A admiração é a base do documentário “Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu”, do jornalista, roteirista e, agora, diretor Carlos Jardim. Fã apaixonado de Maria Bethânia, a quem define como “um farol de lucidez na cultura brasileira”, Jardim idealizou um projeto transmídia que, além do documentário, inclui também o livro “Ninguém Sabe Quem Sou Eu (a Bethânia Agora Sabe!)” para celebrar os quase 60 anos de carreira de seu ídolo. A ambiciosa proposta de criar não uma, mas duas obras que se complementam entre si diz muito sobre o tamanho do fascínio de Jardim sobre a artista.
O filme consiste num íntimo depoimento de Maria Bethânia, com inserções de imagens de arquivo de apresentações da cantora e narrações pontuais da atriz Fernanda Montenegro lendo trechos de textos que exaltam o impacto de Bethânia e sua arte na cultura brasileira. Em sua fala, a irmã de Caetano Veloso relembra sua trajetória, o amor pela mãe, colaborações marcantes, reflete sobre Política e a importância que a fé teve e continua tendo em sua vida. Bethânia também fala sobre a influência que a Literatura tem em seu trabalho e celebra seus ídolos, um reflexo da admiração do próprio Jardim por ela.
Créditos: Divulgação
Em sua forma, o documentário se despe da complexidade ousada do projeto-paixão de Jardim. Esteticamente, por vezes chega a lembrar um programa de TV, não almejando adotar a linguagem cinematográfica como parte de sua narrativa. Tal simplicidade pode incomodar em alguns momentos, sobretudo levando em consideração outros documentários que também têm Bethânia como protagonista. Contudo, o minimalismo plástico escolhido pelo diretor se justifica pela concepção pessoal que o filme apresenta em seu desdobrar. É através do tom de conversa intimista que Jardim extrai da cantora relatos leves e cheios de vida, assim como, por exemplo, o drama de ter sido perseguida durante a Ditadura Militar, por ser considerada subversiva e “nociva” ao Brasil (ao que Bethânia compara como a classe artística é tratada no Brasil do início dos anos 2020). “A Arte é a salvação, não só do Brasil como do mundo”, diz ela.
Teaser Trailer
Ficha Técnica
- Título original e ano: Maria - Ninguém Sabe Quem Eu Sou, 2022. Direção, Roteiro e Argumento: Carlos Jobim. Supervisão de Pesquisa: Luciana Savaget. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Brasil. Produção: Turbilhão de Ideias. Coprodução: Globo Filmes, GloboNews, Canal Brasil, Noticiarte Produções. Distribuição: Arteplex Filmes. Duração: 100min.
O documentário não visa se aprofundar na biografia da cantora, talvez ciente da quantidade de outras obras que fizeram isso antes. Ao invés disso, Jardim aproveita de seu olhar de admiração para acessar sua musa e protagonista de forma informal e despreocupada, trazendo quase um tom de segredo para o relato registrado para o filme. Bethânia sempre foi mostrada como uma força da natureza, uma entidade inigualável, e a perspectiva de fã com que o diretor conduz o longa pode até seguir este viés em alguns momentos. Mas parte do sucesso e do diferencial de Jardim em seu projeto é justamente tentar humanizar a figura mitológica objeto de sua adoração, ao mesmo tempo homenageando e desconstruindo. O filme é como uma espiadela pela fechadura, proporcionando momentos preciosos e impagáveis, como a artista comentando sobre sua preferência por microfones com fio ou cena de bastidores na qual Bethânia reclama de falhas técnicas durante um ensaio com sua banda.
Créditos: Divulgação
Maria Bethânia em cena de ''Maria - Ninguém Sabe Quem Eu Sou''
Se “Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu” não se destaca por seu esmero técnico, o mesmo não pode ser dito sobre seu conteúdo: o longa documental usa muito bem a estrela que se propõe a retratar e pega emprestado de Bethânia a grandeza que vem daquilo que parece banal, mundano.
01 DE SETEMBRO NOS CINEMAS
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