Estreando essa semana em cinemas de todo o Brasil, a comédia francesa ''A Noite do Triunfo'' de Emmanuel Courcol é uma grande homenagem ao poder transformador do teatro e da literatura. Baseado em fato ocorrido na Suécia, o enredo descreve como a peça Esperando Godot, de Samuel Beckett, modifica a vida de prisioneiros franceses e de seu professor de teatro.
Étienne (Kad Merad) é um ator fracassado, divorciado e de mal com a vida. Talentoso artista, devido sua personalidade e atitudes, fracassou na carreira. Tem que se virar para pagar as contas dando aulas de motivação para equipes de vendedores. Num de seus apertos financeiros, topa preparar um grupo de prisioneiros para uma apresentação única das fábulas de La Fontaine. Como excelente profissional que é, a peça sai divertida e, mesmo com a plateia diminuta de criminosos e carcereiros, seu trabalho é elogiado. Daí surge a ideia de aproveitar esse espaço e oportunidade para encenar Esperando Godot com esses atores/criminosos.
Movimentando provocativamente todos, Étienne negocia com a diretora da prisão seis meses para essa tarefa impossível. Montar a peça símbolo do Teatro do Absurdo com amadores que estão nessas aulas apenas para passar o tempo, naquele lugar do “esperando” pela liberdade. Nesses ensaios, nós espectadores somos seduzidos pela beleza da palavra do irlandês Samuel Becket. O texto é uma obra-prima e adequa-se perfeitamente à vida dos encarcerados. Esse eterno aguardo por um Godot que nunca chega, o absurdo da vida, a liberdade almejada, mas que nunca aparece. Étienne percebe isto, que essa realidade dos prisioneiros é que dará a veracidade ao teatro. É a vivência absurda de uma cadeia que dificilmente será mimetizada pela arte.
Contra todas as expectativas, a peça se torna um sucesso. A apresentação única vira uma turnê por várias cidades francesas, até a apoteose final, uma sessão no teatro mais famoso e prestigiado de Paris. Só que Beckett já contagiou a todos, a arte transfigura e sublima a vida, os prisioneiros desistem dessa glória almejada por muitos atores profissionais e, nessa noite de gala, fogem. Étienne, para satisfação de todos, salva a noite, narrando sua experiência de vida com esses criminosos adoráveis.
O resumo do roteiro é esse, simples e direto. Como se chega ao resultado é que é fantástico. O poder da arte impregna cada cena deste filme de 105 minutos. É uma ode de amor ao teatro e à potência da palavra. O filme poderia ser mais extenso, dá um gostinho de quero mais, o passado dos personagens poderia ter sido mais explorado. Mas percebe-se que o diretor quis dar esse recorte ao seu longa-metragem. Ele foca nos ensaios, nas apresentações e nas interações entre diretor e atores. Sai-se do filme com vontade de assistir a peça. Para quem é de São Paulo, Esperando Godot está sendo encenado atualmente no Teatro Oficina. Então leiam o texto, assistam o filme e a peça, se possível, e impregnem-se com o texto de Beckett! Saímos mais humanos dessa experiência do absurdo!
Nota: 8/10.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Un Triomphe, 2020. Direção: Emmnuel Courcol. Roteiro: Emmanuel Courcol, Thierry de Carbonnières, Khaled Amara, Jan Jönson. Elenco: Kad Merad, David Ayala, Lamine Cissokho, Sofian Khammes, Pierre Lottin, Wabinlé Nabié, Aleksandr Medvedev, Saïd Benchnafa, Marina Hands, Laurent Stocker. Gênero: Drama. Nacionalidade: França. Trilha Sonora Original: Fred Avril. Fotografia: Yann Maritaud. Edição: Guerric Catala. Distribuição: Imovision. Duração: 105min.
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