quinta-feira, 30 de junho de 2022

A Colmeia, de Gilson Vargas | Assista nos Cinemas

 
Uma boa forma de descrever A Colmeia, de Gilson Vargas, para quem não conhece seu plot é a seguinte: imagine um casamento entre A Bruxa, de Robert Eggers (2015) e Lavoura Arcaica, de Luís Fernando Carvalho (2001). O vencedor de cinco Kikitos, na categoria de ''Longa-metragens Gaúchos'', no Festival de Gramado de 2021 combina a atmosfera de suspensão muito utilizada na nova safra de filmes de terror com o ambiente rural brasileiro e uma pitada de relações incestuosas.

A narrativa acompanha uma família de imigrantes alemães no sul do Brasil durante a metade do século XX. Proibidos pelo Estado de se expressar em sua língua natal, os colonos se isolam em uma fazenda, onde produzem milho. O pouco contato que têm com os demais cidadãos resulta em humilhação, roubo e ameaças. Se a comparação entre a exclusão social de imigrantes alemães e de indígenas brasileiros hoje soa estapafúrdia, nesse contexto específico em que a segunda grande guerra era recente e boa parte do povo germânico buscava refúgio e fugia da fome, é possível traçar um paralelo. Embora os colonos não tenham passado pelo mesmo nível de violência, a condição de párias sociais os colocou em posição de empatizar com os chamados “bugres”.

                                                                  Imagens de Divulgação

A interdição da língua nativa funciona como analogia para a forma de comunicação truncada que levam os personagens. O silêncio impera na casa e os diálogos, quando existem, se dão em voz baixa, de forma seca e concisa. Apenas os protagonistas Mayla (Andressa Matos) e Christoffer (João Pedro Prates) parecem conversar e se entender e, ainda, se entender sem conversar também.


Há no casal um clima velado e platônico de um amor que nunca se concretiza além da forma fraternal. Mais que irmãos gêmeos, os dois são parceiros, cúmplices, confidentes. Arquitetam juntos planos para  escapar física e espiritualmente da vida que levam e da família repressora. Os demais jovens da família também demonstram certa insatisfação com a lida e a forma de vida que têm na região, mas sua revolta não vai além do uso de bebida alcoólica, espelhos escondidos e manifestação de sua opinião diante de pessoas de fora, o que não compromete seu papel dentro da estrutura familiar. Embora nunca fique claro se estes são irmãos ou primos, Kasper (Samuel Reginatto) e Lila (Renata de Lélis) parecem não ter grande vínculo emocional, mas consumam seu prazer no celeiro da fazenda em que vivem, escondidos dos demais.


Ainda que tal história pudesse render um ótimo drama, o trabalho dela sob a forma de um cinema de gênero eleva a potência da obra. A fotografia escura não deixa de delinear muito bem as silhuetas e contornos dos rostos calados através de velas, lampiões, fogueiras. O isolamento, a religião, a supressão dos desejos e sentimentos e o ambiente rural aliados a um rico desenho de som criam um crescendo de agonia, paranóia e apreensão que são benéficos para a construção do ambiente de terror psicológico. Uma alta densidade dramática transforma um corte de cabelo em uma mutilação; um jantar em um banquete de horrores; uma aparição pontual em uma sugestão apavorante.


Trailer



Ficha Técnica

Título original e ano: A Colmeia, 2020 . Direção: Gilson Vargas. Roteiro: Gilson Vargas, Matheus Borges, Diones Carvalho. Elenco: Andressa Matos, Janaina Pelizzon, João Pedro Prates, Martina Fröhlich, Rafael Franskowiak, Renata de Lélis, Samuel Reginatto e Thais Petzhold. Gênero: Drama/Suspense. Nacionalidade: Brasil. Fotografia: Bruno Polidoro. Direção de Arte: Iara Noemi, Gilka Vargas. Edição: Gabriela Bervian. Departamento de Som: Gabriela Bervian. Som Direto: Higor Rodrigues e Tiago Meyer. Desenho de Som: Gabriela Bervian. Trilha Sonora: Leo Henkin. Produção Executiva: Gabriela Bervian e Gilson Vargas, Francisco Caselani. Direção de Produção: Deise Chagas, Eduarda Nedel e Gabriela Bervian Distribuição: Lança Filmes. Duração: 110min.

HOJE NOS CINEMAS

Minions 2 - A Origem de Gru | Assista nos Cinemas

 
As três animações de "Meu Malvado Favorito" lançadas foram demasiadamente bem aceitas entre o público. Cada uma trouxe a telona enredos muito bem construídos em que Gru e seus Minions tentavam quase toda vez estarem envolvidos nas maiores malvadezas do universo. O que o personagem central não esperava era ter tempo para estabelecer sua família, encontrar um amor ou até conhecer um irmão perdido.  

Coadjuvantes na trama, mas extremamente importantes para ela, os Minions acabaram ganhando uma aventura solo em 2015 que traz a caminhada inicial dos amarelinhos na terra, pois estes sempre estiveram a procura de um chefe malvado para chamar de seu. Logo, naquela jornada, Kevin, Stuart e Bob são contratados por Scarlet Overkill para roubarem a coroa da Rainha da Inglaterra e conquistarem o mundo. Enquanto isto o restante da tribo tenta chegar até o Reino Unido após fugir do lugar gelado e depressivo em que viviam antes. 

Neste segundo momento, insere-se então o início da parceria entre os Minions (voz de Pierre Coffin) e Gru (Steve Carell/ Leandro Hassum), contudo, este é ainda um menino de quase 12 anos e já tenta se sobressair no mundo do crime. O jovenzinho é muito incompreendido na escola e são seus ídolos, o super grupo de vilões Vicious 6, que é composto por Willy Kobra (Alan Arkin/Gesteira), Jean Garra (Jean-Claude Van Damme/Bruno Rocha), Donna Disco (Taraji P. Henson), Svengança (vozes de Dolph Lundgren/Garcia Jr), Irmã Chaco (Lucy Lawless/Telma da Costa) e Punho de Ferro (Danny Trejo/ Marco Dondi), que o inspiram a continuar. Belo dia, surge uma vaga dentro do Vicious 6, pois Willy Kobra é solicitado a deixar a vilania, e o pequeno Gru envia sua inscrição para fazer parte do mesmo e, de certa forma, até esnoba os seus ajudantes Minions. É então chamado para se apresentar em uma loja de vinil que serve de esconderijo para os vilões. Ao chegar lá, se depara com um jovem chamado Nefário (Russell Brand/Hercules Franco) que é bem familiar para quem conhece a caminhada futura de Gru. 

Durante o encontro, o rapazinho se mete numa baita encrenca tentando se provar para os vilões e rouba o medalhão do horoscopo chinês que o grupo usaria para conseguir poderes e dominar o mundo, mas um dos Minions, Otto, acaba vacilando e o artefato se perde. Assim, quando Gru é sequestrado por seu maior ídolo, Kevin, Stuart e Bob terão de salvar seu mini-chefe e para isso terão a ajuda da Mestre Chow (Michelle Yeoh/Marcia Coutinho).

Minons 2 - A Origem de Gru traz inúmeras referências a época da disco music, ao mundo do cinema (Tubarão, Kill Bill, James Bond, Easy Rider, Missão Impossível, Velozes e Furiosos, entre outros) e aos próprios filmes com Gru mais velho e todo esse caldeirão de bons elementos apresenta uma animação divertidaça e fofinha.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Minions 2 - The Rise of Gru. Direção: Kyle Balda, Brad Ableson, Jonathan del Val. Roteiro: Matthew Fogel e Bryan Lynch. Vozes Originais: Steve Carell, Pierre Coffin, Alan Arkin, Taraji P. Henson, Michelle Yeoh, Julie Andrews, Russell Brand, Jean-Claude Van Damme, Dolph Lundgren, Danny Trejo, Lucy Lawless, Jimmy O. Yang, Steve Coogan, Vozes dubladas: Leandro Hassum, Marize Motta, Sarito Rodrigues, Hercules Franco, Milton Parisi, Gesteira, Bruno Rocha, Márcia Coutinho, Mauro Ramos, García Jr., Telma da Costa, Marco Dondi. Gênero: Animação, aventura. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Heitor Pereira. Diretor de Animação: Ludovic Roz. Efeitos visuais: Greg Tallec.  Edição: Claire Dodgson. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 01h27min.
A sequência de Minions estava prevista para ser lançada no ano em que a pandemia começou e ficou no forno todo este tempo para poder agraciar o público na grande tela. É uma produção tão bem acertada quanto a primeira e trabalha não só o lado mal dos personagens como o bom. É repleto de sacadas geniais e tiradas hilárias e não foge do tom que já vimos antes. Os amarelinhos tem suas bobeiras, e seu momentos de fazer a coisa certa e é muito interessante conhecer a face dos personagens mais novos que vem, por exemplo, pela aparições rápidas do Sr. Perkins (Will Arnett/ Milton Parisi) e da mãe de Gru, Marlena (Julie Andrews/Marize Motta).

Leandro Hassum e todo o time de dubladores dão um show. O ator, em particular, consegue entonar a voz para tenha sim um soar mais infantil, porém, para quem lembra o som anasalado de Gru é algo que já tem uma característica bem distinta. Na versão original, um elenco de peso comparece atrás do microfone. Entre eles, Alan Arkin, Taraji P. Henson, Michelle Yeoh, Jean-Claude Van Damme, Dolph Lundgren, Danny Trejo e Lucy Lawless. Steve Carell, Pierre Coffin, Julie Andrews e Russell Brand, reprisam seus papéis.

O texto volta a falar de bullying, amizade, confiança, entrega diversidade entre os personagens e nos deixa felizes com toda a positividade que traz. Sua imersão cultural é também riquíssima e mostra o quanto o estúdio é competente no que faz. Aliás, esta semana a Illumination Entertainment completa quinze anos de existência.


Os Minions acabaram ganhando no Brasil uma comparação muito ruim, pois remete a um contexto desagradável (leia aqui), mas esquecendo esse segundo plano, os amarelinhos viraram uma febre pop e é impossível não se apaixonar por suas falas ininteligíveis e zueiras sem fim. Eles também são imensamente leais e conseguem fazer qualquer um se derreter quando vão pedir algo. 

Então melhor não desagradar um deles e correr para os cinemas, neh?!

Avaliação: Três lutas de Kung-Fu e meia (3,5/5).

HOJE NOS CINEMAS

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Carro Rei, de Renata Pinheiro | Assista nos Cinemas


Se Hollywood foi pioneira em propor que carros falam e tem sentimentos, ao no final dos anos 60, com a série de filmes em que um Fusca chamado Herbie era protagonista, os anos 2000 trouxeram os automóveis tunados que podem até saltar de prédios como visto em ''Velozes e Furiosos 7" (leia texto aqui). No Brasil, sair do âmbito usual de narrativas pode trazer estranheza muitas vezes, mas também quando esta é desviada, o público amante da sétima arte corre atrás e vira fã. 

A diretora Renata Pinheiro, que também é roteirista, produtora, editora, atriz, designer de produção, diretora de arte, tem um baita currículo. Com esta última função tem mais de onze trabalhos e em muitos deles foi parceira de artistas fenomenais como Cláudio Assis, Lucrécia Martel, Selton Mello e Hilton Lacerda. Das nove produções que trabalhou na condução ou foi co-diretora ou dirigiu solo todo o desenvolvimento do longa. Em Carro Rei, seu mais recente filme, apresenta uma história distinta da leva de películas que temos visto nos últimos anos e impressiona pela coragem e desenvoltura. 

No enredo, o menino Uno (Luciano Pedro Jr.) é filho de um casal que consegue conquistar a própria frota de Táxi nos anos 90 e dali tirar o seu sustento. Uno percebe que consegue se comunicar com um dos veículos e sequer se liga na surrealidade da situação. O garoto é super doce e carinhoso e faz questão de sempre incluir o tio Zé Macaco (Matheus Nachtergaele) nas fotos em família. Belo dia, após uma briga com o marido, a mãe do pequeno pega o carro e o automóvel se dá conta que ela está com a atenção prejudicada e poderá atropelar o próprio filho ali brincando na rua. Assim, faz com que o volante se direcione para o lado deixando o garoto seguro. Contudo, a mulher sofre um grave acidente. Dali, pulamos para muitos anos a frente e assistimos Uno chegar em casa e conversar com o pai. Ele afirma ter passado no vestibular, mas confessa que não foi para o curso de Administração que o homem gostaria e revela que estudará Agroecologia e Agrofloresta como é de sua vontade. O pai de Uno se enfeza e o expulsa de casa. Ele procura consolo na comunidade e encontra. Mas os movimentos dos acontecimentos acabam trazendo o garoto para perto do pai novamente e também do tio. Tudo se deve ao fato de que uma lei aprovada impedirá que carros com mais de quinze anos de uso não mais transitem e a frota de Táxi que uma vez foi o orgulho da família está agora arruinada.

Zé Macaco, que mora distante da cidade em um ferro velho, mantém guardado o carro que se comunicava com Uno desde o acidente e o mecânico, a pedido do sobrinho, reforma o mesmo e o traz a vida até mesmo o dando voz. A idéia surge como uma tentativa de ter sucesso novamente e assim reformarem todos os veículos. Porém, o que o trio não esperava é que a máquina que agora se chama ''Carro Rei/King Car'' se tornaria humana demais e que voltasse todas as suas forças para tomar o poder no lugar. 

O imperdível Carro Rei chega aos cinemas esta quinta-feira (30) com distribuição da Boulevard Filmes após ter passado por inúmeros festivais dentro e fora do país e ganho prêmios e comentários de destaque.

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Ficha Técnica 
Título original e ano: Carro Rei, 2021. Direção: Renata Pinheiro. Roteiro: Sergio Oliveira, Leo Pyrata, Renata Pinheiro. Elenco Principal: Matheus Nachtergaele, Luciano Pedro Jr, Jules Elting, Clara Pinheiro, Adélio Lima, Ane Oliva. Voz do Carro Rei: Tavinho Teixeira. Gênero: Fantasia, drama. Nacionalidade: Brasil. Trilha Original: Dj Dolores. Direção de Fotografia: Fernando Lockett. Direção de Arte: Karen Araújo. Edição: Quentin Delaroche. Edição de Som: Guile Martins. Diretor Assistente: Sergio Oliveira. Preparação de Elenco: Raissa Gregori. Casting: Marcelo Caetano. Produção: Sergio Oliveira. Produtora: Aroma Filmes. Produção Executiva: Carol Ferreira, Sergio Oliveira. Distribuição: Boulevard Filmes. Duração: 97 min.
Pinheiro nos entrega um filme que tem em principal o tom esverdeado. Uno, o garoto com o qual o veículo conversa é amante da natureza e sua simplicidade transborda. É amoroso, prestativo e determinado. Tenta proteger os seus quando percebe que o que está acontecendo pode estar fora do controle, mas ainda assim não se perde. A produção se inicia, aliás, com imagens de carros totalmente destruídos meio a natureza verde de uma pequena cidade de Pernambuco. Um contraste que nos faz refletir sobre o tempo, a velhice e ''nosso prazo de utilidade'' para o sistema vigente. 

O sexo masculino é visto de diversas formas aqui além da figura de Uno. Se temos um tio mecânico com uma construção corporal animalesca, temos um pai preocupado com o âmbito comercial e também políticos sedentos para auxiliarem o comércio e levarem o seu. A força feminina vista na mãe do protagonista, na crush e em uma artista plástica que adentra a cena e mantém um relacionamento carnal com Carro Rei também é bastante variada. A mãe demonstra desejos e opiniões próprias e não aceita ser rebaixada, a crush é ultra mega inteligente, tem voz de líder e está sempre modificando seus experimentos com a terra que faz seus plantios orgânicos ou hormonais e consegue ter papos interessantérrimos com Uno que não denotam contexto amoroso. Já a artista que brota no ferro velho de Zé Macaco falando alemão traz escancarada a sua luta contra o patriarcado em sua arte feita com carimbos vaginais iluminados. A relação que constrói com a máquina falante se dá em momentos tórridos na chuva ou após o anoitecer e nos estarrece por tanto desejo correspondido.


A criatividade na escrita do roteiro, que é assinado por Sergio Oliveira, Leo Pyrata e Pinheiro, vai além da trama absurda. Se encontra também no jogo de palavras (Caruaru - Carroaru) ou como estas detalham os perfis dos personagens (basta Matheus Nachtergaele mostrar seu animalesco Zé Macaco na tela). Os atores demonstram harmonia, mas um ou outro se sobressai e quem rouba a atenção é sim Nachtergaele. A voz do Carro Rei é de Tavinho Teixeira e tem inúmeras conotações (sexual, cômica, vilanesca) e se encaixa bem. Pelo filme, ouve-se músicas mais modernosas e seu ato final decide se mocinhos vão vencer vilões e trazer a paz ao mesmo tempo que se demonstra o quão irracionais podemos nos tornar.

Com um trabalho ambicioso, Pinheiro nos deixa pilhados para ver o que ela fará em seus próximos filmes já que este é uma deliciosa experimentação que joga contra a corrente do gosto comum. O filme foi ganhador dos Kikitos de ''Melhor Filme'', ''Melhor Som'', ''Melhor Direção de Arte'' e Melhor Trilha Sonora'' e recebeu ainda prêmio especial do Júri por 'Melhor Longa Metragem Brasileiro de 35mm'' no Festival de Gramado em 2021.

Avaliação: Três líquidos azuis energizantes (3/5).

30 de Junho nos Cinemas

Seguindo Todos Os Protocolos, de Fábio Leal | Sessão Vitrine


Estreia nesta quinta-feira (30), na edição 2022 da Sessão Vitrine, o primeiro longa metragem solo do diretor recifense Fábio Leal. Além da direção e roteiro, o diretor também é o protagonista da película, que traz ainda no elenco Marcus Curvelo, Paulo César Freire, Lucas Drumond, Vitória Liz e Bruce de Araújo.

Leal decidiu trazer de volta dois personagens de seu último curta-metragem “Reforma”. Mas, esclarece que não se trata de uma continuação, não sendo necessário ter visto a produção anterior para se inteirar desta trama. Simplesmente, faz uma conexão ao curta, pois o protagonista e seu par romântico são os mesmos.

“Seguindo Todos Os Protocolos” aborda temáticas reais, que certamente serão reconhecidas pelo público - solidão, carências, medos e inseguranças durante a fase mais crítica da Pandemia de Covid-19, quando a população ainda não havia sido vacinada.


Francisco, ou simplesmente Chico, segue à risca todas as normas de higiene e regras de isolamento durante a quarentena. Há 10 meses não tem qualquer contato físico com outro ser humano. Como a grande maioria da população, sua rotina resume-se ao seu pequeno e modesto apartamento. Alimentar-se sozinho, regar suas plantas (mesmo com chuva), fazer atividade física acompanhando a tv, relaxar ouvindo um aplicativo, pesquisar sintomas na internet, consultar o tarot, fazer consultas online com sua médica e assistir vídeos de Átila Iamarino, presença constante no seu início da pandemia.

Chico passava horas nas redes sociais vendo os outros postarem suas vidas ditas normais. Isso já estava lhe causando crises de depressão e ansiedade, levando ao uso de diversos medicamentos. Mantinha um relacionamento à distância com um baiano, Ronaldo, com quem teve um caso no carnaval, antes da pandemia. Entretanto, as chamadas precárias de vídeo e o sexo virtual já não eram suficientes. A relação estava em crise. O rapaz, que o taxou de “fiscal da quarentena alheia", dizia que já era hora de flexibilizar o isolamento e que tinha outros casos.

Pressionado, Chico se arma de toda informação virtual possível e monta um verdadeiro cenário de filme catástrofe para sua primeira transa presencial. Entrar no apartamento requer normas rígidas. Banho, troca de roupa, teste negativo, barreira física e, o mais importante - não poderia tirar a máscara (nova, cedida por ele) em hipótese alguma. O humor aqui mascara uma realidade que o público irá se identificar certamente. Enfrentar a difícil decisão de quebrar o isolamento não é tarefa fácil. Angústia e desconforto ainda são sentimentos muito presentes e sua paranóia atrapalha qualquer tentativa de contato mais íntimo.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Seguindo Todos Os Protocolos, 2022. Direção e RoteiroFábio Leal. Elenco: Fábio Leal, Paulo Cesar Freire, Marcus Curvelo, Lucas Drummond, Vitória Liz, Bruce de Araújo. Gênero: Drama, comédia. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Gustavo Pessoa. Montagem: Matheus Farias e Pedro Giongo. Produção:  Fábio Leal, Juliana Soares. Produção Executiva: Juliana Soares. Direção de Produção: Amanda Guimarães. Distribuição: Vitrine Filme - Sessão Vitrine. Duração: 75 min. 

O filme, embora siga pelo lado cômico da situação, retrata algo que todos vivemos em algum momento e isto leva à reflexão sobre os traumas advindos do isolamento social. Também dá toques importantes sobre política, fetiche, colorismo e fala sobre outras “solidões” contemporâneas. Na trilha sonora, canção original do músico Luiz Amaro Fortes ''Amor e Sina''. 

As cenas de sexo e corpos nús são empregadas como forma de provocar reflexões, nunca para o choque. Há humor inserido em todo caos provocado pela pandemia e isto pode ser analisado com mais paciência no momento de agora.

O longa chega exatamente num tempo em que se vive a dúvida entre manter a rotina de restrições ou a tentativa de um regresso à vida normal. Como Francisco, muitos se consideram mais conscientes e seguros, embora isso cause danos psicológicos graves. Ele representa todos nós e é tocante. Todavia,  é imprescindível pensar que talvez nada será “normal” como antes!

Vinheta Sessão Vitrine


30 de Julho nos Cinemas

terça-feira, 28 de junho de 2022

Andrei Tarkovsky: O Cinema como Oração | Russian Film Festival


De 30 de junho a 21 de julho, acontecerá de forma online mais uma edição do Russian Film Festival. Totalmente gratuito, a casa do Festival este ano é a plataforma do Belas Artes À La Carte sob a categoria conhecida de ''Volta Ao Mundo''. Na última semana, o festival foi exibido no período de quatro dias no simpático cinema do Petra Belas Artes, localizado na Avenida Consolação, em São Paulo. O público só precisou retirar os ingressos na bilheteria e conferir o cardápio por dia, que contou com quatro filmes de variados estilos, todos representantes do moderno cinema russo.

O cinema eslavo, desde os tempos da União Soviética, imprimiu uma marca significativa no cinema mundial. São dezenas de obras-primas que são obrigatórias para todos os cinéfilos do mundo. Independente de guerras e imperialismos, a arte russa é maravilhosa e deve ser prestigiada. Um destes gênios da sétima arte que a Rússia nos legou é o Andrei Tarkovsky e o filme de estreia deste festival apresenta uma compilação de imagens caseiras e entrevistas deste sacerdote do cinema. O documentário Andrei Tarkovsky: O Cinema como Oração, dirigido por seu filho Andrei A. Tarkovsky, impressiona como testemunho das ideias deste intelectual que tanto fez em sua curta vida (1932-1986). O filme contou recebeu indicações a prêmios no Nika Awards 2020, na Mostra SP de 2019 e também no Festival de Veneza.

Autor de obras-primas como Solaris, Stalker, Andrei Rublev, O Sacrifício, A Infância de Ivan e detentor de inúmeros prêmios em festivais de cinema importantes, como Veneza e Cannes, Tarkovsky tinha uma visão muito peculiar e intensa da vida. Também poeta, sua junção de arte e espiritualidade, expressa em depoimentos inspiradores, é extasiante, no que a arte tem de provocadora e instigante. Entremeada com cenas de todos seus filmes, essas palavras e imagens criam um painel que elucida a vida de um dos grandes diretores do cinema.

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Ficha Técnica

  • Título original e ano: Andrei Tarkovsky, A Cinema Prayer,2019. Direção e roteiro: Andrei A. Tarkovsky. Imagens de arquivo de Andrei Tarkovsky. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Itália, Rússia e Suécia. Fotografia: Aleksey Naydyonov. Edição: Michal Leszcylowski e Andrey A. Tarkovsky. Departamento de Som: Saverio Damiani e Gianfranco Tortora. Co-produzido por: Katarina Krave, Anthony Muir e Lisa Widén. Duração: 01h37min.

Obviamente este discurso intelectual e profundo demanda muita atenção de quem está assistindo. As ideias deste gênio vão se sucedendo numa montagem hipnótica de fotos, poesias, filmes caseiros e trechos de filmes. E assim vamos descobrindo alguns de seus temas recorrentes: família, natureza, guerra, espiritualidade, poesia. Várias cenas enigmáticas dos seus clássicos têm seus bastidores revelados, e isso é encantador.

Em um determinado ponto do documentário, Tarkovsky comenta que os grandes artistas da humanidade são poetas e aí cita o pintor Leonardo da Vinci, o compositor Bach, o cineasta Bresson, o escritor Tolstói. Ele afirma que o poder criador desses gênios é poesia pura. Não distante deles, podemos ainda acrescentar Tarkovsky a essa lista. Sua obra criadora e remodeladora do mundo nos assombra e extasia até hoje. E este documentário de uma hora e meia é uma pequena amostra disto.

Confiram o Russian Film Festival. O cinema russo é sempre agregador e ótimo de se assistir. Gratuito e variado, o festival contará com inúmeras produções até o dia 21 de julho. Entre elas: A Primeira Neve, O Demônio de Gelo, Efeito Colateral, Um Fôlego, Quero Casar, Alguém Viu a Minha Garota?, Ternura e etc. O Russian Film Festival – Volta ao Mundo, no Brasil, é organizado pela ROSKINO com o apoio do Ministério da Cultura da Federação Russa e do Comitê de Turismo de Moscou. O parceiro do festival é o portal de informações turísticas Discover Moscow.

Nota: 7/10.

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Serviço:

Russian Film Festival - Volta ao Mundo
Onde? https://www.belasartesalacarte.com.br/ 
Orientações: DISPONÍVEL COM O CÓDIGO PROMOCIONAL RFFMES. Ative a sua assinatura mensal gratuita no site À La Carte. Para isso, você precisa clicar no botão “assinar”, cadastrar-se, selecionar a opção “plano mensal”, inserir o código "RFFMES" e introduzir seus dados. O código promocional é fornecido a usuários não registrados anteriormente e é válido apenas uma vez. Observação: a assinatura é renovada, a menos que seja cancelada manualmente.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Veja Por Mim | Assista nos Cinemas

A produção canadense ''Veja Por Mim'', dirigida pelo diretor Randall Okita, nos apresenta uma trama inclusiva e que brinca com a modernidade onde os aplicativos podem ser uma incrível ferramenta de auxilio para pessoas que tenham algum tipo de deficiência. O filme passou por festivais importantes como o Tribeca Film Festival, o Vancouver International Film Festival e o BFI London Film Festival no ano passado. Desde janeiro, tem estreado de forma limitada em alguns países e agora chega ao Brasil com distribuição da Paris Filmes.

Estrelado por Skyler Davenport como a ex-esquiadora Sophie, o filme propõe uma caminhada cheia de reviravoltas e escolhas polêmicas ao passo que retrata a moça como uma pessoa com deficiência visual que não só se mostra esperta, mas também invasora de domicílios e ladra. Em sua carreira no esporte, chegou a competir e ter destaque, mas tudo virou apenas uma memória. Quando esta aparece na tela pela primeira vez está em seu quarto com a tevê ligada. O aparelho exibe algum dos eventos que ela participou no passado.

Sophie tenta sair de fininho de casa, mas a mãe (Nathalie Brown) percebe e vai atrás da menina para saber onde ela está indo e o que vai fazer. Se mostra preocupada com a garota também financeiramente, pois aparentemente ela tem recebido algumas quantidades altas em dinheiro de algum trabalho que a mulher desconhece. Até suspeita que seja um ''Only Fans'' e tenta retirar tal informação da filha, mas fracassa em obter qualquer dado específico. A jovem diz que está indo cuidar de uma casa isolada nas montanhas devido a dona precisar viajar e ter um gatinho. Se despedem e ela segue para o trabalho.

Quando chega é recebida e toma direcionamentos sobre o bichinho que ficará ali com ela e sobre o alarme da casa e a dona, Debra (Laura Vandervoort), corre para o aeroporto. Sophie sai então vagando pelo lugar para identificar o território e ter conhecimento dele. Sua mãe a avisara de um aplicativo chamado ''Veja Por Mim'' que dá assistência a pessoas enxergando por elas. Assim, ela faz o download e começa a utilizar. Também liga para um amigo e os dois conversam sobre o que fizeram nos últimos dias. O papo dá a entender que eles tem tem roubado casas e etc. Na sequência, por um descuido, Sophie se tranca do lado de fora e decide chamar ajuda usando o aplicativo que acabou de instalar. Do outro lado quem atende é a veterana do exército Kelly (Jessica Parker Kennedy) que estava jogando videogame e para o que está fazendo para ir em socorro da garota. Tudo sai bem e Sophie consegue retornar para dentro. Como a experiência é positiva ela salva o contato da veterana para caso algo aconteça novamente. E sim, algo acontece enquanto a menina está na casa e somente Kelly poderá a ajudar a se salvar de invasores perigosos.


O filme, apesar de curto, pois se passa em uma hora e trinta e dois minutos, consegue construir um suspense mediano durante o seu caminhar. Sophie não é uma personagem simples e sabe o que quer. Tem sagacidade e suas alternâncias entre boa moça e vigarista mostram nuances interessantes. A personagem lida com invasores, policiais e a ajuda de Kelly dentro do aplicativo de forma um pouco distinta e ao mesmo tempo que ela consegue nos deixar aflitos também nos faz questionar suas atitudes.

Todos os personagens coadjuvantes, inclusive, o aplicativo, tentam auxiliar a garota de alguma maneira, mas em nenhum momento sentimos que ela é incapaz de se salvar ou de fazer qualquer coisa. Pelo contrário, se mostra uma jovem de personalidade e determinada. Contorna a situação muito bem e chega a um lugar de conforto na resolução dos conflitos. 

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Ficha Técnica

  • Título original e ano: See For Me, 2021. Direção: Randall Okita. Roteiro: Adam Yorke e Tommy Gushue. Elenco: Skyler Davenport, Natalie Brown, Matthew Gouveia, Laura Vandervoort, Keaton Kaplan, Jessica Parker Kennedy, George Tchortov, Pascal Langdale, Joe Pingue, Emily Piggford, Kim Coates, Bentley the Cat. Gênero: Suspense, Ação,  Nacionalidade: Canadá. Trilha Sonora Original: Josepg Murray e Lodewijk Vos. Fotografia: Jordan Oram e Jackson Parrell. Edição: James Vandewater. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h32min.

O texto assinado pela dupla Adam Yorke e Tommy Gushue nos vende um thriller que talvez já tenhamos visto antes, porém este mantém a tensão e é muito criativo. Okita, que além de canadense tem descendência japonesa, conduz o filme com foco total em Sophie e neste momento de superações da garota. Soube retirar boas atuações de todo o elenco, aliás. A fotografia do longa tem clareza somente em seu inicio e em seu fim, todo o resto é bastante escuro e evidencia os conflitos por quais a protagonista passa. 

A atuação de Skyler Daverport é o destaque aqui e sim, a moça é deficiente visual na vida real.

Avaliação: Dois gritos de socorro e meio (2,5/5).

HOJE NOS CINEMAS

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Amigo Secreto, de Maria Augusta Ramos

Quando tentamos analisar o Brasil dos últimos nove ou dez anos, a partir dos acontecimentos que se deram, é muito provável que vamos dar de cara com a movimentação política medonha que cresceu para desafiar não só a manutenção de políticas públicas construídas para alavancar a classe baixa a uma vida digna como ainda a estabilidade da Democracia. A cineasta Maria Augusta Ramos, responsável pelo longa ''O Processo'' (leia texto aqui), filme este que evidencia como foi realizado um dos eventos históricos do país, o impeachment da Ex-Presidenta Dilma Rousseff e como a presidenciável tentou se defender de sua retirada do poder pela elite brasileira, traz agora película que joga luz na tão imparcial ''Operação Lava-Jato'', encabeçada pelos ditos salvadores da pátria, o jurista e ex-Procurador Deltan Dallagnol e o ex-Juíz Sérgio Moro, titulada ''Amigo Secreto''.

O documentário traz desde cenas do trabalho de jornalistas que estavam dedicados a publicar informações transparentes sobre todos os episódios políticos que se deram na época, como também busca compartilhar a caminhada do ex-Presidente Lula que foi perseguido, julgado e crucificado de forma inidônea. Pautado por clareza e detalhes do que se passou no cenário brasileiro entre 2017 a 2022, o filme é altamente crítico a forma com a qual a operação foi realizada e como tais ações foram fundamentais para auxiliar a eleição do atual presidente.

Amigo Secreto, é uma co-produção Alemanha, Brasil e Holanda e entra em cartaz esta semana com distribuição da Vitrine Filmes.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Amigo Secreto, 2022. Direção e roteiro: Maria Augusta Ramos. Com: Carla Jiménez, Regiane Oliveira, Marina Rossi e Leandro Demori. Gênero: Dcumentário. Nacionalidade: Brasil, Alemanha e Holanda. Direção de fotografia: Diego Lajst. Som direto: Fernando Akira. Montagem: Karen Akerman. Montagem adicional: Eva Randolph.  Direção de produção e pesquisa: Zeca Ferreira. Edição de som e mixagem: Mark Glynne, Tom Bijnen . Finalização e correção de cor: Jan Jaap Kuiper, Michiel Rummens. Produtor executivo: Maria Augusta Ramos, Felipe Lopes, Ilja Roomans. Produtores: Maria Augusta Ramos, Christian Beetz, Ilja Roomans, Silvia Cruz. Coprodução: Vitrine Filmes, ZDF in association with ARTE. Produção: Nofoco Filmes, GebroedersBeetz Filmproduktion, Docmakers. Patrocínio: IREE, Grupo Prerrogativas. Apoio: Netherlands Film Fund e The Netherlands Film Production Incentive, Fenae, Trupe do Filme. Distribuição: Vitrine Filmes. Duração: 131 Minutos.
O filme se inicia com informativos e datas sobre a Lava-Jato ainda no ano de 2017. Temos na sequência, depoimento cara a cara do Ex-Presidente Lula ao então Juiz Sérgio Moro. A cena exibe coerência zero por parte de Moro ao fazer perguntas sem qualquer efetividade para a investigação que tenta validar a todo custo a veracidade de um então imóvel ter sido repassado ao investigado sob a forma de propina por donos de construtoras. O Juiz é repetitivo e sequer presta atenção ao seu papel na mesa. Dali o espectador é levado a conhecer alguns dos jornalistas que cobriam o caso e representam mídias importantes como The Intercept e El País, entre eles, Carla Jiménez, Regiane Oliveira, Marina Rossi e Leandro Demori. 

A seguir os momentos revelam o dia da denúncia do procurador Deltan Dallagnol e a turma do Estado de Curitiba sobre o envolvimento de Lula no sistema de corrupção dentro da Petrobrás. A apresentação da mesma não foi feita através de uma apresentação de provas concretas e uma investigação sólida e contundente, mas a partir de uma imagem com setas apontando para o nome do Presidente como o ''mandante de tudo''. A denúncia é aceita e Lula é preso. 

É importante que o documentário traga a luz a defesa do trabalho realizado dentro da petrolífera pelos próprios funcionários e é feita também a análise de eventos ocorridos e de todo o cenário por juristas renomados. No caso da participação dos empregados, chegamos a informações de como o que foi desviado de recurso teve número aumentado para dar ainda mais ênfase aos atos cometidos e também do histórico de corrupção longínquo e prévio a tudo isso. Logo, a ética de Moro é contestada o tempo inteiro, pois além de ter contato direto aos denunciantes, advogados e procuradores, que claramente trabalhavam pela prisão do Petista, também os educa ao que liberar para a imprensa publicar. 

Tais ações funcionavam como estratégia clara para quebrar não só a figura simbólica que Luiz Inácio Lula da Silva representa, mas para deixar todo o trabalho feito pela esquerda em cheque. Portanto, é sim revelado que o time de juristas de Curitiba, sob a justificativa de purificação do âmbito político, trabalhava em conjunto e o filme apresenta os dados das matérias feitas pelo jornal Intercept com datas especificas do momento em que estes se unem para conversar e vazar informações que os beneficiem em sua caçada pessoal da cabeça de Lula. Informes entregues ao jornal e liberados publicamente demonstram que desde março de 2016, já haviam estratégias de trabalho até mesmo para fazer barulho na imprensa.


Se de um lado, assistimos Moro aceitar ser Ministro da Justiça do Messias que surgia para livrar o país da corrupção e a responder rasamente sobre sua imparcialidade na operação, chegamos também ao momento em que Lula, depois de 384 dias preso, é levado para falar com a imprensa brasileira e internacional e se mostra com muita vontade de provar que o processo não apresentou provas sólidas. A mídia séria e comprometida continuou a se reunir e a contestar todos os eventos, contudo, é após julgamento no STF que derruba prisão de Lula e o coloca em liberdade, que esta repensou também o seu trabalho. A primeira aparição pública do ex-Presidente foi junto do povo trabalhador e mais uma vez o político renovou os votos de que limparia sua ficha e provaria que seu julgamento foi uma farsa para o impedir de ser candidato novamente. E basicamente foi o que ele fez nos últimos anos.

Assim, é bastante completa a caminhada do filme ao desenhar o mapa de todos os acontecimentos possíveis até agora e ligar ponto a ponto para mostrar como se deu a intervenção do cenário, nas peças do jogo e como a formação da opinião pública foi totalmente contaminada e polarizada. Não bastasse toda a situação, o mundo foi acometido por uma pandemia e todos sofremos com a incompetência do governo que em nenhum momento foi humano e deu a mão a seu povo. Salvadores da pátria se fingiram de cegos por também demonstrarem características antiéticas e pularam do barco para terem tempo de se recompor, não exatamente conseguiram. A justiça trabalhou a trancos e barrancos e sendo muito agredida pelos que estão no poder, porém chega-se ao ano derradeiro em que ou nada foi em vão ou a história percorrerá outro caminho.


Se em ''O Processo'' a diretora tem um espaço de tempo menor e consegue ser sucinta nas teses de defesa e acusação que levanta, em Amigo Secreto talvez se prolongue um pouco pela imersão política super bem preenchida que nos traz. Ainda assim, sua ótica feroz do papel da mídia, da justiça e dos peões do jogo é extremamente 
necessária para uma compreensão ampla, transparente e ética para o equilíbrio da balança.

As entrevistas e conversas realizadas não são meramente ilustrativas e apontam com firmeza os reais sujeitos com culpa no cartório e, certamente, estes não são nenhum pouco patriotas ou defensores do povo brasileiro. Sendo apenas amigos para interesses futuros.

Avaliação: Três baldes de sangue verde e amarelo derramados e meio (3,5/5).

Hoje nos Cinemas

Um Broto Legal, de Luiz Alberto Pereira


O Rock, palavra em inglês que tem origem no termo Rock'n'Roll, é uma vertente musical que tem suas raízes nos Estados Unidos na segunda metade do século XX. Combinando vários estilos musicais como jazz, country, folk, R&B, teve como inspiração principal a música advinda da cultura negra. 

Elvis Presley deu visibilidade ao novo estilo com seu visual rebelde e dança sensual. E logo surgiram outros nomes dando força ao movimento que se espalhou mundo afora. O ritmo já surgiu com uma conotação contestadora, o que chocava as gerações mais tradicionais. Mais que um gênero musical, o Rock tornou-se um estilo de vida.

O som contagiante chegou ao Brasil, em meados dos anos 60, e teve como figura marcante a jovem e singela cantora Celly Campello. A figura de Campello ganha destaque esta semana com a chegada do filme “Um Broto Legal” as salas de cinema. A produção narra o surgimento da artista, o desenvolvimento de sua carreira meteórica e o abandono da mesma. Com distribuição da Pandora Filmes, o drama musical de ficção é baseado em fatos.  A direção fica a cargo de Luiz Alberto Pereira, que também assina o roteiro ao lado de Dimas Oliveira Junior.

No elenco, Marianna Alexandre vive Celly Campello e Murilo Armacollo dá vida a Sérgio Campello. Aparecem também, Paulo Goulart Filho, Petrônio Gontijo, Martha Meola, entre outros.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Um Broto Legal, 2022. Direção: Luiz Alberto Pereira. Roteiro: Luiz Alberto Pereira e Dimas Oliveira Jr. Elenco: Marianna Alexandre, Murilo Armacollo, Danillo Franccesco, Paulo Goulart Filho, Martha Meola, Petrônio Gontijo, Felipe Folgosi, Claudio Fontana, Carlos Meceni. Gênero: Drama, Musical, Biografia. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Uli Burtin, ABC. Direção de Arte: Glauce Queiroz. Montagem: Jr Carone. Produção:  Ronald Kashima, Diana Landgraf Pereira, Luiz Alberto Pereira. Distribuição: Pandora Filmes. Duração: 94 min.
Nascida Célia Benelli Campello, filha de família tradicional da cidade de Taubaté, interior de São Paulo, desde a mais tenra idade já demonstrava talento e um imenso amor pela música. Aos 16 anos, Célia se contentava em ter um programa na Rádio Difusora de Taubaté, onde também cantava e demonstrava sua voz melodiosa. Mas os planos eram estudar e constituir família, como boa moça.

Seu irmão mais velho, Sérgio Benelli Campello, cultivava um topete ao estilo rebelde da época e tocava em uma banda local que chocava os frequentadores do Taubaté Country Club com seus ritmos “indecentes”. Os pais, então, decidiram mandá-lo para São Paulo, onde iria trabalhar em uma repartição e se tornar um rapaz “normal” e respeitador. Mal sabiam eles que estavam dando asas à sua vontade de ser um astro do Rock e levar junto sua inocente irmãzinha. Assim surgiram: Tony Campello e Celly Campello.


O filme narra em detalhes a carreira dos jovens astros, entregando todo clima de uma época em que cenários e figurinos já eram muito bem produzidos. O público será transportado para os anos 60 e viverá o auge de uma época de ouro em nossa discografia. As canções são contagiantes e inesquecíveis. Desde a primeira canção “Estúpido Cupido” em 1959, vamos acompanhar toda carreira de Celly, considerada a pioneira do movimento musical do Rock no Brasil. Entretanto, juntamente com o sucesso também vieram as angústias e questionamentos da família e da relação com o único namorado que teve. Em 1962, a jovem cantora que já era conhecida do grande público toma a difícil decisão de abandonar a carreira para se casar. Afinal, estávamos nos anos 60 e a família tradicional cobrava suas regras e atitudes. Não era fácil para uma mulher fugir do roteiro pré-estipulado.

Como um tributo a estes dois jovens que abriram caminho para o que temos hoje na indústria musical brasileira, a produção traz o panorama do trabalho no setor artístico e também revela a vida da época e a pouca liberdade de escolha que, principalmente, as mulheres possuíam. E, desta forma, aborda um pouco da carreira curta, mas extremamente significativa que Celly Campelo teve.

Uma homenagem mais que merecida. Não deixe de assistir!!

HOJE NOS CINEMAS

Lightyear, de Angus MacLane


Quando o primeiro Toy Story foi lançado em 1995, as crianças nascidas ao longo dos anos 80 ou ao inicio da década de 90 ganharam uma leva de aventuras adoráveis para os seus momentos de entretenimento. Uma que perduraria pelos anos 2000, visto que o terceiro filme só foi chegar às telas em 2010 e o quarto nove anos depois. Com Tom Hanks e Tim Allen dublando os personagens centrais na versão original, o Cowboy Woody e o patrulheiro espacial Buzz Lightyear, respectivamente, os filmes dirigidos por John Lasseter foram um tremendo sucesso mundial e todos eles entraram nas estatísticas de box office e ainda foram aclamados pela crítica especializada. As animações revelavam as peripécias dos bonecos do garoto Andy que ganhavam vida e de como estes apresentavam sentimentos diversos e passavam por inúmeras situações. As obras acabaram crescendo junto com seu público e entregando narrativas delicadas e sensíveis que falam muito da condição humana.

Agora, vinte e sete anos depois, um dos adorados personagens de Toy Story, Buzz Lightyear, volta a viver aventuras na telona em um filme origem que apresenta a história daquele que inspirou a criação do brinquedo de Andy. Uma produção que, como os filmes de Lasseter, também vai a fundo na psicologia comportamental e entrega ótimas lições. Lightyear tem direção do animador Angus MacLane que debuta na função após ter trabalhado não só no universo de Toy Story como também nas produções: ''Up: Altas Aventuras'', ''WALL-E'', ''Ratatouille'', ''Procurando Nemo'', ''Os Incríveis'', ''Vida de Inseto'' e etc. Por decisões criativas, em diversos países a voz de Buzz foi alterada. No original, o ator Chris Evans ganhou a missão e no Brasil o ator e apresentador Marcos Mion recebeu o bastão do próprio dublador de Buzz, Guilherme Briggs

O longa chega hoje aos cinemas e sua experiência cinemática vai além do que se pode imaginar, resultando em um super filme de aventura e para toda a família. Sua versão dublada tem ainda Flora Paulita, Henrique Reis, Lucia Helena Azevedo, Adriana Pissardini e César Marchetti no elenco e agrada pelo trabalho de qualidade entregue.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Lightyear, 2022. Direção: Angus MacLane. Roteiro: Angus MacLane, Matthew Aldrich, Jason Headley - baseado nos personagens e roteiros escritos por John Lasseter, Jason Headley, Pete Docter, Andrew Stanton, e Joe Ranft. Vozes Originais: Chris Evans, Taika Waititi, Keke Palmer, Peter Sohn, Dale Soules, James Brolin, Uzo Aduba, Mary McDonald-Lewis, Isiah Whitlock Jr., Angus MacLane, Bill Hader, Efren Ramirez e Keira Hairston. Dubladores: Marcos Mion, César Marchetti, Flora Paulita, Henrique Reis, Lucia Helena Azevedo, Adriana Pissardini. Gênero: Aventura, Animação. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Michael Giacchino. Fotografia: Jeremy Lasky e Ian Megibben. Supervisor de Animação: David DeVan. Edição: Anthony Greenberg. Distribuidora: Walt Disney Studios Brasil. Duração: 01h49min. 
Na trama, o patrulheiro espacial Buzz Lighyear (Mion/Evans) e sua Comandante Alisha Howthorne (Pissardini/Aduba) estão em uma missão por um planeta desconhecido averiguando a possibilidade de habitar o lugar, mas insetos e animais letais os atacam, o que os força a fugir com rapidez. Contudo, acabam ficando presos ali e constroem uma base para todos os tripulantes ficarem seguros e iniciam testes para novas fugas lideradas por Lightyear. O patrulheiro espacial, no entanto, se sente culpado pela missão ter falhado e todos terem que tentar sobreviver naquele planeta inóspito e pouco se dá conta de tudo que está acontecendo a sua volta, pois os colegas de missão resolvem criar laços uns com os outros e viverem suas vidas, sem exatamente contar com a viagem de saída que pode ou não acontecer. 

A Comandante Howthorne, por exemplo, encontra um amor e se casa. Ela e a esposa geram filhos e os vêem crescer enquanto Buzz tenta equacionar a melhor forma de tirar todos dali em segurança. Porém, sempre que este retorna, os anos se passaram bruscamente, em vista que no espaço o decurso do tempo não tem a mesma velocidade. Em algum destes retornos, é presenteado pela Comandante com um gatinho robô chamado Sox (Marchetti/Sohn). Tem um primeiro encontro com a inteligência artificial bastante resistente, mas entende que este pode ser útil e com a convivência também cria afeto pelo gatinho. 

Os superiores de Lightyear, após inúmeros retornos sem um resultado 100% efetivo das missões, decidem encerrar o projeto, mas o patrulheiro persiste na vontade de ''corrigir seu erro'' e esta última missão traz surpresas positivas e negativas, pois apesar de descobrir a forma correta da viagem, quando ele volta a base tudo está mudado e houve uma invasão de robôs alienígenas no planeta que deixou a todos presos ali de vez. Ele se junta então aos recrutas e patrulheiros inexperientes Izzy (Paulita/Palmer), Mo (Reis/Waititi) e Darby (Azevedo/Soules) para juntos salvarem a população. Uma das recrutas é bem familiar ao piloto e a amizade que ele criou com ex-colegas de missão, que já não estão mais vivos, começa a se desenvolver com estes últimos.

A animação é espetacular por trazer uma apresentação do personagem sólida e com muita bagagem. Buzz Lightyear é o típico herói que vemos nos filmes. O líder capacitado para missões difíceis, inteligente e sempre pronto para o trabalho. Suas conexões humanas são somente com os colegas patrulheiros e tem uma amizade enorme com a Comandante Howtorne. Ao passo que ele ganha novos amigos e até um bichano robótico, ele tem a chance de mudar isto. Repensar sua forma de trabalhar e até mesmo a sua vida pessoal - que não necessariamente teve grandes mudanças. Por ser dedicado a tudo que faz, se sente muito culpado pelo acidente que acontece e demora a entender que ser individualista não é o caminho e que é ok parar e pedir ajuda, pois o trabalho em equipe pode sim funcionar muito bem. Basta dar oportunidades para isto.


As cenas e diálogos são emblemáticas e trazem referências não só a série de filmes ''Toy Story'' como também ao universo do cinema em si - Star Wars, Os Vingadores e etc. Lightyear é mais humano e as camadas que são dadas à ele nos fazem entender melhor o jeitão do brinquedo Buzz Lightyear que, a principio, não agradou em nada Woody.

Personagens coadjuvantes vem com muita representatividade e o melhor de tudo é que soa natural e não ''para lacrar''. Não só a comunidade negra é vista tendo papel efetivo como também a LGBTQIA+ e, sinceramente, se o público perceber isto, sequer precisará levantar bandeiras, pois como sabemos bem, geralmente e prévio a este século, é em maior quantidade o número de produções explicitamente permeadas por arcos padrões.




A decisão criativa de trocar a voz do personagem que inspira a criação do brinquedo é muito acertada. Tudo porquê o filme insere um contexto de referências ao próprio trabalho de Chris Evans como Capitão América. Também ganha um outro patamar quando não só reflete a nostalgia para os que cresceram com os filmes de Toy Story, mas para os novinhos que estão aficionados pelo mundo dos heróis na telona. 

No Brasil, Marcos Mion, ator e apresentador, bem como todo o elenco, trouxeram muita propriedade aos personagens e a joavilidade de Mion é trocada aqui por muita seriedade e entrega. Impressionando, mas não surpreendendo, pois o ator é sim um multi-artista e merece reconhecimento por toda dedicação em tudo que faz. 


A trilha sonora original, assinada por Michael Giacchino, é deslumbrante e sem muitos exageros retumbantes, já que filmes sobre o espaço se apropriam mais de sons tecnológicos e futuristas. Ainda no trailer do longa é possível ouvir uma versão de ''Starman'', canção do ilustre David Bowie, e que faz todo o sentido de ter ganho espaço na trilha. Mais pontos para a produção. As ambientações e cenários se alternam entre o lugar terroso e difícil de se viver para os espaços dentro das naves ou até na galáxia, o que joga cores quentes e geladas em contraste. O terceiro ato do filme, onde conhecemos o grande vilão, é mais obscuro, contudo, mas revela leveza quando o personagem central supera seus medos e a si mesmo. 

MacLane tem uma estreia empolgante como diretor e também está no time de roteiristas e dubladores, então sentimos que sua participação é completa e cautelosa. Para tempos em que a união e o trabalho em equipe é algo extremamente difícil devido a falta de respeito pelo outro, a mensagem principal aqui ganha muita força. Corra para assistir.

Avaliação: Quatro viagens ao infinito e além (4/5)

HOJE NOS CINEMAS

See Ya!


B-