Super estreia desta semana, o drama de guerra Onoda – 10 Mil Noites na Selva tem as melhores referências possíveis. Ganhador de dois Prêmios no Seville European Film Festival, Melhor Roteiro e escolha do Grande Juri,levou também Prêmio pelo roteiro no Cesar Awards e Prêmio do Público de Melhor Filme da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ademais, o filme foi selecionado para a abertura da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2021 e impressiona pela potência da trama que evidencia em suas três horas de duração. Acaba sendo assim um drama de guerra adulto e sensível, baseado na vida do herói nacional japonês Hiroo Onoda, o penúltimo combatente da II Guerra Mundial.
O roteiro, assinado por Bernard Cendron,Vincent Poymiro e Arthur Harari, relata a vida deste soldado que, imbuído dos ensinamentos militares de seu comandante do setor de inteligência do Exército Imperial Japonês, não se rende às forças americanas que invadem uma ilha das Filipinas e, junto com alguns poucos subordinados inicialmente, passa dez mil noites na selva, recusando-se a reconhecer que o Japão havia perdido a guerra e se rendido aos Estados Unidos. Essa resistência ininterrupta às adversidades deram a Onoda o status de herói nacional nipônico.
O diretor francês Arthur Harari faz um recorte muito delicado e profundo desse personagem tão enigmático, figura real que se soma à galeria de combatentes enlouquecidos pela guerra e alguém que poderia muito bem estar figurando entre os personagens fictícios de Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola. Como já alertou Goya na sua famosa pintura, “o sono da razão produz monstros”, mesmo que estes sejam tão humanos como nós. Tal humanidade é muito bem delineada no excelente roteiro. E a história desse jovem desajustado que passa por uma verdadeira lavagem cerebral no exército e que, acreditando no seu Japão imperial e na vitória iminente, por trinta longos anos embrenha-se na selva e causa muito sofrimento a si mesmo, aos seus subordinados e à população filipina da ilha, num trabalho incessante de guerrilha e sabotagem. Mesmo com o completo absurdo da situação, Onoda não é mostrado de maneira caricata, sentimos ali um rapaz idealista que, enganado por um exército manipulador, leva até o final essa resistência esdrúxula. Algumas cenas fazem até mesmo rir, de tão Teatro do Absurdo que são, mas o herói é sempre tratado como um personagem profundo e multifacetado, sem maniqueísmos ou saídas fáceis.
Curiosidade interessante é que em 1974, após sua rendição por ordem superior (aguardem por esta cena, ela é incrível!), Onoda veio morar no Brasil, na colônia agrícola de JAMIC, em Mato Grosso do Sul. Na pré-estreia do filme, em São Paulo, alguns familiares do herói, falecido em 2014, estavam inclusive na plateia e um sobrinho-neto foi convidado a participar de um bate-papo após a exibição.
Nota: 9/10
Trailer
Ficha Técnica
- Título original e ano: Onoda, 10 000 nuits dans la jungle, 2021. Direção: Arthur Harari. Roteiro: Bernard Cendron, Arthur Harari e Vincent Poymiro. Elenco: Yûya Endô, Kanji Tsuda, Yûya Matsuura. Nacionalidade: França, Japão, Alemanha, Bélgica, Itália, Camboja, 2021. Gênero: Aventura, Drama, Guerra. Distribuição: Imovision. Duração: 173min
Cinema
adulto dos melhores, pois é daqueles filmes que acrescentam! Assistam e se
impressionem com essa trágica, sensível e absurda história da II Guerra
Mundial!
HOJE NOS CINEMAS
0 comments:
Postar um comentário
Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)