Lá
se vão quase trinta e cinco anos desde o lançamento de ‘O Predador’, filme no qual o
icônico caçador alienígena de dreads dividia a tela com o autor austríaco Arnold Schwarzenegger. Hoje
é considerado um clássico, exaltado por sua narrativa simples que mistura Ação,
Ficção Científica e Horror, com ótimos efeitos visuais e fortes cenas de
violência gráfica. As sequências que garantiram a sobrevida do
personagem-título no Cinema, contudo, não conquistaram o mesmo entusiasmo nem do
público, nem da crítica. Os três capítulos seguintes da franquia (assim como os dois
filmes do crossover ‘Alien vs. Predador’) tiveram recepção de morna a indiferente
e nunca chegaram a fazer jus ao legado do original. Parecia que o Predador não
tinha nenhum motivo para voltar aos holofotes. Pelo menos não até agora.
O
diretor Dan Trachtenberg, conhecido pelo ótimo ‘Rua Cloverfield 10 (leia textoaqui)’, pode se
gabar por ser o responsável pela 1ª sequência genuinamente boa da franquia
‘Predador’. Talvez parte do segredo esteja na perspectiva. Ao invés de imaginar
mais uma continuação possível para uma história já saturada, a escolha em ‘O
Predador: A Caçada’ é ir no caminho oposto.
Em
1719, nas Grandes Planícies da América do Norte, uma jovem nativa indígena do
povo Comanche chamada Naru (Amber Midthunder) almeja se tornar uma grande
caçadora. Aliando seus conhecimentos sobre técnicas de cura e sua vocação para
reconhecer rastros e caçar, Naru desenvolve sua própria estratégia de caça, que
a coloca em pé de igualdade com seu irmão, Taabe (Dakota Beavers). Mas a jovem
não contava com a chegada de um caçador nato de origem extraterrestre igualmente
interessado em realizar uma caçada no mesmo território.
‘O
Predador: A Caçada’ já é bem-sucedido desde sua proposta. Após mais de 3
décadas de continuações que soavam mais do mesmo, realizar algo original e
empolgante parecia algo quase impossível, mas o roteiro de Patrick Aison,
baseado em conceito idealizado por ele e Trachtenberg, consegue ir além.
Somando-se isso à direção acertada de Trachtenberg, que cria potentes cenas de
ação e uma atmosfera repleta de tensão, temos uma grande combinação. Existe
aqui uma boa criação de universo e desenvolvimento de personagens, ainda que a
simplicidade da história possa fazer parecer tal construção um tanto
superficial ou apressada. Ainda assim, o primeiro ato do longa consegue estabelecer
muito bem a ambientação da história e o porquê o público deveria se importar
com as personas que vivem nela. A ótima contextualização histórica por trás da
trama aumenta o grau de imersão e cria um vínculo do público com Naru e seu
povo. De modo que quando colonizadores brancos surgem no território do povo
Comanche, não exista nenhuma dúvida de quem são os reais vilões.
Com
ótimas atuações de seu elenco composto majoritariamente por intérpretes
indígenas estadunidenses, ‘O Predador: A Caçada’ prova que não é necessário um
elenco estelar com rostos conhecidos escolhidos por um algoritmo para se criar
uma obra impactante e que chame a atenção do público. Ainda que se trate de
outro capítulo de uma franquia há décadas na cultura Pop, o longa de Dan
Trachtenberg encontra sucesso ao partir não da necessidade mercadológica de se
manter viva uma propriedade intelectual, mas de se contar uma boa história e
criar grandes cenas. Este é o respiro criativo que a saga ‘O Predador’ tanto
buscava ter por todos esses anos, mas nunca havia alcançado êxito até agora.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Prey, 2022. Direção: Dan Trachtenberg. Roteiro:Patrick Aison
- com arguementos de Aison e Trachtenber baseados nos personagens originais de Jim Thomas e John Thomas. Elenco: Amber Midthunder, Dakota Beavers, Dane DiLiegro, Stormee Kipp, Michelle Thrush, Julian Black Antelope, Stefany Mathias, Bennett Taylor, Mike Paterson, Nelson Leis. Gênero: Ação, Aventura, Drama. Nacionalidade: Estados Unidos da América.
Trilha Sonora Original: Sarah Schachner. Fotografia: Jeff Cutter. Edição: Claudia Castello e Angela M. Catanzaro. Supervisor de Direção de Arte: Kendelle Elliott. Figurino: Stephanie Portnoy Porter. Produção: 20th Century Disney e Hulu. Distribuição: Disney e Hulu. Duração: 01h39min. Disponível no STAR+
E
isso não significa que ‘O Predador: A Caçada’ seja um filme isento de falhas. O
ritmo do longa frequentemente empaca e o segundo ato por vezes carece de substância,
soando em algumas cenas como um mero prelúdio para a conclusão. Mas, mesmo
assim, este prequel consegue horrorizar e cativar um público cada vez mais
exigente e desconfiado a respeito das obras que consome. Na guerra entre
monopólios multiculturais que lutam para alimentar o público com uma dieta
pobre em nutrientes através de filmes genéricos e insossos, ‘O Predador: A
Caçada’ é um banquete dos bons.
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