domingo, 27 de novembro de 2022

All the Beauty and the Bloodshed, de Laura Poitras | 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


                                                                                                                    APRESENTAÇÃO ESPECIAL
Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza

All the Beauty and the Bloodshed” significa em português “toda a beleza e o derramamento de sangue”. Citação de Joseph Conrad, o grande romancista britânico-polonês de Coração das Trevas, base do roteiro de Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, essas palavras do título resumem bem este documentário vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza de 2022.

Dirigido pela diretora norte-americana Laura Poitras, ganhadora do Oscar de ''Melhor Documentário'', em 2015, por Citizenfour, esse excelente filme de quase duas horas de duração segue a vida da fotógrafa Nan Goldin, em todo o seu esplendor e tragédia, em toda sua beleza e derramamento de sangue.

Começando com a tragédia do suicídio de sua irmã, acompanha-se a trajetória de Nan desde sua infância até a atualidade, em que se relata sua batalha contra a poderosa e rica família Sackler, dona do conglomerado farmacêutico que fabrica remédios contra dor à base de opióides altamente viciantes.


Ficha Técnica
Título original e ano: All the Beauty and the Bloodshed, 2022. Direção: Laura Poitras. Elenco: Nan Goldin, David Armstrong, Marina Berio, Noemi Bonazzi, Harry Cullen, Megan Kapler, Patrick Radden Keefe, Annatina Miescher, Cookie Mueller, Sharon Niesp, Darryl Pinckney, Alexis Pleus. Gênero: Documentário. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Soundwalk Collective. Fotografia: Nan Goldin. Edição: Joe Bini, Amy Foote e Brian A. Kates. Produtora: Participant. Produtores: Howard Gertler, John Lyons, Nan Goldin, Yoni Golijov, Laura Poitras.Distribuição: Diamond Films Brasil. Duração: 01h53min.

Nan Goldin é uma pessoa admirável! Conhecer sua vida e suas lutas é um presente para o espectador. Uma das melhores fotógrafas do mundo, suas polaroides do cotidiano e momentos íntimos de seus amigos e família são belíssimos e fascinantes. Verdadeiros documentos de uma época, ela retrata a cultura LGBTQIA+ com fotos ao mesmo tempo ternas e atrevidas. Participante de todos os movimentos dos anos 70 para cá, ela presenciou a hecatombe da epidemia da AIDS, a tragédia das drogas e das overdoses, a pujança da cultura underground, a luta pelos direitos das minorias, toda a beleza e o sangue de uma Nova York considerada o centro do mundo.

Em duas narrativas paralelas, acompanha-se o passado da Nan e seu presente de lutas contra a família Sackler. Nos acontecimentos recentes, vê-se as manifestações da fotógrafa e seu grupo de ativistas, que vão aos principais museus do mundo protestar contra as galerias que homenageiam a família mafiosa. Os Sackler, com suas fortunas incalculáveis, doam muitos dólares aos museus, que nomeiam galerias com seus nomes. Nan, em happenings muito divertidos, protestam contra essa contradição. Como, por exemplo, o Louvre tem coragem de laurear uma família que causa tanto sofrimento ao mundo? A crise de opióides nos EUA já é algo tão sério que virou problema de saúde pública, se tornando responsável por muitas overdoses, suicídios e destruições de famílias.

O final comovente são as vitórias parciais da Nan, como ela e seus amigos, com muito esforço, conseguiram banir o nome Sackler dos museus. Entre glórias e derrotas, as contribuições dessa magnífica fotógrafa são apresentadas neste fascinante documentário. As tragédias familiares e dos seus amigos não derrotaram essa mulher inspiradora. Um trabalho belíssimo que o mundo inteiro pode conferir e apreciar. O recurso estilístico da diretora Laura Poitras de mostrar centenas de fotografias em trechos distribuídos nos segmentos do filme é muito didático, no sentido de apresentar o legado de Nan para quem não a conhece. 

Nota: 9/10.

Luca, de Enrico Casarosa | Assista no Disney+


Já imaginou seres marinhos se transformando em humanos? O filme "Luca", de Enrico Casarosa,  apresenta em sua trama um monstro marinho que tem interesse por objetos humanos que param no fundo do mar e pela vida que acontece fora do mar (uma leve semelhança com Ariel, não é mesmo dona Disney?).

O personagem principal, Luca, é um ser adorável, pré-adolescente que vive uma rotina monótona no fundo do mar com a família. Ele cuida da criação de peixes e janta diariamente com o pai, Lorenzo, e a mãe, Daniela, além da vovó, a “Nona”. Para demonstrar a obediência aos pais, ele segue à risca a instrução de jamais ir à superfície ou dar chance de que algum “monstro terrestre” – ou seja, ser humano – o veja.

Porém, com o tempo, a sua curiosidade pelo mundo fora da água vai aumentando, principalmente quando Luca está recolhendo objetos e acaba por encontrar com Alberto, que também é um monstro marinho, mas que vive numa torre na beira da praia como um ser humano. Alberto apresenta a Luca as maravilhas que se pode encontrar fora do oceano e o deixa encantado pela vida terrestre. Logo, a dupla assume a forma humana.

Incentivado pelo amigo a superar o medo e as instruções da família, Luca parte numa aventura de descobertas no mundo de novidades em terra firme. A partir daí, os dois meninos experimentam um verão italiano inesquecível cheio de gelatto, massas e passeios de scooter na pequena vila Ligúria, na Itália. Após conhecerem Giulia Marcovaldo, a diversão deles é constantemente ameaçada pelo grande segredo: o mundo dos monstros que vivem debaixo das águas e o fato de que precisam se manter secos, pois retomam a aparência original quando entram em contato com a água.

Créditos: Divulgação         


De acordo com o diretor italiano Enrico Casarosa, que nasceu em Gênova, principal cidade portuária da Ligúria e conhecido por produzir animações como “O Bom Dinossauro” e o curta “La Luna”, o filme é uma carta de amor aos verões da juventude daqueles anos em que se está descobrindo quem somos. A produção foi inspirada nas fábulas locais e de lendas sobre criaturas submarinas apavorantes presentes na cartografia renascentista, principalmente na década de 1950 e 1960.

Lançado no período de pandemia, a produção é um suspiro para o tempo que vivemos. A fotografia do filme demonstra a contemplação do personagem por pequenas coisas, como os raios de sol, o vento, as aves e o ar. Detalhes que por muitas vezes deixamos de dar atenção devido a rotina corrida e por preocupações do dia a dia.

Trailer

De fácil entendimento para as crianças e servindo de ensinamento para os adultos, Casarosa não deixou de tratar de temas sociais na trama, assim, em certos momentos a narrativa nos remete sobre a superproteção dos pais, o amadurecimento, auto aceitação, liberdade, assim como nos ensina a verdadeira importância da amizade.

A animação teve indicação na última edição do Oscar, na categoria de Melhor Animação em Longa Metragem, a parceria da Disney com a Pixar, conta com um enredo e um roteiro bem construído, de modo que a animação prende o telespectador do começo ao fim.

Créditos: Divulgação                     


Ficha Técnica
Título original e ano: Luca, 2021. Direção e Roteiro: Enrico Casarosa. Elenco: Jacob Tremblay, Jack Dylan Grazer, Emma Berman, Saverio Raimondo, Maya Rudolph, Marco Barricelli, Jim Gaffigan, Peter Sohn, Lorenzo Crisci, Marina Massironi, Sandy Martin, Sacha Baron Cohen. Gênero: Animação, Fantasia, Família. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Dan Romer. Edição: Catherine Apple e Jason Hudak. Distribuição: Disney+. Duração: 1h35min
Assista no Disney+ 

Conto de Fadas, de Alexander Sokurov | 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


                                                                                                           PERSPECTIVA INTERNACIONAL
Exibido no Festival de Locarno

Alexander Sokurov é um diretor dos diretores. Um dos maiores do nosso tempo, este russo, nascido em 1951, é notável por seus avanços técnicos e filmes vanguardistas, sempre apontando novos caminhos para a sétima arte. Arca Russa (2002), Pai e Filho (2003), Fausto (2011), este último vencedor do Leão de Ouro em Veneza. E os prêmios de diversos outros festivais se acumulam, exemplo de sua arte inovadora.

Conto de Fadas é mais um a se somar à sua filmografia de grande destaque. Produção belgo-russa de 2022, é uma animação gráfica que apresenta um Purgatório aterrorizante cheio de cópias de Hitler, Mussolini, Churchill e Stalin. Esses gênios da carnificina e do mal da segunda guerra mundial atormentam-se uns aos outros, discursando para massas informes de soldados e civis mortos nesta guerra que matou milhões de inocentes.

Para apimentar o roteiro, neste Purgatório há ainda Jesus Cristo e um Deus que de vez em quando desperta a cobiça destes líderes de guerra, oferecendo a abertura das portas de saída deste limbo aterrorizante. Essa confusão de conceitos religiosos e políticos desperta o interesse do espectador, é pauta para discussões de bar e reflexões. Por exemplo, por que Jesus no Purgatório? Por que Churchill da Inglaterra democrática é comparado a ditadores como Hitler, Mussolini e Stálin?


Ficha Técnica
Título original e ano: Skazka, 2022. Direção e Roteiro: Alexander Sokurov. Narração: Alexander Sagabashi, Vakhtang Kuchava, Lothar Deeg, Fabio Mastrangelo, Tim Ettelt, Pascal Slivansky. Com imagens de arquivo de Adolf Hitler, Benito Mussolini, Iosif Stalin, Winston Churchill, Gênero: Fantasia. Nacionalidade: Bélgica e Rússia. Departamento de Som: Aleksandr Vanyukov. Música: Murat Kabardokov. Produtora: Intonations. Produção: Nikolay Yankin. Distribuição: Imovision. Duração: 78min.

Pulando as discussões ideológicas, a técnica de filmagem é pegar fotografias dos personagens históricos em anos distintos e dar-lhes movimentação através dos milagres da computação gráfica. Tem-se então várias figuras de Stálin conversando entre si. É um artifício aterrorizante, monstros quadruplicados, apresentando toda sua estupidez. Outro método assustador é quando as massas de soldados e civis mortos desfila pelas galerias do Purgatório, sem forma e sem rosto, bocas abertas em murmúrios e uivos.

O filme é uma experiência de pesadelo. Este Purgatório enxameado de ditadores, aterrorizados por mortos em batalha, em paisagens de Gustave Doré para A Divina Comédia de Dante, são imagens inesquecíveis do horror e do sofrimento que é uma guerra mundial. O roteiro deixa mais dúvidas do que as esclarece, exatamente como um sonho ruim.

Alexander Sokurov mais uma vez cumpriu sua missão e alargou a pontapés os limites do cinema. Excelente em fazer isso, este mestre russo lançador de tendências nunca decepciona. Seus filmes artísticos são exibidos em festivais e são os queridinhos da crítica por causa de suas ousadias. Nem sempre bem entendidos pelos espectadores, devem ser assistidos, pois fazem pensar, cumprindo um dos requisitos da arte, que inclui a reflexão como uma de suas missões. 

Nota: 7/10.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Força Bruta, de Sang-yong Lee | Assista nos Cinemas


A última vez que vimos o ator Don Lee na telona ele estava acompanhado de Angelina Jolie e ambos viviam heróis de uma nova fase da Marvel no aguardado ''Eternos'' (leia resenha aqui). A primeira muitos devem lembrar, pois foi com o grandioso Invasão Zumbi (2016, de Sang-ho Yeon), filme de enorme sucesso de bilheteria, que agora foi ultrapassado pelo longa Beomjoidosi 2, novo lançamento da Paris Filmes no país que ganhou título de Força Bruta.

O enredo apresenta ao espectador o detetive Ma Dong-seok, interpretado por Lee, com uma prática um tanto quanto ''polêmica'' de trabalho, pois o homem desafia bandidos na mão e os leva presos. Os colegas de trabalho o acham o máximo e o dia-a-dia no escritório é divertido. Certo dia, o chefe do detetive, Jeon Il-man, papel de Gwi-hwa Choi, decide acompanhá-lo em uma viagem ao Vietnam para repatriarem um criminoso. Il-man não fala inglês corretamente e vem de pouca serventia a Lee. Na realidade, os dois quase ficam presos no aeroporto por conta do 'pouco tato' do chefe de polícia. O alívio só vem com o auxilio e socorro de um compatriota que trabalha na Embaixada da Coréia do Sul. 

A dupla segue seu caminho e começa suas investigações no lugar. Estão ali para apreender bandidos que, aparentemente, tem sequestrado pessoas no Vietnam. Um deles, o assassino Hae-sang, interpretado por Sukku Son, está foragido por diversos crimes e acabara de cometer mais um. O sequestro e assassinato do filho de um grande empresário coreano. Contudo, Hae-sang acaba também matando todos diversos aliados que o ajudaram a chegar próximo do garoto para que não haja informações aos departamentos de justiça. Logo, um destes homens, com medo de retaliação, foge e vira informante por livre e espontânea pressão (para não dizer medo de apanhar) do detetive Lee. Mais personagens vão se aliando a Lee no lugar e alguns deles são bem picaretas, aliás. No entanto, nenhum consegue fugir das garras deste policial duro na queda.
                                                                                                                
                                                                                                                                                              Créditos: Divulgação    
Don Lee é o centro das atenções no filme e tem boa liderança em cena

O assassino procurado é cheio de artimanhas e consegue driblar a dupla de policiais e ir atrás de dinheiro na Coréia do Sul junto a família do jovem morto. Lee e Il-man então retornam para uma luta final com Hae-sang e este confronto se torna o grande ápice do terceiro ato no filme. Hae-sang é sanguinário e consegue ferir muitas pessoas, mas terá o que merece assim que o detetive por as mãos nele. 

Nesse meio tempo, a mãe do jovem morto acaba por virar uma das mulheres mais poderosas na Coréia, pois acaba tendo mais pessoas da família sendo mortas e a sede de vingança vem aliada a justiça que será feita pelos planos de Lee.

Créditos: Divulgação    
Gwi-hwa Choi, Don Lee e Sukko Son estão no filme que teve uma das melhores bilheterias do ano na Coréia do Sul, além de aclamação da crítica especializada.

O filme, que é continuação de Beomjoidosi, lançado em 2017 com titulo em inglês de ''The Outlaws'', é um barato só. Tem comédia, muita ação, muita porrada e muito sangue. Os personagens são muito potentes em cena e a trama é bem amarradinha. Don Lee é quase um ''Liam Neeson sul-coreano'' na fita, diria até que melhor, pois ainda encontra tempo para tentar ir a ''blind dates''. O personagem é demasiado importante para a caminhada da história e ainda que seja um pouco tosco é impressionante a sua força e moral justiceira. O humor também é seu ponto alto junto ao dos colegas de departamento policial. A atuação de Sukko Son como o bandido procurado é extremamente convincente. O olhar matador e perfil totalmente lunático são de deixar qualquer um com todos os pelos do corpo arrepiados. 

Força Bruta entrega um roteiro coeso e é um baita filme de ação para os que são fã do gênero. Ma Dong-seok, Min-Seong Kim, Sang-yong Lee e Young-jong Lee assinam o roteiro. O longa de 2017, ganhador de quase quinze prêmios, contou com Yoon-Seong Kang na direção e roteiro e o cineasta e roteirista não aparece na equipe deste aqui. É muito interessante que Don Lee e Ma Dong-seok são as mesmas pessoas, mas o artista usa o primeiro nome para produções internacionais e no filme interpreta alguém com o próprio nome de batismo. 

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Beomjoidosi 2, 2022. Direção: Sang-young Lee. RoteiroMa Dong-seokMin-Seong KimSang-yong Lee e Young-jong Lee. ElencoMa Dong-seok, Sukku Son, Gwi-hwa Choi, Ji-hwan Park, Heo Dong-won, Ha-Jun, Park Ji-young, Yo-sep Song. Gênero: Ação, Crime, Thriller. Nacionalidade: Coréia do Sul. Trilha Sonora Original: Kim Tae-seong. Fotografia: Sung-Lim Ju. Edição: Sun-min Kim. Dublês: Daniel Kwanghwee Choi. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h46min.
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Força Bruta foi lançado em maio deste ano na Coréia do Sul e teria lançamento no Brasil no inicio do mês, mas só está chegando agora aos cinemas e é importante motivar a cena dos filmes sul-coreanos por aqui. Ainda mais uma produção bem realizada e com ótima carga artística.

O filme tem na bagagem indicações a festivais asiáticos e levou prêmios no Chunsa Film Awards nas categorias de ''Melhor Filme Segundo o Júri Popular'', ''Novos Diretores'' para Sang-yong Lee e ''Ator Coadjuvante'' para Ji-hwan Park.

Avaliação: Três surras bem dadas (3/5).

HOJE NOS CINEMAS

Ligação Explosiva, de Kim Chang-ju | Assista nos Cinemas


Pura adrenalina!! Os fãs de filmes de ação vão se deliciar com este remake sul-coreano. “Ligação Explosiva”, filme de estreia de Kim Chang-ju que já atuava como editor. A produção tem roteiro de Chungju Kin e é baseada na película “El Desconocido”, de Alberto Marini, lançado em 2015.

O texto consegue a façanha de construir uma história com boas partes embebidas em adrenalina, amarrada com fios de suspense num emaranhado de drama familiar, resultando numa obra explosiva! Na trama, temos o executivo workaholic e bem sucedido Sung-Gyu (JO Woo Jin), que raramente encontra tempo para a família ou algum lazer. Numa manhã em especial, mudanças repentinas na agenda da empresa o fazem ir ao escritório mais cedo e ele aproveita para levar os dois filhos à escola. Sua esposa até se espanta com a alteração dos planos. Mal sabiam eles que ali começaria toda loucura que seria aquele dia.

No carro estavam Sung- Gyu, sua filha adolescente Lee Hye-in (Lee Jae-in) e seu irmão mais novo, um garotinho apaixonado por futebol. Uma ligação misteriosa de um celular encontrado no carro informa que uma bomba havia sido plantada no assento e se algum deles tentasse sair do veículo - BUM!!! Só há uma forma de escapar da morte. Pagar um resgate milionário. A princípio ele não acredita no estranho interlocutor, mas ao presenciar um colega de trabalho na mesma situação ter um final trágico, o executivo vê que o perigo é real. Além de tudo, o próprio Sung- Gyu passa a ser suspeito de terrorismo nas investigações policiais. A corrida contra o tempo inclui juntar a soma de dinheiro pedida, escapar do cerco policial e descobrir o motivo de tudo aquilo estar acontecendo justamente com ele.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e anoBalsinjehan, 2021. DireçãoChangju Kim. Roteiro: Changju Kim. - adaptação do roteiro original de Alberto Mariani. ElencoJi Chang-Wook, Haerry Kim, Ji-ho Kim, Jin Kyung, Jae-in Lee, Seung-su Ryu, Jun Suk-ho, JO Woo Jin. Gênero: Ação, Drama, Suspense. Nacionalidade: Coréia do Sul.  Trilha Sonora Original: Kim Tae-seong. Fotografia: Kim Tae-soo. Edição: Kim Chang-ju. Produtora: TPS Company e CJ Entertainment. Distribuidora: Diamond Filmes Brasil. Duração: 01h34min.
O filme conta com ótimas cenas de perseguição urbana nas movimentadas ruas de uma grande cidade. A fotografia é muito boa com filmagens aéreas. Atuações convincentes e uma trilha sonora dinâmica e envolvente fazem deste longa uma ótima escolha. O filme lembra bastante a produção “Por um fio” estrelada pelo ator Colin Farrell, lançada em 2002. Não só isso, há um remake norte-americano com Liam Neeson programado para iniciar as filmagens em breve.

Créditos: Divulgação   
Este é o segundo remake do original ''El Desconocido'', pois em 2018 a Alemanha também adaptou a trama em ''Nicht. Aus!''.

O final, talvez, poderia ter sido melhor desenvolvido e desperdiça um pouco do potencial que o filme apresentou em seu caminhar. Mas fica a mensagem moral onde prega que deve-se fazer o que é correto ou pagar pelas falcatruas do passado. Além de ''reconhecer que a família sempre será o maior bem''.

“Ligação Explosiva” estreia esta quinta-feira, 24 de novembro, somente nos cinemas, distribuído pela Diamond Filmes.

HOJE NOS CINEMAS

Mundo Estranho, de Don Hall e Qui Nguyen | Assista nos Cinemas

 
A 61º película dos estúdios Disney de animação tem um colorido forte e muita contemporaneidade. ''Mundo Estranho'', que remete em seu título original a quadrinhos de ficção científica publicadas pelas  antigas Avon Comics e Atlas Comics, esta última predecessora da Marvel, trazem ao público uma conversa clara sobre exploração de outros mundos por um grupo técnico, mas também permeado por familiares que embarcam na expedição por conta do parentesco com um ex-famoso aventureiro que se perdeu. O visual do filme até faz paralelo ao sci-fi de CS Lewis ''Além do Planeta Silencioso'' e muitos até farão comparações com uma das mais recentes animações de sucesso do estúdio, ''Encanto'' - algo aceitável já que a produção de ambos os filmes são quase a mesma. Outros autores que podem ter inspirado a trama também são H. G. Wells e Sir Arthur Conan Doyle

O longa conta com direção de Don Hall e Qui Nguyen e roteiro deste último. No elenco de dubladores originais: Jake Gyllenhaal, Jaboukie Young-White, Gabrielle Union, Dennis Quaid, Lucy Liu, Karan Soni, Alan Tudyk, Adelina Anthony e muito mais. Jake e Dennis, aliás, já viveram pai e filho em ''O Dia Depois de Amanha'' (2004, Roland Emmerich) e aqui retornam para um reencontro bastante apropriado visto que seus personagens são afastados pelo sumiço do personagem de Dennis, Jaegar Clade, mas reunidos pela investida deste filho chamado Searcher Clade em colaborar com uma expedição que pode ajudar o planeta e o seu lar a sobreviverem a um envenenamento no solo. Não somente a dupla tem momentos ótimos em cena, como também o personagem do filho de Jake, Ethan (Jaboukie Young-White) e até o cachorrinho da família participa de toda a viagem. Ou ainda as mulheres que estão totalmente empoderadas liderando a missão e pilotando as máquinas e aeronaves.

Strange World, título original da película, chega aos cinemas esta quinta-feira (24) em pleno fim de semana de ''black friday'' e diversas promoções em ingressos para o cinema. Um baita empurrãozinho para toda a família acabar indo ver o filme.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Strange World, 2022. Direção: Don Hall e Qui  Nguyen. Roteiro: Qui Nguyen.  Dublagem original: Jake Gyllenhaal, Jaboukie Young-White, Gabrielle Union, Dennis Quaid, Lucy Liu, Karan Soni, Alan Tudyk, Adelina Anthony. Gênero: Animação, aventura, família. Dubladores brasileiros: Marcos Campos, Caio Freire Luiz Antônio Lobue, Carla Masumoto, Marisa Mainarte, Camila Castellani, Fabio de Castro, Giovana Calegaretti, Giovanni Mamede, Katia Campos, Ma Zink.  Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Henry Jackman. Direção de Arte: Larry Wu. Edição: Sarah K. Reimers. Supervisão de Animação: Louis Jones, Kim Hazel, Andrew Feliciano, Michael Franceschi e Jason Figliozzi. Design de Produção: Justin Cram e Mehrdad Isvandi. Distribuição: Walt Disney Studios. Duração: 01h42min. 
Searcher Clade (Jake Gyllenhaal) e sua família vivem em sua fazenda e tem uma vida cultivando e cuidando do lugar. O homem perdeu o pai, Jaegar Clade (Dennis Quaid), em uma expedição há muito tempo atrás e tem esse vazio no peito. Como também é pai do jovem Ethan (Jaboukie Young-White) e esposo de Meridian (Gabrielle Union), vive para sua família e não se arriscaria a sair do seu lar se não fosse por algo muito importante como a sobrevivência deles ali. Belo dia uma velha amiga de seu pai bate a porta e o invoca para uma missão que os levará a um lugar desconhecido e ali podem tentar entender o que está acontecendo com o solo das fazendas e etc. A principio, ele resiste. Mas acaba partindo com a tripulação. A esposa e o filho, apesar de Seacher insistir para ficarem, também acabam entrando de alguma forma na missão e quando eles chegam a este lugar totalmente estranho e repleto de criaturas perigosas e vivas é uma correria só para tentarem ficar juntos e se unir contra elas. Mais que isto, irem a fundo na expedição e averiguarem o lugar que parece ter uma conexão muito forte com o solo de onde vivem originalmente.

Para surpresa da família, encontram muito mais do que esperavam e a aventura se torna um reencontro familiar, mais do que uma luta pela sobrevivência e uma corrida contra o tempo para salvarem o planeta. Os personagens masculinos são vistos em três gerações, avô, pai e filho. Um relacionamento que começa a se reconstruir com a viagem e criar laços ainda mais fortes. O avô é o famoso cara aventureiro, sagaz e cheio de vida, o pai, a preocupação em pessoa de deixar todos bem e salvos e o filho com muitas características de ambos, porém, com sua identidade própria.

Temos na tela uma família com tonalidades e diferenças e a multirracialidade deles é um dos aspectos mais interessantes, pois se respeitam e se amam. As mulheres se destacam por serem tão potentes quanto os personagens masculinos e logo ao inicio do filme entendemos que Ethan é um personagem LGBTQ. A apresentação da vida amorosa do rapaz é natural e não soa nada lacradora ou impositiva e o filme consegue construir um bom caminhar para relações familiares que tem muitos conflitos, mas nada que vá contra a vida do outro. Apenas preocupações normais e sensíveis de bem estar.


O filme nos entrega um visual impressionante e muito adequado para animações Disney. Os seres e organismos que conhecemos são altamente estranhos e, ainda que se pareçam com um ou outro bicho da fauna universal, são totalmente diferentes. Splat, uma gosma azul andante que se afeiçoa do grupo é o menos perigoso do lugar e um dos bichinhos que promete trazer muitas gargalhadas as crianças e adultos. A participação ativa do cachorro da família Clade em toda as aventuras também. As construções todas aliás, nos fazem rir e nos emocionam pela boa intenção que a produção parece querer causar.

A dublagem brasileira como sempre arrasa. Marcos Campos dá vida a Searcher Clade, Caio Freire a Ethan e Luiz Antônio Lobue ao vigoroso Jaegar Clade. Carla Masumoto é Callisto Mal, a personagem que também é de Lucy Liu e Marisa Mainarte é Meridian, a esposa de Clade, no original interpretada por Gabrielle Union. A indicação certa é assistir em qualquer idioma, mas o produto que a distribuidora entrega no Brasil é de alta qualidade, então não há porquê não ver dublado.

Henry Jackman assina a trilha sonora do filme e esta embala bons momentos da viagem conseguindo energizar toda a estranha jornada dos personagens meio a fuga e andanças por este novo mundo. O canal da Walt Disney até disponibilizou um vídeo especial sobre o som do filme e é super indicado assistir (clique aqui).  

Em suma, a animação causa amorosidade e afeto e é disso que toda jornada precisa. Um colorido primoroso, traços super especiais e personagens cheios de encanto e bravura.

Avalição: Três reencontros de amor (3/5)

HOJE NOS CINEMAS

A Esposa de Tchaikovsky, de Kirill Serebrennikov | 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


                                                                                                                 APRESENTAÇAO ESPECIAL
Exibido no Festival de Cannes   

Baseado tragicamente em fatos do passado, "A Esposa de Tchaikovsky" é uma sofrida história sobre abandono, irresponsabilidade afetiva, homofobia e amor não correspondido. Mais um grande filme do diretor Kirill Serebrennikov, este filme soma-se a Verão (2018) e A Febre de Petrov (2021) como exemplos da pujança e coragem do cinema russo, mesmo que sob a mira de lideranças políticas autoritárias.

Tchaikovsky (Odin Lund Biron), o grande compositor russo do século XIX, é um homossexual enrustido nos salões da nobreza de São Petersburgo e Moscou. Antonina (Alyona Mikhailova), ingênua e religiosa estudante de música, apaixona-se perdidamente pelo gênio da música. Tchaikovsky, após muita insistência da enamorada, casa-se com ela por causa do dote e para fugir da maledicência da sociedade. Como já era de se esperar, o casamento nunca foi consumado e após algumas semanas, o compositor, após um colapso nervoso e bloqueio criativo, abandona para sempre a esposa.

Estas poucas semanas de casamento consomem a vida de Antonina. Incapaz de aceitar a verdade sobre o marido, consumida por um amor infinito, recusa-se a se divorciar, dedicando o resto da vida a tentar reconquistar o seu amado. Tchaikovsky continua sua carreira brilhante, tornando-se um dos pilares da música clássica ocidental, enquanto Antonina definha, consumida pela dor e pelo amor não correspondido. Amasiada com seu advogado, gera crianças mas as abandona em orfanatos, com a vida sempre em compasso de espera, no aguardo de alguém que nunca retornará.


Ficha Técnica
tulo original e ano: Zhena Chaikovskogo, 2022. Direção e Roteiro: Kirill Serebrennikov. ElencoAlyona Mikhailova, Odin Lund Biron, Miron Fedorov, Yuliya Aug, Filipp Avdeev, Andrey Burkovskiy. Gênero: Biografia, Drama. Nacionalidade: Rússia, França e Suiça. Trilha Sonora Original: Daniil Orlov. Departamento de Som: Vasiliy Fedorov. MontagemYuriy Karikh.  Fotografia: Vladislav Opelyants. Design de Produção: Vladislav Ogay. ProdutorasHype Film, Charades Productions, Logical Pictures, Bord Cadre Films. ProdutorIlya Stewart. Distribuição: Imovision. Duração: 02h23min.

A atriz Alyona Mikhailova interpreta brilhantemente a esposa. Em um roteiro multifacetado, presenciamos a ingenuidade, determinação, ninfomania e paranoia desta personagem histórica, que foi tratada pelos biógrafos do marido como uma louca obsessiva, insistente perseguidora do amado famoso.

Com as licenças poéticas de um roteiro de ficção, Antonina, nestas duas horas e meia, desce aos infernos da existência humana, assombrada por paranoias, depressões e doenças. A fotografia belíssima emoldura estas cenas em sequências surreais e alegóricas. Há muito de erotismo masculino em pauta, inclusive com muitos nus frontais, ainda raros nas telas de cinema. As sequências com os mendigos nas portas da igreja lembram bastante o humor e empatia com que Buñuel os representava em suas obras-primas. A cena final de dança, com muitos homens despidos e uma Antonina desaparecendo no escuro de uma viela, após a morte do amado Tchaikovsky, é trágica e belíssima.


A verdadeira Antonina, após a morte de Tchaikovsky por cólera, passou vinte anos em um asilo para loucos. Como até hoje, o sofrimento feminino ainda é rebaixado à loucura. Culpada por amar demais alguém que não poderia lhe corresponder, a esposa tem aqui uma biografia ficcional à sua altura. Uma trágica história de amor, sonorizada pela trilha genial das peças imortais do grande compositor russo Tchaikovsky.

Nota: 9/10.

Serial Kelly, de René Guerra | Assista nos Cinemas


“Eu sou uma puta assumida”!
Tal como acontece com o tipo de música que consagrou a cantora paraense Gaby Amarantos, a aparelhagem, este filme se destaca pela antropofagia referencial: é uma mistura que assimila todos os universos artísticos possíveis, transladando-os para uma conjuntura caracteristicamente brasileira, já que o filme se passa no Estado de Alagoas. Para que os cinéfilos saibam o que vão encontrar aqui, é como se “Pink Flamingos” (1972, de John Waters) e “Thelma & Louise” (1991, de Rodley Scott) fossem fundidos à estética brega, com toques de “Afogando em Números” (1988, de Peter Greenaway). Qualquer descrição é incapaz de sintetizar a pletora de elementos que atende pelo nome de “Serial Kelly”, de René Gerra!

Na cena inicial, a protagonista percebe-se cercada por um forte aparato policial. Caminhando de maneira ousada, ela é advertida de que precisa parar num determinado ponto, sob pena de ser alvejada por tiros. Percebendo que há um facho que luz que emula a iluminação de um palco, Kellyane (Gaby Amarantos) desobedece a esta regra, dá mais um imponente passo e começa a cantarolar, ‘à capella’, a letra de “Me Usa”, da Banda Magníficos: “Momentos de amor/ Quero com você/ Momentos eternos, pra nunca esquecer/ Se você me ama, me leva pra cama/ Acende essa chama de amor e querer”… Estabelece-se assim o ritmo dominante deste filmaço!
Créditos: Divulgação
Para o diretor, René Guerra, a cantora belenense é a interprete ideal para a cantora Kelly. “Gaby Amarantos é uma das artistas mais corajosas que conheço. Tudo no filme é político. Não rimos dela, rimos do absurdo que está no entorno dela. E da impossibilidade de evitar a pulsão trágica que permeia a personagem”. 

Depois dos créditos iniciais, em que testemunhamos o primeiro crime cometido pela protagonista, passamos a acompanhar o seu cotidiano profissional, no qual ela trabalha como animadora de um bordel improvisado, comandado pela raivosa Faísca (Aline Marta Maia), que trata Kelliane com aparente hostilidade. Logo saberemos o que está por detrás do relacionamento entre elas. Esta é a primeira parte do enredo, “Céu”, cuja violência intrínseca denota que o “Purgatório” e o “Inferno” não serão nada fáceis. Na vida de algumas mulheres, o sofrimento vem acompanhado dos contínuos maus tratos ofertados pela sociedade…

É nesse sentido que somos apresentados à antípoda de Kelliane, uma delegada que assume aspecto de antagonista, mas que parece compreender as razões que levam a personagem-título a assassinar os seus agressivos desafetos: Fabíola (Paula Cohen) não é devidamente respeitada por seus subordinados, em razão de ser mulher. Para piorar, ela percebe que eles tratam com desdém algumas vítimas, a depender de suas condições sociais. Quando é convocada para investigar o brutal homicídio de uma travesti, ela deduz que, “por aqui, cada defunto tem um cheiro diferente”. Por eventualmente submeter-se a programas sexuais, a vítima é declarada culpada por sua própria morte, o que indigna bastante Fabíola, em suas diligências policiais.
Créditos: Divulgação
O elenco celebra a diversidade e é formado por Gaby Amarantos, Paula Cohen, Igor de Araújo, Marcio Fecher, Thomas Aquino e Thardelly Lima

Ainda que se esforce para não espetacularizar a situação de Kelliane, convertida em “assassina serial” pela mídia sensacionalista, Fabíola comunica-lhe que ela é suspeita de cometer vários crimes e, como tal, não pode sair da cidade de Arapiraca, sob pena de ser considerada foragida. É obvio que ela desacata essa determinação, numa ambivalência de comportamentos femininos que assumirá uma verve mais ostensiva quando Kelliane testemunha um desfile de moda ‘gospel’, num ‘shopping center’, antecipando aquilo que ela vivenciará na segunda parte do filme, quando encontra a sua irmã, Wellany (Ane Oliva), casada com um pastor evangélico (Márcio Fecher).

Se a fotografia de Pedro Urano merece aplausos pelas cores fortes com que acompanha a saga de Kelliane – não tendo pudor em relação à exposição da nudez masculina – a montagem de Eva Randolph não funciona tão bem, visto que os ‘flashbacks’ invadem de maneira confusa a narrativa. Além disso, o vigor dos atos sobrevivenciais de Kelliane contrastam diretamente com o aspecto permanentemente ébrio das atitudes da Fabíola, que chega a abandonar, irritada, uma entrevista ao vivo, num programa telejornalístico de caráter duvidoso. Tais efeitos são propositais, em razão de reforçarem o elã feminista da trama, que deixa claro o seu repúdio aos privilégios concedidos aos ditos “cidadãos de bem” (na acepção mais hipócrita da expressão). O resultado é disfuncional, mas a tentativa é amplamente válida: em seus grunhidos de tesão e fúria, é um filme espontaneamente militante, portanto.

Na terceira parte do filme, fica-se evidente o quanto o roteiro coloca-se ao lado da protagonista, ainda que não consiga salvá-la de um destino trágico, conforme ocorre na realidade que o inspirou. Inclusive, a película conta com a última participação de Roberta Gretchen, falecida em 2020, que protagonizou o ótimo curta-metragem “Vaca Profana” (2017), também realizado por René Guerra. E esse é um dos variegados píncaros emocionais deste filme, que conta com uma trilha musical muito inspirada, que mistura desde canções famosas de Edson Gomes e Rosemary até uma versão inaudita do clássico “Psycho Killer”, da banda estadunidense Talking Heads. E é muito sintomático que “Serial Kelly” esteja estreando agora: é o tipo de filme que precisa voltar a ser produzido no Brasil, coroando a derrota do bolsonarismo nas eleições. Que ressurja um cinema brasileiro que não tenha medo ou nojo do sexo. Nem da revolta das mulheres!
Trailer


Ficha Técnica
  • Título original e ano: Serial Kelly, 2022. Direção: René Guerra. Roteiro: Rene Guerra e Marcelo Caetano. Elenco: Gaby Amarantos, Paula Cohen, Igor de Araújo, Marcio Fecher, Thomas Aquino e Thardelly Lima. Gênero: Comédia. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Pedro Urano. Edição: Eva Randolph. Direção de Arte: Karen Araújo. Edição de Som: Bernardo Uzeda. Coordenador de Finalização: Elaine Azevedo e Silva e Juca Diaz. Distribuição: Vitrine Filmes. Duração: 80 minutos.

Com distribuição da Vitrine Filmes, a produção tem estréia prevista na cidades de: Rio Branco (AC), Maceió (AL), Manaus (AM), Sobral (CE), Brasília (DF), Vitória (ES), Goiânia (GO), Belém (PA), Parauapebas (PA), Santarém (PA), Jaboatão dos Guararapes (PE), Recife (PE), Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Aracaju (SE), São Paulo (SP) e Palmas (TO).

HOJE NOS CINEMAS

Até Os Ossos, de Luca Guadagnino | 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


                                                                                                                  APRESENTAÇÃO ESPECIAL
Vencedor do prêmio de melhor diretor para Luca Guadagnino, e de melhor jovem atriz para Taylor Russell no Festival de Veneza.

Luca Guadagnino é um dos grandes diretores do momento. Responsável por sucessos como Um Mergulho no Passado (2015), Me Chame pelo Seu Nome (2017) e o remake Suspiria(2018), sua carreira pauta-se pela ousadia e inconformismo, afinal, nunca sabemos o que esperar de seu próximo filme. Tal característica é amplamente reconhecida por prêmios e participações em festivais. Seu nome é um chamariz para atores do primeiro escalão.

E o diretor italiano surpreende mais uma vez! Até os Ossos é um filme ousado, maldito e inusitado! Nos seus 130 minutos, uma estória de amor entre psicopatas canibais comove, aterroriza e enoja num sentimento misto de empatia e horror - emoção raras vezes sentida nas salas de cinema. 

Créditos: Yannis Drakoulidis / Metro Goldwyn Mayer Pictures   
O filme contou com duas sessões na 46ª Mostra Internacional de São Paulo 

A excelente atriz Taylor Russell vive a secundarista Maren. Aparentemente uma adolescente normal, ela tem compulsão por carne humana. Na sua última aventura, decepa o dedo de uma colega de escola e na fuga desesperada da cidade, é abandonada pelo pai, que não aguenta mais a situação.

O pai deixa para Maren um pouco de dinheiro, a certidão de nascimento e uma fita cassete, onde conversa com a filha sobre seu passado. Maren é uma assassina cruel, que já matou várias pessoas e se alimentou de seus corpos, desde criança de colo. Com a certidão nas mãos, a jovem abandonada resolve ir à sua cidade de nascimento, à procura da mãe, que a abandonou bebê aos cuidados do pai.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Bones and All, 2022. Direção: Luca Guadagnino. Roteiro: David Kajganich e Camille DeAngelis. Elenco: Taylor Russell, Timothée Chalamet, Mark Rylance, André Holland, Chloë Sevigny, Jessica Harper, David Gordon Green, Michael Stuhlbarg, Jake Horowitz. Gênero: Drama, Terror, Romance. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Trent Reznor e Atticus Ross. Fotografia: Arseni Khachaturan. Direção de Arte: Victoria Resendez. Edição: Marco Costa. Figurino: Giulia Piersanti.  Distribuição: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 130min

Nessa procura pelas origens, a canibal encontra outros devoradores como ela. Pessoas assustadoras que, farejando-se entre si, compartilham o mesmo gosto por carne humana. Dentre estes monstros, Maren encontra Lee (Timothée Chalamet). Estes dois belos jovens apaixonam-se perdidamente e uma bela e comovente estória de amor se desenrola aos olhos do espectador que, com horror e comoção, acompanha assassinatos bárbaros, conversas ternas e lindas cenas de amor.

Para atrapalhar o casal, temos os outros devoradores, além de crises de consciência da Maren. Assassinar e alimentar-se de suas vítimas é uma rotina na vida do casal! Alias, o restante dos canibais são coadjuvantes fantásticos! Mark Rylance, Chloë Sevigny e Michael Stuhlbarg brilham em atuações memoráveis. Mark Rylance, interpretando o canibal Sully, tem tudo para ser lembrado no Oscar, pois sua atuação gera calafrios desde que entra em cena.

Ao que parece, Bones and All, título original do filme, é possivelmente o melhor filme do ano. Ousado, surpreendente, ganhador dos prêmios de direção e de melhor jovem atriz no Festival de Veneza de 2022, é daquele tipo de cinema que deixa sua marca, assombrando e impactando o espectador por muitos dias. Assistam, é imperdível!

Nota: 9,5/10.

SESSÕES ANTECIPADAS DISPONÍVEIS

Sra. Harris vai a Paris , de Anthony Fabian | Assista nos Cinemas


Sra. Harris Vai a Paris: Um conto de fadas da terceira idade

Alerta de spoiler: ela realmente foi a Paris! Neste longa-metragem, acompanhamos a jornada da faxineira Ada Harris (Lesley Manville), que cumpre sua rotina diária, sendo uma mulher invisível enquanto faz a vida de todos ao seu redor melhor. Ela é uma nata sonhadora, e depois de receber a triste notícia de que o marido morreu dez anos atrás na guerra, Ada redescobre que ainda tem muito o que viver, graças aos sinais que acredita serem enviados pelo falecido Eddie, amor de sua vida. No seu cotidiano, em Londres, ela é conhecida e querida pelas pessoas que estão à sua volta. Mesmo os mais autocentrados, como uma das patroas de Ada que é aspirante a atriz

Não é a primeira vez de Lesley Manville em um filme que explora o mundo da moda, ela participou de ‘Trama Fantasma’. Mas em ‘Sra Harris Vai a Paris’, longa ambientado nos anos 50, nós seguimos Ada e sua história, até encontrar a motivação certa para tal: um vestido. O vestido Dior. Aqui, temos um filme que romantiza a costura e a arte por trás dela. Ada, além de faxineira, tem mãos habilidosas para  trabalho, e ao se deparar com O vestido da patroa, quer alcançar a meta de poder comprar um destes belos modelos. Então, vemos o quanto ela luta e se esforça para juntar o dinheiro das faxinas, e cada trocado suado, para alcançar esse sonho.

Lesley Manville dá vida a bondosa Ada, que pode até ser considerada uma espécie de Cinderela da terceira idade, a atriz faz com que torçamos pela humilde senhora, logo, compramos o sonho dela, e sonhamos junto. E então a mulher consegue o dinheiro necessário para chegar até Paris. Mas chegando lá, nem tudo é o que parece ser, porque a realidade é bem diferente do que esta sonhou. A cidade Parisiense está com lixo espalhado para todos os lados - o pano de fundo na trama é uma greve dos trabalhadores por toda a bela cidade da torre Eiffel.

Créditos: © 2021 Ada Films Ltd - Harris Squared Kft.  
O longa foi filmado ao final de 2020 e era previsto lançamento para fevereiro de 2021, mas foi postergado por conta da pandemia.

Nossa protagonista tem como traço principal, além de sonhar alto, a bondade e talvez, uma pureza que por diversas vezes a torna corajosa o suficiente, ou demasiado inocente, para entrar em situações adversas. Ao chegar na Casa Dior, Ada chama a atenção de todos por ser uma figura jamais vista num ambiente onde só modelos, madames da alta sociedade, figuras públicas, chefes e gente endinheirada frequenta.

Na época, Christian Dior era um estilista de uma marca de alta costura, que oferecia modelos exclusivos. Todos os funcionários da Casa Dior se encantaram com Ada, que se fez presente e não deixou a expulsarem do local. Mesmo a contragosto de Claudine Colbert, interpretada pelo grande ícone da atuação, Isabelle Huppert, Ada foi acolhida por André Farrell, o tímido e desajeitado contador da empresa, interpretado por Lucas Bravo (Emily In Paris). Lucas consegue, finalmente, interpretar o mocinho que ele nasceu para interpretar, já que seu personagem é apaixonado pela modelo que representa a Dior, Natasha (Alba Baptista). Ambos dão vida a personagens que se afeiçoam a Ada, e mesmo sendo secundários, conseguem entregar para o público, química e carisma com o pouco tempo que ambos têm de tela. Alba interpreta uma modelo que não se vê naquele lugar de glamour e festas, nos holofotes. E acaba descobrindo que tem muito em comum com o contador. 

Em Paris, Ada se diverte, tira um tempo das faxinas, e percebe que ainda há espaço para novas paixões. Ela também aprende que tem valor, e não é uma mulher invisível. Seu trabalho como faxineira é importante, e sem sua ajuda, as pessoas ficariam perdidas Em sua jornada pela cidade Luz, Ada aprende mais sobre o significado e a importância da Casa Dior, bem como a valorização de cada etapa do trabalho dos funcionários da marca. A protagonista agita as coisas por lá, afinal, somente com a sua chegada e ajuda, eles conseguem transformá-la em algo maior do que somente alta costura. A mulher também retorna de Paris mais segura de si. Segura de que as pessoas precisam sonhar, principalmente em tempos difíceis.

Créditos: © 2021 Ada Films Ltd - Harris Squared Kft.  
O palco do filme é situado em 1957, o mesmo ano em que o estilista Christian Dior faleceu devido a um ataque cardíaco.

O filme nos encanta com o tom leve de abordar os acontecimentos. Suas reviravoltas acabam soando um pouco dentro do comum, sem inovar. Mas a película não busca trazer uma nova fórmula de nada para o cinema, e às vezes, se redescobrir assistindo uma comédia dessas, é a melhor maneira de continuarmos sonhando também. Além de tudo, seguindo as regras da boa ''costura'', a atuação de todo o elenco, carrega uma química encantadora, onde todos tem sua função bem executada. Incluindo Jason Isaacs (Harry Potter), sempre conhecido por seus vilões. Aqui nós o vemos menos caricato e mais leve. O ator britânico tem até mesmo um tom de mocinho daqueles dignos de um bom romance.

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Ficha Técnica

  • Título original e ano: Mrs. Harris Go To Paris, 2022. Direção: Anthony Fabian. Roteiro: Antony Fabian, Carroll Cartwright, Keith Thompson e Olivia Hetreed - baseado no livro homônimo de Paul Gallico. Elenco: Lesley Manville, Lucas Bravo, Isabelle Huppert, Lambert Wilson, Alba Baptista,  Jason Isaacs, Ellen Thomas, Christian McKay. Gênero: Drama, Romance. Nacionalidade: Reino Unido, Canada, Hungria, França e Belgica. Trilha Sonora Original: Rael Jones. Fotografia: Felix Wiedemann. Figurino: Jenny Beavan. Edição: Barney Pilling. Design de Produção: Luciana Arrighi. Distribuição: Universal Pictires Brasil. Duração: 01h55min.

A obra é uma adaptação homônima de Paul Gallico, de 1958, com uma única versão publicada em 1992, chamada de ’Um Sonho em Paris’. A adaptação é dirigida por Anthony Fabian, que assina o roteiro junto de Carroll Cartwright, Keith Thompson e Olivia Hetreed. Lesley Manville, também assina a produção, além de ser a protagonista. Mas o figurino e a trilha sonora são os verdadeiros protagonistas da obra. O figurino é assinado por Jenny Beavan, responsável por filmes como Mad Max Estrada da Fúria’ (2016) e ‘Cruella’ (2021). As peças de alta costura são belas de se ver, e os figurinos do dia a dia também. Já Rael Jones assina a trilha sonora, que nos faz entrar no universo deste filme, e sentir todas as emoções, conforme o plot se desenvolve.

E assim como a Senhora Harris, nós conseguimos ir a Paris, junto a ela, nesta comédia “Feel Good”. E quando o filme acaba, somos inspirados a encontrar motivações para sonhar, mesmo com todos os percalços pelo caminho.


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