De tempos em tempos, uma produção cinematográfica ganha atenção do público e da mídia mais devido às polêmicas de seus bastidores do que necessariamente pelo conteúdo da obra em si. As notícias sobre as filmagens de ‘Apocalypse Now , ‘Mad Max: Estrada da Fúria’ e ’Liga da Justiça’, por exemplo, ganharam os holofotes e mantiveram o público morbidamente entretido com especulações a respeito de como as atribulações por trás das câmeras viriam a afetar o produto final visto em tela. Este ciclo já é conhecido na indústria do Cinema e foi responsável por edificar muita fofoca, mas também por destruir carreiras em ascensão ou já consolidadas. Mas não há registro recente de tretas de bastidores tão apetitosas como as do thriller de Olivia Wilde ‘Não Se Preocupe, Querida’. Baseado num roteiro há muito visado em Hollywood, o filme virou notícia tantas vezes que se tornou quase que uma piada interna dentre o público. Indícios de atritos entre o elenco, boatos de falta de profissionalismo e o mais absoluto silêncio da equipe sobre os ocorridos apenas atiçavam a curiosidade do resultado de tanto caos.
Nos anos 1950, um deserto na Califórnia esconde a utópica cidade de Vitória. Sua estrutura cosmopolita e vizinhança amigável sugere nada além de perfeição e harmonia. Alice (Florence Pugh) é uma dedicada dona-de-casa apaixonada por seu marido Jack (Harry Styles). A dinâmica entre o casal é simples: ele é um esforçado funcionário do chamado Projeto Vitória; ela cuida do lar e não faz perguntas. O mesmo modelo é seguido pelos demais casais da cidade, vivendo o sonho americano em suas casas impecáveis e relações superficiais. O idealizador da comunidade, o guru Frank (Chris Pine), alimenta as mentes de residentes com frases motivacionais e discursos sobre comprometimento e sacrifício em nome de um “bem maior”. Em troca, Frank recebe uma lealdade inabalável que beira a adoração. O desaparecimento de uma das moradoras e uma série de acontecimentos estranhos fazem Alice desconfiar que Vitória esconde mais segredos do que se imagina.
Nos anos 1950, um deserto na Califórnia esconde a utópica cidade de Vitória. Sua estrutura cosmopolita e vizinhança amigável sugere nada além de perfeição e harmonia. Alice (Florence Pugh) é uma dedicada dona-de-casa apaixonada por seu marido Jack (Harry Styles). A dinâmica entre o casal é simples: ele é um esforçado funcionário do chamado Projeto Vitória; ela cuida do lar e não faz perguntas. O mesmo modelo é seguido pelos demais casais da cidade, vivendo o sonho americano em suas casas impecáveis e relações superficiais. O idealizador da comunidade, o guru Frank (Chris Pine), alimenta as mentes de residentes com frases motivacionais e discursos sobre comprometimento e sacrifício em nome de um “bem maior”. Em troca, Frank recebe uma lealdade inabalável que beira a adoração. O desaparecimento de uma das moradoras e uma série de acontecimentos estranhos fazem Alice desconfiar que Vitória esconde mais segredos do que se imagina.
Trailer
Ficha Técnica
- Título original e ano: Don't Worry, Darling. Direção: Olivia Wilde. Roteiro: Katie Silberman, Carey Van Dyke, Shane Van Dyke. Elenco: Florence Pugh, Harry Styles, Olivia Wilde, Nick Kroll, Chris Pine, Sydney Chandler, Kate Berlant, Asif Ali, Douglas Smith, Timothy Simons e Ari'el Stache. Gênero: Drama, Suspense. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: John Powell. Fotografia: Matthew Libatique. Edição: Affonso Gonçalves. Design de Produção: Katie Byron. Figurino: Arianne Phillips. Distribuidora: Warner Bros Pictures. Duração: 02h02min.
O thriller de Olivia Wilde parte de uma premissa instigante: o estranhamento daquilo que é familiar, uma situação em que nada é o que parece. A construção da ambientação do longa é muito bem-sucedida em estabelecer a sensação de desconforto vivido pela protagonista de Florence Pugh. A crescente claustrofobia de Alice é compartilhada com o público através de cenas perturbadoras e enfatizada pela ótima trilha de John Powell, que inclui vocais femininos lamentosos distorcidos que refletem a espiral de medo e paranoia vivenciada pela personagem. A convincente atuação de Pugh coroa algumas das sequências do filme como pesadelos vivos prontos pra assombrar. Infelizmente, tudo isso é posto a perder com escolhas questionáveis envolvendo a consistência da trama e a construção dos demais personagens da obra. Quando a grande reviravolta da história é revelada, ‘Não Se Preocupe, Querida’ entra no piloto automático ao invés de acelerar.
Horas depois da première da película no Festival Internacional de Cinema de Veneza, comentários jocosos na Internet definiam o filme como uma versão muito menos inspirada de ‘Corra!’. Verdade seja dita, tal comparação não é de todo injusta. Ainda que o suspense de Olivia Wilde não se aprofunde no subtexto social como o filme de estreia do cineasta Jordan Peele, ‘Não Se Preocupe Querida’ claramente busca construir questionamentos ficcionais que têm um pezinho na realidade. Só não dá pra entender ao certo se o filme compreende o que fazer com estas intenções, pois elas nunca são aproveitadas satisfatoriamente. Exemplo disso é a personagem Margaret, vivida por KiKi Layne. Margaret é uma das poucas moradoras racializadas da comunidade de Vitória. O destino violento encontrado pela personagem, o preço pago por ousar desafiar as intenções misteriosas do Projeto Vitória, pode ser interpretado como uma alegoria ao racismo estrutural que vê a perfeição apenas na branquitude, como se outras vivências não fossem válidas. Uma crítica bastante válida, inclusive. Mas, se for o caso, o filme deixa tal intenção tão implícita que se torna um desafio reconhecer tal mensagem. A outra hipótese é a de que o filme não tem qualquer pretensão de trabalhar questões raciais em sua trama, o que torna o arco da personagem soar no mínimo problemático. Ao arquitetar diversas possibilidades narrativas, mas escolher as mais óbvias sem se aprofundar em quase nenhuma delas, ‘Não Se Preocupe, Querida’ acaba por desperdiçar muito do potencial de seu roteiro promissor. O resultado é um punhado de enigmas, mas sem muito conteúdo a ser oferecido.
Com o material que é oferecido, nem mesmo o elenco com intérpretes estelares consegue brilhar aqui. Florence Pugh carrega o filme nas costas, fazendo o público se importar com uma história que sem ela não empolgaria. Mas a química entre ela e Harry Styles não engata e o próprio Styles nunca parece estar totalmente presente em sua atuação. Chris Pine faz o que pode com seu personagem canastrão, se sobressaindo junto com Pugh.
Esteticamente impecável, o retorno de Olivia Wilde ao cargo de direção, após o aclamado ‘Fora de Série’, acaba por não corresponder às expectativas criadas pelo hype. Apesar de bons momentos pontuais, o que poderia ser um dos maiores acontecimentos do ano, soa vazio e anticlimático. Talvez Você Devesse Se Preocupar, Sim, Querida.
HOJE NOS CINEMAS
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