O Vigário, de Tito Jara | V Mostra de Cinema Latino-americano e Caribenho


O Equador não é um país de tradição cinematográfica tão marcante na história do cinema. A natureza industrial da sétima arte faz com que grandes quantidades de dinheiro sejam não apenas um facilitador, mas quase um pré-requisito para a produção de um filme. Dessa forma (e provavelmente outros milhares de motivos, como a quantidade de pessoas que mora aqui), o Brasil acaba sendo o maior produtor de filmes da América do Sul.

Mas mesmo no Brasil encontramos enormes desigualdades em relação ao acesso que diferentes regiões e perfis de produtores conseguem ao maquinário cinematográfico. É impossível esperar produções equivalentes saindo de São Paulo e do Maranhão. Essa discrepância acontece em maior escala se compararmos o cenário internacional.

É sob esta realidade que O Vigário rodou o mundo em mostras e festivais. O vigário do título é Antanacio de Felicci, um golpista especializado nos assuntos relacionados à fé. Devendo um grupo de agiotas e passando por um momento de baixa nos negócios, Antanacio descobre o caso de Gema, uma menina santa. Os pais da garota, Nela e Carlos, largaram tudo para que Gema pudesse seguir fazendo seus milagres e curando a comunidade sob a taxa de um dólar por visita. Antanacio vê então a oportunidade de um negócio como nenhum outro que já participou, só precisa agora convencer a família de sua ideia.


A premissa inicial do longa é bastante interessante por trazer os riscos e ansiedades da vida do crime para o que seria um filme thriller, além de identificar pontos marcantes da sociedade equatoriana — e latino-americana em boa medida — com suas mazelas sociais e uma fé católica igualmente inabalável e elástica, uma vez que Gema e muitos desses casos de curandeiros populares são adorados fora da institucionalidade da Igreja Católica. Novas formas de expressar a fé são criadas em nosso continente juntando todas as misturas que somos capazes de fazer.

Antanacio também é um personagem que vai se mostrando cada vez mais interessante ao longo da trama. É difícil torcer para ele e o longa tenta jogar com as ambiguidades que surgem ao se retratar um estelionatário, especialmente um que sugere negócios escusos relacionados à crença de pessoas menos favorecidas. E é aqui que O Vigário começa a se perder.

Trailer Internacional


Ficha Técnica
Título original e ano: El Rezador, 2022. Direção e Roteiro: Tito Jara. Elenco: Andres Cresco, Carlos Valencia. Trilha Sonora Original: Sebastián Escofet e Daniel Sais. Fotografia: Carlos de Miguel. Edição: Carlos Tribiño Mamby. Direção de Arte: Nicolas Platonoff. Produção: Atefilms, El Médano Producciones, HotelB Filmes, Radio Television Española (RTVE). Duração: 01h 36min.

O cinismo do protagonista o leva a um perfil de personagem muito comum no cinema latino-americano, o cara durão que sabe mais que todo mundo. Mas a escolha acaba se bastando apenas pelo clichê, algo que se alastra por todas as partes do filme. Os comentários sociais que julga fazer não saem da superficialidade e as implicações pessoais dos envolvidos numa história tão extraordinária (uma menina santa e muito dinheiro) são exploradas apenas através de Antanacio e de maneira que vai tirando do personagem tudo que ele vinha construindo ao longo da narrativa.

A superficialidade com que trata os temas escolhidos não é algo ruim por definição, mas no caso de O Vigário faz com que tudo se anule. Nem os temas grandes são bem trabalhados, nem o drama cinematográfico e o suspense que tenta impor em alguns momentos se realiza. Mesmo conduzindo bem a história e suas personagens por boa parte de sua duração, a película realmente parece mais preocupada em entregar suas cenas de tensão e violência sob uma fórmula pré-definida e vai deixando a coerência de lado à medida que avança.

Bastidores de gravação de O Vigário

O Vigário é um filme de muitos altos e baixos, todavia que se perde nas escolhas de tom que conduz suas ideias. Mas de certa maneira, alcança o que almeja enquanto produto para consumo doméstico no Equador e internacional tanto em festivais quanto no streaming - tornou-se o primeiro filme do país a ingressar no catálogo europeu da HBOMax. Assim, O Vigário precisa ser visto sob o olhar de que este é uma importante peça para o caminho trilhado a partir daqui para o cinema equatoriano e latino americano.

A produção foi exibida na V Mostra de Cinema Latino-americano e Caribenho, no Cine Brasília, é realizado com o apoio de diversas Embaixadas, entre elas a do Equador. As sessões se iniciaram em 04 de agosto e vão até dia 13 de agosto.

Serviço:

V Mostra de Cinema Latino-americano e Caribenho

  • Quando: de 4 a 13 de agosto
  • Local: Cine Brasília - entrequadra 106/107 - Asa Sul
  • De graça

Escrito por Marisa Arraes

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