quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

O Beco do Pesadelo, de Guillermo del Toro


Adaptação do livro de William Lindsay Gresham, "O Beco das Ilusões Perdidas", o suspense de Guillermo del Toro é um filme classudo e com um tom noir dos tempos de ouro em Hollywood. A trama gira em torno de um jovem que sabe o que quer e manipula todos a sua volta. O garoto perde o pai e tem uma escalada na vida muito rápida e de forma suspeita logo após entrar em uma trupe de circo e conhecer truques para ludibriar o público.

"O Beco do Pesadelo" é estrelado por um elenco de peso. Entre eles, Bradley Cooper, Cate Blanchett, Rooney Mara, Toni Collette, Ron Perlman, Willem Dafoe, Richard Jenkins, Tim Blake Nelson, David Strathairn e muitos outros. A história já fora adaptada no passado pelas mãos de Edmund Goulding (leia aqui), mas Del Toro consegue desenhar um tom distinto e assombroso que traz ainda muita reflexão. 

A produção chega hoje aos cinemas com distribuição da 20th Century Studios

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Nightmare Alley, 2021. Direção: Guillermo del Toro. Roteiro: Guillermo del Toro e Kim Morgan. ElencoBradley Cooper, Cate Blanchett, Rooney Mara, Toni Collette, Ron Pelrman, Willem Dafoe, Richard Jenkins, Tim Blake Nelson, David Strathairn, Mark Povinelli, Mary Steenburgen, Holt McCallany. Gênero: Drama, Suspense. Nacionalidade: México, Eua. Trilha Sonora OriginalNathan Johnson. Fotografia: Dan Laustsen. Edição: Cam McLauchlin. Design de produção: Tamara Deverell. Figurino: Luis Sequeira. Distribuição: 20th Century Studios. Duração: 02h30min.
Stanton Carlisle (Cooper) inicia uma jornada surpreendente assim que seu pai falece e sua casa pega fogo. Ao espectador, fica a dúvida se o homem é culpado da morte do familiar e também do incêndio, mas todas as respostas necessárias virão no tempo certo. Ao pegar a estrada, em dias chuvosos e escuros, Stanton se depara com um Circo partindo e ali consegue um emprego. Avista também uma linda moça de olhos azuis e cabelos negros que dias depois descobre se chamar Molly (Mara) e é vigiada pelo brutamontes Bruno (Perlman). 

No lugar, ele conhece Clem (Dafoe) que é quem lhe dá um chão para dormir e trabalho e também Zeena (Collette) e seu marido Pete (Strathairn). Clem tem um show de horrores onde um homem selvagem é posto a revelar seus instintos e matar animais a sangue frio, já Zeena e Pete vendem ao público a idéia de que são conhecedores do além e advinham histórias sobre as pessoas ou entregam mensagens dos mortos à elas. Atento e esperto a tudo, Stanton logo aprende muitas das artimanhas e quando Pete se entrega a bebedeira, o jovem toma o seu lugar nos shows. Até mesmo Molly ajuda aqui e ali. E a garota começa então a se encantar pelo galanteador rapaz que surgiu da noite para o dia. 

Os dois logo se casam e deixam o circo para tentar performar em lugares requintados e ganharem dinheiro sem dividir com ninguém. A idéia, claro, vem muito mais de Stanton do que de Molly e ela não percebe o caminho arriscado em que o marido os coloca quando este inicia uma aliança com a misteriosa psicologa Lilith Ritter (Blanchett) para abocanhar a fortuna de nobres da cidade grande. 


O roteiro circula a jornada de um personagem muito ambicioso e que não teme em arriscar tudo o que tem para ter mais e mais e mais. Ganha emprego, uma bela mulher, um lugar para dormir, mas logo se vê podendo ter status e corre atrás do topo. O desafio que Stanton tem é imposto por riscos que ele irá ou não correr, pois aparentemente ele não tem limites e nem escrúpulos. Assim, rapidamente ele ascende, mas, claramente, nada se sutenta se não for de verdade.

Entre o segundo e o terceiro ato surgem conflitos que dizem respeito a necessidade de um homem rico por contatar um amor do passado e se perdoar por erros cometidos. Obviamente que nem as alianças que Stanton forma e muito menos os truques que ele tem na manga o ajudam a resolver os problemas em que se enfia com o nobre e seu destino o faz voltar muitas casas no jogo da vida e encarar sua selvageria como assistira muitos homens antes o fazer.


Com um elenco que exibe suas estranhezas a todo momento e convence em cada escolha de seus personagens, O Beco do Pesadelo é um filme redondinho. Mulheres com suas complexidades e nada rasas e homens ainda mais distintos uns dos outros. Cate Blanchett arrasa com sua ''femme fatale à la Hitchcock'' e Cooper faz um trabalho digno. O longa teve que parar as suas filmagens, pois estava ocorrendo quando a pandemia chegou. Assim, Bladley aproveitou para emagrecer e o vemos em diversas fases com cabelos e corpos diferentes. Nada exagerado, mas que reflete a dedicação do artista. 

O diretor não veio exatamente com um terror, mas caminha em terreno conhecido - o ninho dos desajustados e estranhos. Assim, foca em cada um deles pontualmente e não perde a mão. Sua adaptação é belíssima em cores e ambientações e não deixa o espectador sair da sala insatisfeito com o que assistiu.

Avaliação: Três lições de vida e meia (3,5/5).

Hoje nos Cinemas

See ya!
B-

Belle | Hoje nos Cinemas

Ryû to sobakasu no hime, titulo original do longa japonês ''Belle'' que a distribuidora Paris Filmes lança hoje nos cinemas brasileiros mescla toda a modernidade e simbologia da cultura asiática a referências do conto françês, escrito por Gabrielle-Suzanne Barbot, ''A Bela e a Fera''. A animação tem direção e roteiro de Mamoru Hosoda (Mirai) e segue os dias escolares da adolescente Suzu. A garota vive com seu pai em uma aldeia e esconde um passado traumático ligado a perda de sua mãe. 

Conectado a atualidade internética, o filme apresenta um mundo virtual chamado ''U'' onde os personagens podem ser quem quiserem ser. Por lá, Suzu se torna uma grande cantora e é tanto aclamada como odiada por seu talento. Também conhecemos as paqueras escolares e conflitos que se dão devido as aparências das garotas ou a timidez dos meninos. Além do assunto do momento que gira em torno do que acontece fora da realidade.

A película marca o encontro do diretor com o designer de animação Jin Kim (Raya e o Ultimo Dragão e Moana - Um Mar de Aventuras).
Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Ryû to sobakasu no hime,2021. Direção e Roteiro: Mamoro Hosoda. Elenco: Kaho Nakamura, Ryô Narita, Shôta Sometani, Tina Tamashiro, Lilas Ikuta, Ryôko Moriyama, Michiko Shimizu e Fuyumi Sakamoto. Gênero: Drama, Aventura, Romance. Nacionalidade: Japão. Trilha Sonora OriginalLudvig Forssell, Yûta Bandoh, Taisei Iwasaki. Departamento de arte: Eric Wong. Departamento de Som: Michael Archacki, Suzanne Goldish e Jeffrey Roy. Design de Produção: Anri Jôjô. e Eric Wong. Diretor de animação: Takaaki Yamashita. Design de Personagem: Jin Kim. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 02h01min.

Animação se inicia com a apresentação do universo virtual de "U" e logo conhecemos Suzu e sua rotina de se levantar, se arrumar, tomar chá e ir a escola. A garota parece não ser muito íntima do pai e sequer aceita uma carona no dia a dia. Fora de casa, tem uma amiga e é com ela que mantém conversas sobre a menina bonita da escola e afins. Esta amiga em questão é super crítica e racional pouco ligando para os populares daquele ambiente. Suzu tem em Shinobu um protetor desde criança e a relação dos dois é um pouco de irmão, mas pode ser que a menina tenha sentimentos maiores pelo garoto também. 

Belo dia, sentindo todo o peso do passado e o nada a que seu presente lhe dá, ela decide adentrar o universo virtual habitado por cinco bilhões de pessoas. Todas elas transformadas em personas animalescas de diversos formatos e etc. Ali, Suzu se sente a vontade para fazer o que não consegue no coral que frequenta, cantar livremente. Desta forma, não demora muito e a garota, agora chamada de Belle, ganha milhões de seguidores e todos querem saber quem ela é. Aliás, seu avatar em U é de uma linda jovem de cabelos coloridos e longos e perfil modelista. Suas performances tem figurinos deslumbrantes e sua voz encanta um mundaréu de internautas conectados. Porém o efeito contrário também é visto e trolls começam a destilar o veneno em direção à ela. 

O que a super cantora também não esperava era que uma figura perigosa em forma de dragão fosse invadir um de seus shows e a deixar intrigada. Dali em diante, ela e sua amiga tentarão desvendar os mistérios por trás deste dragão lutador e também de quem ele é na vida real. 


A trama nos entrega uma personagem com muita dor pela perda drástica de sua mãe e tais conflitos acabam por se resolver com a escolha de Suzu em ajudar o misterioso dragão a solucionar também suas feridas internas. O encontro dos dois se dá de maneira similar ao que vemos no clássico da Disney e os dramas são repletos de camadas e a delicadeza com que o texto entrega o passado de cada um é bem manejado. Ademais, os arcos coadjuvantes preenchem bem a história. 

Temáticas como relações familiares e abuso infantil são enfatizados no filme e a animação é íncrivel ao nos colocar em choque, mas também consegue nos surpreender em muitas cenas.


Coloridissima, focada nos personagens, mas vez ou outra nas paisagens do ambiente em que estes estão, a animação se torna um quadro belíssimo e se destaca por uma condução cheia de referências pop's e é super moderna.

O grupo japonês Millenium Parade é responsável pela canção tema que abre o filme com ''U'' (assista ao vídeo aqui). A trilha sonora, inclusive, é um personagem na animação e traz músicas com sonoridade dançante ao mesmo tempo que tenta falar de questões profundas. 

Belle foi lançada em meados de 2021 no Japão e já tem um faturamento mundial de mais de 61 milhões de dólares. 

Avaliação: Três canções de amor e meio (3,5/5).

Hoje nos Cinemas

See ya!
B-

atualizado em 27.01.22, às 20:56

Núpcias de Escândalo | Belas Artes À La Carte


James Stewart é um dos maiores atores de Hollywood. Imortalizado em filmes de grandes diretores, ele só ganhou um Oscar de ''Melhor Ator'' em toda sua carreira e foi justamente por Núpcias de Escândalo. O astro que brilhou em faroestes, filmes de suspense, dramas, também agigantou comédias românticas, gênero desta película.

Núpcias de Escândalo é uma delícia de se assistir! Com atuações também magníficas de Cary Grant e Katharine Hepburn, retrata as desventuras amorosas dos ricaços da Filadélfia, Tracy (Hepburn) e Dexter (Grant), divorciados que em meio a rusgas diversas, indisfarçavelmente são muito apaixonados. Para apimentar as confusões dessa comédia romântica, Tracy está prestes a contrair núpcias com um novo pretendente, o insosso George (John Howard). Como a família é muito famosa e dada a escândalos, surgem para cobrir o casamento o repórter Macaulay (James Stewart) e sua namorada, a fotógrafa Elizabeth (Ruth Hussey). A reunião desses cinco personagens numa linda mansão cria as confusões mais divertidas, onde diálogos cortantes soltam farpas de um lado para o outro, até que o final feliz surja.

Dirigido por George Cukor, grande diretor da Hollywood de Ouro, esta comédia romântica foi lançada em 1940, há 82 anos atrás. Era o começo da Segunda Guerra Mundial e esse escapismo cômico era necessário naqueles tempos difíceis. Com certeza, os diálogos e atuações devem ter divertido muito as plateias da época. Eram grandes astros se alternando na tela grande entre beijos e tapas e fazendo todos torcerem por um destino agradável.


Ficha Técnica
Título original e ano: The Philadelphia Story, 1940. Direção: George Cukor. Roteiro: Donald Ogden Stewart - baseado na peça de Philip Barry. Elenco: Cary Grant, Katharine Hepburn, James Stewart, Ruth Hussey, John Howard. Gênero: Comédia. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Franz Waxman. Fotografia: Joseph Ruttenberg. Edição: Frank Sullivan. Duração: 112 Min.
O roteiro é muito bem construído. Não há tempos mortos, os diálogos sucedem-se como uma metralhadora de chistes e diatribes, e todos os personagens brilham, com sarcasmo, ironia e inteligência. Este tipo de filme para plateias adultas, hoje em dia, não é muito comum. Quando resgatamos esses clássicos, observamos como é interessante sair um pouco do padrão usual do cinema contemporâneo e adentrar noutra forma de fazer cinema, que na época era muito popular, de grandes bilheterias. O streaming do Petra Belas Artes tem feito esse excelente serviço de desencavar esses tesouros do passado e apresentá-lo em fácil acesso ao público de todo o Brasil.

A película envelheceu muito bem! Mulheres fortes e decididas, de gênios fortes, guiam a estória, povoada de personagens problemáticos e difíceis, com adultérios, alcoolismos e desilusões amorosas. Obviamente tudo mostrado com os filtros da censura da época. Filme classudo para espectadores inteligentes, como os leitores desse texto. Assistam, se divirtam e aprendam mais sobre a história do cinema nos anos 40, com um dos seus melhores exemplos!

Nota: 8,5/10.

Cardápio Semanal: 27.01.22 - Programa 108

Serviço:

Planos de assinatura com acesso a todos os filmes do catálogo em 2 dispositivos simultaneamente. Valor assinatura mensal: R$ 9,90 | Valor assinatura anual: R$ 108,90.

Super Lançamentos: Com valores variados, a sessão ‘super lançamentos’ traz os filmes disponíveis no cardápio para aluguel por 72hs.

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Spencer, de Pablo Larrain

 

Spencer” é um filme avassalador e a prova definitiva de que Kristen Stewart é uma grande atriz.

Passados quase 25 anos de sua fatídica morte em agosto de 1997, aos 36 anos, Diana, Princesa de Gales, é até hoje uma figura controversa. De um lado amada pelas pessoas, o que lhe rendeu o título de “Princesa do Povo”, do outro lado totalmente odiada e reprimida por membros da família real, sua biografia já foi apresentada diversas vezes em filmes, documentários e seriados. Contudo, é em “Spencer” que temos em cena aquele que seria talvez o seu momento mais angustiante quanto libertador.

O cineasta chileno Pablo Larrain, se prova um talentoso narrador da vida real e não importa qual seja esse figura, afinal o diretor já nos apresentou seu olhar minucioso e peculiar ao mostrar as atrocidades de Augusto Pinochet no longa “Post Morten” (2010), assim como a queda do ditador em “No” (2012), já em “Neruda” (2016) trouxe um nova abordagem sobre o poeta Pablo Neruda, assim como expandiu sua maneira de transpor em tela as dores e as angustias de personalidades marcantes para a história em “Jackie” (2017), quando arremessou em tela uma trama mórbida e nada convencional sobre Jacqueline Kennedy.

Em “Spencer”, com estreia prevista para 27 de janeiro nos cinemas nacionais, não apenas este meticuloso diretor, assim como Kristen Stewart, a atriz por trás de sua protagonista, elevam a outro nível a forma como se conjectura, se cria e se narra uma história. Na trama que abre com os dizeres “uma fabula de uma tragédia real”, mergulhamos em um perturbador feriado de Natal em Sandringham, em Nortfolk. Após rumores de traição e de divórcio, a princesa Diana se vê em um impasse quando percebe que seu casamento com Príncipe Charles já não está dando mais certo e nunca dará, já que o príncipe ama somente Camilla Parker Bowles, ainda que ela seja a mãe de seus dois filhos, portanto a mulher decide o deixar. Após o pedido, Diana se vê atormentada pelo fantasma da ex-rainha Ana Bolena, também deixada de lado pelo marido.


Apresar de todo o luxo e o glamour retratados em cenas grandiosas, assim como as reconstituições destes três dias regados a bebidas, comidas e as mais variadas formas de diversão, o roteiro de Steven Knight apresenta com maestria diálogos que transcendem ao que seria apenas especulações dos acontecimentos naqueles turbulentos dias e noites apresentando uma Lady Di que exala angustias, sofrimentos e libertação, onde numa fuga desesperada por liberdade, é na dor e no afeto do povo que ela encontra seu afago.

Kristen Stewart está esplendorosa e transcende uma Diana, que mesmo se apropriando de trejeitos, postura, comportamento e intelecto, a atriz traz um vitalidade nuca antes vista e nem retratada em tudo que se fez ou se falou sobre este ícone da história moderna. Kristen incendeia a tela em uma fervorosa atuação que culmina em uma fúria incontrolável seguida de um clímax carregado de doçura entregando aquilo que pouco de mostrou em outras produções, uma mãe afável e amorosa, tomando iniciativas pensando não só em si, mas muito em seus filhos, e isso por si só já vale qualquer anseio acerca desta obra.


Outro ponto que explora a doçura desta persona, é justamente onde Stewart dá um verdadeiro show de interpretação, ao se desvincular das amarras que “A Saga Crepúsculo” trouxe para sua carreira. Estes momentos se concentram na troca de afeto e de diálogos de Diana com a sua camareira Maggie, interpretada brilhantemente por Sally Hawkins (A Forma da Água). A química entre as atrizes permeia os mais profundos sentimentos, e em tela temos um trabalho de atuação digno de prêmios onde Stewart transmite em olhares, gestos e expressões faciais tudo o que está sentindo e vivendo.

Enquanto o roteiro exalta e idolatra esta personalidade central, principalmente em momentos que ela recebe o apoio dos empregados da realeza, ele também apresenta sem rodeios uma família real amargurada, com figuras arrogantes e personagens capaz de despertar no público os mais horríveis sentimentos de repulsa. Seja nos frames que mostram a rainha desdenhando de Diana ou então o Príncipe Charles tentando a diminuir ao argumentar e defender suas indagações referente ao seu adultério, são diálogos que de tão escrotos chegam a dar um nó no estomago.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Spencer, 2021. Direção: Pablo Larrain. Roteiro: Steven Knight. Elenco: Kristen Stewart, Tymothy Spall, Sally Hawkings, Freddie Spry, Jack Farthing, Sean Harris, Stella Gonet, Richard Sammel, Elizabeth Stefanek, Amy Manson, Lore Stefanel. Gênero: Drama, biografia. Nacionalidade: Reino Unido, Alemanha, EUA, Chile. Trilha Sonora Original: Johnny Greenwood. Fotografia: Claire Mathon. Edição: Sebástian Sepúlveda. Figurino: Jacqueline Durran. Distribuição: Diamond Films Brasil. Duração: 01h57min.
“Spencer” é também uma notável película que enche os olhos por sua estética minuciosa que recria com precisão toda uma época transposta em grandiosas locações, figurinos, maquiagem... tudo sempre acompanhado de uma fotografia mais apagada e nebulosa que se funde com uma trilha que trafega e propaga os mais diferentes sentimentos capaz de nos fazer sentir alegria para depois nos colocar numa tristeza absurda.

Muito mais do que uma esplendorosa obra, “Spencer” é o ápice de um narrador observador que adora explorar os lados mais sombrios e tortuosos de nomes fortes e marcantes da história mundial, mas também um elevado trabalho de atuação que coloca Kristen Stewart no mapa das premiações. E esse encontro supera toda e qualquer expectativa que rondava a produção, transformando-a em algo visceral e avassalador que merece ser descoberta e apreciada, afinal, não é todo dia que temos a chance de conferir situações que deixam a família real em frangalhos.

HOJE NOS CINEMAS

A Felicidade das Pequenas Coisas, de Pawo Choyning Dorji


É inegável o fato de que o primeiro longa-metragem do butanense Pawo Choyning Dorji é construído sobre uma ideia governante moralista. A oposição entre tradição X modernidade; campo X cidade; coletividade X individualismo e apatia X felicidade é martelada ao longo de todo o filme com maniqueísmo e pouco espaço para zonas cinzas.

O protagonista Ugyen (Sherab Dorji) é um professor que não gosta de dar aulas. Ao invés disso, sonha em alcançar o sucesso cantando rock. Ele mora com sua avó e a trata com indiferença e impaciência e sonha em sair do país, mesmo vivendo na nação dita mais feliz do mundo. Quando é mandado pelo governo para dar aulas na remota vila de Lunana, que não dispõe de eletricidade e é acessível apenas por uma trilha de oito dias de caminhada, isto é o fim do mundo para o personagem.

Durante a viagem e seu primeiro dia na comunidade, Ugyen usa seu headphone com música alta para se desconectar da nova realidade que o cerca, mesmo que isto seja grosseiro com seus companheiros de caminhada e prestadores de serviço. Como uma criança contrariada, o homem executa as tarefas de má vontade e faz pouco caso das refeições e maneiras locais.


No entanto, bastam alguns dias em contato com a comunidade que não usa sapatos, aquece-se incendiando estrume de iaque e passa sua existência pastoreando animais e colhendo sementes para que floresça em Ugyen uma verdadeira vocação para ensinar e cuidar de crianças, um desejo de ajudar o próximo e até um sentimento de gratidão por sua avó, que ficou sozinha em Timbu.

O professor se torna alegre, simpático, carinhoso e em profunda conexão com a natureza. É como se o ar puro, o som dos animais e a falta de tecnologia fizessem dele um homem melhor. Sua paixão pela música ajuda-o a se conectar com os habitantes locais, que constantemente utilizam canções regionais para se distraírem durante o labor e até as oferecem como um presente para o mundo e a aldeia.

Trailer


Fica Técnica
Título original e ano:  Lunana - A Yak in the classroom, 2019. Direção e Roteiro: Pawo Choyning Dorji. Produção:  Pawo Choyning Dorji, Jia Honglin, Stephanie Lai, Steven Xiang. Elenco: Sherab Dorji, Kelden Lhamo Gurung, Ugyen Norbu Lhendup,Pem Zam, Kunzang Wangdi, Sonam Tashi, Tsheri Zom, Tshering Dorji, Tashi Dema, Dophu, Dorji Om. Gênero: drama, comédia. Nacionalidade: Butão, China. Direção de Fotografia: Jigme Tenzing. Desenho de Produção: Tshering Dorji. Montagem: Ku Hsiao-Yun. Distribuição: Pandora Filmes. Duração: 110 min.
Isto dito, é preciso legitimar o filme como uma boa peça audiovisual. Apesar de se escorar sobre uma tese rasa, a obra é construída com qualidade técnica competente e uma narrativa de progressão bastante agradável. A ideia central é defendida com rigor, mas também com certa naturalidade. Não chega a aborrecer o espectador e nem impregna a direção com soluções clichês e sentimentalistas que levariam a audiência a um choro fácil.

As paisagens de tirar o fôlego são privilegiadas por enquadramentos bem escolhidos e assim como Ugyen tem o humor contagiado pelos aldeões, nos encantamos com o carisma de Pem Zam e o canto de Saldon (Kelden Lhamo Gurung). E por falar em canto, uma das decisões mais acertadas foi deixar a trilha do filme ser composta majoritariamente pelos sons da natureza e as músicas diegéticas entoadas pelos personagens.


Infelizmente, o título genérico que a obra ganhou no Brasil retira a ligação com um dos aspectos mais interessantes da história. Em original, o nome "Lunana - A Yak in the classroom" (Lunana - um iaque em sala de aula, em tradução livre) reforça uma visão do diretor que é posta de maneira mais sutil. A de que animais de convívio humano têm funções sociais tão importantes quanto os homens e mulheres, a de que todos os seres vivos estão em comunhão.

Assim como um professor é importante por ensinar as futuras gerações e um coletor é importante por levar comida até os cidadãos, um músico é importante por compartilhar seu dom com quem pode ouvi-lo e um animal é importante por fornecer matéria prima para comida, roupas, aquecimento. Por mais que o animal ainda seja explorado nesta comunidade, é tratado com enorme respeito e gratidão. Ugyen, afinal, demonstra seus valores como professor, músico e jaque.

A última cena do longa reitera sua função pedagógica, mostrando o protagonista em seu ciclo completo de aprendizado e funcionando como uma certa "lição de moral”. A despeito disso, ainda é um belo filme.

A FELICIDADE DAS PEQUENAS COISAS estreia nesta quinta-feira, dia 27 de janeiro, em São Paulo, e a partir de 3 de fevereiro em outras cidades brasileiras.

Fortaleza Hotel, de Armando Praça


A Fortaleza turística e glamorosa propagandeada por companhias de viagens e pela TV definitivamente não é o cenário de Fortaleza Hotel, novo filme do cearense Armando Praça. O longa retrata um lado bem mais realista e cru da capital, uma perspectiva que foge de idealizações comerciais. Tal escolha de ambientação segue a vivência de Pilar (Clébia Sousa), uma camareira desgostosa com a falta de oportunidades no Brasil que se prepara para abandonar tudo e se mudar para a Irlanda. Funcionária do hotel que dá nome ao longa, lá ela conhece Shin (Lee Young-Lan), uma hóspede sul-coreana que está no país lidando com as burocracias funerárias para transportar para Seul o corpo de seu marido falecido no Brasil. Shin também é desgarrada de suas raízes. Agora viúva, ela não tem mais motivos para voltar para sua terra natal, passando até mesmo a considerar as terras brasileiras como um possível novo lar. Tal contraste dita a dinâmica da amizade improvável que nasce entre elas.


Fortaleza Hotel constrói sua narrativa simples, porém muito efetiva, a partir de tragédias particulares que deixam suas protagonistas em posição de impotência. Shin perdeu seu marido para sempre, e suas desventuras em bananaland dificultam até mesmo que ela realize uma cerimônia funerária apropriada; Pilar, por sua vez, tem sua filha sequestrada por criminosos devido a uma dívida do namorado da jovem, e só boa-vontade não é o suficiente para resolver o transtorno. O teor melodramático das histórias das personagens, contudo, não dilui os momentos de contemplação e ternura da trama. Muito pelo contrário: situações que podem soar pequenas e triviais trazem camadas bastante valiosas a esta relação. Uma das cenas mais significativas do longa acontece logo após um episódio de conflito aparentemente irreconciliável. As personagens dividem uma garrafa de vinho barato e, em dado momento, Pilar pergunta a Shin se ela conhece música brasileira. Prontamente, Pilar coloca pra tocar Mastruz com Leite e põe-se a dançar. Não demora até Shin, rindo, se juntar a Pilar, mesmo não sabendo ao certo como seguir os passos (ou como se pronuncia a palavra “Forró”). Em seguida, Shin toca uma música típica da Coreia do Sul e dança seus passos delicados, enquanto Pilar tenta copiar os movimentos. É um momento divertido e espirituoso em que a química entre estas duas personas tão diferentes diminui a distância cultural entre elas. Elas são o coração do filme.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Fortaleza Hotel, 2022. Direção: Armando Praça. Roteiro: Isadora Rodrigues, Pedro Cândido. Elenco: Clébia Sousa, Lee Young-Lan, Demick Lopes, Larissa Góes, Ana Marlene e Vanderlei Bernardino. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Fotografia: Heloísa Passos. Montagem: Rita Pestana, Karen Harley, Gustavo Campos. Direção de Arte: Diogo Costa. Figurino: Tarsila Furtado. Som Direto: Pedrinho Moreira e Moabe Filho. Trilha original: O Grivo. Edição de Som e Mixagem: Nicolau Domingues. Colorista: Pablo Nóbrega. Assistência de Direção: Mykaela Plotkin. Direção de Produção: Clara Bastos. Produção: Maurício Macêdo. Coprodução: João Vieira Jr., Nara Aragão. Produção Executiva: Janaína Bernardes e Maurício Macêdo. Produção: Carnaval Filmes e Moçambique Áudiovisual. Distribuição: Vitrine Filmes. Duração: 77 min.

Fortaleza Hotel é uma história sensível e bonita sobre a busca por pertencimento e companheirismo feminino, se beneficiando de atuações ao mesmo tempo sutis e grandiosas e de um olhar cuidadoso de seu diretor.

A película estreia nesta quinta-feira, dia 27 de janeiro, nas cidades de Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, Palmas, Manaus, Curitiba, Brasília, Aracaju e Afogados da Ingazeira.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Omicron - O Agente do Espaço | Assista no Belas Artes À La Carte


O filme por traz das Fake News!

Omicron - O Agente do Espaço é um filme de comédia italiano de 1963, escrito e dirigido por Hugo Gregoretti, que traz no elenco Renato Salvattori, Rosemary Dexter, Franco Luzzi, Gaetano Quartararo, Mara Carisi, Gustavo D'Arpe e Dante Di Pinto.

Com a chegada da nova variante "ômicron", nome dado seguindo as letras do alfabeto grego, as mentes criativas das redes sociais já anunciaram que o filme "previu" essa nova pandemia. Não acredite em tudo que lê! O longa e sua relação com o vírus, resume-se ao título.

A comédia em questão, filmada em preto e branco, conta o caso de um corpo encontrado por uma cuidadora e três crianças na tubulação de um parque, aparentemente sem vida e em um estranho estado de rigor mortis acentuado. Investigadores e policiais são chamados ao local. A princípio, pensa-se em morte natural, mas a rigidez do cadáver é desconcertante.

O corpo é identificado como sendo do operário da SMS, Angelo Trabucco, nascido em Ivrea em 15/03/29. Investigações relataram que era um homem solitário, de poucas palavras, mas havia comentado sobre seres fantasmagóricos com sua senhoria. Também estava sofrendo de insônia crônica.

Neste momento, começa a graça da história. Durante a autópsia, feita por uma equipe médica bem confusa, o corpo em estado cataléptico, volta à vida. Dentro dele, uma voz que seria do Explorador Omicron do Planeta Ultra, faz os primeiros contatos com seus superiores intergalácticos, dando informações sobre o hospedeiro e revelando os planos de espionagem para invadir a Terra. Mas descobrir como operar o corpo do hospedeiro não será tarefa fácil para este visitante. Aliás, a  trilha sonora deixa tudo ainda mais engraçado.

O ator Renato Salvattori rouba as cenas. Com trejeitos, caras e bocas (e olhos chorosos!). Vai entregando um personagem divertido. Apropriado de um roteiro simples e original, Trabucco transmite muito bem as emoções e sensações do dito ET. O operário vai sendo dominado completamente pela criatura, que consegue restaurar suas funções, menos a fala e a inteligência. Diagnóstico médico: "totalmente inibido em inteligência e vontade. Incrivelmente desenvolvido com habilidades mecânicas acima da média. a catalepsia resultou no cancelamento de algumas faculdades e no desenvolvimento de outras."


Ficha Técnica
Título original e ano: Omicron, 1963. Direção: Ugo Gregoretti. ElencoRenato Salvattori, Rosemary Dexter, Franco Luzzi, Gaetano Quartararo, Mara Carisi, Gustavo D'Arpe e Dante Di Pinto. Gênero: Comédia. Nacionalidade: Italia. Duração: 102min. 
O operário imita aquilo que vê ou ouve, inclusive aprende a fumar. Os médicos cogitam declará-lo incapaz e removê-lo para Cogoleto, um asilo provincial. Entra em cena a crítica social ao sistema da época e às condições do trabalho nas fábricas da Itália. Trabucco se mostra rápido e eficaz, com "uma forma de loucura imitativa que excede todas as reações humanas". Não pensa, apenas segue ordens. Executa tarefas sem questionar, com eficiência.

Perfeito para voltar as linhas de produção. Todavia, a Omicron ganha forças dentro dele e o operário se transforma em uma super máquina, capaz de produzir em excesso. O sonho de todo capataz de fábrica. Os colegas de trabalho, que já estão às vésperas de uma greve, começam a se sentir ameaçados a ter que produzir tanto quanto Trabucco. Decidem eliminar a concorrência.

Ao mesmo tempo, o alienígena também está tendo desavenças com seus superiores e teme ser desintegrado. Omicron é um invasor, mas ele também não passa de um operário que deve seguir ordens. E tudo que ele quer é terminar a missão e retornar ao seu planeta. Mas antes terá que adquirir todo conhecimento possível sobre a Terra, lendo muitos livros. E encontrar uma maneira de seu hospedeiro ser morto. E como é divertida a forma como Trabucco consegue os livros e os lê rapidamente. Atenção nos títulos dos livros!

Temos aqui um olhar crítico e uma sátira à economia. O alienígena explica sobre hierarquia, trabalho, dinheiro, bens de consumo e a realidade da sociedade capitalista. Os invasores devem prestar atenção nos ricos e poderosos - estes oferecem perigo! Conhecimento e trabalho na linha de produção não combinam. O final é inteligente e surpreendente. Quase 60 anos depois, este filme ainda se mostra atual e vale ser conferido. Além de divertir, faz pensar!

Grata surpresa no catálogo do Belas Artes À La Carte!

Cardápio Semanal: 20.01.22 - Programa 107

Serviço:

Planos de assinatura com acesso a todos os filmes do catálogo em 2 dispositivos simultaneamente. Valor assinatura mensal: R$ 9,90 | Valor assinatura anual: R$ 108,90.

Super Lançamentos: Com valores variados, a sessão ‘super lançamentos’ traz os filmes disponíveis no cardápio para aluguel por 72hs.

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As Agentes 355 | Hoje nos Cinemas


A estreia que reúne Jéssica Chastain, Penelope Cruz, Lupita Nyng'o, Diane Kruger e Sebastián Stan nas telas, ‘As Agentes 355’, finalmente chega ao Brasil. Ao passo que se cria expectativas por conta do elenco e o pitching do filme nos apresenta uma ideia criativa, seu desenrolar e sua execução deixam a desejar.

Imagens promocionais e trailers prometem muita ação e o novo trabalho do diretor Simon Kinberg nos introduz a uma problemática e genérica trama que inegavelmente poderia se ter resolvido ainda no primeiro ato. Todavia como estamos diante de mais um filme de espionagem, nos deixamos envolver neste universo. Logo, entendemos que o conflito do longa-metragem gira em torno de um artefato que pode hackear qualquer dispositivo do mundo, arma esta que cai em mãos erradas, o que desencadeia perseguições, traições e mortes e é aí que um grupo de mulheres pertencentes as mais prestigiosas unidades de espionagem do mundo entram em campo. E são elas, Mace (Chastain), Marie (Kruger), Graciela (Cruz), Khadijah (Nyong'o) e Li Mi Sheng (Fan).

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: The 355, 2022. Direção: Simon Kinberg. Roteiro: Theresa Rebeck e Simon Kinberg. Elenco: Jéssica Chastain, Penelope Cruz, Lupita Nyng'o, Diane Kruger, BingBing Fan, Edgar Ramírez, Federico Trujillo, Marcello Cruz, Pablo Scola, Eddie Arnold, Leo Starr, Jason Fleming. Gênero: Ação, suspense. Nacionalidade: China, Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Junkie XL. Fotografia: Tim Maurice-Jones. Edição: John Gilbert e Lee Smith. Design de Produção: Stephanie Collie. Distribuição: Diamond Films Brasil. Duração: 02h02min.

É inegável que o caminhar da narrativa faz com que o espectador crie laços afetivos a alguns personagens. Por outro lado, as tramóias todas ocorrem de maneira muito óbvia. Deixando com que o plot final se torne previsível já nos primeiros dez minutos.

Ainda assim, temos ótimas sequências que entregam muita ação. Cenas que fazem jus ao elenco caro e qualificado que ali está inserido. Porém, tal fator não é o suficiente para trazer coerência ao texto e a narrativa. Entre o segundo e o terceiro ato, o espectador é apresentado a todos os personagens do filme, e eles são muitos. Logo, não demora muito que vários destes sejam descartados e de maneira Abrupta. No último ato, as margens do ápice do filme, se torna inegável a indagação do por quê o conflito principal ainda não fora resolvido. E se torna claro que o caminho simples tomado talvez não tenha sido o melhor, mas o que se fez valer, mesmo que este não tenha mérito algum.


Em contrapartida, não dá para contestar a forma fantástica pela qual o diretor consegue reunir culturas de vários países ao unir a famigerada equipe feminina e os costumes que as cercam, as formas pelas quais cada uma é acostumada a trabalhar em cada agência. Destaque para o pequeno arco da personagem da atriz Diane Kruger que é a mais fechada e a menos aberta as ideias de trabalho em equipe, porém que ao decorrer do longa se torna uma das mais fortes integrantes das Agentes 355.

Para um filme de ação com mais acertos, talvez Kinberg necessite dar algo a mais ao público, mesmo que este se contente às vezes com muito pouco. Contudo, este é daqueles para conferir nas telas do cinema com família e amigos e lembrar que não se faz uma obra memorável, mas ainda assim pode trazer uma boa experiência.

Hoje nos Cinemas!

Eu Sou Cuba | Assista no Belas Artes À La Carte


A película Eu Sou Cuba é um filme-panfleto. Com uma mensagem política bem definida, em plena Guerra Fria, era uma peça de propaganda do regime comunista da União Soviética, a respeito da Revolução de Cuba de 1959. Isso desmerece o longa? De maneira alguma. O espectador, consciente desse fato, pode desfrutar de um filme inventivo e inovador, com fotografia, edição, design de produção e direção sofisticados e vanguardistas.
O roteiro é uma peça política do realismo socialista soviético. Dividido em quatro segmentos, glorifica o povo em detrimento dos algozes, numa clara distinção entre o bem e o mal. Nas estórias contadas, não esperem dubiedades, nuances, é tudo muito maniqueísta. Os heróis são uma prostituta de comunidade, um camponês expulso de suas terras, um estudante universitário e um guerrilheiro de Sierra Maestra. Os vilões são norteamericanos clientes de bordéis, donos de terras, policiais e o regime de Fulgêncio Batista

Ficha Técnica

Título original e ano: Soy Cuba, 1964. DireçãoMikhail Kalotozov. Roteiro: Evgeniy Evtushenko e Enrique Pineda Barnet. Elenco: Sergio Corrieri, Salvador Wood, José Gallardo, Raúl García, Luiz María Collazo, Jean Bouise. Gênero: Drama. Nacionalidade: União Soviética, Cuba. Trilha Sonora Original: Carlos Fariñas. Fotografia: Sergey Urusevskiy. Edição: Nina Glagoleva. Duração: 141min
Diretor premiado em Cannes por Quando Voam as Cegonhas, o realizador da ex-URSS Mikhail Kalatazov faz um trabalho de gênio aqui. Tendo como cenário a ilha de Fidel Castro, ele realiza uma ode de amor à terra cubana, glorificando seu povo, sua cultura e sua luta contra a miséria e a violência política. Para isso, em quase duas horas e meia de duração, ele cria uma trama ousada, onde cada frame desperta admiração pela beleza e engenhosidade. O trabalho de câmera é incrível, movimentando-se de maneira ágil entre atores profissionais e figurantes e demonstrando em seus caminhos a emoção da cena. A fotografia em preto e branco dos cenários cubanos é sofisticadíssima, parecendo fotos do ilustre Sebastião Salgado em movimento. O som é um capítulo à parte. A música latina é explorada à exaustão, um rico detalhe deste filme já tão belo de ser assistido. Uma característica irritante é que a cada fala em espanhol é sobreposta uma voz russa e isto sim pode atrapalhar a experiência de quem está assistindo. Mas sabemos que o filme tem viés de uma propaganda política, portanto os trabalhadores soviéticos teriam de assistí-lo no cinema, saindo reconfortados com os caminhos da revolução e satisfeitos com seus líderes.
Atores profissionais e figurantes fazem sua parte e passam a mensagem com eficiência. Trabalham muito bem com o roteiro engessado e estratégicamente pensado para exibir uma mensagem política. O destaque do filme são suas soluções técnicas. Desprezado pelo público quando passou na grande tela, ele é admirado por cineastas e cinéfilos do mundo todo. O diretor Martin Scorsese até encabeçou uma campanha para restaurá-lo. E é essa versão restaurada que estreia hoje no streaming do Petra Belas Artes. Assistam e deliciem-se com esta pérola da cinematografia soviética e mundial! 

Nota: 8/10.

Cardápio Semanal: 20.01.22 - programa 107

Serviço:
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Eduardo e Mônica, de Renê Sampaio

Histórias de amor intensas são feitas muitas vezes de encontros e desencontros. Mais que isto, em algumas delas, ou quase todas, há de se achar o tempo certo para se estar junto. "Eduardo e Mônica", personagens saídos diretamente da canção clássica da banda Brasiliense Legião Urbana já ganhara um pequeno curta de uma operadora de telefone anos atrás. Na ocasião, o vídeo chegava para celebrar o dia dos namorados e a propaganda bombou. Afinal, o imaginário brasileiro sobre o casal sempre existiu. Assim, ao passo que o diretor de Faroeste Caboclo (leia aqui a resenha), Renê Sampaio, iniciou  a produção de seu segundo filme e obteve os direitos para adaptar a história, mais uma vez os corações românticos pularam do peito.

Definidos os protagonistas - o ator Gabriel Leone vive Eduardo, o garoto juvenil que amadurece, e a estrela mundialmente conhecida Alice Braga, vive a nossa empoderada Mônica - o roteiro precisava construir aqueles detalhes famosos da canção, mas em essência e não em cópia, para assim os complementar com personagens coadjuvantes que estão também ali na música e trazem jornadas reais. E sim, isto acontece. Conhecemos mais a fundo a família e os amigos de ambos e entendemos as motivações e desejos de cada um. Para o público de Brasília, o filme tem um um gostinho especial, pois as características, o palco e muito da originalidade de uma capital oitentista ganha homenagens. Logo, o fator poderá emocionar desde a primeira cena.

A produção da Gávea Filmes, Barry Company e Fogo Cerrado esteve em horário de pré estréia em todos os cinemas de Brasília no último fim de semana e entra oficialmente em cartaz nesta quinta-feira (20). A distribuição é da Paris Filmes e Downton Filmes.


"Eduardo abriu os olhos" e como todo mundo, ficou um pouco mais na cama, enquanto isso, Mônica se despedia das cinzas do pai e irritava a mãe e a irmã. Os dois se encontram pela cidade, naquela famosa "festa estranha". Ela é autêntica, potente, cheia de expressão e chama a atenção de qualquer um a sua volta. Ele está ali para se enturmar e a convite do amigo Inácio (Victor Lamoglia).

Quando se esbarram ao fim da festa, Eduardo acabara de perder o busão e, sabendo da gravidade da situação, já que na capital, desde sempre - isto significa esperar horas por outra condução, Mônica o oferece uma carona. Sem um rumo exato, visitam o congresso, sentam nas costas do Teatro Nacional e ali entendem que são de mundos diferentes e estão em fases diferentes da vida. 

Eduardo ainda tem muito a crescer, todavia, Mônica também, mas talvez ela não o saiba. A atração entre os dois começa faceira. Ele até mais que ela. No entanto, ela se entrega. Se vêem no parque da cidade, no ateliê super industrial que a moça herdou do pai e ainda vivem dias em acampamentos na Chapada dos Veadeiros, momentos estes que até deixam o garoto se sentindo um peixe fora d'água por toda a cultura que a moça e seu grupo de amigos mais velhos possuem.


Se Eduardo ainda está em busca de estabilidade (passar na faculdade e arrumar emprego), Mônica tem sonhos altos para sua profissão de médica, como trabalhar em outros cantos do país. O garoto vive com o avô, seu Bira (Otávio Augusto), na vila militar de Brasília e a moça tem uma relação complicada com a mãe, que é também sua chefe no hospital. Mônica também gosta de se expressar artisticamente e esse lado fica ali guardadinho para aparecer mais a frente. Ele anda muito com o irreverente Inácio (Lamoglia). O amigo de mil faces que o incentiva em quase tudo e a todo tempo busca experimentar sua juventude. Já ela vê as escolhas da irmã com pouca compreensão.

Aos poucos, tudo vai acontecendo na vida profissional dos dois e a parte emocional toma rumos que não são satisfatórios, mas que a maturidade da relação exige. Juntos, a partir de certo ponto, eles não conseguem ficar. Separados, vêem a graça de estarem juntos. E tudo caminha com calma até lá.

Trailer

Ficha Técnica


Título original e ano: Eduardo e Mônica, 2022. Direção: Renê Sampaio. Roteiro: Matheus Souza. Roteiro Final: Claudia Souto, Jessica Candal, Matheus Souza e Michele Frantz. Elenco: Gabriel Leone, Alice Braga, Bruna Spinola, Victor Lamoglia, Ivan Mendes, Otávio Augusto, Luisa Viotti, Jukiana Carneiro da Cunha, Digão Ribeiro e Fabrício Boliveira. Gênero: Romance, drama. Nacionalidade: Brasil. Produção de Elenco: Marcela Altberg. Preparação de Elenco: Sergio Pena. Trilha Sonora Original: Lucas Marcier, Fabiano Krieger, Pedro Guedes. Som Direto: Pedro Sá. Supervisão e Edição de Som: Miriam Biderman, ABC. Desenho de Som: Ricardo Reis, ABCMixagem: Toco Cerqueira. Finalização: Afinal Filmes. Montagem: Lucas Gonzaga. Supervisão de Pós-produção: Renato Tilhe. Caracterização: Auri Mota. Figurino: Valéria Stefani.  Assistente de Direção: Hsu Chien. Maquinista Chefe: Edu Mourão. Gaffer: Jubel Magrão. Direção de Produção: Barbara Isabella Rocha. Direção de Fotografia: Gustavo Hadba. Câmera: Lula Cerri. Direção de Arte: Tiago Marques. Assessoria Jurídica: Roberto SilvaProdutor Associado: Fernando Meirelles. Produtora Associada: Alice Braga. Produtora Associada: Reprodutora. Produção Executiva: Bianca De Felippes, Gabriel Bortolini e Tathiana Mourão. Produção: Bianca De Felippes e René Sampaio. Investimento: BNDES. Investimento e comercialização: TIM/Investimage - Funcine. Patrocínio FAC/ GDF, Rio Filme, Telecine, BRDE, FSA, ANCINE. Coprodução: Globo Filmes. Produção Gávea Filmes, Barry Company e Fogo Cerrado. Distribuição: Downtown e Paris Filmes. Duração: 01h54min.

Temos um texto coeso, gentil, repleto de harmonia com a canção de Renato Russo. Se o compositor baseou os personagens em pessoas reais, como casais ou amigos que teve, com certeza eles vão se ver na tela. A própria família de Russo o verá aqui. Eduardo parece sim um pouco com o jovem que o músico foi. Mônica sempre foi tida no nosso inconsciente como uma mulher forte com a qual toda menina queria se parecer. E o filme consegue emplacar essa vontade com força. 

Gabriel e Alice são na tela o encaixe certeiro e são um, mas também são dois. Em entrevista com o Wanna Be Nerd em dezembro passado, Renê Sampaio confessou que a produção do filme sempre quis Alice, mas ela quase não pôde participar por conta de agenda e até chegou a sair do projeto. Ao assistir o longa a certeza que temos é: que ótimo que ela conseguiu voltar e nos dar a Mônica perfeita. Ao contrário da atriz, Leone já estava ali desde o início e perdurou. Também músico, o ator  entregou durante a nossa conversa que sempre teve os discos da Legião na mesinha de cabeceira e que acredita que a leveza e inocência de seu personagem são pontos altos dele. Deveras, sua performance é um show a parte, até mesmo no karaokê (se prepare para uma das melhores cenas da película ao som de "Total Eclipse of The Heart"). Aliás, tanto Gabriel quanto Alice conseguem construir bem as diferenças que estes personagens têm e como eles conseguem se respeitar e se amar a partir disso é que é o grande barato da história. Até mesmo quando Mônica enfrenta o avô de Eduardo em uma discussão política sobre o horror da Ditadura. Além dos dois atores, Victor Lamoglia agrada muito em sua atuação. 

Se Sampaio acertou em Faroeste Caboclo e brilha aqui trazendo emoção e um casal em formação, ele avisa que vem um terceiro filme inspirado no universo musical da Legião e já estamos ansiosos. Afinal, a condução do diretor é pontual e criativa. Até mesmo por balancear e entregar bem a direção que cada personagem deve seguir. Tecnicamente, a filmagem toda da película é de arrepiar. Fora todo o trabalho de artes visuais que é proposto para a personagem da Alice. Incrível! Ah, e a lista de músicas que o público ouve durante o encontro todo de Eduardo e Mônica é de abalar qualquer festa. Tem A-Ha, The Clash, Titãs, B-52's, Mutantes, Bauhaus e a própria Legião.

Em suma, o longa representa muito trabalho e é rico por demais. Fala de amor, amizade, política, respeito, arte e não deixa de ser leve. Que era o que nós brasileiros mais precisávamos. 

Avaliação: Quatro corações apaixonados (4/5).

Hoje nos Cinemas.

Atualizado às 19.24, de 20.01.22