Tanto na guerra quanto no amor, é importante saber quando é o momento de desistir da batalha. Porém, tanto as retiradas das tropas de território inimigo quanto o término de um casamento não são escolhas fáceis, e os efeitos posteriores a ambas decisões podem assombrar as pessoas afetadas para sempre. A analogia entre romance e estratégia de combate é a base de Enquanto Houver Amor, drama familiar de William Nicholson. No longa, Grace e Edward (respectivamente, Annette Benning e Bill Nighy) são um casal desencantado que, após quase 3 décadas de casamento, vive sob fogo cruzado.
Grace é uma mãe romântica e atenciosa que adora poesia e ter o controle da situação. Mais do que tudo, ela parece amar a segurança das repetições da rotina, provavelmente pela sensação cíclica e desprovida de conclusão que o cotidiano proporciona (“Talvez eu não goste que as coisas terminem”, diz ela sobre seu hábito de sempre deixar suas xícaras de chá pela metade). Edward é um professor de História dedicado e que está infeliz com seu casamento com Grace, se identificando com Napoleão por ter que tomar uma decisão sem volta e que deixará pessoas mortas e feridas para trás. Os constantes atritos do casal enfatiza as diferenças aparentemente irreconciliáveis entre eles. Grace é falante e explosiva, Edward tem uma natureza reservada e reticente. Enquanto a esposa busca controlar o ambiente ao seu redor e exija de Edward coisas que ele não pode oferecer, o marido passivamente abaixa a cabeça para evitar conflito, mesmo ciente de tudo que há de errado no relacionamento. Quando o filho do casal, Jamie (Josh O’Connor da série "The Crown"), é convidado pelo pai pra visitá-los, é surpreendido pelo divórcio dos progenitores e com sua aparente obrigação de tomar partido de algum dos lados. Presenciar o colapso da própria família faz com que Jamie reflita sobre sua própria vida amorosa e, entre trancos e barracos, se reconecte com a mãe, ajudando-a a lidar com o fim de seu casamento e a encontrar um novo capítulo para sua vida.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Hope Gap, 2019. Direção e roteiro: William Nicholson. Elenco: Annette Bening, Bill Nighy, Josh O'Connor, Aiysha Hart, Ryan McKen, Joe Citro, Rose Keegan. Gênero: Drama. Nacionalidade: Reino Unido. Trilha Sonora Original: Alex Heffes. Fotografia: Anna Valdez-Hanks. Edição: Pia Di Ciaula. Figurino: Suzanne Cave. Distribuição: Califórnia Filmes. Duração: 100min.
O diretor e roteirista William Nicholson é bastante acostumado a dramas familiares, em especial este: a película é uma adaptação cinematográfica de uma peça de sua autoria que, por sua vez, é inspirada no divórcio dos próprios pais do cineasta. Sendo um tema tão familiar, fica fácil entender porque o confronto entre Annette Benning e Bill Nighy soa tão verossímil e doloroso: sua abordagem semi-biográfica confere ao longa um sentimento de registro proibido, como se o público assistisse algo que não deveria, algo que apenas uma pessoa vivendo aquela experiência de dentro poderia relatar. E tal perspectiva cria uma atmosfera de impotência perante o inevitável fim deste casal, que foi muito feliz em algum momento, mas que agora não necessariamente é mais.
O mais interessante do nível de melodrama apresentado no longa é o inegável descompasso emocional do casal protagonista. Enquanto Edward encara o divórcio como um mal necessário, Grace vê no fim de seu casamento a ruína da história de sua família, um fato inadmissível, de modo que lhe parece razoável até mesmo manipular o próprio filho para tentar fazer o pai mudar de ideia. Jamie, provavelmente representação do próprio Nicholson neste cenário de caos familiar, guia o público neste angustiante drama, sem efetivamente tomar nenhum dos lados deste conflito. A construção dos personagens é feita cuidadosamente a partir de arquétipos muito bem definidos e coerentes, enfatizando suas vulnerabilidades que chega a ser excruciante acompanhar esta história, o que pode afastar a simpatia de parte do público, mas é compensada pelas grandes performances de seu elenco, em especial a atuação de Annette Benning, que oscila entre o irritante e o comovente na mesma cena.
Ainda que possa soar um tanto arrastado, principalmente em seu último ato, Enquanto Houver Amor, consegue conquistar o público com sua história tão universal e com personagens que causam identificação (mesmo que algumas pessoas não se sintam confortáveis em admitir isso).
O longa chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 18 de novembro, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
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