55° Fest Brasília - 1° Dia de Mostra Competitiva (Curtas)

 
MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL | CURTA-METRAEM

O primeiro dia de Festival nos trouxe dois curtas que colocam na tela personagens geralmente deixados de lado. O primeiro, Big Bang, de Carlos Segundo, vem de Minas Gerais e conta como é a vida de Chico, um homem com nanismo que leva a vida consertando fornos. Na sequência, Ave Maria, de Pê Moreira, foi exibido. O filme revela a vida em família de uma mulher trans após a morte de um ente querido e mudanças que ocorreram a ela e aos parentes. 

Após o fim das exibições os filmes podem ser votados pelo público no Cine Brasília e também nas Regiões Administrativas de Samambaia e Planaltina, onde são exibidos gratuitamente em complexos culturais. 

No dia seguinte a exibição, no turno matutino, os filmes também são contemplados com momentos de debate no Hotel sede do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o Grand Mercure Brasília, na asa norte. É possível acompanhar ao vivo pelo canal do youtube do Festival.

Mostra Competitiva Nacional - Curtas


Exibido em 14/11, às 20h30min.

Ficha Técnica
Título original e ano: Big Bang, 2022.  Direção e Roteiro: Carlos Segundo. Elenco: Giovanni Venturini e Aryadne Amâncio. Estado: Minas Gerais. Direção de Fotografia: Roberto Chacur. Direção de arte: Nara Sbreebow. Trilha sonora: Porcas Borboletas. Som: Nemer Castro e Vicent Arnardi. Montagem: Carlos Segundo e Jérôme Bréau. Produção: O sopro do tempo e Les Valseurs. Distribuição: Les Valseurs e Casa da Praia. Duração: 15min. Classificação Livre.
Quando a tela se abre conhecemos o consertador de fornos chamado Chico que é corajoso, mas tem muito cuidado com o que faz, pois pode se machucar. Por ser  um homem portador de nanismo, consegue adentrar os espaços com mais facilidade e ali iniciar seu trabalho. Recebe um certo desdenho por parte das pessoas que o contratam ao proferir sua análise técnica séria e cometida sobre o que precisa ser feito, não só isto, sofre desrespeito. Em certo momento, proferem à ele algo como ''se vira nos 30'' para que arrume um queimador de lenha que está com alto grau de temperatura. Tudo porquê Chico solicita uma roupa térmica para não se ferir. 

Vemos Chico pedindo carona em momentos subsequentes e quando param para ele, os passageiros do veículo não fazem um mínimo de esforço para que ele vá nos bancos, mesmo que apertado. Com urgência na carona, ele sugere ao motorista que pode ir dentro do porta-malas e pegam rumo. Algo inusitado acontece com a vida de todos que estão no veículo e, apesar da desumanidade com Chico, com ele fica tudo bem. Quer dizer, a vida dele é delicada como a de todo ser humano e acaba indo ao hospital para realizar exames. No lugar conhece uma moça com uma filha internada que conta sobre seus dias de empregada doméstica e o descaso da patroa com sua situação. Os dois trocam palavras e conhecemos mais da força do homem que como muitos brasileiros, não teve um pai presente e aquele dia incomum ele tentava chegar ao enterro do velho fujão. Um papo que nos evidencia o coração de alguém que parece ser muito maior do que as pessoas conseguem ver.

O filme nos traz a retratação da vida deste homem com a condição de nanismo sem estereótipos ou comicidade, apesar do riso vir em alguns momentos por falas comuns do dia a dia. Temos boas atuações de Giovanni Venturini e Aryadne Amâncio. Ele vivendo esse pequeno grande homem, tão corajoso e tão forte. Ela, uma mulher negra trabalhadora e mãe que não pode deixar o hospital, mas não tem o respeito necessário de quem a contrata. Vidas que se cruzam por alguns momentos e nos dizem muito da condição da sociedade em que vivemos: desumana. 

Avaliação: Três dancinhas libertadoras (3/5).

Mostra Competitiva Nacional - Curtas


Exibido em 14/11, às 20h30min.

Ficha Técnica
Título original e ano: Ave Maria, 2022. Direção e Roteiro: Pê Moreira. Elenco: Vênus Berliner, Aisha Jambo, Jota Vilar, Bruna G, Vitor Senra, Cyda Moreno. Estado: Rio de Janeiro. Direção de Fotografia: Danilo do Carmo. Direção de arte: Flora Reghelin. Montagem: Victoria Zanardi. Som: Rodriguexth. Trilha sonora: Luellem de Castro e Nelsinho Freitas. Produtora: Encantamento Filmes e Por Extenso Produções. Duração: 15 minutos. Classificação Indicativa: 12 anos.

O natal se aproxima e o espectador vê isto pela montagem da árvore realizada por amigos que conversam sobre coisas aleatórias. Uma delas, a ida de Maria a casa da família. Vamos conhecendo então mais dessa personagem de cabelos crespos e esvoaçantes, tão bonita e tão cheia de detalhes. Maria não se encontrava com os familiares há um certo tempo. Aparentemente, desde a morte do pai. A mãe, os irmãos, a avó a recebem e vão ali tentando reestabelecer contato. Não só isso, reconhecer Maria, uma mulher trans. Os pronomes vez ou outra ainda se confundem, mas o toque, o olhar, o afeto entre essa família, não. Tá ali presente. Forte como seus cabelos e figuras. Todos conseguem ter conversas sólidas e pertinentes com a moça e assim consegue traçar sua nova jornada - ela está morando no centro com um amigo, namorando e etc.

Não temos um filme de embates, temos dialogo, entendimento, abraços e mãos que vão ao encontro de apoio e até certa espiritualidade. O afastamento não causou um corte final, mas um pausa entre aquelas relações. A dor do luto parece ainda estar ali, mas a vontade de se reconectar também. Não vemos personagens rasos, mas temos uma ou outra atuação mais artificial (a do ator que interpreta  o irmão de Maria, talvez). Mas nada que desande o caminhar da história. Uma que aborda a reconstrução, o reconhecer. E é bela em todos os sentidos da proposta. Ângulos intimistas e closes em corpos negros e pardos que desbravam o que estava pausado.

Avaliação: Quatro ceias de natal com o despertar do afeto (4/5)


Serviço :

55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

De 14 a 20/11. Ingressos para a Mostra Competitiva: 20 R$ (inteira) ou 10 R$ (meia).

Local: Cine Brasília, Complexo Cultural de Planaltina e Complexo Cultural Samambaia.

Informações e inscrições para oficinas e atividades de mercado: www.festcinebrasilia.com.br

Escrito por Bárbara Kruczyński

    Comentários Blogger
    Comentários Facebook

0 comments:

Postar um comentário

Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)