Multiverso da loucura Ou a ira de Feiticeira Escarlate?
Longa se desprende da manjada fórmula Marvel para entregar algo ousado e original, proporcionando uma divertida e visceral viagem ao Multiverso
Se em filmes como a animação “Homem-Aranha no Aranhaverso” (leia texto aqui) ou no estrondoso sucesso “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” (leia texto aqui) tivemos o gostinho de presenciar o início do multiverso no MCU, apresentando, mesmo que não tão a fundo, efeito e causa de quando as barreiras entre as realidades são ultrapassadas, é em “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, titulo que traz referência ao livro ''Nas Montanhas da Loucura'', de H.P. Lovecraft, que podemos mergulhar de cabeça e vivenciar uma experiência única no que diz respeito a como é de fato cruzar a linha tênue e se deparar com realidades que jamais deveríamos ter visto.
Como você se sentiria se encontrasse com uma outra versão de si mesmo em uma dimensão longe de sua própria realidade? Por mais que o roteiro assinado por Michael Waldron de imediato pareça uma grandiosa confusão, desconexo e que não vai levar a lugar algum, é justamente essa sensação que arremessa o espectador a uma espiral de estranheza e muita loucura, afinal, quem ousaria se aventurar pelo multiverso e achar tudo tão normal e coeso? Mas ainda assim, quando todas as informações se fundem e começa a fazer algum sentido, temos um script que mesmo não trazendo nada de inovador, ao menos consegue ser original e entrega o que se propõe: uma viagem insana que foge completamente da manjada fórmula Marvel.
Por mais que o longa não se prenda a fanservices, e diga-se de passagem, não abuse deste artifício apenas para criar um conforto e nostalgia no espectador, ainda assim, traz boas surpresas de forma bem construída e inserida. Infelizmente, este roteiro não chega a ser 100% satisfatório e tem algumas falhas. Tanto que, mesmo que estas não comprometam a obra como um todo, é um pouco frustrante como a nova personagem é inserida, afinal, America Chavez, interpretada por Xochitil Gomez, é o alicerce que une todos os elementos. Ela é a chave que abre as portas do Multiverso e faz com que todo o filme possa funcionar, merecendo um pouco mais de atenção e cuidado.
Trailer
Título original e ano: Doctor Strange and The Multiverse of Madness, 2022. Direção: Sam Raimi. Roteiro: Michael Waldron - baseado nos personagens criados por Stan Lee e Steve Diko. Elenco: Benedict Cumberbatch, Elizabeth Olsen, Benedict Wong, Chiwetel Ejiofor, Xochitl Gomez, Michael Stuhlbarg, Rachel McAdams, Patrick Stewart. Gênero: Ação, Fantasia, Aventura, Terror. Nacionalidade: Estados Unidos. Trilha Sonora Original: Danny Elfman. Edição: Bob Murawski e Tia Nolan. Fotografia: John Mathieson. Figurino: Graham Churchyard. Distribuição: Disney Studios e Marvel Brasil. Duração: 02h06min.
Contudo, mesmo com uma trama diferentona, o resultado final poderia ser catastrófico se caísse nas mãos de algum diretor que com medo de inovar entregasse mais do mesmo e, felizmente, Sam Raimi é o grande trunfo aqui. E com toda a sua genialidade e experiência para fugir do óbvio nos presenteia com um filme que surpreende ao fugir do senso comum e apresenta uma obra mais autoral. Sua assinatura nos proporciona um longa que escapa de famigeradas cenas de ação mirabolantes e mergulha de cabeça para entregar uma estética toda trabalhada no Horror Clássico dos anos 80, gênero que o lançou e consagrou o diretor.
Benedict Cumberbatch está impecável ao viver os Outros Stephen's, entregando personagens que mesmo semelhantes possuem características e atitudes distintas. O ator transmite isso ao trazer a cada um deles a personalidade e a fisionomia necessárias para que possamos distingui-los em cada multiverso. Porém, quem realmente transcende e rouba o filme para si é Elizabeth Olsen, sua Feiticeira Escarlate está ainda mais pulsante. Chega até ser muita ousadia dizer isso, mas a produção poderia se chamar “Doutor Estranho e a Ira da Feiticeira Escarlate”, afinal, mais do que um filme solo do personagem título, este se faz uma película essencial para apresentar a própria Feiticeira pós acontecimentos em “WandaVision”.
Desta vez até o próprio Wong, personagem de Benedict Wong, ganha o protagonismo que merece. Nele concentra-se o alivio cômico, de forma pertinente e ainda que muito tímido, Wong, agora um Mago Supremo, consegue trazer o humor sem ser exagerado, sempre muito bem empregado em momentos cruciais da trama, não desviando a atenção da plateia, mas ainda assim a fazendo dar boas risadas. Rachel McAdams retorna como Christine, grande amor de Stephen, e traz questões interessantes e até mesmo reflexivas, não só para o Doutor Estranho, mas também para o público mais atento. E entre seus questionamentos está a simples e colossal pergunta que vez ou outra nos fazemos: “Você é feliz?”. A personagem também ganha fundamento e função não sendo somente ''a namorada do herói''. O filme, aliás, tem a ciência e o misticismo muito forte dentro dele e essa mistura nos leva a conhecer o tão aguardando sexto chakra de Strange.
A trilha sonora da produção é assinada por Danny Elfman, compositor que já trabalhou com Tim Burton em seus filmes do Batman, passou também pela franquia ''Homens de Preto'', pela trilogia do Homem Aranha, do próprio Raimi, Hulk, O Procurado, Hellboy II, Os Vingadores: A Era de Ultron e Liga da Justiça.
Para os fãs que andam preocupados em maratonar os filmes do MCU, talvez seja mais efetivo saber que a trama do novo Doutor Estranho se passa logo depois de WandaVision (2021), Loki (2021), What If (2021) e, sem sombra de dúvidas, Homem-Aranha: Sem Vota Para Casa (2021).
Dito isso, para quem acredita que a vida é feita de momentos felizes, com certeza “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, por mais que esteja voltado a ser algo um pouco sombrio, será capaz de fazer com que o espectador saia da sessão feliz com o resultado final obtido.
PS: Não saia do cinema antes das duas cenas pós créditos, uma logo ao término dos créditos principais e a outro no final de tudo, mesmo não acrescentando nada ao futuro do MCU vale a pena ficar para ver.
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