quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

O Poderoso Chefão - 50 Anos | Assista nos Cinemas


Um clássico é um clássico!

Em 1972 chegava aos cinemas, aquele que vinha a ser um dos maiores clássicos da história do cinema. “O Poderoso Chefão” se tornou um ícone da cultura pop, sendo referência até hoje, mesmo passados 50 anos.

Um dos marcos do cineasta Francis Ford Copolla, inspirada na obra literária Mario Puzzo, traz uma família mafiosa que luta para estabelecer sua supremacia nos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial. Uma tentativa de assassinato deixa o chefão Vito Corleone, papel icônico e controverso de Marlon Brando, incapacitado e força os filhos Michael (Al Pacino) e Sonny (James Caan) a assumir os negócios da família.

É incrível como alguns filmes não envelhecem, seguem atuais, mesmo depois de cinco décadas, apresentando diálogos extremamente contemporâneos – como o monologo de abertura, dramas do cotidiano e alguns fatos que não mudam, transformando a película em algo atemporal.
 
 
Assistir a excelente remasterização de “O Poderoso Chefão” hoje em dia e nos cinemas, traz a sensação, em algumas cenas, de que o filme foi feito nesta década. Por sua vez, o que entrega a idade do filme é a moda, carros e outros objetos da época, mas que ainda assim, passariam despercebidos se fosse uma filmagem atual de uma trama de época.

A película estará disponível nos cinemas em uma versão remasterizada em 4K, a partir de 24 de fevereiro, sendo uma ótima oportunidade para, quem assim como eu, nunca tinha assistido a saga da família Corleone, assim para quem já assistiu, ter a oportunidade de rever como se fosse a primeira vez.

Afinal, não e todo dia que temos a oportunidade de ver um clássico tão marcante e importante na grande tela, e se tratando de “O Poderoso Chefão”, é uma oportunidade única. Isto porquê temos a experiência de se envolver na trama de Don Corleone, assim como revisitar o trabalho de atores hoje consagrados como Al Pacino e Diane Keaton mais jovens, quase que irreconhecíveis, e também conhecer as belas paisagens da Itália e de Nova Iorque, que parecem ainda mais grandiosas quando embaladas ao roteiro cheio de tensão e reviravoltas da trama, o que torna tudo ainda mais prazeroso.

Ficha Técnica
 
Título original e ano: The Godfather, 1972. Direção: Francis Ford Coppola. Roteiro: Francis Ford Coppola e Mario Puzo - baseano no romance de Mario Puzo. Elenco: Robert Duvall, John Cazale, Diane Keaton, Richard Castellano, Sterling Hayden, Richard Conte, Talia Shire, Al Martino. Trilha Sonora Original: Nino Rota. Produzido por: Albert S. Ruddy. Distribuição: Paramount Pictures Brasil. Duração: 177min.
Vindo de alguém que nunca tinha assistido ao filme antes, é espantoso o fato de diálogos, assim como o próprio enredo, parecer muito familiar, é como se soubéssemos as falas de cor, mesmo sem nunca o ter assistido, e isso prova que muitas vezes que arte transcende.

O filme também estará disponível nas plataformas digitais a partir de 22 de março.

HOJE NOS CINEMAS.

Coração de Fogo , de Theodore Ty e Laurent Zeitoun


Coração de Fogo, animação franco-canadense que chega ao cardápio dos Cinemas brasileiros esta semana consegue unir, dentro de um mesmo enredo, assuntos mais sérios, como o machismo que, infelizmente, ainda se faz presente em nossa sociedade atual, a clássicas trapalhadas vistas anteriormente em filmes do gênero.

A dupla de diretores, Laurent Zeitoun e Theodore Ty, não poderia ter escolhido um cenário e uma época melhor para a ambientação do longa: a Nova York dos anos 30. Período no qual mulheres ainda não eram aceitas em corporações militares. E esse pequeno detalhe se faz muito importante quando nos atentamos  a narrativa do filme.

No longa, somos apresentados a Geórgia Nolan (Olivia Cooke) uma criança cheia de energia vendo magia e aventuras em cada metro quadrado que sua vista alcança, e como já é esperado, nessa idade seu maior herói e fonte de inspiração é seu pai, um renomado e famoso ex-Bombeiro, que abriu mão de sua carreira combatendo incêndios e salvando vidas para cuidar de sua estimada filha. Tendo seu pai como ídolo, a jovem desenvolve o sonho de seguir a carreira na mesma corporação que socorre a população em caso de incêndio e demais acidentes.
 
Trailer 
 

Ficha Técnica
Título original e ano: Fireheart, 2022. Direção: Laurent Zeitoun e Theodore Ty. Roteiro: Laurent Zeitoun, Jennifer Harper, Daphney Ballon com argumentos de Lisa Hunter. Vozes originais: Vicent Cassel, Alice Pol, William Shatner, Kenneth Branagh, Laurie Holden, Mara Junot, Valérie Lemercier. Gênero: Animação, aventura. Nacionalidade: França, Canadá. Trilha Sonora Original: Chris Egan. Fotografia: Jericca Cleland . Edição: Stéphane Garnier e Stéphane Garnier. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h32min.
Será difícil para o público de qualquer idade não se emocionar e torcer para que a protagonista consiga vencer as barreiras que a impedem de alcançar seu sonho. Todavia, em alguns momentos, o enredo peca na maneira em que constrói o vilão da trama e funestamente em seguida tenta de forma falha surpreender o público com um plot twist previsível.

Em suma, temos um filme que homenageia e apresenta para crianças e adultos a luta que milhares de mulheres, não apenas nos E.U.A, mas em todo o mundo, enfrentaram e ainda enfrentam para conseguir seu lugar ao sol. Portanto, Coração de Fogo é um filme excelente para uma tarde em família para uma ida ao Cinema e se configura como uma animação pronta para cativar adultos e crianças.
 
HOJE NOS CINEMAS

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

O Paraíso É Agora | Belas Artes À La Carte

 
O conflito entre Israel e Palestina existe há muito mais tempo do que qualquer pessoa gostaria de reconhecer. Não entrando no mérito de qual dos dois povos possui o real direito sobre o território o qual reclamam, é impossível ignorar a crise humanitária resultada de tal situação. Em especial nos últimos anos, é particularmente desafiador não se incomodar com a falsa simetria usada para se referir à questão. Enquanto Israel se estabeleceu como um nome influente geográfica, cultural e politicamente, o povo palestino foi perseguido e deixado à própria sorte em condições precárias e desumanas.

Este é o cenário de O Paraíso é Agora, celebrado e premiado longa do diretor palestino Hany Abu-Assad. Na trama, dois amigos de infância, Said (Kais Nashef) e Khaled (Ali Suliman), são recrutados para realizarem um ataque suicida em Tel Viv. O longa mostra os homens-bomba cooptados pelas forças terroristas como jovens comuns e simpáticos que simplesmente tentam ganhar suas vidas, ao contrário de outras obras (principalmente estadunidenses) que tratam desta temática de forma convenientemente maniqueísta. Tal perspectiva fez com que o filme fosse duramente criticado e sofresse ameaças de boicote, em especial quando recebeu uma indicação ao Oscar, por supostamente encorajar atentados terroristas. Mas esta é uma leitura muito pobre e enviesada desta obra tão envolvente. Said e Khaled não são fanáticos religiosos irracionais que querem subjugar quem não vive de acordo com suas crenças: são apenas pessoas simples que são levadas a um caminho questionável devido ao contexto em que vivem.


Ficha Técnica
Título original e ano: Paradise Now, 2005. DireçãoHany Abu-Assad. Roteiro: Hany Abu-Assad, Bero Beyer, Pierre Hodgson. Elenco: Lubna Azabal, Hamza Abu-Aiaash, Kais Nashif, Lutuf Nouasser, Ali Suliman, Mohammad Bustami, Ahmad Fares, Waleed On-Allah. Gênero: Drama,policial, suspense. Nacionalidade: Território Palestino Ocupado, França, Israel, Países Baixos e Alemanha. Trilha Sonora Original: Jina Sumedi. Fotografia: Antoine Héberlé. Edição: Sander Vos. Direção de Arte: Bashir Abu Rabi'a. Figurino: Walid Mawed. Design de Produção: Olivier Meidinger. Duração: 01h31min.

A visão aprofundada e humana da realidade vivida pelos personagens de O Paraíso é Agora proporciona uma construção cheia de nuances e camadas. Said nasceu num campo de refugiados e perdeu o pai ainda criança, morto após ser acusado de traição por trabalhar em colaboração com Israel. O jovem cresceu sentindo na pele as dores da opressão israelense e tem coerentes motivações ideológicas para considerar o Estado de Israel como um inimigo. É um trauma geracional compartilhado por ele e toda a sociedade onde vive. Contudo, esta não é uma postura apenas de certezas. Existe limite para a busca por propósito? Como levantar sua voz contra seus opressores após uma vida de silenciamento? Tanto Said quanto Khaled têm famílias amorosas e empregos triviais, vidas razoavelmente agradáveis das quais não querem abrir mão. Ao passo que atendem o chamado ao dever, suas raízes os lembram que as promessas vazias de recompensas gloriosas na vida após a morte não passam disso: promessas vazias. Tal fato é enfatizado pela chegada da decidida e independente Suha (Lubna Azabal), filha de um finado líder da resistência palestina. Após morar anos no exterior, ela volta para a Palestina e se depara com uma realidade totalmente diferente de sua vivência privilegiada. Ela é o perfeito complemento a Said, questionando opiniões nas quais ele acreditou a vida inteira como fatos e oferecendo algo que ele nunca pôde se dar ao luxo de ter: uma escolha.

O Paraíso é Agora é um filme precioso. Ousa encontrar beleza e até mesmo graça numa realidade tão dura e brutal. É bem-sucedido em criar um ambiente acolhedor e espirituoso que faz o público se encantar e se identificar com a dupla de protagonistas, tornando-os personas críveis e complexas, presas num tocante conflito moral e emocional. A resiliência deles causa emoção e, ao mesmo tempo, perplexidade. O final ambíguo é quase um alívio, dando margem para uma conclusão otimista para a história destes personagens tão encantadores. Ao menos na ficção, é possível visualizar um final feliz para eles.

                                             Cardápio Semanal: 17.02.22 - Programa 111

Serviço:

Planos de assinatura com acesso a todos os filmes do catálogo em 2 dispositivos simultaneamente. Valor assinatura mensal: R$ 9,90 | Valor assinatura anual: R$ 108,90.

Super Lançamentos: Com valores variados, a sessão ‘super lançamentos’ traz os filmes disponíveis no cardápio para aluguel por 72hs.

Para se cadastrar acesse: www.belasartesalacarte.com.br e clique em ASSINE. Ou vá direto para a página de cadastro:

https://www.belasartesalacarte.com.br/checkout/subscribe/signup

Aplicativos disponíveis para Android, Android TV, IPhone, Apple TV e Roku. Baixe Belas Artes À LA CARTE na Google Play ou App Store.

O Beco das Almas Perdidas (1947) | Belas Artes À La Carte

 


Refilmado em 2021 como O Beco do Pesadelo, por Guillermo del Toro (leia aqui os comentários sobre o filme), esse clássico de 1947 é uma obra-prima do gênero noir. O diretor Edmund Goulding consegue, em quase duas horas de metragem, criar um verdadeiro inferno onde almas desnorteadas lutam desesperadamente por um lugar ao sol, na caça do sonho americano.

Chega a se sentir o odor do fracasso e da miséria! É um roteiro extremamente fatalista, os personagens já nasceram condenados ao fracasso. Cartas de tarot, discursos bíblicos, atos de contrição, emolduram essa tragédia estadounidense, em um inteligente subtexto religioso. Independente de se estar num circo de beira de estrada ou num luxuoso teatro de uma grande cidade. O mundo é uma antecâmara do inferno, um beco das almas perdidas.

Stanton, interpretado brilhantemente por Tyrone Power, é um ambicioso rapaz que trabalha em um circo, no número da vidente Zeena (Joan Blondell). Grande estrela do passado, hoje em dia a adivinha amarga estar num lugar decadente, suprindo o vício do ex-marido alcoólatra. Stanton, aproveitando-se da fragilidade das pessoas à sua volta, aprende todos os truques do ofício. Alçando voos maiores, sai do circo com sua esposa Molly (Coleen Gray) e começa uma brilhante carreira por teatros de todo o país.


Ficha Técnica
Título original e ano: Nightmare Alley, 1947. Direção: Edmund Goulding. Roteir: Jules Furthman - adaptação do livro homônimo de William Lindsay Gresham. Elenco: Tyrone Power, Joan Blondell, Coleen Gray, Helen Walker, Ian Keith, Mike Mazurki. Gênero: Drama, noir. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Cyril J. Mockridge. Fotografia: Lee Garmes. Edição: Barbara McLean. Figurino: Bonnie Cashin. Duração: 110min. 
Até que um dia encontra a femme fatale Lilith Ritter (Helen Walker), outra trapaceira igual a ele, que sobe na vida enganando incautos e fingindo ser psicóloga. Os dois juntam-se num ambicioso plano para depenarem os ricos da cidade. São cruéis e ardilosos e conseguem muito dinheiro, até que algo sai errado.

O roteiro do filme é inteligente e enxuto. Não há uma cena que seja gratuita. Os diálogos são certeiros. E a ciranda das almas perdidas vai se formando, o desespero se instalando em todos os personagens, até o final desolador e amargo. A fotografia em preto e branco explora muito bem os cenários, reforçando a atmosfera de pesadelo. O circo e o teatro de luxo são faces da mesma moeda, ambientes de perdição e maldição. Grande filme e excelente descoberta da década de 40 do século passado, o clássico é uma das estreias desta semana no streaming Petra Belas Artes À La Carte. Assistam esta obra-prima do cinema noir!

Nota: 9/10.

                                              Cardápio Semanal: 17.02.22 - Programa 111

Serviço:

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A Jaula, de João Wainer


A agência EBC relatou, em outubro de 2021, que os indicadores de roubos de veículos cresceu de 2.247 para 2.902 (leia aqui). O país também não apresenta dados de investimento em educação efetivo nos últimos quatro anos e foi também neste período que a desigualdade social se aprofundou como nunca antes (segundo os dados disponibilizados pelo Departamento Intersindical de Estudos Econômicos no ano passado). E olha que vivemos o ''tempo onde o cidadão de bem tanto queria''.

Isto posto, falemos da estreia do jornalista e fotografo João Wainer na direção do longa ''A Jaula''. O thriller psicológico traz Chay Suede como Djalma, um rapaz de origem humilde que encontra um carro de luxo na cidade de São Paulo e que, ao tentar roubar pertences dentro do veículo, fica preso no mesmo. O rapaz tenta de um tudo para sair e acaba até se ferindo gravemente na perna. O dono do veículo, um médico ginecologista interpretado por um Alexandre Nero careca e aparentando mais idade, entra então em contato com o rapaz por meio do próprio sistema do carro. Confessa à ele que tudo foi programado para aprisionar quem tentasse furtar o bem. Irritado, o médico propõe um jogo ao jovem e, apesar de saber de seu ferimento, o mantem preso por horas enquanto conversa com ele. Djalma já está bastante fraco e se mostra não só arrependido como desesperado por estar sem água, comida, ou roupas limpas. O caso é acompanhado pelo noticiário sensacionalista que tem como representante a personagem de Astrid Fontenelle. A apresentadora vive uma espécie de ''Datena'' e incita a população a votar sobre qual deve ser o destino do homem. Ademais, o final desse conflito agoniante é corajoso e traz ainda a policial vivida por Mariana Lima a frente das negociações.

O filme é baseado em casos reais que ocorreram no Brasil e na Argentina, além de ser uma adaptação para o roteiro original do filme argentino, lançado em 2019, ''4x4'', de Mariano Cohn. O texto de Cohn e Gastón Duprat ganha adaptação e tradução por João Cândido Zacharias.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: A Jaula, 2022. Direção: João Wainer. Roteiro original: Mariano Cohn e Gastón Duprat. Tradução e adaptação: João Candido Zacharias. Elenco: Chay Suede, Alexandre Nero, Mariana Lima, MAri Moon, Astrid Fontenelle, Domenica Dias e Wallid Ismail. Gênero: Suspense, Drama, crime. Nacionalidade: Brasil. Trilha sonora original: Apollo Nove. Trilha sonora adicional: Mc Guime - Triz -- Tropkillaz. Maquiagem: Emi Sato e Marcos Ribeiro. Figurino: Nicole Nativa. Preparação de elenco: Márcio Mehiel. Montagem: Cesar Gananian. Desenho de som e mixagem: Ariel Henrique. Direção de fotografia: Leo Resende Ferreira. Direção de arte: Billy Castilho. Direção de produção: Marcos Tim França. Produção: Tx Filmes. CoproduçãoStar Original Productions, Cinecolor. Produção executiva: Camila Villas Boas, Eddie Vogtland, Mariano Cohn, Gastón Duprat e Martin Bustos. Produtora: Camila Villas Boas. Produtor associadoRoberto T. Oliveira. Distribuição: Star Distributions. Duração: 01h41min.

O filme é questionador. Nos leva direto ao ponto e não enrola o espectador. Deixa as claras toda a situação. Mostra os eventos conforme eles se dão. Mocinhos se tornam vilões e vilões sequer podem ser considerados vilões. Ainda assim, há peso e culpa para todos os envolvidos. Temos de um lado um pai de família que sem saída para buscar sobrevivência tenta algo que vai contra a lei e do outro um médico revoltado com os frequentes assaltos e roubos que sofreu, além de dilemas pessoais que vem passando e o instigam a punir os que o ferem com as próprias mãos. 

A parte que cabe a Djalma, com certeza, não é a de santo, e o filme mostra as burradas do homem até o momento em que este não tem mais controle da situação. Sem poder pedir socorro aos familiares ou a qualquer pessoa, ele tenta sobreviver meio a ansiedade e ao caos do ocorrido. Por estar ferido, o raciocínio é ainda mais debilitado e o embate com o médico nos momentos finais é de fazer qualquer um pensar muito como a arte tem sim o papel de nos fazer refletir sobre a realidade.




Wainer inicia muito bem sua filmografia. Um enredo forte para conduzir e um elenco dedicado. Chay e Alexandre são os nossos protagonistas e brilham durante os diálogos que nos fazem pensar quem é a verdadeira vítima aqui. Mariana Lima faz um papel de mediadora e mesmo entrando em poucas cenas é sempre certeira. Astrid Fontenelle, que foi uma das pioneiras na MTV, emissora que Chay e Mari Moon também trabalharam, se revela uma ótima ''palestrinha do certo e do errado''.

A tensão do filme é super bem construída. Os passos dessa vingança ''do cidadão de bem'' é medido não só pelo julgamento do espectador, mas também pelo bom resultado do filme. 

Imperdível!

Avaliação: Três tiros no sistema. (3/5)

HOJE NOS CINEMAS

See Ya!

B-

atualizado em 17.02, às 23:49

Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson


O nono filme do aclamado cineasta Paul Thomas Anderson (O Mestre e Sangue Negro), ''Licorice Pizza'', é ambientado durante os anos 70 e faz o recorte do encontro entre o jovem Gary Valentine, papel de Cooper Hoffman, e sua musa Alana Kane, interpretada pela cantora e musicista Alana Haim da banda de indie-rock Haim. Assim como Greta Gerwig em ''Lady Bird'' ou Quentin Tarantino com o seu ''Era Uma Vez em Hollywood'', PTA retrata no filme alguns momentos que realmente aconteceram e que fizeram parte de sua infância ou adolescência.

Alana e Cooper fazem um bate bola com grande estilo e estreiam em um longa-metragem. E um que tem tudo para se tornar o queridinho dos cinéfilos. PTA era um grande amigo do pai de Cooper, o ator Philip Seymour Hoffman, e eles chegaram a trabalhar juntos em cincos filmes. O diretor que tem em sua filmografia trabalhos dirigindo videoclipes de Fiona Apple e Radiohead já foi responsável também pela condução de clipes da banda Haim. Íntimo do grupo, ele revelou que a trama do longa não só vem de uma idéia que teve ao ver um garoto ''cantando uma mulher mais velha'' como reflete o seu crush pela mãe de Alana. Donna Haim, que aparece em Licorice com o marido Moti Haim e as filhas Este e Danielle Haim, foi professora do diretor. A família interpreta a si mesma e entrega cenas hilárias. Também estão no elenco: Sean Penn, Maya Rudolph, Bradley Cooper, Tom Waits e John C. Reilly.

A produção estreou lá fora em dezembro e chega ao Brasil após ter sido indicada ao Oscar nas categorias de melhor filme, direção e roteiro. A distribuição é da Universal Pictures Brasil. 

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano:
Licorice Pizza, 2021. Direção e Roteiro: Paul Thomas Anderson. Elenco: Alan Haim, Cooper Hoofman, James Kelley, Bradley Cooper, Sean Penn, John C. Reilly, George DiCaprio, Maya Rudolph, Danielle Haim, Este Haim, Moti Haim, Donna Haim, Skylar Gisondo, Emma Dumont, Christine Ebersole, Milo Herschloag, Tom Waits, Harriet Sansom Harris, John Michael Higgins, Benny Safdie e Joseph Cross. Gênero: Comédia, drama, romance. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Johnny Greenwood. Fotografia: Paul Thomas Anderson e Michael Bauman. Edição: Andy Jurgensen. Direção de arte: Samantha Englender. Design de Produção: Florencia Martin. Figurino: Mark Bridges. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 02h13min.

Gary Valentine (Hoffman) é um jovem criativo e agitado. É visto atuando e indo atrás dos seus objetivos. No dia em que está tirando fotos para o livro ''anual'' na escola vê uma moça passando e aceita a oferta dela para arrumar o cabelo. Cheia de opinião, mas se deixando levar pelo papo do garoto, Alana (Haim), a tal moça, aceita sair com ele. Mas destaca que a diferença de idade existe e que nada pode acontecer. Os dois se encontram então para jantar e, por acaso, a mãe do garoto não poderá o acompanhar em um teste e ele chama Alana para o fazer, já que necessita de alguém responsável para ir a outro Estado de avião. Durante o episódio, Alana conhece Lance (Skylar Gisondo) e se interessa pelo rapaz, mas este último ao ir jantar com a família judaica dela, põe tudo a perder quando se diz ateu e desrespeita as tradições religiosas.

Dali em diante, Alana e Gary vão viver dias juntos e separados tentando empreender de todos as formas possíveis. O ruivinho monta uma empresa para vender colchão de água, logo depois descobre que uma casa de jogos com pebolim pode ser uma boa, devido a um projeto de proibição, e investe no lugar. Enquanto isso, e a volta deles, o espectador vai perceber a indústria do cinema acontecendo com a presença de atores e produtores da época, o crescente ativismo de políticos da época como Joel Wachs (quase um Harvey Milk na vida) e também vivenciar o momento difícil para a população norteamericana quando os Estados Unidos sofreram embargo no Petróleo pela OPEC por apoiar Israel durante a guerra de ''Yom KiPur''. 


Paul Thomas Anderson nos entrega um filme delicioso de se assistir. O tom de comédia que o permeia pode te fazer dar boas gargalhadas. Por sua vez, o roteiro tem a chance de botar o espectador para pensar em temáticas relevantes como Xenofobia, Religião, Conservadorismo, Feminismo, Política, Homofobia e entre outros. 

As atuações de atores mirins e de diversas idades convencem e as estreias ou participações especiais tem o mesmo peso. Alana vive uma mulher por volta dos 25 anos que não tem muitos planos. Troca de emprego constantemente e está buscando um norte, diferente das irmãs mais velhas que parecem estar mais encaminhadas. Vive sua feminilidade, sua liberdade, dirige até caminhão se precisar, mas não esquecem que ela é judia em testes para certos papéis ou em jantares familiares. A garota ainda se envolve no mundo da política e entende que o mundo é difícil tanto para as mulheres quanto para os homens gays. Cooper dá a seu personagem um jeitão de menino esperto e doce. É apaixonado. Determinado e muito camaleão. As conexões que cria ou o carinho que faz transparecer ter pelo irmão faz dele um jovem admirável. Não é o galã, mas é o cara que faz acontecer. Sabe o que quer e não fica parado, corre atrás.

Temos cereja no bolo? temos sim. As participações de Tom Waits e Sean Penn que vivem respectivamente, Rex Blau e Jack Holden, são personagens inspirados em William Holden e Jack Huston. Além deles, Bradley Cooper dá um show como o produtor mulherengo Jon Peters. Jon namorou a cantora e atriz Barbra Streisand e produziu a versão de 76 do filme protagonizado pela artista ''Nasce Uma Estrela''. Produção que ganhou remake pela visão de Bradley (leia os comentários aqui).


Licorice Pizza é um termo em inglês, quase que como uma giria, equivalente a ''Vinyl'' (LP)

A trilha sonora assinada por Jonny Greenwood (escute aqui) tem Nina Simone, The Doors, David Bowie, Sonny & Cher, Paul McCartney e muitos outros. Uma baita trilha. A banda Haim sempre foi vista investindo em um figurino setentista e no filme Mark Bridges é responsável por deixar Alana e todo o elenco com cara de outros tempos. Logo, vemos looks como ''vestidos hippies, calças boca de sino e camisetas com gola alta'' para todo lado. 

PTA iniciou a escrita do roteiro para relaxar, pois um outro texto não estava saindo e o público acabou ganhando um filme cheio de participações especiais e muito amor ao cinema. É para assistir e sair chamando todo mundo no boca a boca para que façam o mesmo.

Avaliação: Quatro empresas bem sucedidas (4/5).

HOJE NOS CINEMAS.

See Ya!



B-

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Uncharted - Fora Do Mapa | Assista nos Cinemas

Paisagens incríveis mundo a fora, muita ação e Tom Holland dando à luz ao aventureiro Nathan Drake

Com estreia prevista para 17 de fevereiro, “Uncharted: Fora do Mapa”, chega aos cinemas apresentando uma história para toda a família, com aventuras ao redor do globo em busca de tesouros perdidos, quase como um Indiana Jones 2.0.

Na trama, inspirada por uma das franquias mais famosas dos games, Nathan Drake e seu parceiro canastrão Victor "Sully" Sullivan embarcam em uma perigosa busca para encontrar o maior tesouro jamais encontrado. Enquanto isso, eles também rastreiam pistas que podem levar ao irmão perdido de Nathan.

Quem jogou, ao menos um dos volumes da franquia “Uncharted”, vai encontrar algumas semelhanças com o longa de Ruben Fleischer (“Zumbilândia” e “Venom”). Seja em diálogos, cenários ou no que apresenta de ação, mas não em Nathan Drake e Victor “Sully” Sullivan, interpretados por Tom Holland e Mark Wahlberg, respectivamente. É difícil encontrar características que lembrem os protagonistas da famosa saga criada pela desenvolvedora de jogos eletrônicos subsidiaria da Sony Interactive, Naught Dog, todavia, apesar das diferenças e semelhanças, a química entre Holland e Wahlberg é inegável, e temos em tela uma dupla carismática que conversa bem com suas respectivas gerações. Em contrapartida, Sophia Ali, interpreta uma Chloe Frazer menos sexualizada do que apresentada no game, mas fisicamente é quase idêntica a personagem digital.


A história retratada no longa se passa antes dos fatos apresentados nos games, talvez isso explique os personagens aparentarem ser mais jovens que os “originais”. O filme funciona bem como uma introdução, não só aos personagens, mas também ao jogo digital, já que passagens icônicas são transpostas nas telonas, é o caso do capitulo 17 de “Uncharted 3”, onde Nathan precisa se equilibrar entre caixas e pallets caindo de um avião cargueiro em pleno voo, cena usada como destaque no trailer e em outros vídeos promocionais divulgados pela distribuidora Sony Pictures. Outras fases dos quatro jogos também são reproduzidas e fica nítido que utilizaram como referência um pouco de cada jogo para construir o fio condutor.



Ao contrário do excesso de palavrões, personagens erotizados e diálogos mais adultos que encontramos no Playstation, o filme tem uma linguagem mais simples e um flerte quase inocente entre os personagens, o que entrega um texto com classificação ''para toda a bem família diga-se de passagem. Toda essa introdução aos puzzles, mistérios e dinâmicas do jogo acontece logo na primeira metade do filme deixando toda a ação do meio para o final, com menos tiroteios mas com as mesmas piadinhas rápidas que os jogadores mais assíduos estão acostumados.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Uncharted, 2022. Direção: Ruben Fleischer. Roteiro: Rafe Judkins, Jon Hanley Rosenberg, Mark D. Walker, Art Marcum e Matt Halloway - baseado no Game criado pela Sony Interactive. Elenco: Mark Wahlberg, Tom Holland, Sophie Ali, Antonio Banderas, Tati Gabrielle, Pingi Molli, Steve Waddington, Tiernan Jones, Rudy Pankow. Gênero: Ação e Aventura. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Ramin Djawadi. Fotografia: Chong-Hoon Chong. Edição: Chris Lebenzon e Richard Pearson. Design de Produção: Shepherd Frankel. Distribuição: Sony Pictures do Brasil. Duração: 01h56min.
De uma forma geral, “Uncharted: Fora do Mapa” cumpre o que propõe, um filme de ação e a aventura para a família toda, com um visual deslumbrante e efeitos mirabolantes que pretendem agradar desde quem zerou os games até aquele espectador não muito familiarizado com a hiatória. O público vai sair do cinema satisfeito e com uma certa curiosidade, após as 2 cenas pós créditos, o que já deixa bem claro que temos uma nova franquia cinematográfica nascendo. Vale vivenciar a essa caçada ao maior tesouro jamais encontrado nos cinemas.

QUINTA-FEIRA NOS CINEMAS

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Hermanoteu na Terra de Godah | Premiére Telecine


A companhia de teatro ''Os Melhores do Mundo'' tem uma carreira nos palcos que vem sendo construída desde meado dos anos 90. Na TV, alguns dos membros chegaram a trabalhar em humorísticos globais e se apresentaram algumas vezes no falecido, mas eterno, ''Programa do Jô''. Peças fenomenais como ''Hermanoteu na Terra do Godah, Tormentas da Paixão e Sexo - A Comédia'' datam dos primeiros anos de trabalho do grupo (95 e 99). Durante os anos 2000, vieram ainda as engraçadissimas ''Notícias Populares, Dingou Béus e Os Melhores do Mundo Futebol Clube'' e muitas, muitas, muitas outras. Os textos super bem escritos e uma perfomance que destaca cada um dos integrantes em seus inúmeros papéis foi dando a Jovane Nunes, Ricardo Pipo, Welder Rodrigues, Victor Leal, Adriana Nunes e Adriano Siri reconhecimento nacional e a cia viajou o Brasil para apresentar quase toda a sua obra. Fizeram espetáculo fora do país, gravaram dvd's e, sinceramente, para eles realmente faltava chegar aos cinemas em conjunto.

Com vinte e sete anos de estrada, a peça que revela a jornada de Hermanoteu, o irmão da saudosa Micalatéia e filho de Holonéia, a procura da terra de Godah foi então adaptada e filmada em ambientações do Rio de Janeiro e o deserto do Atacama, no Chile. A comédia ''bíblica'' tem direção de Homero Olivetto e traz não só o grupo em atuações hilárias como participações dos ilustres Milton Gonçalves, Jonas Bloch e Marcos Caruso. Após a chegada e longa duração da pandemia, que ainda perdura, o filme foi redirecionado para estrear no streaming do Telecine, agora integrado ao Globoplay.

A comédia está na plataforma desde o dia 10 de fevereiro e estreou na rede de canais, pela sessão Premiére Telecine, oficialmente neste sábado (12), às 22 horas. A previsão também é que ganhe reprise no domingo à noite.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Hermanoteu na Terra de Godah, 2022. Direção: Homero Olivetto. Elenco: Jovane Nunes, Ricardo Pipo, Welder Rodrigues, Victor Leal, Adrianes Nunes, Adriano Siri  Milton, Gonçalves, Jonas Bloch e Marcos Caruso. Gênero: Comédia. Nacionalidade: Brasil. Produção: Casé Estudios. Co-produção: 20th Century Studios. Distribuição: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 84min.
Os créditos iniciais do longa exibem o vaticano em momento da escolha de um novo líder. No entanto, para que o santo padre, papel de Jonas Bloch, assuma o cargo, a instituição senta com ele em um momento privado a portas fechadas para contar um segredo que é mantido a sete chaves: a saga do jovem pentescopéio Hermanoteu, interpretado por Ricardo Pipo. O homem viveu na mesma época que Jesus Cristo (em cena Adriano Siri encarna o personagem e muitos outros) e talvez tenha sido o responsável por diversas trapalhadas que culminaram na ressurreição de Cristo.

Hermanoteu vive a dar golpes com o amigo Isaac (o íncrivel Welder Rodrigues). Belo dia, recebe de um ''anjo suspeito'' (Victor Leal) uma missão divina. Terá de encontrar o povo de Godah e os libertar, mas passa por inúmeras dificuldades já que um banqueiro lhe toma tudo o que tem. Durante sua caminhada de sete anos pelo deserto conhece cidades pequeninissimas como ''Gião'', é ainda tentado pelo Diabo, revê o ex-parceiro de armações Isaac, que agora trabalha para a rainha Cleópatra (Adriana Nunes), e tenta o ajudar.  É preso, perseguido e posto a lutar contra gladiadores para agradar o nada hétero César (Jovane Nunes). Também conhece Jesus e seus discípulos e até chega a cear com ele. Conversa com Deus inúmeras vezes por toda a viagem e sempre é lembrado de como sua irmã é querida por todos - eeeeeh, Micalatéia!.

Ao fim, Hermanoteu descobre que o que quer que seja que ele precisasse encontrar estava próximo dele todo o tempo. E as lições que experenciou o fizeram crescer para entender isto. 


Com um texto conhecido, o grupo entrega novidades e retira quase todo o escracho da peça teatral - piadas, sotaques, palavrões. Nas apresentações em cada Estado e Cidade do país, sempre se percebe que OS MM buscam preencher seus diálogos com memes. Incluem até mesmo críticas ao governo ou zoam acontecimentos recentes. No filme, conseguem criar uma noção política e histórica da coisa toda, mas perdemos a oportunidade de vê-los brincar mais. 

Personagens que são extremamente cômicos, visto o corneteiro que anuncia a entrada de César e precisa o agraciar arrumando sua almofada ou até sacerdotisas que ele encontra pelo caminho, foram excluídos. Aliás, quase 30 minutos de peça não entram aqui. Assim, a comédia se torna mais lapidada e menos exagerada. Para alguns, isto talvez prejudique o resultado final do filme. Todavia, a criatividade da apresentação não se perde e o longa é sim convincente. 


Há ainda um bom trabalho textual com a cultura pop e quando não, certamente as referências bíblicas aparecem e são efetivas. Easters Eggs? temos sim. Lembra do Jajá? preste atenção na cena dos gladiadores. Pode ser que ele apareça por ali conversando com a esposa. O roteiro também não esquece a conotação sexual que a peça tem e sempre assistimos os personagens, em maioria masculinos, se jogarem cantadas e indiretas e é sim engraçadíssimo.

O aspecto técnico do filme é de fazer os olhos brilharem. Fotografia e figurino são dois dos que mais se destacam. os tons pastéis e as cores quentes preenchem a tela. O figurino é renovado e mais sofisticado. A direção brinca com o talento do grupo e os direciona conforme a história pede: muito dinamismo, takes abertos, fechados e construção de suspense quando é preciso, seguida de uma quebra para a comédia. Todos eles interpretam inúmeros personagens e o são super competentes.

Vale ressaltar, que a voz de Deus é do grande Chico Anysio, assim como na peça, mas para que isto fosse possível a família do melhor comediante que já habitou a terra precisou autorizar. Foi o que contou o grupo em coletiva, na última terça-feira (08), com a imprensa e os parceiros do Telecine. Eles também comentaram a alegria de estrear finalmente e a possibilidade de atingir um público ainda maior com a estrutura toda do streaming. 

Para os brasilienses, é sim um baita orgulho ver o grupo chegando na casa de todo mundo no resto do país. Afinal, eles tem um humor único e uma criatividade pouco vista por ai. Assim, espera-se que todos assistam e se deliciem com esta baita estréia. 

Avaliação: Três Micalatéias empoderadas (3/5).

SUPER ESTREIA PREMIERE TELECINE (clique aqui e assista).

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

O Atalante | Belas Artes À La Carte


Consagrado pela crítica como um dos melhores filmes de todos os tempos, O Atalante, chega esta semana ao cardápio do Belas Artes À La Carte.

Atalante quer dizer ''desejo intempestivo de possuir alguma coisa''. 

Ao receber o roteiro escrito por Jean Guinée sobre moradores das barcaças, tema muito em voga nas músicas e filmes da época, o diretor Jean Vigo decidiu filmá-lo, mas não sem antes fazer modificações. Juntamente com Albert Riéra, ele reescreve o texto e transforma uma simples história de amor em um marco do Realismo Poético, criando uma das mais belas obras do cinema francês.

A versão original foi cortada pela companhia Gaumont ficando com apenas sessenta e cinco minutos de duração e seu título foi alterado para "Le Charland qui passe", nome de uma canção muito famosa na época, que, por sua vez, também foi inserida no filme, na tentativa de agradar crítica e público. A produção, que teve um orçamento equivalente e um milhão de francos, não estava saindo a contento, estourando o orçamento e obrigando o diretor a criar partes em estilo documental, como na cena em que uma das personagens procura emprego.

Quando lançado oficialmente, em setembro de 1934, o filme não foi bem aceito pela crítica. Na sua estréia oficial, o diretor que já apresentava uma saúde debilitada e enfrentava a tuberculose, morreu, com apenas vinte e nove anos de idade. Sua filmografia composta por três outros títulos e este que viria a ser seu único longa metragem caíram no esquecimento. Apenas no período da Segunda Guerra Mundial a obra foi redescoberta, restaurada e relançada em Nova York em julho de 1947, recebendo então o merecido reconhecimento da crítica.

Uma curiosidade sobre o roteiro: na versão original, a personagem de Père Jules possuía um cão que Jean Vigo substituiu por vários gatos de rua fornecidos pela Sociedade para a Prevenção da Crueldade contra os Animais, por ele próprio ter memória afetiva de sua infância com gatos.

A história começa com a cena da saída da igreja dos recém casados Jean (Jean Dasté), capitão da barcaça L'Atalante, e sua noiva, a jovem Juliette (Dita Parlo). Os noivos e a comitiva de convidados, pais e padrinhos caminham em direção às docas onde o barco está ancorado. Essa cena foi filmada em plano sequência nas ruas da comuna de Maurecourt.

A tripulação composta pelo imediato, o desajeitado catlover, Père Jules (Michel Simon), e o grumete (Louis Lefebvre), está em polvorosa com a chegada da "patroa".

A lua de mel será também uma viagem de trabalho até Paris, onde devem entregar sua carga. Desde o início já se percebe as diferenças entre o casal e a vida confinada e monótona a bordo irá acentuar isso. Situações estranhas acontecem e Jean demonstra seu ciúmes doentio, quebrando coisas e discutindo com a esposa.


Ficha Técnica
Título original e ano: L'Atalante, 1934. Direção: Jean Vigo. Roteiro: Jean Guinée, Albert Riéra, Jean Vigo. Elenco: Dita Parlo, Jean Dasté, Gilles Margaritis, Louis Lefebvre, Maurice Gilles, Raphaël Diligent. Gênero: Comédia, Drama, Romante. Nacionaliade: França. Trilha Sonora Original: Maurice Jaubert. Fotografia: Boris Kaufman. Edição: Louis Chavance.  Direção de arte: Francis Jourdain.  Duração: 01h29min. 

Um dia a moça conta uma historinha sobre mergulhar a cabeça na água e ter a visão daquele que será seu amado e diz que já o tinha visto. Jean faz piadas, mas fica com aquele comentário na cabeça.

Juliette está ansiosa para chegarem à Paris e fica decepcionada por não poder desembarcar de imediato. A rotina começa a pesar. Para compensar, Jean a leva para dançar, onde a moça é cortejada por um vendedor ambulante, criando um clima desagradável. Aliás, a mulher quer conhecer a vida agitada da cidade e foge do barco. Ao perceber o sumiço da esposa, o capitão irritado decide levantar âncora e zarpar, deixando-a em terra.

De volta ao porto, Juliette não encontra mais o Atalante e corre desesperada para tentar comprar uma passagem de trem até a próxima parada. Entretanto, sua bolsa é roubada e ela é obrigada a tentar arranjar um trabalho para sobreviver. O sentimento de culpa os persegue e a saudade dilacera suas vidas. Jean, em visível estado de depressão, quase perde o emprego. A cena em que ele mergulha nas águas do rio tentando ver sua amada é de um lirismo profundo. O homem tem a visão da esposa em seu vestido de noiva.


Percebendo o jeito desesperador no qual o patrão se encontra, Père Jules decide ir à procura da moça para que tudo volte ao normal. Ele a encontra, a traz de volta ao barco e salva o casamento. A música do fonógrafo recém consertado preenche tal cena.

A fotografia em preto e branco, com uma história linear e simples, confere a este filme um ar bucolico e romântico. A composição do cenário com casinhas à margem do rio, os detalhes no interior do barco, as peças de decoração, os tesouros no quarto de Père Jules, as cenas com os gatos , tudo isso são verdadeiras preciosidades.

"O Atalante" aborda os problemas de adaptação a vida de casado de duas pessoas completamente diferentes sendo obrigadas a conviver em um espaço restrito, sem moradia fixa, enfrentando as dificuldades desta vida itinerante. Talvez a riqueza da obra se esconda na simplicidade de uma época e na originalidade de sua poesia. Uma pena que o diretor não pôde ver sua obra ser reconhecida.

Um excelente indicação para os amantes dos clássicos.
                                           
                                             Cardápio Semanal: 10.02.22 - Programa 110

Serviço:

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Delicioso - Da Cozinha Para O Mundo | Hoje nos Cinemas


Deliciex, dirigido por Eric Besnar, que assina o roteiro ao lado de Nicolas Boukhrief, é como o próprio título já diz: delicioso! Exibindo o mundo gastronômico e fazendo nossos olhinhos brilharem, a produção é rica em detalhes, pois apresenta closes estratégicos no preparo dos pratos. Logo, vai deixar qualquer amante da alta gastronomia apaixonado pela íncrivel cozinha francesa.

O filme nos faz viajar. Estamos na França no ano de 1789, pouco antes da famosa Revolução que culminaria com a Queda da Bastilha. A nobreza, confinada entre os muros dos suntuosos castelos, se delicia com a multiplicidade e fartura de pratos. A burguesia se empanturra e se deleita com orgias regadas a bons vinhos, enquanto os camponeses morrem à mingua, recorrendo ao furto para saciar a fome. 
Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Délicieux, 2021. Direção: Eric Besnar. Roteiro: Eric Besnar e Nicolas Boukhrief. ElencoGrégory Gadebois, Isabelle Carré, Benjamin Lavernhe, Christian Bouillette, Lorenzo Lefèbvre, Marie-Julie Baup, Laurent BateauGênero: Drama, Comédia, História. Nacionalidade: França e Bélgica. Trilha Sonora Original: Christophe Julien. Fotografia: Jean-Marie Dreujou. Edição: Lydia Decobert. Figurino: Madeline Fontaine. Distribuição: Playarte Pictures. Duração: 01h52min.
Pierre Manceron (Gregory Gadebois), é o cozinheiro (ainda não era usado termo chef) que servia fielmente ao arrogante Duc de Chamfort (Benjamin Lavernhe) e seus convivas. O Duc exigia que seu cardápio fosse seguido à risca, sem inovações. Marceron contava com a ajuda do filho Benjamin (Lorenzo Lefebvre), jovem liberal, amante dos livros e interessado nas novas ideias de igualdade e poder ao povo. Até que o cozinheiro decide colocar sua criatividade em prática e serve uma iguaria feita com primor, preparada com massa folhada, trufa e batatas, um pequeno aperitivo denominado "Delicieux". O evento seria de vital importância, pois se bem sucedido significaria seu passaporte para Paris e a oportunidade de cozinhar para a realeza. Entretanto, o homem não se ateve ao detalhe que batatas era um alimento usado pelos camponeses para saciar a fome em áreas de solo pobre e infértil. Uma ofensa servir isto para um nobre.

O Duc exige que ele se retrate, mas ele recusa a se desculpar. Humilhado e expulso do palácio, Manceron e o filho voltam a viver na estalagem, na companhia do idoso Jacob (Christian Bouilette), se alimentando da mesma sopa que é servida aos viajantes. O cozinheiro perde o prazer de cozinhar, até surgir uma mulher misteriosa que insiste em pagar para ser sua aprendiz. Mas até então, cozinhar era tarefa masculina. 

"Me ensine e o prazer voltará!"

Relutante a princípio, o cozinheiro aceita treiná-la. Louise (Isabelle Carré) diz que trabalhava fazendo geleias, mas logo sua falta de habilidade denuncia a mentira. Ela, então inventa que foi prostituta e se deu bem. Manceron até tenta alguma investida ousada, mas a moça se impõe. Benjamin e Louise lançam a ideia de servir algo mais elaborado que apenas sopa insossa e logo a clientela começa a surgir. O Duc fica sabendo e manda que se cobre altos impostos.

"O que faz o mundo girar é cada um ficar em seu lugar, caso contrário seria o caos."

Todavia, o nobre também sente falta da cozinha requintada do cozinheiro e propões uma segunda chance de retratação. Deveria ser preparado um farto banquete com iguarias definidas por ele para ser servido a comitiva que passaria em alguns dias. Os preparativos estão a todo vapor, quando um grave acidente ceifa a vida de Jacob. Triste e indignado, Benjamin culpa o pai por ter trocado a liberdade para ser novamente um lacaio do Duc. É quando um incêndio irrompe ferindo as mãos de Manceron. Agora depende de Louise o bom andamento dos pratos. 

As belas imagens das mesas postas inspiradas nas obras dos grandes pintores são perfeitas

A partir deste ponto, o aspecto político fica mais explícito. Toda verdade sobre a misteriosa mulher vem à tona e a trama ganha mais dinâmica e interesse. Benjamin lança as bases do que seria um restaurante e incentiva o pai a encarar sua própria revolução pessoal.

"O mundo está mudando, então mude com ele."

O cozinheiro vislumbra um salão com mesas individuais, não mais um bufê, onde cada um poderia comer no seu ritmo e saborear o momento. Um lugar para viver! - A fotografia do filme é primorosa nos detalhes de época alternando a riqueza da burguesia com o ar bucólico dos campos franceses. As cenas de preparação dos alimentos lembram obras como "A Festa de Babete" e "Chocolate". Um primor que abre o apetite. 

"Bastões de batata. Achei que poderia cortar no comprimento e fritar no óleo.
Nada mal, mas é feio... Nunca vai funcionar.
Foi só uma ideia!"

Com o Iluminismo, a sociedade se voltou para a importância do alimento e as tabernas, local de bebidas perderam espaço para lugares criados para servir comida. A França se tornou pioneira na área. Assim, o filme cria a trama fictícia de como surgiu o primeiro restaurante de maneira bem divertida e charmosa. Uma fábula gastronómica bem convincente. Delicieux é o título perfeito!

HOJE NOS CINEMAS!