quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Encontros, de Hong Sang-soo

 
Estreia da Pandora Filmes desta semana nos cinemas de várias capitais, o pequeno filme de apenas uma hora, Encontros, trata destes interlóquios que nós, gregários que somos, nos forçamos a ter com os outros seres humanos. Estes contatos delineiam nossas vidas e nos fazem tomar rumos diversos.

É o que acontece com o personagem principal: Young-ho (Seok-ho-Shin), jovem rapaz, que em encontros com o pai, a namorada e a mãe, vai tomando decisões que guiam sua vida. Estas três reuniões tomam os sessenta e seis minutos de exibição, numa trama confusa nas suas idas e vindas, mas que ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim 2021 e também agradou a Associação de Críticos da Coreia e ganhou prêmio na categoria de ''melhores do ano''. A conclusão dos bate-papos é que, após conversar com o pai, com quem ele não se dá bem, viaja para Alemanha de supetão para encontrar sua namorada, que tinha ido para lá no dia anterior. Na volta para Coreia do Sul, tem mais um entrevero, dessa vez com a mãe. Entre mal-entendidos e conciliações, o fiapo minimalista do enredo vai se desenrolando.

O diretor Hong Sang-soo é querido nos festivais e já ganhou muitos prêmios. Seu estilo tem vários admiradores mundo afora. Mas seu minimalismo extremo deixa o espectador desavisado frustrado, especialmente neste filme. Como se consegue contar a jornada de um personagem em três encontros? Ficam muitas lacunas a se preencher. Após uma hora apenas de duração, sente-se que os personagens não foram bem desenvolvidos.
Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Introduction, 2021. Direção e Roteiro: Hong Sang-soo. Elenco: Shin Seok-ho, Park Mi-so, Kim Young-ho, Ki Joo-bong, Seo Young-hwa, Kim Min-hee, Cho Yun-hee, Ye Jiw-on, Ha Seong-guk. Gênero: Drama. Nacionalidade: Coreia do Sul. Direção de Fotografia: Hong Sang-soo. Trilha Sonora: Hong Sang-soo. Montagem: Hong Sang-soo. Produção: Hong Sang-soo. Distribuição: Pandora Filmes. Duração: 66 min.
Além do pai, da mãe e da namorada, temos outros coadjuvantes que cercam o personagem principal, por exemplo o ator famoso, a secretária do consultório, as amigas da namorada, o amigo ator. Todos eles ficam envoltos numa aura de mistério, pois nenhum segmento se conclui a contento. É como se tivéssemos uma grande árvore embrulhada em papel, da qual só vemos alguns galhos ou folhas. Não conseguimos ter uma visão completa.

A fotografia em preto e branco embeleza a película. A atenção nos detalhes da ambientação é cuidadosa, os cenários são milimetricamente montados. O encadeamento da estória é que fica a desejar, tudo muito nebuloso e difuso. É uma junção de pequenos contos sobre o mesmo personagem. Caso tivéssemos mais destes (e com maior duração), compreenderíamos melhor o Young-ho. Avisados desses pormenores, assistam o filme e deixem a imaginação funcionar, preenchendo os vazios.

Nota: 6/10
01 de Setembro nos Cinemas

Entre Rosas, de Pierre Pinaud | Assista nos Cinemas

O longa-metragem francês “Entre Rosas” (La Fine Fleur) recebeu classificação como comédia, mas prepare-se para refletir e se emocionar também. O longa conta com roteiro de Fadette Drouard, Philippe LeGuay e Pierre Pinaud, este último que também dirige a produção, e no elenco estão: Catherine Frot (Eve), Olivia Côte (Véra), Melan Omerta (Fred), Serpentine Teyssier (mãe de Fred), Damien Habouzit (pai de Fred), Fatsah Bouyahmed (Samir), Marie Petiot (Nadège), entre outros. O filme ganhou o prêmio do público no ''Annapolis Film Festival 2022.''

As personagens são simples, com diálogos diretos, mas que conquistam exatamente por sua simplicidade. Junte-se a isso as belas locações e um visual delicioso, que qualquer amante da natureza irá apreciar. A bela fotografia de Guillaume Deffontaines exibe uma variedade estonteante de rosas. Os pomares dos campos franceses são belíssimos. Todo este visual é embalado por uma agradável trilha sonora assinada por Mathieu Lamboley. Destaque para a cena do cemitério com a canção “Les Roses Blanches”.

Trailer

Ficha Técnica

  • Título original e ano:  2020. Direção: Pierre Pinaud. Roteiro: Fadette Drouard, Philippe LeGuay, Sara Wikler, Blandine Jet e Pierre Pinaud. Elenco: Catherine Frot, Manel Foulgoc, Fatsah Bouyahmed, Marie Petiot, Olivia Côte, Marie Petiot, Vincent Dedienne, Rukkmini Ghos, Serpentine Teyssier. Gênero: Romance, Comédia. Nacionalidade: França. Fotografia: Guillaume Deffontaines. Direção de arte: Philippe Chiffre e Manon Coaquette. Música: Mathieu Lamboley. Edição:Valérie Deseine  e Loïc Lallemand.  Distribuidora: Califórnia Filmes. Duração: 95 minutos.

Eve já foi muito famosa e destacava-se em sua profissão - cultivar rosas. O falecido pai deixou como herança não apenas os belos pomares de rosas, mas também todo seu conhecimento e, mais que isso, o amor e o sonho de manter o cultivo artesanal familiar. A vida de Eve se resumiu ao cuidado de suas rosas premiadas. “Sem marido, sem filhos. Sozinha e perfeitamente bem!”

Agora, já beirando a meia idade, Eve tornou-se obsoleta comparada ao cultivo industrializado. Um tanto amarga e anti social, soterrada em dívidas, vê seu meio de vida caminhar para a falência. Luta bravamente para não entregar sua plantação nas mãos do jovem e ganancioso empresário Lamarzette.

Ao seu lado sempre esteve a assistente e amiga Véra, que também abriu mão de sua independência para ajudar nas finanças e tudo mais. Como uma última tentativa de salvar a empresa, Véra contrata três pessoas que estão em um programa de reinserção social. Para eles, Fred, Samir e Nadège, esta é também uma tentativa de se reintegrar à sociedade e mudar de vida. 
 
Créditos: Divulgação   

Aqui o filme mostra as desigualdades e o contraste social e cultural destes diferentes universos. O mundo de Eve gira em torno de sua propriedade burguesa, livros, quadros, frascos de essências. E o universo dos três delinquentes tem lugares precários, famílias desajustadas e escassez.

A forma como cada personagem vai se revelando na história faz com que a trama desabroche como as rosas que expõe. Eve tem como projeto unir duas espécies de rosas, a “Wichuraiana” que ela já possui, e a “The Lion”, que apenas Lamarzette tem, e criar uma rosa luminosa, resistente a doenças e muito perfumada. Seria um sucesso nos concursos e salvaria suas finanças.

A senhora desesperada, arquiteta um plano maluco para pegar “emprestada” uma rosa do concorrente. Fred a ajuda na empreitada. O jovem que teve a guarda perdida pela família por negligência aos 14 anos, descobre em Eve a figura materna, aquela que acredita e incentiva. Com o passar dos dias, Eve começa a conhecer melhor aqueles funcionários que se mostram tão solidários, pois de seu sucesso depende seus futuros.
 
Créditos: Divulgação   

“Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante!”
 
Essa comédia leve usa como cenário o cultivo artesanal para abordar temas que fazem refletir, como a diferença de classes, a falta de oportunidades, as relações humanas e as renúncias que cada um faz em nome dos sonhos que muitas vezes são herdados. Fala do papel da família e as marcas que a ausência da mesma acarreta.

O roteiro não é propriamente original, está repleto de clichês, mas nada que chegue a incomodar. Um filme que fala de sonhos através do cultivo de belas rosas. De esperança, do trabalho em equipe para chegar a um propósito em comum e, principalmente, fala sobre acreditar que sempre é possível descobrir um novo dom e mudar o futuro para melhor.

01 DE SETEMBRO NOS CINEMAS 

Maria - Ninguém Sabe Quem Eu Sou | Assista nos Cinemas


A admiração é a base do documentário “Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu”, do jornalista, roteirista e, agora, diretor Carlos Jardim. Fã apaixonado de Maria Bethânia, a quem define como “um farol de lucidez na cultura brasileira”, Jardim idealizou um projeto transmídia que, além do documentário, inclui também o livro “Ninguém Sabe Quem Sou Eu (a Bethânia Agora Sabe!)” para celebrar os quase 60 anos de carreira de seu ídolo. A ambiciosa proposta de criar não uma, mas duas obras que se complementam entre si diz muito sobre o tamanho do fascínio de Jardim sobre a artista.
 
O filme consiste num íntimo depoimento de Maria Bethânia, com inserções de imagens de arquivo de apresentações da cantora e narrações pontuais da atriz Fernanda Montenegro lendo trechos de textos que exaltam o impacto de Bethânia e sua arte na cultura brasileira. Em sua fala, a irmã de Caetano Veloso relembra sua trajetória, o amor pela mãe, colaborações marcantes, reflete sobre Política e a importância que a fé teve e continua tendo em sua vida. Bethânia também fala sobre a influência que a Literatura tem em seu trabalho e celebra seus ídolos, um reflexo da admiração do próprio Jardim por ela.

        Créditos: Divulgação    


Em sua forma, o documentário se despe da complexidade ousada do projeto-paixão de Jardim. Esteticamente, por vezes chega a lembrar um programa de TV, não almejando adotar a linguagem cinematográfica como parte de sua narrativa. Tal simplicidade pode incomodar em alguns momentos, sobretudo levando em consideração outros documentários que também têm Bethânia como protagonista. Contudo, o minimalismo plástico escolhido pelo diretor se justifica pela concepção pessoal que o filme apresenta em seu desdobrar. É através do tom de conversa intimista que Jardim extrai da cantora relatos leves e cheios de vida, assim como, por exemplo, o drama de ter sido perseguida durante a Ditadura Militar, por ser considerada subversiva e “nociva” ao Brasil (ao que Bethânia compara como a classe artística é tratada no Brasil do início dos anos 2020). “A Arte é a salvação, não só do Brasil como do mundo”, diz ela.

Teaser Trailer
 

Ficha Técnica
 
  • Título original e ano: Maria - Ninguém Sabe Quem Eu Sou, 2022.  Direção, Roteiro e Argumento:  Carlos Jobim. Supervisão de Pesquisa: Luciana Savaget. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Brasil. Produção: Turbilhão de Ideias. Coprodução: Globo Filmes, GloboNews, Canal Brasil, Noticiarte Produções. Distribuição: Arteplex Filmes. Duração: 100min.

O documentário não visa se aprofundar na biografia da cantora, talvez ciente da quantidade de outras obras que fizeram isso antes. Ao invés disso, Jardim aproveita de seu olhar de admiração para acessar sua musa e protagonista de forma informal e despreocupada, trazendo quase um tom de segredo para o relato registrado para o filme. Bethânia sempre foi mostrada como uma força da natureza, uma entidade inigualável, e a perspectiva de fã com que o diretor conduz o longa pode até seguir este viés em alguns momentos. Mas parte do sucesso e do diferencial de Jardim em seu projeto é justamente tentar humanizar a figura mitológica objeto de sua adoração, ao mesmo tempo homenageando e desconstruindo. O filme é como uma espiadela pela fechadura, proporcionando momentos preciosos e impagáveis, como a artista comentando sobre sua preferência por microfones com fio ou cena de bastidores na qual Bethânia reclama de falhas técnicas durante um ensaio com sua banda.
 
Créditos: Divulgação                                    

Maria Bethânia em cena de ''Maria - Ninguém Sabe Quem Eu Sou''         

Se “Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu” não se destaca por seu esmero técnico, o mesmo não pode ser dito sobre seu conteúdo: o longa documental usa muito bem a estrela que se propõe a retratar e pega emprestado de Bethânia a grandeza que vem daquilo que parece banal, mundano.


01 DE SETEMBRO NOS CINEMAS

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Predestinado: Arigó e o Espirito do Dr. Fritz | Quinta nos Cinemas

 
A pandemia que nos abateu em 2020 e perdurou, pelo menos no Brasil, quase até agora, isto se tiver mesmo acabado, atrasou não só o andamento de nossas vidas como o lançamento de inúmeras produções cinematográficas. O drama Predestinado: Arigó e o espírito do Dr. Fritz (A Dangerous Practice), dirigido pelo conhecido diretor e jornalista brasileiro Gustavo Fernandez (A Cura) estava previsto desde novembro de 2019 para chegar as salas de cinema em 18 junho de 2020 e tem só agora aval para debutar.

Baseado em uma história real, a obra tem roteiro original assinado por Jaqueline Vargas, que pautou seus escritos em uma longa e minuciosa pesquisa de campo, entrevistas com familiares e pessoas que conviveram com Arigó e também em uma extensa fonte de informações coletadas em arquivos, revistas da época, livros, tendo como um dos principais pilares a obra do escritor e jornalista americano John G. Fuller - “Arigó e o espírito do Dr. Fritz”, publicado em bananaland pela Editora Pensamento.

O elenco estelar tem como protagonista o ator Danton Mello (Arigó), Juliana Paes (Arlete), Alexandre Borges (Senador Lúcio Bittencourt), James Faulkner (Dr Fritz), Marcos Caruso (Padre Anselmo), Cássio Gabus Mendes (Cícero), Marcos Ricca (Juiz Barros), João Signorelli (Chico Xavier), entre outros.

O filme se inicia com uma cena bem impactante, que pode chocar aquele público pouco familiarizado com a história da personagem e as práticas abordadas. Sendo assim, faz-se necessário situar a obra. José Pedro de Freitas, um dos oito filhos de um sitiante, nasceu entre os anos de 1921 ou 1922, a alguns quilômetros da cidade de Congonhas do Campo, em Minas Gerais. Devido aos poucos recursos da família, o garoto cursou somente até a 3° série do Ensino Fundamental. Aos 14 anos começou a trabalhar na Cia de Mineração, onde recebeu o apelido que o acompanharia vida afora, Arigó, que é uma gíria para “ingênuo, matuto” e também como eram chamados os trabalhadores que construíam estradas de ferro e engenhos. Aos 25 anos casou-se com sua prima de 4° grau, Arlete André, com quem teve seis filhos: José Tarcísio, Haroldo, Eri, Sidney, Leôncio Antônio e Leonardo José. 
 
 Créditos: Divulgação    
Juliana Paes e Danton Mello vivem Arlete e Arigó
 
Por volta de 1950, Arigó começou a ter insônia, fortes dores de cabeça, visões de luzes brilhantes e a ouvir uma voz em um idioma que ele não compreendia. Essa sensação de loucura durou aproximadamente 3 anos, tendo levado o rapaz a procurar a ajuda de médicos e especialistas, sem sucesso. A família extremamente religiosa, recorria ao pároco da cidade, Padre Anselmo, que chegou a realizar sessões de exorcismo. Todas essas informações serão apresentadas no decorrer da narrativa na forma de flashbacks e insights, entregando ao público uma trama de mistério e descobertas, o que dá ao longa uma roupagem de entretenimento, sem pender para o lado doutrinário.

Conta sua biografia que Arigó passou a temer dormir no escuro e que certa vez teve um sonho com um homem calvo, trajando roupas antigas e jaleco, que se identificou como sendo o médico alemão Dr. Adolf Fritz, falecido durante A Primeira Guerra Mundial, antes de encerrar sua missão de vida. Mesmo sem entender o idioma, Arigó intuiu que ele seria o escolhido para auxiliar o médico a cumprir sua obra. Arigó lembrou-se de um antigo crucifixo que o acompanharia em sua empreitada.

Levando-se em conta que nos anos 50 os fenômenos paranormais ainda eram tidos como “obra do demônio” e estando o jovem Arigó em uma pequena cidade conhecida por sua tradicional religiosidade católica, é possível entender as dúvidas e incertezas vividas pelo médium. Arigó foi alvo de críticas e descrença, ao mesmo tempo que tornou-se a única esperança de salvação e cura para aqueles a quem atendia sem nada cobrar. Acusado de curandeirismo, foi condenado e preso, e mesmo no cárcere não deixou de ajudar seu próximo.
 
Créditos: Divulgação    
Arigó foi um homem iluminado e que salvou milhares e milhares de pessoas. Ele foi para algumas gerações, principalmente nos anos 50 e 60, uma pessoa muito importante, pois foi o primeiro a fazer cirurgias espirituais. Com esse filme vamos poder deixar registrado todo o trabalho que ele fez, sua vida difícil e o bem que fez para tanta gente”, conta Danton Mello.

O filme transmite muito bem as angústias e medos do jovem que muitas vezes entrava em transe e realizava cirurgias complexas com objetos rudes, sem nada lembrar depois. Danton Mello está excepcional no papel, que na realidade são duas personagens, já que o pacato mineiro Arigó assume uma personalidade forte e enérgica ao ser incorporado pelo Dr. Fritz. Danton transmite na postura e no olhar essas mudanças.

Ao seu lado estava sempre sua fiel esposa Arlete, muito bem interpretada por Juliana Paes. Arlete foi o pilar de sustentação da vida do médium e apesar de ter crenças divergentes do trabalho realizado por Arigó, inicialmente em sua casa e mais tarde no Centro Espírita Jesus de Nazareno, jamais lhe negou apoio e amor incondicional, muitas vezes assumindo o sustento da família com seus trabalhos como costureira.

A narrativa irá mostrar detalhes dos trabalhos surpreendentes realizados por este que foi o pioneiro no campo da cura e cirurgia espiritual no Brasil. Seus tratamentos tomaram proporção internacional, atraindo a atenção de estudiosos da área, como o americano Henry Puharich, que também foi curado por ele. Dentre os milhares de casos, destaca-se a cura do câncer de pulmão do Deputado Lúcio Bittencourt. E as cenas são bem impressionantes. Arigó também vivia o dilema de curar tantos e não poder curar seus próprios filhos. Ele chegou a receber orientação espiritual do próprio Chico Xavier, aliás a cena mais emocionante do filme. Prepare os lencinhos!

Créditos: Divulgação     
“Não crie conflitos em si mesmo. Isso aqui é só uma passagem!”

O cenário foi totalmente reconstruído e incluem belas imagens da cidade de Congonhas e da fachada do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, com as figuras dos profetas de Aleijadinho. São imagens de encher os olhos. O filme, inclusive foi rodado em Congonhas, cidade natal do médium, Cataguases e Rio Novo, em Minas Gerais.

A trilha sonora, embora um tanto quanto na linha do suspense, cumpre sua função de auxiliar no fluxo da história e potencializar os sentidos transmitindo a carga emocional de cada cena. Atente para a cena do acidente que ceifou a vida da personagem. É de tirar o fôlego.
 
Trailer

 Ficha Técnica
  • Título original e ano: Predestinado: Arigó e o Espirito do Dr. Fritz, 2022. Diretor: Gustavo Fernandez. Roteirista: Jaqueline Vargas - baseado no livro homônimo de John G. Fuller. Elenco: Danton Mello, Juliana Paes, Marcos Caruso, Alexandre Borges, Marco Ricca, Cássio Gabus Mendes, João Signorelli, James Faulkner. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Uli Burtin. Direção de Arte: Antônio de Freitas. Trilha Sonora Original: Gus Bernardo. Produtor: Roberto d’Avila, Fabio Golombek e James Guyer. Produtoras: Moonshot Pictures, FJ Produções e The Calling Production. Coprodutoras: Paramount Pictures e Camisa Listrada BH. Distribuidora: Imagem Filmes. Duração: 01h48min.
O roteiro foca no drama do homem, em seu conflito interior diante daquilo que não tinha explicação, sem se prender unicamente ao viés religioso o que torna a trama interessante, cumprindo o papel de situar historicamente uma figura que deve ser lembrada e conhecida pelas gerações mais jovens.

Um homem que desafiou a ciência realizando fenômenos até hoje sem explicação. E mais que isso, Arigó foi um símbolo de amor ao próximo, caridade e altruísmo, que cumpriu com fé aquilo que julgava como sua missão de vida, provando que “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha sua vã filosofia”!!

01 de Setembro nos Cinemas

sábado, 27 de agosto de 2022

Red: Crescer É Uma Fera | Assista no Disney+

Crescer não é tarefa fácil. Feliz e privilegiado é o ser humano que passa pela adolescência sem traumas, inseguranças ou pelo menos grandes doses de constrangimento. É no início desta imprevisível fase da vida que está Meilin Lee, uma estudiosa nerd sino-canadense de 13 anos super confiante e, acima de tudo, independente. Ou quase. Filha exemplar, ela está sempre à mercê dos planos de sua mãe amorosa e adoravelmente controladora, não vendo problema em abrir mão de sua modesta vida social ao lado de suas amigas para ajudar com as tarefas no templo ancestral de sua família. Mei logo se encontra dividida entre estas duas facetas de sua personalidade: uma filha obediente que se esforça para atender as altíssimas expectativas da mãe e, ao mesmo tempo, uma adolescente cheia de opinião e hormônios que sonha acordada com os integrantes de sua boy band preferida. As mudanças mais drásticas e inconvenientes trazidas pela puberdade, é claro, se refletem no corpo de Mei. No caso dela, contudo, isso significa se transformar num gordo e felpudo panda-vermelho gigante a cada vez que ela perde o controle de suas emoções. Coisa de família, sabe como é.

O 25º longa-metragem da Pixar tem todos os elementos que mantém vivo o amor do público pelo estúdio há mais de 2 décadas: uma história cheia de coração ao mesmo tempo trivial e fantástica, uma animação de encher os olhos, repleta de cores e texturas, e personagens cativantes. Mas Red: Crescer é Uma Fera vai muito além de ser apenas mais um título da Pixar. O filme da diretora Domee Shi, o 2º da empresa a ter a direção-solo de uma mulher, é doce, divertido, despretensiosamente emocional e bastante pessoal. Co-escrito por Shi, Sarah Streicher e Julia Cho, o roteiro tem toques autobiográficos da trajetória das duas para desenvolver a protagonista Mei, assim como de outras mulheres da equipe majoritariamente feminina. Da mesma forma, as experiências particulares das mulheres da equipe que são mães foram ouvidas para construir a personagem da mãe de Mei, Ming Lee, a fim de estabelecer apropriadamente a dinâmica de companheirismo e superproteção, evitando vilanizá-la. Neste sentido, a animação ecoa o único outro crédito de direção de Domee Shi, o vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação em 2019, Bao, que também reflete sobre o amor materno. E ter vozes de mulheres contando esta história certamente a torna muito mais autêntica. Tal visão intimista, porém, não dilui a linguagem Pop e despreocupada do longa, o mais divertido e leve produzido pelo estúdio em tempos. 

Ainda que o filme não se proponha desafios visuais grandiosos como ousar imaginar o funcionamento das emoções humanas ou tentar conceber a origem da alma, como outras obras da Pixar, o longa animado de Domee Shi se destaca por apresentar uma estilização mais cartunesca que mistura traços já característicos do estúdio com maneirismos influenciados por mangás e animações japonesas, paixões da diretora que fizeram parte de sua formação criativa. O estilo mais frenético e caricaturesco, que por vezes contém intervenções gráficas para enfatizar sentimentos e situações cômicas chega a lembrar, ainda que de forma muito mais contida, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, devido à liberdade de usar técnicas que emulam a animação tradicional dentro de um ambiente computadorizado.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Turning Red,2022. Direção: Domee Shi. Roteiro: Julia Cho, Sarah Streicher e Domee Shi. Vozes originais: Rosalie Chiang, Sandra Oh, Ava Morse, Hyein Park, Maitreyi Ramakrishnan, Orion Lee, Wai Ching Ho, Tristan Allerick Chen, Lori Tan Chinn, Mia Tagano, Sherry Cola. Dubladores: Nina Medeiros, Flavia Alessandra, Maria Clara Rosis, Raquel Carlotti, Ary Fontoura,  Manuela Macedo,  Rodrigo Lombardi, Cecília Lemes, Suzete Piloto, Lúcia Helena, Adriana Pissardini, Angélica Santos. Gênero: Animação,comédia, familia. Nacionalidade: Estados Unidos da América e Canadá. Trilha Sonora Original: Ludwig Göransson. Fotografia: Mahyar Abousaeedi e Jonathan Pytko. Edição: Steve Bloom e Nicholas C. Smith. Design de Produção: Rona Liu. Disponível no Disney+. Duração: 01h40min.

A cor vermelha, representada pelo gigante fofinho no qual Mei se transforma e que dá nome ao longa, dá margem a diversas interpretações. Vermelho pode ser uma metáfora para a menstruação (algo que o filme corajosamente faz questão de deixar explícito), mas também simboliza raiva e paixão, duas emoções bastante presentes neste momento hormonalmente borbulhante vivido pela protagonista. Esta simbologia apenas enriquece a trama, trazendo camadas que talvez passem despercebidas, mas que possibilitam outras leituras. Esta e outras sutilezas do desenho talvez possam dificultar o engajamento de parte do público, acostumado a histórias bem mais óbvias, vistas através de uma perspectiva quase que exclusivamente masculina e estadunidense. Mas não duvide da universalidade e do alcance de Red: Crescer é uma Fera. 

Dentro de suas peculiaridades, esta é uma história sobre autodescoberta e autoaceitação, sobre buscar familiaridade dentro da estranheza, sobre a importância de nos apropriarmos de nossas raízes e transformá-las em algo novo. Há muita beleza em abraçar nossos monstros, aqueles que tememos por serem diferentes. Mas são eles quem nos tornam pessoas únicas, nos tornam quem somos.

ASSISTA NO DISNEY+ (clique aqui).

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Minha Pequena Terra, de Emma Kawawada | Assista no Belas Artes À LA CARTE

O filme Minha Pequena Terra, primeiro longa-metragem da diretora japonesa Emma Kawawada, impacta pela sua delicadeza. A realizadora consegue dar a um tema espinhoso como os refugiados um recorte tão sensível e terno que comove. Façanha digna de um grande diretor! É daquelas artistas para se ficar de olho e aguardar ansiosamente seus próximos trabalhos.

No Japão contemporâneo, uma família de refugiados políticos curdos se esforça para viver em um País polido, educado, mas hostil. Com muito empenho, a adolescente Sarya, vivida pela atriz Lina Arashi, planeja entrar na universidade para se tornar uma professora do ensino fundamental. Sem muitas lembranças de sua terra natal, pois teve que fugir muito criança de sua aldeia, ela ajuda toda a comunidade curda de Saitama com seu japonês fluente. Dona de excelentes notas e trabalhando numa mercearia para custear seus futuros estudos, a vida lhe sorri, até que a migração japonesa nega à sua família o status de refugiados. A partir daí, sua vida desmorona.

De uma maneira muito delicada, começamos a descobrir os conflitos na vida de Sarya. Das dificuldades que tem com o regime patriarcal dos curdos, de sua vergonha e ressentimento por suas origens, seu desconhecimento dos dialetos e tradições religiosas dos curdos. Nesse ínterim, ela se aproxima de outro jovem que trabalha junto com ela na mercearia, num típico flerte próprio da idade. A mão da diretora sensibiliza pela maneira terna com que aborda os conflitos na vida dessa jovem e de seu “namorado” japonês Sota. As cenas do casal de adolescentes são muito bonitas; os conflitos culturais, os problemas com os pais, a dificuldade em se abrir, tudo é repassado, mas com um recorte muito delicado.

 Ficha Técnica

  • Título original e ano: My Small Land, 2022. Direção e roteiro: Emma Kawawada. Elenco: Lina Arashi, Takashi Fujii e Sei Hiraizumi.  Gênero: Drama. Nacionalidade: Japão. Trilha Sonora Original: Roth Bart Baron. Fotografia: Hidetoshi Shinomiya. Edição: Shin'ichi Fushima. Design de Produção: Hyeon-Seon Seo. Duração: 114min.

A família de Sarya é um encanto à parte. Seu irmão de cinco anos que se isola na escola fundamental por causa do choque cultural, seu pai que mesmo rígido com os filhos demonstra um grande amor pela família e por seu povo, a agregada que tenta adequar-se aos dois mundos. Esses conflitos que são universais porque a questão de estranheza e pertencimento é um aspecto que assombra milhões de refugiados e migrantes pelo mundo afora, inclusive no Brasil.

A estreia desta semana no streaming Belas Artes À LA CARTE (clique aqui), que, infelizmente, não vai para os cinemas é uma joia refinada a ser descoberta. Seu ritmo lento permite ao espectador sentir todo o desamparo, esperança e assombro dos nossos irmãos que, abandonando suas origens, tentam vida melhor em outros países. Menção especial no prêmio da Anistia do Festival de Berlim 2022, é uma lição de humanismo! Assistam e se comovam com a jornada de Sarya!

Nota: 8/10

 Cardápio do Belas Artes À La Carte em 25/08


Serviço:
Onde assistir: Belas Artes À La Carte.
Valor: Disponível para assinantes em planos mensal no valor de: R$ 9,90, ou anual custando R$ 108,90.
Para assinar acessewww.belasartesalacarte.com.br e clique em ASSINE.
Ou vá direto para a página de cadastro: https://www.belasartesalacarte.com.br/checkout/subscribe/signup
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O Lendário Cão Guerreiro | Assista nos Cinemas


O vencedor da categoria ''Truly Moving Picture'', no Heartland Film de 2022, chega esta semana aos cinemas brasileiros. É a animação ''O Lendário Cão Guerreiro''. Um filme cheio de referências cinematográficas, com diferentes traços e estilos e uma narrativa que abraça a inclusão dos mais fracos, o empoderamento feminino e o universo dos Samurais. Tudo isso acontece quando o cachorro Hank chega a vila dos gatos com um sonho: ''aprender a lutar e se tornar um grande Samurai''. 
 
O caminho do aspirante a guerreiro é facilitado pela ambição sem fim do gato Ika Chu, líder de um dos castelos do Imperador Shogun e que fica próximo a uma pequena vila. Ika Chu está de olho em destruir tudo que esteja aos arredores do lugar para assim agradar seu Imperador e ter a posse total do território. Assim, envia Hank para ser aceito na vila como aprendiz e este dá de cara com Jimbo, um ex-Samurai que lutava contra injustiças e defendia os oprimidos, mas o Gato Guerreiro não vai aceitar a tarefa muito fácil e nem todos ali estão lidando muito bem com a ideia de ter um cachorro no local já que é proibido. Contudo, os moradores da vila terão de aceitar toda ajuda possível para defender seu lar.

As vozes norte-americanas da produção são de Michael Cera, Samuel L. Jackson, Ricky Gervais, Djimon Hounsou, Mel Brooks, George Takei, Kylie Kuioka e Michelle Yeoh. No Brasil, Paulo Vieira, Ary Fontoura e Deborah Secco receberam a missão da dublagem. O filme tem direção do trio Chris Bailey, Mark Koetsier e Rob Minkoff, roteiro de Ed Stone e Nate Hopper e é um remake animado de ''Banzé no Oeste'' escrito por Mel Brooks, Norman Steinberg, Andrew Bergman, Richard Pryor, Alan Uger. Ademais, tem referências a película de Akira Kurosawa, ‘’Yojimbo — O Guarda Costas’’. A distribuição é da Paramount Pictures Brasil.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Paws of Fury: The Legend of Hank, 2022. Direção: Chris Bailey, Mark Koetsier, Rob Minkoff. Roteiro: Ed Stone e Nate Hopper — baseano no filme escrito por Mel Brooks, Norman Steinberg, Andrew Bergman, Richard Pryor, Alan Uger. Gênero: Animação, Comédia, Ação. Nacionalidade: Estados Unidos da América, China, Reino Unido, Canadá. Elenco de vozes originais: Michael Cera, Samuel L. Jackson, Ricky Gervais, Mel Brooks, George Takei, Michelle Yeoh, Kylie Kuioka, Djimon Hounsou. Dublagem brasileira: Paulo Vieira, Deborah Secco, Ary Fontoura. Trilha Sonora Original: Bear McCreary. Edição: Mike Andrews. Design de Produção: Kevin Conran e Kevin Dart. Supervisor de Animação: Goran Backman. Distribuição: Paramount Pictures Brasil. Duração: 01h38min.

Super colorido e com a inserção de estilos de animação distintas (já na sua introdução), o longa tem um humor inteligente e que trabalha muito bem o desenvolvimento dos personagens, até mesmo os fazendo ser conscientes que são personagens e estão em um filme. Não há em si uma briga explicita entre gatos e cachorros, mas aqui vemos que os gatos não toleram cães e pela honra e ética dos gatos samurais, estes são super admirados, até mesmo pelos doguinhos. 

O texto é detalhista não só nos adereços amados por gatos, mas também pela cultura oriental que se faz presente com força. Se há tempo para a jornada do herói, há também para gatinhas mostrarem que podem ser fortes e valentes e suas mães são super empoderadoras. Assim, o resultado é positivo, pois temos inúmeras mensagens de bom tom e que incentivam o crescimento interior. 


Paulo Vieira dubla o protagonista lindamente. O cãozinho Hank tem todo um ar desastrado e de desajustado e a voz do ator e comediante se encaixa como uma luva no personagem. Na versão original, Michael Cera dá vida a Hank. Deborah Secco empresta seu tom de voz rouco e maravilhoso a gata e mamãe Yuki e mesmo aparecendo pontualmente faz a diferença. A super mega badalada Michelle Yeoh vive a personagem no original. Temos ainda o divertidíssimo Ary Fontoura como o imperador Shogun, que nos Estados Unidos tem a voz de Mel Brooks. O dublador oficial do ator Samuel L. Jackson, Márcio Simões, aparece aqui dublando o Samurai que treina Hank já que o ator norte-americano é quem faz a voz deste. No elenco original, ainda temos o super Ricky Gervais dublando o vilão Ika Chu, George Takei como Ohga e Djimon Hounsou como Sumo.


Altamente indicado para toda a família, a animação diverte e tem ótimas lições de aprendizado. Então junte sua turma e vá hoje mesmo aos cinemas.

Avaliação: Dois
samurais de coração puro e meia gatinha guerreira (2,5/5)

HOJE NOS CINEMAS

Onoda - 10 Mil Noites na Selva, de Arthur Harari


Super estreia desta semana, o drama de guerra Onoda – 10 Mil Noites na Selva tem as melhores referências possíveis. Ganhador de dois Prêmios no Seville European Film Festival, Melhor Roteiro e escolha do Grande Juri,levou também Prêmio pelo roteiro no Cesar Awards e Prêmio do Público de Melhor Filme da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ademais, o filme foi selecionado para a abertura da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2021 e impressiona pela potência da trama que evidencia em suas três horas de duração. Acaba sendo assim um drama de guerra adulto e sensível, baseado na vida do herói nacional japonês Hiroo Onoda, o penúltimo combatente da II Guerra Mundial.

O roteiro, assinado por Bernard Cendron,Vincent Poymiro e Arthur Harari, relata a vida deste soldado que, imbuído dos ensinamentos militares de seu comandante do setor de inteligência do Exército Imperial Japonês, não se rende às forças americanas que invadem uma ilha das Filipinas e, junto com alguns poucos subordinados inicialmente, passa dez mil noites na selva, recusando-se a reconhecer que o Japão havia perdido a guerra e se rendido aos Estados Unidos. Essa resistência ininterrupta às adversidades deram a Onoda o status de herói nacional nipônico.

O diretor francês Arthur Harari faz um recorte muito delicado e profundo desse personagem tão enigmático, figura real que se soma à galeria de combatentes enlouquecidos pela guerra e alguém que poderia muito bem estar figurando entre os personagens fictícios de Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola. Como já alertou Goya na sua famosa pintura, “o sono da razão produz monstros”, mesmo que estes sejam tão humanos como nós. Tal humanidade é muito bem delineada no excelente roteiro. E a história desse jovem desajustado que passa por uma verdadeira lavagem cerebral no exército e que, acreditando no seu Japão imperial e na vitória iminente, por trinta longos anos embrenha-se na selva e causa muito sofrimento a si mesmo, aos seus subordinados e à população filipina da ilha, num trabalho incessante de guerrilha e sabotagem. Mesmo com o completo absurdo da situação, Onoda não é mostrado de maneira caricata, sentimos ali um rapaz idealista que, enganado por um exército manipulador, leva até o final essa resistência esdrúxula. Algumas cenas fazem até mesmo rir, de tão Teatro do Absurdo que são, mas o herói é sempre tratado como um personagem profundo e multifacetado, sem maniqueísmos ou saídas fáceis.
 
 
Curiosidade interessante é que em 1974, após sua rendição por ordem superior (aguardem por esta cena, ela é incrível!), Onoda veio morar no Brasil, na colônia agrícola de JAMIC, em Mato Grosso do Sul.  Na pré-estreia do filme, em São Paulo, alguns familiares do herói, falecido em 2014, estavam inclusive na plateia e um sobrinho-neto foi convidado a participar de um bate-papo após a exibição.

Nota: 9/10
 Trailer


Ficha Técnica 
  • Título original e ano: Onoda, 10 000 nuits dans la jungle, 2021. Direção: Arthur Harari. Roteiro: Bernard Cendron, Arthur Harari e Vincent Poymiro. Elenco: Yûya Endô, Kanji Tsuda, Yûya Matsuura. Nacionalidade: França, Japão, Alemanha, Bélgica, Itália, Camboja, 2021. Gênero: Aventura, Drama, Guerra. Distribuição: Imovision. Duração: 173min
Cinema adulto dos melhores, pois é daqueles filmes que acrescentam! Assistam e se impressionem com essa trágica, sensível e absurda história da II Guerra Mundial! 

HOJE NOS CINEMAS

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Não! Não Olhe!, de Jordan Peele


Em 1878, o fotógrafo inglês Eadweard Muybridge foi contratado por Leland Stanford, ex-governador da Califórnia e entusiasta de corridas de cavalo, para provar com imagens que um cavalo fica com as quatro patas em suspenso por um breve momento durante o galope. O cavalo, que se chamava Occident, estrelou o que se considera a primeira experiência com imagens em movimento que culminou nas tecnologias que se tornaram o cinema.

144 anos depois, essa história é bastante conhecida por quem se interessa por História do Cinema e conhecemos o nome até mesmo do cavalo usado para as fotografias. Mas nada sobre o jóquei que o guiou no experimento. O homem negro presente no nascimento do cinema teve seu nome esquecido e é visto como acessório do experimento, assim como o cavalo e as câmeras.


Em Não! Não Olhe!, Jordan Peele imagina o cinema como um todo a partir deste jóquei. OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer) são irmãos que precisam tocar o negócio da família depois da morte do pai em circunstâncias misteriosas. Os Haywood são descendentes diretos do jóquei (e o consideram a primeira estrela de cinema) e têm um rancho que cria cavalos dublês para produções de Hollywood. Enfrentando dificuldades financeiras depois da morte do pai, os irmãos também começam a perceber estranhos fenômenos no isolado rancho em que vivem. Depois de se convencerem que se trata de atividades alienígenas, eles decidem filmar os acontecimentos para vender as imagens para quem pagar melhor. E de quebra quem sabe entrar no showbiz.


Desde a primeira cena, Peele começa a construir o suspense que guiará o filme até seu último plano ao mostrar o ataque de um chimpanzé num estúdio de sitcom. Depois disso, acompanhamos a morte de OJ Haywood Sr. e alguns minutos depois, fenômenos assustadores no rancho da familia que levarão os irmãos a acreditarem na presença alienígena. O suspense é construído lentamente, o que pode aborrecer alguns espectadores, mas conduzido com maestria.

A ameaça desconhecida no lugar e a sequência inicial do chimpanzé nos dão pistas falsas, mesmo que estejamos vendo com nossos próprios olhos o desenrolar de tudo. E é aqui que o filme de Peele ultrapassa o bom encadeamento narrativo e de sensações, para elaborar o tema central do filme: o olhar.

O circuito (contra-)ideológico do longa é elaborado pensando em nossa relação com a mídia e, especialmente, com a imagem. O comentário que Peele vai construindo ultrapassa a crítica superficial que se poderia assumir, algo como “olhamos demais para as telas e estamos nos tornando fúteis em busca de fama”, e dispara diretamente à História da produção de imagens e como se tornaram ferramentas fundamentais para o prisma ideológico com o qual enxergamos o mundo.

Assim, não apenas as imagens, mas também os aparatos técnicos que as produzem, assumem posições políticas e posições nesse mercado do visível. Ao longo do filme nos deparamos com celulares, câmeras de circuitos de segurança, cinema digital, cinematógrafos manuais com película de celulóide, transmissões ao vivo, câmeras portáteis. Cada uma dessas ferramentas dá sua contribuição ao debate que o filme busca propor com suas características fundamentais em torno de um tema em comum.


Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano:  Nope, 2022. Direção e Roteiro: Jordan Peele. Elenco: Daniel Kaluuya, Keke Palmer, Steve Yeun, Brandon Perea, Michael Wincott, Wrenn Schmidt, Keith David, Devon Graye, Terry Notary, Barbie Ferreira. Gênero: Suspense. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Michael Abels. Fotografia: Hoyte van Hoytema. Figurino: Alex Boivard. Edição: Nicholas Monsour. Direção de Arte: Samantha Englender. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 02h10min.

Não! Não Olhe! é daquele tipo de filme que te remete a vários outros, dependendo apenas das referências próprias de cada espectador para a criação desses diálogos. Como todo grande filme, este conversa com toda a História do Cinema e podemos citar desde Sangue de Pantera (Jacques Tourneur, 1942) e o poder da sugestão dentro do cinema, e ir passando por Spielberg, Shyamalan, Carpenter e até mesmo Bacurau (Kleber Mendonça Filho, 2019). Mas a comparação mais direta, e mesmo assim interessante, é com Janela Indiscreta (Alfred Hitchcock, 1954). O clássico longa de Hitchcock marcou o cinema ao provar, através de sua linguagem e narrativa, a natureza voyeurística da sétima arte.

Mas Peele se utiliza da contribuição de Hitchcock não para atualizá-las às tecnologias contemporâneas, mas para avançar a partir dali. Justamente por vivermos imersos em telas, a diferença não se dá apenas no tempo de exposição entre os quase 70 anos que separam os dois filmes. Para Peele, a imagem, ou melhor, o tipo de imagens que produzimos hoje, é como organizamos nosso pensamento e nossas relações, sejam elas pessoais, profissionais, de consumo, ou de mercado.

O consumo pelo olhar é uma figura bastante presente no longa, sendo problematizado e comparado à caça, à predação do Outro. São temas muito presentes nas obras de escritoras e teóricas como Laura Mulvey e Bell Hooks, trazendo para o cinema mainstream discussões há tempos negligenciadas e elaborando respostas ao olhar branco e masculino dominante e que muitas vezes objetifica ou espetaculariza outros corpos. Não! Não Olhe! é um filme negro, mesmo que sua narrativa seja menos explícita do que nos longas anteriores do diretor.


O capitalismo do espetáculo exige que a visualidade nos impressione para que continuemos a olhar. A partir disso, o suspense também nos entrega Jupe Park (Steven Yeun), o vizinho dos Haywood e um ex-ator mirim que agora tem um parque temático de faroeste. O círculo de influências mútuas entre os elementos que constroem o filme está completo. A ideia de espetáculo volta a suas origens norte-americanas com o parque de atrações fantásticas para toda a família com jogos, apresentações ao vivo e lanchonetes. Mesmo que a experiência nesse tipo de parque não seja necessariamente ligada a imagens, era nesse tipo de lugar que se podia encontrar os nickelodeons, cabines individuais para ver imagens em movimento, muitas vezes pornográficas, no fim do século XIX e início do XX.

Além disso, o tema faroeste é outra clara indicação à história do cinema norte-americano, sendo este um dos gêneros mais populares da fase clássica da produção do país. O herói do faroeste clássico é o homem durão que precisa enfrentar as adversidades, sejam elas naturais, humanas ou institucionais, de forma assertiva e destemida. Ou seja, mais um elemento constituinte do imaginário estadunidense (e quase global através da hegemonia cultural conquistada com o imperialismo) que Peele também se debruça para investigar.

Jordan Peele estreia seu terceiro longa-metragem com um fôlego impressionante e com a certeza do que pensa sobre o fazer cinematográfico. O uso do som é importantíssimo aqui para o suspense e a sensação de espacialidade que advém da narrativa e dos planos sensacionais compostos em parceria com o fotógrafo Hoyte van Hoytema. As atuações são impecáveis e o roteiro é brilhante. Não! Não Olhe! deixa bastante claro o amadurecimento do diretor desde sua estreia em Corra! não apenas na elaboração de seus argumentos a respeito de raça, da cultura americana e do próprio cinema, mas também na condução de todos os elementos que constituem um filme, do roteiro ao corte final. Jordan Peele deixa clara sua ousadia e liberdade sobre esses elementos e toma, no plano final, o Cinema inteiro para si. Para nós que somos negros.

25 de Agosto nos Cinemas

domingo, 21 de agosto de 2022

Lara, de Jan-Ole Gester | Assista no Reserva Imovision


Estreia de Agosto na plataforma do Reserva Imovision, o drama alemão dirigido por Jan-Ole Gerster, Lara. O diretor, que iniciou seus estudos de roteiro e direção em 2003 na Academia de Cinema e Televisão em Berlim, teve sucesso de bilheteria já em seu primeiro filme intitulado “Oh, Boy”, em 2010.

Este segundo longa-metragem, Lara (2019, recebeu inúmeros prêmios, entre eles o Lola Awards, considerado o Oscar do país. O roteiro tem a assinatura do esloveno Blaz Kutin. Estão no elenco: Corinna Harfouch (Lara Jenkins), Gudrun Ritter (mãe de Lara), Tom Schilling (Victor Jenkins), Rainer Block (Paul Jenkins), Volkmar Kleinert (Prof. Reinoffer), entre outros.

Nas janelas, por um breve instante, há a sensação do fim próximo. Mas é apenas o dia começando. O dia em que Lara completa 60 anos de vida. Um dia especial. Ou, deveria ser. A trama irá então acompanhar todo o dia da mulher. Todas angústias e conflitos de uma vida inteira condensada no decorrer desse único dia e no evento mais que especial que ocorrerá à noite.

Uma abordagem muito interessante e notável. Ao observar como a aposentada trata vizinhos, familiares, desconhecidos, funcionários e ex- colegas de trabalho, já é possível traçar um perfil da personalidade difícil da protagonista.Não é de se estranhar ela estar solitária e deprimida em uma data tão significativa. Os poucos cumprimentos são recebidos com frieza e cara fechada. Lara carrega em suas memórias grandes traumas relacionados à sua própria mãe e a tentativa frustrada de se tornar uma pianista conceituada. A mulher nunca conseguiu ser quem ela gostaria. 
 

Um comentário infeliz de seu professor, o Sr. Reinoffer, a fez desistir de seu sonho. Ao reencontrar o homem, agora um idoso com lapsos de memória, o mesmo não se recorda, à princípio, da jovem aluna, menos ainda de seu comentário. Neste ponto, o roteiro aborda a importância e responsabilidade da docência em qualquer disciplina. O papel do professor é incentivar seus pupilos, não destruir seus sonhos. Lara tornou-se uma mulher amarga, crítica, antissocial, arrogante, controladora e transferiu seus traumas para a criação de seu filho Victor, um rapaz que ela mal conhece. Observando a mãe de Lara, percebe-se o mesmo comportamento crítico. O ciclo se repete. Vítima e algoz. Embora o pai do rapaz pareça mais companheiro do filho, apoiando e incentivando sua carreira, Victor tornou-se um rapaz inseguro e dependente da aprovação da mãe.
 
Na noite mais importante para ele, quando finalmente irá apresentar uma composição autoral, Lara faz duras críticas e o deixa em dúvida quanto a sua capacidade e talento. Não se trata da avaliação em si, mas da forma como é dita. Victor já estava ansioso e sensível, sua mãe deveria ter sido mais empática. Uma prova de que esta não acredita no sucesso do filho é que, mesmo sabendo que a lotação do teatro está praticamente esgotada, ela compra todos os ingressos remanescentes e fica tentando distribuí-los para estranhos. Mas, mães são humanas e falham também. O importante é encontrar tempo para confrontar os fantasmas do passado e perceber que, talvez, eles não deveriam ter tido a importância que lhes foi dado. Cabe a cada um carregar o peso do arrependimento ou dar um novo rumo à vida.
 
A performance forte da protagonista é perfeita, também espelho de um roteiro muito bem escrito e ainda melhor dirigido. A trilha sonora, com obras executadas ao piano, é estarrecedora.
 
Vale conferir esta super estreia de Agosto no Reserva Imovision ou no canal da Plataforma no Amazon Prime Video!! Não tem ainda? Assine! 

Trailer
 

Ficha Técnica
  • Título Original e ano: Lara, 2019. Direção: Jan-Ole Gerster. Roteiro: Blaz Kutin. Elenco: Corinna Harfouch, Gudrun Ritter, Tom Schilling, Rainer Block, Volkmar Kleinert, André Jung, Edin Hasanovic, Annika Meier. Gênero: Drama. Nacionalidade: Alemanha. Trilha Sonora Original: Arash Safaian. Fotografia: Frank Griebe. Edição: Guillaume Guerry e Isabel Meier. Design de Produção: Klaus-Dieter Gruber. Direção De Arte: Francis Kiko Soeder. Figurino: Anette Guther. Distribuição: Imovision. Disponível no Reserva Imovision e no Canal da Plataforma no Amazon Prime Video. Duração: 105 minutos
DISPONÍVEL NO RESERVA IMOVISION (clique aqui)

Serviço:

MODOS DE ASSINATURA

A plataforma RESERVA IMOVISION oferece duas modalidades:

• Assinatura – com acesso a todos os filmes da plataforma

• Aluguel – alugue qualquer título durante 72 horas, sem precisar ser assinante


PREÇOS

• Assinatura mensal: R$ 24,50

• Assinatura anual: R$ 245,00

Preço promocional de lançamento para a assinatura anual: R$ 211,68 – mais de 10% de desconto. O preço para assinatura pelo aplicativo varia de acordo com o sistema operacional.

COMO USAR

A RESERVA IMOVISION pode ser acessada pelo computador, por celulares e tablets com sistema operacional iOS ou Android e conta com função de espelhamento para SmartTV e Chromecast.

Também é possível acessar o aplicativo em Smart TVs com sistema Android TV (Sony, TCL, Philco, Philips); sistema Roku (AOC e Philips); dispositivos com sistema Android TV (TV Box, Mi TV Stick, Mi Box, entre outros), Roku Express e Apple TV.