Belfast, de Kenneth Branagh

Indicado a sete categorias no Oscar 2022 e dirigido pelo versátil veterano Kenneth Branagh, Belfast se passa na Irlanda do Norte na década de 60, época em que se iniciaram os conflitos que vieram a ser conhecidos como "The Troubles". A narrativa do filme mostra a situação a partir de uma microesfera. Centra-se na rua em que os protagonistas vivem. Lá, os católicos, minoria segregada no país, começa a ser atacada pelos protestantes do bairro devido a suas diferenças religiosas e, principalmente, políticas. A passagem de uma cena colorida para um filme em preto e branco estabelece o tom do filme, traçando uma linha que divide o passado tranquilo e pacífico de uma rua em que crianças brincam sozinhas para a realidade da guerra civil.

Ao invés de acompanhar o conflito pelo ponto de vista de uma família católica, vitimizada pela situação, Belfast mostra os desafios de uma família protestante em seguir sua vida sem ser conivente com o que é cometido pelas pessoas do seu "lado". O núcleo familiar protagonista é formado por um pai (Jamie Dornan) ausente que trabalha em Londres e visita a família uma vez a cada quinzena devido aos custos financeiros da viagem; uma mãe (Caitriona Balfe) que se esforça para criar os dois filhos sozinha; os dois avós paternos que vivem em uma casa próxima (Judi Dench e Ciarán Hinds, ambos indicados a melhores atores coadjuvantes) e, por fim, os meninos Will (Lewis McAskie) e Buddy (Jude Hill). 

 

O olhar do pequeno Budy guia a narrativa trazendo o olhar infantil para aquela situação belicosa. Embora a guerra civil tenha trazido mudanças em sua rotina e ele fique apreensivo com o que seus pais dizem, suas reais preocupações são conquistar a coleguinha de turma com quem deseja casar-se no futuro, lembrar-se dos caminhos que o manterão longe do inferno de acordo com o pastor e adivinhar quais cidadãos são católicos ou protestantes de acordo com seus nomes.  

 

 

Para isso, a produção conta com a feliz atuação do estreante Jude Hill, cujo carisma não poderia ser maior. Sua inocência pueril é transposta em cena em momentos como quando é coagido a participar de um saqueamento e, dentre todos os produtos que poderia roubar (incluindo chocolates e doces), Budy agarra uma caixa de sabão por ter ouvido sua mãe dizer que estava em falta.

Enquanto a mãe da família se agarra a Belfast como o bairro em que nasceu, cresceu e teve seus filhos; onde estão sua família e amigos, suas referências, sua identidade, seu modo de vida, seu marido tenta levar a família para longe dali, onde terá uma situação mais segura e confortável financeiramente. 

 

Entende-se que o conflito político não é o foco da trama. No entanto, esta se empobrece quando ele é resumido a uma dicotomia simplista em que o lado "errado" da história é representado por um único personagem vilanesco que diz coisas como "isso não vai ficar assim" ao ser derrotado.

A verdade é que Belfast, embora agradável de se assistir e baseado na infância de Branagh, não passa de um filme mediano, nunca alcançando a grandiosidade pretendida. Mas isto não se dá por falhas e elementos ruins, mas pela falta de mais acréscimos consistentes. Um diretor e roteirista tão renomado e experiente poderia ter ousado mais na condução da história literal e visual, mas rendeu-se ao clichê e apostou na emoção fácil de cenas com crianças e velhinhos guiadas por músicas dramáticas que indicam ao espectador o que este deve sentir.

Trailer

 

 

Ficha Técnica

Título original e ano: Belfast, 2021. Direção e Roteiro: Kenneth Branagh. Elenco: Jude Hill, Caitriona Balfe, Jamie Dornan, Judi Dench, Ciarán Hinds. Gênero: Drama. Nacionalidade: Reino Unido. Trilha Sonora Original: Van Morrison. Fotografia: Haris Zambarloukos. Edição: Úna Ní Dhonghaíle. Direção de arte: Dominic Masters, Stephen Swain. Figurino: Charlotte Walter. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 01h38min.

 10 de Março nos Cinemas