Moonage Daydream, de Brett Morgen | Assista nos Cinemas


Quando uma cinebiografia deixa de ser apenas uma cinebiografia e se torna algo mais? Provavelmente este foi o ponto de partida do diretor (e roteirista e produtor e montador!) Brett Morgen para criar um filme sobre o cantor britânico David Bowie. A proposta do cineasta era pular de cabeça no extenso material de arquivo do acervo pessoal da família do icônico artista, falecido em 2016, e criar uma experiência imersiva que não fosse simplesmente um documentário convencional, tendo em vista que o próprio Bowie não poderia ser definido como convencional. Esta premissa artisticamente ambiciosa fez com que a família do cantor autorizasse o acesso do diretor a incontáveis horas de gravações inéditas, depoimentos e obras de arte do astro. A aposta era alta, mas Morgen não decepciona. 


Já conhecido por cinebiografias, em especial o documentário sobre o vocalista da banda Nirvana, Kurt Cobain, ‘Cobain: Montage of Heck’, Morgen constrói uma viagem envolvente cheia de cores e reflexão para relembrar a trajetória do artista camaleônico que influenciou tantas gerações e que continua a fascinar e assombrar o público mesmo após sua morte. Para transpor a grandiosidade de Bowie para as telas, Morgen não se intimida diante de seu protagonista, dissecando aspectos de sua personalidade e as muitas personas às quais ele deu vida durante seus mais de 50 anos de carreira. 
 
Moonage Daydream’ intercala entrevistas públicas e declarações íntimas de Bowie com explosivas performances ao vivo que nunca haviam sido disponibilizadas ao público antes, entrecortadas por inúmeras fotografias do artista e trechos de filmes que influenciaram a obra do músico britânico. Tal fórmula, contudo, é orquestrada nunca por um molde óbvio ou gratuito. Cada escolha de do diretor parece ser muito bem planejada, e a forma como tais materiais são inseridos no longa faz tudo soar como novidade. As imagens hiper-saturadas e febrilmente coloridas dão ares de sonho vívido às lembranças da trajetória do cantor, matizando ao extremo até mesmo cenas originalmente monocromáticas. Morgen vai muito além de retratar e se permite criar junto com Bowie, ousando se permitir intervenções de formas e cores que trazem ainda mais vida à psicodélica presença da figura excêntrica que se propõe a biografar.

 

O longa não se aprofunda muito nas relações interpessoais do músico, dando mais destaque à aparente mística e sedução que o artista despertava e como suas questões existenciais e momentos históricos da sociedade se refletiam em seu trabalho. Por vezes, ‘Moonage Daydream’ opta por usar falas de fãs de Bowie para descrever o deslumbramento que a esfinge andrógina que este último era e despertava nas pessoas. Tal mistério era mantido através do espalhafatoso estilo do cantor, que segundo ele próprio era um mecanismo de defesa para que o público não conhecesse sua real natureza, uma forma de ficar oculto na exposição da mídia. O filme embarca numa aventura contemplativa para analisar o próprio Bowie através das eras de sua carreira, e como sua arte foi admirada, questionada e diminuída e imortalizada ao passar das décadas.
Tecnicamente, não existe aspecto em ‘Moonage Daydream’ digno de qualquer reclamação. As cenas nitidamente remasterizadas com tanta energia e profundidade logo dão lugar a imagens granuladas envelhecidas pelo tempo, numa sucessão de escolhas charmosas e de bom gosto, coroadas pela impecável engenharia de som que traz ainda mais vivacidade e poder a canções já tão vivas e poderosas. Morgen e sua equipe exploram todo o potencial artístico dentro da narrativa simples, porém efetiva, que o filme se propõe. Com cores, caos e vulnerabilidade, o documentário convida o público a conhecer, relembrar e celebrar a revolução que David Bowie causou na cultura. O resultado é uma experiência artisticamente sensível e rica que cativa, instiga e, acima de tudo, faz jus ao legado de Bowie. Um show! 


Com cores, caos e vulnerabilidade, ‘Moonage Daydream’ convida o público a conhecer, relembrar e celebrar a revolução que David Bowie causou na cultura. O resultado é uma experiência artisticamente sensível e rica que cativa, instiga e, acima de tudo, faz jus ao legado de Bowie. Um show!

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Moonage Daydream, 2022. Direção, Roteiro e Edição: Brett Morgan. Elenco: David Bowie. Gênero: Musical, biografia. Nacionalidade: Alemanha, Estados Unidos da América. Supervisor de Som, Designer de Som e Editor musical: John Warhurst. Produtoras: BMG, Live Nation Productions, Public Road Productions. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 2h11min.
O filme terá vida especialmente na SEMANA DO CINEMA, que ocorre do dia 15 a 21 de Setembro, a preço único de 10R$ em diversas redes. Imperdível!

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Escrito por Petterson Costa

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