A pandemia que nos abateu em 2020 e perdurou, pelo menos no Brasil, quase até agora, isto se tiver mesmo acabado, atrasou não só o andamento de nossas vidas como o lançamento de inúmeras produções cinematográficas. O drama Predestinado: Arigó e o espírito do Dr. Fritz (A Dangerous Practice), dirigido pelo conhecido diretor e jornalista brasileiro Gustavo Fernandez (A Cura) estava previsto desde novembro de 2019 para chegar as salas de cinema em 18 junho de 2020 e tem só agora aval para debutar.
Baseado em uma história real, a obra tem roteiro original assinado por Jaqueline Vargas, que pautou seus escritos em uma longa e minuciosa pesquisa de campo, entrevistas com familiares e pessoas que conviveram com Arigó e também em uma extensa fonte de informações coletadas em arquivos, revistas da época, livros, tendo como um dos principais pilares a obra do escritor e jornalista americano John G. Fuller - “Arigó e o espírito do Dr. Fritz”, publicado em bananaland pela Editora Pensamento.
O elenco estelar tem como protagonista o ator Danton Mello (Arigó), Juliana Paes (Arlete), Alexandre Borges (Senador Lúcio Bittencourt), James Faulkner (Dr Fritz), Marcos Caruso (Padre Anselmo), Cássio Gabus Mendes (Cícero), Marcos Ricca (Juiz Barros), João Signorelli (Chico Xavier), entre outros.
O filme se inicia com uma cena bem impactante, que pode chocar aquele público pouco familiarizado com a história da personagem e as práticas abordadas. Sendo assim, faz-se necessário situar a obra. José Pedro de Freitas, um dos oito filhos de um sitiante, nasceu entre os anos de 1921 ou 1922, a alguns quilômetros da cidade de Congonhas do Campo, em Minas Gerais. Devido aos poucos recursos da família, o garoto cursou somente até a 3° série do Ensino Fundamental. Aos 14 anos começou a trabalhar na Cia de Mineração, onde recebeu o apelido que o acompanharia vida afora, Arigó, que é uma gíria para “ingênuo, matuto” e também como eram chamados os trabalhadores que construíam estradas de ferro e engenhos. Aos 25 anos casou-se com sua prima de 4° grau, Arlete André, com quem teve seis filhos: José Tarcísio, Haroldo, Eri, Sidney, Leôncio Antônio e Leonardo José.
Créditos: Divulgação
Por volta de 1950, Arigó começou a ter insônia, fortes dores de cabeça, visões de luzes brilhantes e a ouvir uma voz em um idioma que ele não compreendia. Essa sensação de loucura durou aproximadamente 3 anos, tendo levado o rapaz a procurar a ajuda de médicos e especialistas, sem sucesso. A família extremamente religiosa, recorria ao pároco da cidade, Padre Anselmo, que chegou a realizar sessões de exorcismo. Todas essas informações serão apresentadas no decorrer da narrativa na forma de flashbacks e insights, entregando ao público uma trama de mistério e descobertas, o que dá ao longa uma roupagem de entretenimento, sem pender para o lado doutrinário.
Conta sua biografia que Arigó passou a temer dormir no escuro e que certa vez teve um sonho com um homem calvo, trajando roupas antigas e jaleco, que se identificou como sendo o médico alemão Dr. Adolf Fritz, falecido durante A Primeira Guerra Mundial, antes de encerrar sua missão de vida. Mesmo sem entender o idioma, Arigó intuiu que ele seria o escolhido para auxiliar o médico a cumprir sua obra. Arigó lembrou-se de um antigo crucifixo que o acompanharia em sua empreitada.
Levando-se em conta que nos anos 50 os fenômenos paranormais ainda eram tidos como “obra do demônio” e estando o jovem Arigó em uma pequena cidade conhecida por sua tradicional religiosidade católica, é possível entender as dúvidas e incertezas vividas pelo médium. Arigó foi alvo de críticas e descrença, ao mesmo tempo que tornou-se a única esperança de salvação e cura para aqueles a quem atendia sem nada cobrar. Acusado de curandeirismo, foi condenado e preso, e mesmo no cárcere não deixou de ajudar seu próximo.
Créditos: Divulgação
“Arigó foi um homem iluminado e que salvou
milhares e milhares de pessoas. Ele foi para algumas gerações,
principalmente nos anos 50 e 60, uma pessoa muito importante, pois foi o
primeiro a fazer cirurgias espirituais. Com esse filme vamos poder
deixar registrado todo o trabalho que ele fez, sua vida difícil e o bem
que fez para tanta gente”, conta Danton Mello.
O filme transmite muito bem as angústias e medos do jovem que muitas vezes entrava em transe e realizava cirurgias complexas com objetos rudes, sem nada lembrar depois. Danton Mello está excepcional no papel, que na realidade são duas personagens, já que o pacato mineiro Arigó assume uma personalidade forte e enérgica ao ser incorporado pelo Dr. Fritz. Danton transmite na postura e no olhar essas mudanças.
Ao seu lado estava sempre sua fiel esposa Arlete, muito bem interpretada por Juliana Paes. Arlete foi o pilar de sustentação da vida do médium e apesar de ter crenças divergentes do trabalho realizado por Arigó, inicialmente em sua casa e mais tarde no Centro Espírita Jesus de Nazareno, jamais lhe negou apoio e amor incondicional, muitas vezes assumindo o sustento da família com seus trabalhos como costureira.
A narrativa irá mostrar detalhes dos trabalhos surpreendentes realizados por este que foi o pioneiro no campo da cura e cirurgia espiritual no Brasil. Seus tratamentos tomaram proporção internacional, atraindo a atenção de estudiosos da área, como o americano Henry Puharich, que também foi curado por ele. Dentre os milhares de casos, destaca-se a cura do câncer de pulmão do Deputado Lúcio Bittencourt. E as cenas são bem impressionantes. Arigó também vivia o dilema de curar tantos e não poder curar seus próprios filhos. Ele chegou a receber orientação espiritual do próprio Chico Xavier, aliás a cena mais emocionante do filme. Prepare os lencinhos!
Créditos: Divulgação
O cenário foi totalmente reconstruído e incluem belas imagens da cidade de Congonhas e da fachada do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, com as figuras dos profetas de Aleijadinho. São imagens de encher os olhos. O filme, inclusive foi rodado em Congonhas, cidade natal do médium, Cataguases e Rio Novo, em Minas Gerais.
A trilha sonora, embora um tanto quanto na linha do suspense, cumpre sua função de auxiliar no fluxo da história e potencializar os sentidos transmitindo a carga emocional de cada cena. Atente para a cena do acidente que ceifou a vida da personagem. É de tirar o fôlego.
A trilha sonora, embora um tanto quanto na linha do suspense, cumpre sua função de auxiliar no fluxo da história e potencializar os sentidos transmitindo a carga emocional de cada cena. Atente para a cena do acidente que ceifou a vida da personagem. É de tirar o fôlego.
Trailer
Ficha Técnica
- Título original e ano: Predestinado: Arigó e o Espirito do Dr. Fritz, 2022. Diretor: Gustavo Fernandez. Roteirista: Jaqueline Vargas - baseado no livro homônimo de John G. Fuller. Elenco: Danton Mello, Juliana Paes, Marcos Caruso, Alexandre Borges, Marco Ricca, Cássio Gabus Mendes, João Signorelli, James Faulkner. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Uli Burtin. Direção de Arte: Antônio de Freitas. Trilha Sonora Original: Gus Bernardo. Produtor: Roberto d’Avila, Fabio Golombek e James Guyer. Produtoras: Moonshot Pictures, FJ Produções e The Calling Production. Coprodutoras: Paramount Pictures e Camisa Listrada BH. Distribuidora: Imagem Filmes. Duração: 01h48min.
O roteiro foca no drama do homem, em seu conflito interior diante daquilo que não tinha explicação, sem se prender unicamente ao viés religioso o que torna a trama interessante, cumprindo o papel de situar historicamente uma figura que deve ser lembrada e conhecida pelas gerações mais jovens.
Um homem que desafiou a ciência realizando fenômenos até hoje sem explicação. E mais que isso, Arigó foi um símbolo de amor ao próximo, caridade e altruísmo, que cumpriu com fé aquilo que julgava como sua missão de vida, provando que “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha sua vã filosofia”!!
Um homem que desafiou a ciência realizando fenômenos até hoje sem explicação. E mais que isso, Arigó foi um símbolo de amor ao próximo, caridade e altruísmo, que cumpriu com fé aquilo que julgava como sua missão de vida, provando que “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha sua vã filosofia”!!
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