O décimo primeiro filme do universo DC chega ao público com o intuito de contar a história origem do anti-herói Adão Negro, tido nos quadrinhos como o arqui-inimigo de Shazam!, super-herói que ganhou seu filme em 2019 (leia texto aqui) com Zachary Levi como protagonista. Os bastidores de criação de Adão Negro tem um passado grande de desenvolvimento. Dwayne Johnson, por exemplo, já era tido pelos fãs das HQ's como o herói e em 2014 o ator recebeu a proposta para adentrar o mundo dos heroflicks. Os argumentos iniciais é que Black Adam deveria estar presente já em Shazam! ou ainda no mais recente Esquadrão Suicida (review aqui), porém nenhuma dessas ideias vingaram e foi decidido que um filme origem tanto para ele, como para seu inimigo, caberiam. Rodado durante a pandemia e postergado o seu lançamento para somente agora, o longa de ação com muita fantasia mística nos leva a conhecer a história de um povoado árabe/egípcio liderado por um soberano que escravizava crianças, homens e mulheres. O lugar conhecido como Kahndaq poderia fornecer um item sagrado a este líder autoritário e o tornar muito poderoso e, para este fim, os homens eram obrigados a cavar diariamente. Quando este artigo é encontrado, um menino com o sonho de libertar seu povo ganha poderes, mas não por intermédio do objeto de valor mágico e sim por decisão de um conselho de magos antigos. No entanto, ao tentar liberar os escravos daquela vida dura, sua fúria provoca um caos de enorme proporção e ele é preso pelos mesmos magos que o concederam poderes e adormece para que este não machuque mais ninguém.
Milhares de anos se passam e um grupo de pessoas quer restaurar o equilíbrio de Kahndaq e garantir que as mãos erradas não cheguem até o artefato, sabendo eles das instruções, ultrapassam caminhos proibidos dentro da cidade e chegam até a caverna onde encontram mais do que imaginavam. Uma das pessoas deste grupo é Adrianna Tomaz, papel de Sarah Shahi, e seu irmão Karim, vivido por Mohammed Amer, que querendo proteger sua família, invoca o campeão ali enterrado para que ajude a salvar a cidade de seu extermínio, visto que quem buscava o item o encontrou, um dos homens de seu grupo disfarçado de aliado, personagem de Marwan Kenzari. Adão Negro ressurge, ainda sem entender perfeitamente que foi aprisionado por cinco mil anos, e todos aqueles que amava não estão mais neste plano. Em nenhum momento, ele se autodenomina herói e deixa claro até mesmo para o filho de Adrianna que o enxerga como um salvador e também para ela.
Adrianna Tomaz (Shahi) e Karim (Amer) de frente com o temido Adão Negro (Jonhson)
Ao entender o que está se passando naquelas terras longínquas, a chefona Amanda Waller, interpretada novamente e, mais uma vez com pontualidade, pela fenomenal Viola Davis, direciona esforços para a área enviando a Sociedade da Justiça para deter o recém acordado Black Adam. Ele se depara então com Gavião Negro, Esmaga-Atómo, Ciclone e Senhor Destino, vividos respectivamente por Aldis Hodge, Noah Centineo, Quintessa Swindell e Pierce Brosnan. Essa super turma entra em confronto com Adão, assim como todos que tentam o derrubar, mas é ao entender o seu passado que o campeão de força extrema toma consciência dos seus erros. No entanto, ele é orientado pelo Senhor Destino a crer em si não só como alguém que pode trazer o mal ao mundo, como também usar sua magia e poder salvando aqueles que necessitam salvação.
A Sociedade da Justiça formada por Gavião Negro (Hodge), Esmaga Àtomo (Centineo), Ciclone (Swindell) e Senhor Destino (Brosnan.
Não temos aqui, em nenhum momento, um filme inovador de seu gênero, contudo, Adão Negro tem um roteiro com subcontexto que dá margem para diversas interpretações. Uma delas se relaciona com o fato do longa não ter palco em terras norte-americanas e chama o espectador mais ''politizado'' a pensar sobre o intervencionismo que os EUA fazem em certas situações no oriente médio e no resto do mundo (basta pensar na Guerra do Iraque, por exemplo). Um imperialismo ''salvador'' que talvez não seja o que certas nações precisem devido ao antidoto para inúmeros decorridos se encontrar em seu próprio povo. Logo, quando aqueles moradores veem a Sociedade da Justiça querendo parar a força brutal de Black Adam eles questionam onde estavam estes ''heróis'' quando eles precisaram no passado, já que naquele lugar tão sofrido sempre houve protesto para melhorias. Traz não só esta via a superfície, mas perpassa por conceitos nacionalistas e de cunho mais tradicional - a defesa do país e da família a qualquer custo. Assim, intermedia que o espectador possa repensar também o papel dos vilões e heróis dentro do gênero. Motivações para atos de ambos. Da mesma forma, o papel das ações e suas consequências. Chega se a um bom lugar com tais proposições, mas talvez todos estes encaminhamentos não circulem tanto pela cabeça dos que se dizem mais ''nerds'' e querem ver apenas o sangue, a lutinha e as explosões - e isto o filme tem de sobra e é extremamente bem realizado.
The Rock furioso como Adão Negro
Os personagens coadjuvantes - especificamente Gavião, Esmaga-Atómo, Ciclone e Senhor Destino - são medianos em sua entrada no filme, talvez o que ganhe mais destaque seja Senhor Destino e Pierce Brosnan o interpreta com a potência certa, inclusive ganhando um vozeirão incrível. Há uma tentativa óbvia de entregar ''simpatia cômica'' em diversas falas de todos os heróis, mas nem sempre tais piadas pegam. Dwayne Johnson entrega uma das performances mais sérias de sua carreira. Vem totalmente fechado e com ar pesado, devido a carga dramática que o personagem carrega. Solta um sarcasmo vez ou outra e até agrada. Corporalmente, manifesta um andar militarizado e robusto que se adequa a magnitude de Adão nos quadrinhos. Não tivemos ainda um romance explicito com Adrianna Tomaz, mas o desfecho da trama dá deixas de que ela aparece aqui para que isto ocorra num futuro próximo, afinal, a personagem é a mulher de Adão nos quadrinhos. O elenco e a equipe técnica apresentam diversidade em todo seu escopo, bem como uma união de artistas de diversas nacionalidades a começar pelo diretor que é espanhol.
Jaume Collet-Serra tem mais de dez títulos dirigidos e trabalhou recentemente com Johnson em ''Jungle Cruise''. Aqui caminha em solo minado, já que nem sempre os filmes da DC conseguem um aval muito bom do público, porém faz seu trabalho com dedicação e revela um filme origem cheio de mega takes no ar, na água, em cavernas e lugares terrosos. Apresenta seu personagem principal com modéstia e o contêm de exageros. O roteiro consegue surpreender por trazer reviravoltas, mesmo que mais simples, mas nem tão previsíveis, ou talvez sim. Mas nada é prejudicial. O que talvez os fãs não gostem é realmente do vilão meia boca que aparece como uma força demoníaca do submundo egípcio e não exatamente seja tão maligno como aquele vivido por Arnold Vosloo em ''A Múmia'', franquia que Johnson e Kenzari também participaram.
Liga da Justiça, de Zack Snyder, e Adão Negro, de Jaume Collet-Serra.
O filme tem referências cinematográficas bem óbvias do próprio universo DC, ou de heróis como um todo, além disso, em certo momento a produção vai buscar um clipe de ''Três Homens em Conflito'', do renomado Sergio Leone, para evocar certo espirito de cinema. Não só isto, assistimos Adão Negro duelar ao som de ''Paint in Black'', da banda inglesa Rolling Stones, remetendo às cenas de slowmotion muito usadas nos filmes de Snyder (Watchmen e Liga da Justiça) ou até o primeiro Mulher Maravilha, de Patty Jenkins, e tem ainda a clássica cena do personagem Mercúrio em ''X-Men - Dias de Um Futuro Esquecido'' (texto aqui) ou aquele início insano de Deadpool, de Tim Miller. Ah, e falando em trilha sonora esta é assinada por Lorne Balfe.
Na lista de canções aparecem não só os Rolling Stones, como Kanye West, Smashing Pumpkings, Ennio Morriconee até a super brega ''Baby Come Back'', do grupo Player, que faz um bom link com o contexto da cena em questão em que ressoa. Ademais, em um dos trailers é possível ouvir a potente ''Murder To Excellence'' de JAY-Z e Kanye West. Infelizmente, ''Wolf Totem'', do grupo de Heavy-Folk ''The Hu'' não está no filme, mas em seu Instagram The Rock já colocou a música para embalar inúmeros vídeos em que ele aparece com o traje do personagem.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Black Adam, 2022. Direção: Jaume Collet-Serra. Roteiro: Adam Sztykiel, Rory Haines e Sohrab Noshirvani - baseado nos personagens criado por Otto Binder e C.C. Beck. Elenco: Dwayne Johnson, Pierce Brosnan, Djmon Hounson, Aldis Hodge, Quintessa Swindell, Noah Centineo, Sarah Shahi, Mohammed Amer, Marwan Kenzari, Bondhi Sabongui. Gênero: Ação, Fantasia. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Lorne Balfe. Fotografia: Lawrence Sher. Edição: John Lee e Michael L. Sale. Design de Produção: Tom Meyer. Figurino: Kurt and Bart. Distribuição: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 02h04min.
Para quem nunca sequer havia se interessado pela história de Shazam e Adão Negro, basta saber que ele aparece ainda nas narrativas do herói de uniforme vermelho quando este ainda se chamava ''Capitão Marvel'' - pesquise pela edição #1 da ''Família Marvel'', de 1945. Depois Adão só retorna a ação em Shazam! #28, já em abril de 1977. Notem, aliás, que por terem os poderes originados do mesmo mago, no filme interpretado por Djmon Hounsou, na época de criação de ambos, eles ganharam o mesmo traje com a diferença transparente da diferença de cor. Adão tendo sua vilania revelada no preto e Shazam sendo iluminado com a força do vermelho e amarelo, cores quentes e de harmonia.
Da cena pós créditos, há uma suspeita grande que venha ser alinhada fase de ''rearranjo'' da Liga da Justiça em que lemos nos quadrinhos de ''Fronteira Infinita'' (leia aqui), todavia, é certo que haja um encontro entre Adão e Shazam e outros super-heróis grandiosos para um baita confronto prévio a isto.
0 comments:
Postar um comentário
Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)