sábado, 20 de novembro de 2021

Dia da Consciência Negra: 10 Indicações de Livros Escritos por Pessoas Pretas


Hoje, 20 de novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra, um dia para trazer visibilidade às lutas que as pessoas pretas travam na sociedade. Para comemorar a data, queria trazer visibilidade à literatura preta! Afinal, eu acredito muito no poder da arte. Tentei pegar 10 livros, mas de diferentes gêneros, voltados para diferentes faixa-etárias. E se você tiver mais indicações, fique a vontade para dizê-las nos comentários. 

Americanah - Chimamanda Ngozi Adichie
Eu sou muito grato a este livro porque me obrigou a refletir sobre muita coisa que eu ignorava, em relação à experiência de pessoas pretas em nossa sociedade. Apesar de ser um homem branco filho de pai negro, meu pai nunca compartilhou muito do que vive/viveu e eu cresci em uma bolha. É muito importante se reconhecer como uma pessoa privilegiada que precisa abrir os olhos para a complexidade da existência do outro. 

Americanah é protagonizado por Ifemelu, uma jovem nigeriana que deixa seu país para estudar nos Estados Unidos. O livro começa com ela prestes a voltar para a Nigéria e através de flashbacks acompanhamos suas experiências nos EUA e seu relacionamento com Obinze, namorado da juventude de Ifemelo, que deixou a Nigéria para morar na Inglaterra.


The Black Flamingo - Dean Atta

Estruturado em versos, o livro acompanha o coming of age de Michael, um adolescente que aprende a valorizar sua identidade como gay e birracial através da arte do drag. É uma leitura bem rápida, mas muito inspiradora. Inclusive, para quem pretende começar a tentar ler em inglês é uma ótima opção.


Eu Sei Porque o Pássaro Canta na Gaiola (I Know Why the Caged Bird Sings) – Maya Angelou

Maya Angelou é um dos nomes mais importantes da literatura norte-americana contemporânea. “I Know Why the Caged Bird Sings” é uma obra auto-biográfica (a primeira de cinco). Não é de forma alguma uma história confortável de ler. O que essa mulher passou... me dói só de lembrar. Porém, é uma leitura necessária. O livro acompanha a jornada de Angelou da infância até seus 16 anos. Perguntada sobre o porquê de contar sua história, Angelou respondeu: "alguém precisa falar para os jovens: escute, eu fiz isto e eu fiz aquilo. Você pode encontrar muitas derrotas, mas você não deve ser derrotado."

Filhos de Sangue e Osso (Children of Blood and Bone) - Tomi Adeyemi


Você gosta de fantasia e mitologia? Então vai adorar esse livro, que trás uma história inspirada pela cultura ioruba (da África ocidental). E olha que legal: a autora estudou cultura africana em Salvador, lugar onde ela teve a inspiração para começar a obra!

Zélie vive em um mundo sem magia, mas nem sempre foi assim. Os seres humanos possuíam ligação com os deuses, o que lhes garantia poderes imensos e os fazia serem conhecidos como Maji. Até que um dia essa ligação foi rompida pelo tirano rei Saran, que temia a magia. Porém, forças rebeldes mantem as tradições vivas. Quando a filha do rei rouba um objeto que pode ser a chave para restaurar o poder dos Maji, o caminho dela se cruza com Zélie. As duas, juntamente do irmão de Zélia, Tzain, então recebem dos deuses a perigosa missão de levar três artefatos até o Templo Sagrado ou a magia estará perdida para sempre.

Identidade (Passing) – Nella Larsen


O livro é ambientado nos 20 e acompanham Irene Redfield e Clare Kendry, duas mulheres negras birraciais que, por terem a pele mais clara, conseguem se passar por mulheres brancas. Enquanto Irene usa desse fato para fazer coisas simples, mas vetadas para pessoas negras na época (como tomar um refresco em um restaurante de hotel), Clare construiu toda uma vida baseada na mentira, o que pesa sobre ela. Ao encontrar Irene depois de anos, Clare começa a reavaliar suas escolhas. A obra expõe questões relacionadas ao colorismo, um tema que, admito, apenas recentemente comecei a entender. É uma leitura sucinta, mas impactante. Eu só acho que poderia ter ido mais fundo na complexa psique dos personagens. Talvez pela própria inadequação que as personagens sentem em relação a suas identidades. Este ano saiu uma adaptação cinematográfica na netflix!

As Irmãs Brown (The Brown Sisters) – Talia Hibbert

Esse aqui é para quem ama comédias românticas! Na verdade, é uma trilogia, com cada livro acompanhando a história romântica de uma das irmãs Brown (por enquanto só tem o primeiro no Brasil). O primeiro eu achei mediano (embora ainda aqueça o coração), mas os outros dois são muito bons! “Acorda Para a Vida, Chloe Brown” conta a história da hipocondríaca Chloe, que se apaixona pelo seu vizinho motoqueiro, Red, alguém que inicialmente ela detestava. “Take a Hint, Dani Brown” segue Dani e seu relacionamento falso com um ex-jogador de futebol, Zafir, que claro vira algo de verdade com o desenrolar da história. E “Act your Age, Eve Brown” é centrado na mais maluquinha das irmãs: Eve. Ela acaba sendo obrigada a trabalhar com o chef Jacob, que é o oposto dela. Os dois não vão com a cara um do outro, mas a medida que são obrigados a conviver, isso muda.


Kindred – Octavia Butler


Eu já fiz um post aqui falando desse livro! Me impactou tanto que após lê-lo me senti inspirado a escrever sobre ele. A história nos apresenta a Dana, uma escritora negra do ano de 1976. Um dia, ela sente uma tontura muito forte e se vê transportada para um rio, onde uma criança se afoga. Ela consegue salvar o menino, mas a atitude dos pais da criança para com ela não é nada menos que hostil. Assustada, ela volta para casa, onde encontra o marido confuso com o fato de que ela estava em um cômodo da casa e segundos depois apareceu em outro canto e toda molhada. Pouco tempo depois, acontece de novo. Não demora muito para que Dana perceba que não está mais no século XX, mas nos Estados Unidos pré- guerra civil. Dana vê seu destino entrelaçado a do filho de um senhor de escravos e precisa agora de alguma forma tentar sobreviver aos horrores do regime escravocrata. Kindred não é um livro tão grande. Sua linguagem não é rebuscada e os olhos saltam de uma página para outra com facilidade. Porém, apesar de ser, em termos práticos, uma leitura fácil é, paradoxalmente, extremamente angustiante. E doloroso.

O Ódio Que Você Semeia (The Hate U Give) – Angie Thomas


Starr estuda em uma escola de elite, que é frequentada em sua maioria por alunos brancos. Ela cresceu e mora em um bairro periférico e sente que precisa impedir seus mundos de se chocarem, pois seus colegas de escola não entenderiam a realidade das pessoas de seu bairro. Em uma noite, voltando de uma festa com seu amigo de infância, eles são parados por um policial branco. Mesmo desarmado, o jovem é morto pelo policial. O acontecido gera uma onda de protestos e agora Starr precisa decidir se vale a pena arriscar seu anonimato para lutar por justiça estando à frente do movimento. Ao mesmo tempo, essa experiência a faz começar a questionar seus relacionamentos e suas atitudes em frente à atos de racismo do dia a dia.

O livro, obviamente, lida com temas muito atuais e, sendo direcionado para o público adolescente, é uma ótima introdução para se refletir Black Lives Matter e injustiça social. É uma história muito impactante. O livro virou um filme em 2018, estrelado pela maravilhosa Amandla Stenberg, que é igualmente bom.

Quarto de Despejo - Carolina Maria de Jesus 


Quarto de despejo não nasceu como uma obra literária, mas como diário que a Carolina de Jesus mantinha. Mesmo tendo apenas dois anos de estudo, a autora conseguiu registrar sua realidade com imensa sensibilidade e muito boa desenvoltura. Isso me faz pensar em quantas vozes potentes talvez não tenham a oportunidade de usá-las. Felizmente, temos acesso às memorias de Carolina, onde ela narra o seu dia a dia nas comunidades pobres de São Paulo. É um relato brutal da má condição e dos maus tratos que sofrem as pessoas das regiões menos favorecidas. Hoje, Carolina - que infelizmente faleceu em 1977 - é considerada uma das escritoras mais importantes da história literatura brasileira contemporânea. 

Sulwe – Lupita Nyong’o



Representatividade é tão importante. Não há como mensurar o poder de se enxergar na tela ou nas páginas de um livro! A atriz Lupita Nyong'o em Sulwe oferece às crianças uma representatividade que ela sente que faltou para ela na sua infância. O livro é encantador, om ilustrações lindíssimas. Conta a história de Sulwe, uma menina preta retinta que não queria ter a pele escura como a noite, pois nenhum dos seus familiares ou amigos é assim. Porém, uma jornada mágica faz Sulwe se apaixonar pela cor de sua própria pele.

 Love, Vitor

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)