O mundo moderno não exatamente têm evoluído para o bem da humanidade. Afinal, a ganancia dos homens por território e poder passa por cima de qualquer um e sequer pensa nos inocentes que podem ser feridos ou mortos pelo caminho. Acabamos de ''sobreviver'' a uma pandemia e, em muitos cantos do mundo, crises políticas, sociais e econômicas se deflagram, mas faltava fé que em 2022 um conflito armado estouraria entre a Rússia e a Ucrânia. O líder russo justificou que sua autorização, dada ao final de fevereiro, para invasão do território ucraniano é que ''ali estaria ocorrendo um genocídio e que isto precisava ser parado''. Do outro lado, não houve confirmação de nada e sim defesa e pedidos de ajuda a sociedade internacional, pois Putin e seus homens começaram a bombardear, invadir e até a torturar pessoas na Ucrânia. E lá se vão mais de setenta dias sem fim deste conflito inacreditável.
Esta relação estremecida entre os dois países, contudo, não se revela assim da noite para o dia. Em Klondike, A Guerra da Ucrânia, de Maryna Er Gorbach, por exemplo, conhecemos um pouco dos momentos tensos que os cidadãos ucranianos vivendo próximo a fronteira passam, mais ou menos desde 2014, quando um avião comercial com quase 300 pessoas foi abatido por um míssil russo. Neste caso específico joga se luz ao casal Irka (Oksana Cherkashyna) e Tolik (Sergey Shadrin) que estão prestes a ser mãe e pai,e, porventura, um belo dia conversando no escuro de casa uma bomba é jogada no lugar. O susto é grande, mas nenhum deles se fere. Irka, que se mostra valente o tempo inteiro, é quem mesmo grávida, carrega coisas para fora, limpa, pega água e não se deixa abater. Enquanto isso, entendemos que Tolik está envolvido com um dos grupos armados que tentam defender a entrada russa no território. Até empresta seu carro, sem saber quando terá de volta, a um dos homens e fica sem ter como correr com a mulher dali. Para compensar, ele pouco se dá com o cunhado Yaryk (Oleg Shcherbina) e vivem em constante briga, pois ao passo que um defende a Rússia, o outro defende a Ucrânia.
O tocante drama de Er Gorbach estreia nos cinemas nesta quinta-feira, dia de 5 de maio, nas cidades de
São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Brasília, Recife,
Porto Alegre, Aracaju e Balneário Camboriú.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Klondike, 2022. Direção e Roteiro: Maryna Er Gorbach. Elenco: Oxana Cherkashyna, Sergey Shadrin, Oleg Scherbina, Oleg Shevchuk, Artur Aramyan, Evgenij Efremov. Gênero: drama, guerra. Nacionalidade: Ucrânia, Turquia. Direção de Fotografia: Svyatoslav Bulakovskiy. Trilha Sonora: Zviad Mgebry. Montagem: Maryna Er Gorbach. Produção: Svyatoslav Bulakovskiy, Mehmet Bahadir Er, Maryna Er Gorbach. Distribuição: Pandora Filmes. Duração: 100 min.
Não temos em si uma contextualização específica e clara dos conflitos e como estes começaram além das imagens na tevê dos destroços do avião e o noticiário informando do ocorrido. Esse plano de fundo se torna algo muito forte na história e mostra como a personagem central, Irka, tira forças não se sabe de onde para continuar viva e lutar pela vida de seu bebê, pois o marido é bastante atrapalhado e parece não ter noção do direcionamento que toma ou do perigo que deixa a mulher correr quando não foge do local que é bastante vigiado por homens pró-rússia e não pró-vida. Ele se propõe a ajudar pessoas que não sabem onde estão os filhos desaparecidos, mas sequer auxilia a mulher nas tarefas de casa e ainda tenta ter relações sexuais, em certo momento, sem qualquer clímax ou vontade da esposa.
O foco em Irka é importantíssimo para se entender com ainda mais incredulidade as inúmeras adversidades que as mulheres passam em suas vidas por conta do machismo e do egocentrismo masculino. Não só isso, ela basicamente tem de lidar com homens que se comportam como grandes bebês e tem de fazê-los entender que o conflito não ajuda em nada. Ademais, a falta de cérebro do esposo a deixa sem ter para onde correr. Afinal, nem sequer para recuperar o estado da frente da casa, ele abdicou tempo.
Klondike passou pelo Festival de Sundance ao inicio do ano e tem vídeo do nosso parceiro do Razão de Aspecto lá no YouTube (clique aqui) pelo #conexãoSundance. O filme é extremamente cinza e sem vida. Aliás, a pouca sobrevida que tem vai se acabando para servir de alimento aos soldados. Bem roteirizado e filmado, o drama impacta a alma e nos traz muita frustração quanto a situação toda da guerra em andamento. Até porquê são os inocentes quem sofrem e não os homens no poder.
Avaliação: Quatro bombas em corações sensíveis (4/5)
05 de Maio nos Cinemas
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