Batman, de Matt Reeves | Assista nos Cinemas

O Homem Morcego é talvez um dos super-heróis que mais tenha adaptações, contando com filmes, séries em live-action e cartoons. Além de sua origem e desenvolvimento nas HQs, em 1939, pelas mãos de Bill Finger e Bob Krane, o personagem também perambula pelo universo dos Games e é um dos vigilantes mais amados no mundo todo. É tido como um dos fundadores da ''Liga da Justiça'', sociedade de heróis do universo DC, e a última vez em que foi visto na telona, em novembro de 2017, foi exatamente na tão sonhada versão cinematográfica sobre o grupo (leia texto sobre o filme aqui) com direção baqueada de Zack Snyder.

Com Ben Affleck no papel, parecia que caminharíamos para mais uma aventura solo do morcegão e com uma investida não tão diferente do que já fora vista antes, um Herói mais quarentão. Contudo, o ator acabou deixando o projeto por completo - direção e atuação. Matt Reeves foi então chamado para tomar seu lugar e até considerou usar o roteiro iniciado por Aflleck, mas escolheu outro caminho e quis expor um Batman jovem lutando não só contra a corrupção exacerbada e a podridão de Gotham como também com seus próprios dilemas pessoais. Reeves iniciou a escrita com a mente em Robert Pattinson para o papel e tudo se ajustou quando o ator também se mostrou interessado. Não só o britânico, mas os atores Paul Dano e Zoë Kravitz também já estavam na mira do diretor. Se Dano encabeçaria o antagonista na produção, o serial killer e psicopata Charada, Zoë seria, ninguém mais ninguém menos, que Mulher Gato, personagem que já foi vivida por Anne Hathaway, Halle Berry, Michelle Pfeiffer, Eartha Kitt, Julie Newmar e Lee Meriwether anteriormente. O Pinguim também ganharia uma repaginada jovial com Jonah Hill, mas o ator não aceitou o convite e Colin Farrell assumiu a missão. Em algum momento, Reeves pensou em Mahersala Ali para viver o Comissário Gordon, todavia, Jeffrey Wright foi escolhido. Alfred Pennyworth, o famoso Mordomo responsável por criar o órfão Bruce Wayne, é vivido aqui por Andy Serkis, que trabalhou com Reeves na trilogia ''O Planeta dos Macacos'' (leia texto aqui, aqui).

Escolhido o elenco, o grande desafio para a equipe era filmar durante a pandemia. Desta forma, o longa não só teve que parar suas gravações inúmeras vezes como ainda teve sua data de lançamento alterada muitas outras, mas para a nossa alegria, chega aos cinemas esta semana. Com um tom ainda mais sombrio do que os fãs viram na trilogia de Christopher Nolan, Batboy se torna um investigador aqui e trabalha ao lado do oficial Jim Gordon para decifrar assassinatos de autoridades importantes da cidade. Isto se deve ao fator de que em todos os crimes um bilhete é deixado direcionado ao taciturno herói. Ademais, segredos familiares vão a público e ele se vê confuso sobre o legado de sua família.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: The Batman, 2022. Direção: Matt Reeves. Roteiro: Matt Reeves e Peter Craig - baseado nos personagens criados por Bob Kane e Bill Finger. Elenco: Robert Pattison, Jeffrey Wright, Zoë Kravitz, Paul Dano, Andy Serkis, Colin Farrell, Peter Saarsgard, John Turturro, Barry Keoghan, Rupert Penry-Jones, Alex Ferns, Con O'Neill. Gênero: Policial, Ação, Drama. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Michael Giacchino. Fotografia: Greig Fraiser. Edição: William Hoy e Tyler Nelson. Design de Produção: James Chinlund. Supervisor de Direção de Arte: Grant Armstrong. Figurino: Jacqueline Durran. Figurino - Batsuit: David Crossman e Glyn Dillon. Efeitos especiais: Nick Bonatham. Distribuidora: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 02h55min.

Um novo filme, talvez até uma nova trilogia, para complementar a jornada do morcegão e fazer os fãs delirarem teria que trazer algo muito inusitado e bem realizado. E sim, Matt Reeves e o time de produtores atingem isto em ''The Batman'', título original da produção. Para aqueles que curtiram ''Sin City'', de Frank Miller, o longa tem uma pegada visual e de ambientação similar, mas o seu colorido está em evidência com cores quentes, apesar do tom pesado e obscuro que Gotham ganha. Bruce Wayne tem uma vida reclusa e quase nunca é visto em eventos da high society. Como justiceiro, está apenas no seu segundo ano e o combate árduo ao crime nas ruas se intensifica.

Apesar de estar bem equipado, não está em todo lugar. Assim, gangues atacam comércios, cidadãos comuns, e etc. Por fim, as eleições para prefeito se aproximam e o prefeito Mitchell (Rupert Penry-Jones) é brutalmente assassinado. O Batsinal aparece nas nuvens cinzentas da cidade para avisar que o vigilante está nas ruas e tem conhecimento do que houve. O Charada intriga à todos com suas pistas e enigmas e Batman descobre que os crimes que vem ocorrendo tem a ver com um informante sobre um caso já resolvido. Gordon dá a deixa que os criminosos do lugar estão sempre pela Boate ''Iceberg'' e talvez ele encontre respostas por lá.

No clube, tenta conseguir conversar com o gerente, Oz (Colin Farrell), e adentra a sala a intrigante Selina Kyle (Zoë Kravitz). Percebe que a moça encara fotos onde o prefeito falecido e uma mulher estão juntos e entende que ela pode saber de algo. Assim que Selina sai dali, corre para casa e tenta ajudar a amiga Annika que está em perigo. A tal mulher da foto. Batman a segue e quando conseguem conversar, já fora do lugar, retornam a casa de Selina para perceber que Annika fora levada. 

Muitos segredos e mentiras virão à tona, alguns desses até envolvendo projetos iniciados pelo pai de Bruce. Assim, Selina tenta se proteger e Batman e Gordon devem seguir as pistas do Charada para conseguir não só o por atrás das grades, mas impedir que ele machuque inocentes. 

O olhar de ''culpado'' que o personagem carrega tem muita simbologia

O Batman de Robert Pattinson, que narra seus dias com precisão, aparenta sofrimento de um passado que o persegue e que ele achava ter superado. É inteligente, atento e demonstra muita empatia por aqueles sofrem em uma Gotham decadente. Se mantem nulo como um herdeiro e pouco liga para o dinheiro que tem, porém tem uma forma de julgamento que entra em conflito quando conhece Selina. Pattinson tem uma atuação formidável aqui. Seja lutando ou transmitindo presença em seu olhar.

A construção do roteiro compara a jornada do personagem a do rockeiro falecido, Kurt Cobain. Era sabido que o vocalista do Nirvana não sabia lidar com a fama, mas amava seu trabalho, amava fazer música. A própria idéia de Gotham como um lugar decadente traz a Wayne uma aparência mórbida. Como se o lugar, sugasse sua vida, por mais que ele tente o melhorar ou se vingar da tragédia que ocorreu aos seus pais. Ainda assim, seu crescimento o põe para refletir e ele também entende que possuía percepções equivocadas do que deveria ou não fazer para impactar seu presente. 

Um super herói não caminha sozinho. 
O Charada de Paul Dano brilha por quase todo o filme. Se na versão de Tim Burton (1995) conhecemos uma caricatura cartunesca com Jim Carey, Reeves direciona Dano para ser um psyco justiceiro e que vê Wayne de uma forma e Batman de outra. Tem um figurino menos escandaloso também - óculos transparentes, máscara e casaco verde escuro. É inteligente por demais e cômico vez ou outra. Dano tem sua voz alterada, mas em algumas cenas finais o ouvimos de verdade. Oz, ou o Pinguim, de Farrell é visto, em um primeiro momento, como um chefão da máfia, mas na real, outro personagem tem essa função, e é Carmine Falcone, interpretado por John Turturro. Ainda assim, Farrell vem com um Pinguim que tem problemas para andar, pois é manco e apresenta um físico grotesco. Em certo momento, até vemos o homem aparentar que anda como um animal dos mares gelados. Seu sotaque lembra um italiano ao falar inglês e sentimos uma leve referência a ''O Poderoso Chefão''. 

Peter Saarsgard encarna um promotor corrupto que não tem um fim muito bonito e, para quem não tem ciência, o ator é casado com Maggie Gyllenhaal. A atriz esteve na versão de Nolan como a namorada do morcegão, Rachel Dawes. Zoë Kravitz, que esteve em ''X-Men: Primeira Classe'' como Angel Salvatore e já dublou personagens em animações de heróis (Lego Batman e Homem-Aranha no Aranhaverso), vive um dos papéis mais icônicos ever. Sua mulher gato é sexy e incrivelmente habilidosa quando precisa se defender. A assistimos deixar Batman extremamente interessado nela e a química da atriz com amigo Pattinson, é perfeita. Outro ponto crucial da personagem é como ensina Batman a pensar fora da casinha, pois cresceu rico e privilegiado. Outro que dá uns bons toques em nosso querido menino morcego é Alfred. O mordomo aparece em poucas cenas, mas sempre questiona Bruce sobre seus atos e até solicita que ele tenha mais presença na contabilidade de sua herança. O que o garoto odeia. E quando algo acontece ao amigo e empregado, Bruce não arreda o pé da cama dele. Andy Serkis já esteve envolvido no mundo Marvel (é o vilão de Pantera Negra) e sua vinda para DC é muito bem recebida. O ator tem um estilo único e depois de anos interpretando personagens digitais temos visto cada vez mais seu rosto nas telas. 

Por último, mas não menos importante, temos Gordon. O comissário vivido por Jeffrey Wright ainda não havia ganho um intérprete afro americano e sentimos que a escolha não poderia ter sido melhor. Wright sempre escolhe filmes em que terá jornadas reflexivas ou filosóficas e aqui é um investigador que se alia a alguém que ninguém na polícia gosta. Tem pontuações engraçadas em certas cenas e apesar de considerar bastante seu parceiro misterioso, não é um fã babão.

Seven é uma baita referencia em THE BATMAN

O duo entre Pattinson e Wright até chega a lembrar Brad Pitt e Morgan Freeman em ''Seven - Os Sete Pecados Capitais'', de David Fincher. Não só isso, o filme pode até ser posto como referência visto a investigação toda que eles precisam conduzir. Ou também ''Klute: O Passado Condena (1971), Chinatown (1974) e Todos os Homens do Presidente (1976). Das HQ's, Batman: Ego, Batman: Ano Um, Batman: O Longo Dia Das Bruxas e Batman: Ano Zero, são algumas das influências para a narrativa e tudo que se constrói visualmente. 

Pau-pra-toda-hora
Vigilante
Protetor
Justiceiro
Não leva desaforo para casa
Veloz e Furioso
Apaixonado

Se o design do filme chama atenção nas imagens de divulgação, quando o expectador assiste a película fica abismado com tanto detalhe que a boa junção de profissionais conseguiu entregar de forma tão sublime. O contraste entre a escuridão e a luz é óbvia, mas o uso de cores quentes em diversos takes traduzem em imagem o poder e o peso que o enredo tem. Cenas com explosões vem com amarelo e preto muito forte, assim como as que ele surpreende os inimigos em elevadores. Há partes da trama em que Batman mete a porrada nos criminosos em uma boate, e a luz é mais avermelhada. Outro momento espetacular é quando ele serve de guia para pessoas em perigo em um estádio inundado. Repare que o sol até aparece quando ele está mais ao alto, porém não chega na cidade por quase todo o filme, mas quando há a resolução dos conflitos, mais ao fim, ele enfim bate no chão. O figurino dos policiais e políticos também começam a ter mais branco e o clima se ameniza.

São poucas as cenas em que não veremos chuva em Gotham e aquela pegada noir e pesada se instaura com firmeza nas quase três horas de duração. Aliás, que não deixam o filme cansativo, mas sim completinho e nos fazendo entender a decadência da cidade e a necessidade de mudança que tanto os candidatos a prefeitura comentam. 

Falar de ''trilha sonora majestosa'' em um filme da Warner Bros Pictures soa até repetitivo, no entanto, Michael Giacchinino foi essencial até mesmo para a escrita do roteiro, pois compôs o tema e entregou a Reeves antes mesmo deste iniciar a escrita. Logo, ouvimos sons retumbantes e a música tema do personagem muitas e muitas vezes e não isso não estraga em nada. Pelo contrário, auxilia demais a construção do filme. A música tema, inclusive, tem uma melodia similar a marcha fúnebre ou até mesmo a emblemática Marcha Imperial de Darth Vader, em Star Wars. Ainda temos o uso da canção ''Something In The Way'', da banda Nirvana, por diversos momentos e a partir de instrumentos diversos. Não deixe de ouvir a trilha, já disponível nas plataformas digitais (clique aqui).

A Evolução da Adaptação do Personagem

Adam West (Batman e Robin, 1966-1968. Série de TV)
Michael Keaton (Batman, 1989. Batman - O Retorno, 1992)
Batman - A série animada, 1992 - 1995
Val Kilmer (Batman Eternamente, 1995)
George Clooney (Batman e Robin, 1997)
Christian Bale (Trilogia Batman por Christopher Nolan, 2005, 2008 e 2012)
Batman Lego, voz de Will Arnett, 2017
Ben Affleck (BatmanvsSuperman, 2016, e Liga da Justiça, 2017)
Robert Pattinson em ''The Batman'', 2022.

Com uma direção corpulenta e perspicaz, entramos num mundo que muitos já conhecem e não o sentimos repetitivo. Um filme de peso, um elenco de peso, uma trilha de peso, um visual de peso. Batman, de Matt Reeves, é imperdível e merece ser assistido na melhor e maior sala que você encontrar a partir de hoje. 

Avaliação: Quatro sentimentos de esperança e meio (4,5/5)

Pré-Estréias a partir de 01 de março!

NOS CINEMAS EM 03 DE MARÇO

See ya!


B-

Revisado em 09.03.22

Escrito por Bárbara Kruczyński

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