O terceiro filme do iraniano Massoud Bakhshi se curva sobre o absurdo e o melodrama para construir um dia decisivo na história da protagonista Maryam. De classe baixa, a jovem foi condenada à pena de morte por matar acidentalmente seu marido durante uma discussão. O crime abrange relações sociais complexas entre os envolvidos e tem muitos detalhes em que as partes discordam sobre o que ocorreu. Mas tais pormenores, assim como toda a conjuntura, nós espectadores só descobriremos ao desenrolar da trama.
Maryam é escolhida por uma emissora de TV sensacionalista como uma das convidadas de um famoso programa. A atração consiste em promover o encontro entre criminosos e suas vítimas para que estes possam perdoar os primeiros. Além destas situações gerarem as brigas e fortes emoções que os produtores tanto almejam para cativar sua audiência, o perdão concedido ao condenado tem o poder - pelas leis iranianas - de reduzir a pena imputada, salvando o réu da execução.
No caso de Maryam, o perdão deve ser concedido por Mona, filha única do morto. Para completar o drama, o episódio do programa com as duas vai ao ar na noite de Yalda. Na Pérsia, o solsticio de primavera é comemorado com grande euforia. A data tem grande valor religioso e é reservada para ser um momento de sentimentos bons, como o perdão e o arrependimento - justamente as emoções exaltadas pelo programa.
Acontece que no lugar do arrependimento, Maryam sente ressentimento. E Mona, mágoa. Uma só aceitou participar do programa por conta da indenização em dinheiro. A outra, pela oportunidade de contar sua verdadeira história e, de alguma forma, “fazer justiça". Aí reside a perversidade do show, que humilha o condenado com a exposição de seu crime e sua vida de maneira sensacionalista e empurra a vítima na direção do perdão, uma vez que esta sofrerá a pressão social pública caso não proporcione o final feliz que todos esperam. Em meio a isso, ocorrem apresentações musicais, presenças de celebridades e comerciais dos patrocinadores. O crime, seus motivos e consequências são tratados com leviandade.
O filme constrói muito bem a tensão deste cenário. Antes das gravações começarem, os enquadramentos fecham-se no rosto das personagens. O clima de claustrofobia se completa pelo fato de 95% das cenas serem ambientadas dentro da emissora de televisão. O roteiro também acerta ao deixar o espectador no escuro no início da narrativa, entendendo a situação conforme ela vai sendo contada ao vivo de maneira não-linear, como um quebra-cabeças. Outros elementos externos entram na trama virando o rumo desta de forma inesperada. Desde Quem Quer Ser um Milionário? (2008) não víamos algo tão bom sair de um programa de TV tão ruim.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Yalda, 2020. Direção e roteiro: Massoud Bakhshi. Elenco: Sadaf Asgari, Behnaz Jafari, Babak Karimi, Fereshteh Sadre Orafaee, Forough Ghojabagli, Arman Darvish, Fereshteh Hosseini Gênero: Drama. Nacionalidade: Irã, França, Alemanha, Luxemburgo, Suíça, Líbano. Fotografia: Julian Atanassov. Edição: Jacques Comets. Direção de Arte: Leila Naghdi Pari e Massoud Bakhshi. Produção: Jacques Bidou e Marianne Dumoulin. Distribuição: Imovision. Duração: 01h29min.
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Visiste também: https:// imovision.com.br/yalda-uma- noite-de-perdao
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