sangramento do povo com uma inflação que fez muito mal a nação. Quando chegamos a desejada eleição de um candidato que significasse o novo Brasil e novos ares, o pior deles foi eleito, Fernando Collor, o galã das donas de casa e imperador das falácias e falácias. Collor sequer foi a debates (quem diria que veriamos algo assim voltar acontecer nos dias atuais, hein?!), pois lhe pareceu mais interessante assistir a algum filme na ''tela quente'' da emissora que o ajudaria a ganhar . Bem, por mais que este tentou ser um homem público e deu a mão a politicos internacionais, sua estadia a frente do planalto caiu quando o seu impeachment foi instaurado e deferido. Seu aliado PC Farias, denunciado por corrupção e suborno pelo irmão do presidente fez com que um esquema viesse à tona, mas a morte do homem anos e anos depois nunca trouxe muita luz a tudo que realmente aconteceu. Outra vez um vice assumiu e mais escandâlos políticos se dera (esquemas das empreteiras e etc). Mais a frente, o ex-Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, faria sua caminhada ao poder com o auxilio de sua politica econômica bem como a troca da moeda, melhor acertada que em tempos anteriores.
A era FHC evidenciou viagens internacionais com encontros importantes com os lideres do Reino Unido, Africa do Sul, Estados Unidos da América e etc. Também foi o Brasil das privatizações, do desemprego, do medo internacional que o Brasil não cumprisse suas promessas e de uma oposição forte da esquerda e, para a conveniência de Cardoso, da estruturação da reeleição. Aliás, figuras como Lula, José Genoino, José Dirceu, são vistos volta e meia pelo documentário, pois circulavam esse universo e lutavam pela chegada do Partido dos Trabalhadores a cadeira de Presidente. Também é possível ver Bolsonaro, Michel Temer e Aécio Neves em várias das imagens editadas dando as caras nos palanques e sendo o que são.
Se a chegada dos anos 2000, propiciou o crescimento da tecnologia, também trouxe esperança ao país. Lula, após conchavos e alianças, fez uma campanha eloquente e com elegância ganhando com grande porcentagem de votos e fazendo o olhinho dos brasileiros brilharem. Prometeu trabahar pelo fim da fome e pela educação inclusiva do país e cumpriu o que disse. O Brasil, pela primeira vez, começou a crescer com força e o mundo inteiro percebeu sua alavancada econômica. A política internacional do presidente foi uma das mais bem sustentadas e construiu inúmeros caminhos para o futuro. Se no governo FHC, a cultura era apenas ''lembrada que existia'' é com Lula que esta ganha aval para ter base e se equilibrar.
Não passando pano para os erros, o documentário permite mostrar a corrupção que se deu na era Lula e que o fez chegar a um segundo mandato com um pouco mais de dificuldade. E, se ele trabalhou pela eleição da primeira presidente mulher, foi ainda mais dificil que ela segurasse as cordas que amarravam todo o projeto de governo que o PT iniciou lá atrás. E são estes cruciais momentos que ajudaram a direita ou até a extrema direita pegar fôlego e tomar as redéas de tudo.
Dilma sofreu impeachment por um processo disfarçado de ''golpe'' e seu vice, Michel Temer, a tirou do poder. Não obstante, se aquela situação era injusta, o que viria a frente, seria frustrante. Uma nação revoltada com os erros da esquerda e do PT elegeu Jair Messias Bolsonaro, uma versão piorada de Collor e que baseou sua campanha em manipulação de informações, dizeres religiosos, e evocação da familia tradicional e do conservadorismo. Batata! Jogo ganho!
As imagens de acervo que assistimos no filme de Camurati consegue trazer frustração e até vontade de vomitar. Um país tão promissor que tantas vezes se deixou liderar por figuras públicas corruptas e sem moral alguma teve rompantes de esperança com a esquerda no poder, mas infelizmente, não conseguiu ainda ter um desenvolvimento desapegado das alianças que se montam para entrega dos projetos de governo.
Se vimos corrupção em quase todos esses anos de democracia, imagina se esta não tentasse, a trancos e barrancos, existir. Seria ainda pior.
Trailer
Ficha TécnicaTítulo original e ano: 8 Presidentes, 1 Juramento, 2021. Direção, produção e roteiro: Carla Camurati. Codireção: Mario Andrada. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Brasil. Música original: André Abujamra. Montagem: Joana Ventura Edt. Pesquisa de imagens: Antonio Venancio. Coordenação de produção: Carlos Proença. Edição de som e mixagem: Ariel Henrique e Luana Leobas. Produção e distribuição: Copacabana Filmes. Coprodução: Globo Filmes, GloboNews e Globoplay. Duração: 02h30.
Didático, coberto de uma boa coleção de imagens do nosso passado e do nosso presente recente, o filme pode ser instrutivo e reflexivo e ainda estranhamente grotesco por termos visto tantas vezes presidentes jurarem perante a constituição e falharem em suas missões. Dois deles talvez não por completo.
Avaliação: Três bandeiras rasgadas e meia revolução (3,5/5).
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