O que torna filmes únicos? Como eles causam identificação nas pessoas? Quais deles são capazes de nos fazer esquecer dos problemas por duas horas e proporcionar o conforto que tanto precisamos? Quais nos fazem sair da nossa zona de conforto e causam epifanias capazes de abalar nossas estruturas? A reflexão sobre estes sentimentos, a matéria-prima do Cinema, é o ponto de partida para o megaprojeto do cineasta Mark Cousins iniciado com o livro História do Cinema: Dos Clássicos Mudos ao Cinema Moderno. Posteriormente, Cousins levaria para as telas seu calhamaço de mais de 500 páginas, transformando-o numa obra igualmente grandiosa, A História do Cinema: Uma Odisseia. Roteirizado, narrado e dirigido pelo próprio Cousins, o documentário dividido em 15 partes investiga como as inovações narrativas e tecnológicas usadas pelo Cinema para contar histórias atingem o público e moldam nosso olhar para o mundo há 12 décadas. Com seu lançamento em 2011, o filme/minissérie não tardou a ganhar uma lacuna referente aos anos 2010. Com o isolamento forçado pela Covid-19, o cineasta voltou-se para as peças que faltavam para completar seu ambicioso projeto.
Assim nasceu o documentário A História do Cinema: Uma Nova Geração, mais novo capítulo da epopeia de Mark Cousins, que cobre os anos de 2010 a 2021, período tão cheio de inovações e incertezas para o Cinema. O documentarista se esforça em selecionar obras celebradas mundialmente, assim como outras desconhecidas fora dos Estados Unidos, para refletir como o Cinema encontrou meios de inovar e se reinventar nesta última década. De forma igualmente emocional e didática, Cousins lista títulos de variados gêneros e nacionalidades que marcaram plateias pelo mundo. Seja pelo riso, pelo choro, pelo estranhamento ou pelo mais puro senso de espetáculo, os filmes continuam maravilhando as pessoas e fazendo-as se abrirem para um mundo de faz-de-conta numa época que as força a serem cada vez mais cínicas e desconexas do senso de comunidade que o Cinema tem como base.
Título original e ano: The Story of Film - New Generation, 2022. Direção e Roteiro: Mark Cousins. Narração: Mark Cousins. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Reino Unido. Duração: 02h40min.Em sua longuíssima duração, equivalente a quase três episódios da obra original, A História do Cinema: Uma Nova Geração, desafia o público e o próprio Cinema. Como a indústria cinematográfica tem se esforçado para reparar erros e preconceitos que ajudou, direta ou indiretamente, a perpetuar por mais de um século? Como o Cinema tem retratado e dado voz grupos historicamente marginalizados pela cultura hegemônica, de modo a garantir que o público veja a si mesmo? Como o Cinema, enquanto arte considerada democrática e universal, tem se esforçado para que questões sociais que têm movido os debates políticos sejam tratadas com a devida relevância em suas obras? Estas perguntas foram sumariamente ignoradas por décadas seguidas. Agora, as próprias plateias as fazem, cabendo ao Cinema reconhecer sua responsabilidade em admitir quais histórias prefere contar e quais convenientemente preferia fingir que não existiam. Cousins coloca o dedo nesta ferida e dá o devido destaque a este assunto espinhoso, mas necessário. Mas sem soar moralista e sem deixar de lado a principal força motriz da empreitada: a paixão pelo Cinema.
O longa também ressalta a imprevisibilidade da era dos streamings. A pandemia de Covid-19 trouxe diversas mudanças para a cultura e o entretenimento, algumas delas talvez definitivas. De que forma a facilidade de acesso proporcionada pelos streamings impacta a forma como consumimos filmes? Estamos assistindo apenas o que nos é confortável? Voltaremos às salas de cinema da mesma forma que antes? Como é possível notar, o tom quase filosófico da fala de Cousins suscita muito mais perguntas do que respostas, sem necessariamente adotar um discurso fatalista ou nostálgico em relação a tais novidades.
Uma série de analogias particulares dão um gostinho bem-humorado ao documentário, como considerar um filme "generoso e preciso como uma canção da Dolly Parton". Esta forma curiosa de falar sobre Cinema não é à toa. Com sua experiência como crítico cinematográfico e entrevistador, Cousins desenvolveu ao longo de sua carreira um estilo sagaz e espirituoso para falar sobre filmes, demonstrando sua paixão e admiração pela Sétima Arte com tanto entusiasmo que é quase impossível não se deixar envolver. Sua narração onipresente pelas mais de 2 horas e meia de duração de A História do Cinema: Uma Nova Geração trazem ao filme um tom misto de letargia e fascínio, como se toda a experiência da carreira de Cousins não tivesse diminuído seu deslumbramento. Até o ritmo de A História do Cinema: Uma Nova Geração parece testar o público. Momentos mais ágeis falam sobre filmes comerciais e a evolução dos efeitos digitais, enquanto segmentos mais contemplativos que ressaltam longas feitos de introspecção e lentidão desaceleram o longa de forma palpável. Infelizmente, isso pode causar o afastamento de certa parte do público, acostumado com cortes ágeis e muita ação. O ritmo em banho-maria de Cousins não será exatamente a praia de fãs da franquia Velozes e Furiosos, por exemplo, mas a sensibilidade deste cineasta que ama falar sobre o assunto com certeza é capaz de fazer as pessoas olharem o Cinema com um olhar mais carinhoso, crítico e curioso. O público cinéfilo talvez não encontre muita novidade por aqui, mas certamente sairá deste filme com uma longa lista de outros filmes pra assistir e se apaixonar em seguida. E, assim, a relação das pessoas com o Cinema se mantém o que sempre foi e continuará sendo. Mesmo mudando o tempo todo, como toda boa paixão.
Os filmes ficam disponíveis até o limite de visionamentos ou 24 horas.
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A Plataforma Itaú Play abrigará a Competição Brasileira de Curtas-metragens de 01 a 10 de abril.
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