Exibido em Cannes e vencedor de dezessete categorias em diversos outros festivais (como o Nashville Film Festival e a MOSTRA SP no último ano),
este é o primeiro longa-metragem da costa-riquenha/sueca Nathalie
Álvarez Mesén. Neste novo lançamento, filmado em uma pequena vila na
Costa Rica, temos belas cenas envolvendo o bioma local. A natureza é
enfocada a partir de um lugar afetivo e com ângulos bastante
interessantes. Vemos vários insetos de perto com a mesma importância que
observamos o correr das águas de um rio.
No papel principal, Wendy Chinchilla Araya vive Clara, uma mulher na
casa dos quarenta anos que possui uma deficiência intelectual, além de
uma má-formação na coluna que a faz andar levemente envergada. Sem
nenhum tipo de independência, vive com sua família em uma casa
localizada em uma vilazinha rural. Sua mãe, a matriarca Dona Fresia,
controla tudo e todos na residência. E sob seus comandos, todos os
demais também controlam Clara.
A protagonista é tratada como uma criança, sem permissão ou espaço para desenvolver sua sexualidade e identidade - o que seria danoso mesmo na infância. Os parentes tomam decisões em seu lugar. Desde o que irá vestir e como vai usar o cabelo até se irá ou não realizar uma cirurgia para tratar sua coluna. O nível de deficiência da mulher não justifica tal tratamento. Clara é um pouco infantilizada e tem seus problemas com interações sociais. Mas definitivamente tem suas opiniões, preferências, afetos, passatempos e um discernimento que poderia muito bem garantir que tivesse sua própria vida.
A forma como a religião é vivida na vila ajuda a formar essa gaiola em que vive Clara. Uma católica estrita, Dona Fresia (Flor María Vargas Chavez), tem imagens de santos por toda a casa e mantém uma cabana em seu terreno onde promove encontros religiosos. O centro desses eventos é Clara, que todos acreditam ser uma enviada de Deus e mensageira da Virgem Maria, capaz de curar doenças e aflições. Mas se ora Clara é essa figura messiânica e sagrada, ora é tratada como uma pecadora que deve ser punida por seus comportamentos pecaminosos - quase sempre ligados à exploração de sua sexualidade.
A principal companhia da protagonista é sua sobrinha Maria, uma adolescente prestes a completar quinze anos. É ela sua confidente, com quem assiste as novelas que gosta e quem a veste, banha e penteia seus cabelos. De tanto conviver com Maria e acompanhar de perto seu desabrochar, Clara pega carona no processo, uma vez que nunca teve o seu. Contudo, a transição de Maria para a maturidade é esperada e celebrada. Já a de Clara lhe é negada. É esperado dela que permaneça para sempre dependente e infantil.
Nesse meio tempo, um jovem trabalhador chega para substituir temporariamente um velho conhecido que presta serviços para a família de Dona Fresia. Santiago (Daniel Castañeda Rincón), o rapaz, passa a frequentar o terreno em que vivem as moças várias vezes por semana e desperta nas duas uma sensação nova.
A principal companhia da protagonista é sua sobrinha Maria, uma adolescente prestes a completar quinze anos. É ela sua confidente, com quem assiste as novelas que gosta e quem a veste, banha e penteia seus cabelos. De tanto conviver com Maria e acompanhar de perto seu desabrochar, Clara pega carona no processo, uma vez que nunca teve o seu. Contudo, a transição de Maria para a maturidade é esperada e celebrada. Já a de Clara lhe é negada. É esperado dela que permaneça para sempre dependente e infantil.
Nesse meio tempo, um jovem trabalhador chega para substituir temporariamente um velho conhecido que presta serviços para a família de Dona Fresia. Santiago (Daniel Castañeda Rincón), o rapaz, passa a frequentar o terreno em que vivem as moças várias vezes por semana e desperta nas duas uma sensação nova.
A entrada do elemento Santiago cresce narrativamente porque ele é o único que enxerga Clara enquanto pessoa. Maria tem muito carinho por ela, interage por vezes como se fosse sua irmã mais velha. No entanto, ainda está subordinada aos mandos e desmandos da avó, assim como está contaminada pela visão desta sobre a tia. Já Santiago faz questão de escutá-la, presta atenção no que ela gosta, do que ela ri. O encontro com ele dá a ela abertura a toda uma subjetividade que antes tinha que guardar para si, pois como PCD, esse direito lhe era silenciado.
Clara Sola é um retrato de uma individualidade aprisionada em processo de soltura. Pouco a pouco, o filme vai revelando seu realismo fantástico de uma forma deliciosa de acompanhar. Seu tom bucólico poderia pender para o entediante, mas não cai nesta armadilha. A despeito do ritmo mais lento, o poder de imersão da narrativa intimista e naturalista logo causam pequenas identificações que tragam o espectador para dentro da experiência. É uma obra que incendeia para depois aliviar-nos imergindo em águas profundas.
Clara Sola é um retrato de uma individualidade aprisionada em processo de soltura. Pouco a pouco, o filme vai revelando seu realismo fantástico de uma forma deliciosa de acompanhar. Seu tom bucólico poderia pender para o entediante, mas não cai nesta armadilha. A despeito do ritmo mais lento, o poder de imersão da narrativa intimista e naturalista logo causam pequenas identificações que tragam o espectador para dentro da experiência. É uma obra que incendeia para depois aliviar-nos imergindo em águas profundas.
Trailer
Ficha Técnica
Título Original: Clara Sola, 2021. Direção: Nathalie Álvarez Mesén. Roteiro: Nathalie Álvarez Mesén, Maria Camila Arias. Elenco: Wendy Chinchilla Araya, Ana Julia Porras Espinoza, Daniel Castañeda Rincón, Flor María Vargas Chavez, Laura Román Arguedas. Gênero: Drama. Nacionalidade: Suécia, Costa Rica, Bélgica, Alemanha, França, EUA. Fotografia: Sophie Winqvist. Edição: Marie-Hélène Dozo. Direção de Arte: Amparo Baeza. Trilha Sonora: Ruben de Ghaselle. Distribuição: Imovision. Duração: 106 minutos.
11 de Agosto nos Cinemas
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