APRESENTAÇÃO ESPECIAL
Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza
“All the Beauty and the Bloodshed” significa em português “toda a beleza e o derramamento de sangue”. Citação de Joseph Conrad, o grande romancista britânico-polonês de Coração das Trevas, base do roteiro de Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, essas palavras do título resumem bem este documentário vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza de 2022.
Dirigido pela diretora norte-americana Laura Poitras, ganhadora do Oscar de ''Melhor Documentário'', em 2015, por Citizenfour, esse excelente filme de quase duas horas de duração segue a vida da fotógrafa Nan Goldin, em todo o seu esplendor e tragédia, em toda sua beleza e derramamento de sangue.
Começando com a tragédia do suicídio de sua irmã, acompanha-se a trajetória de Nan desde sua infância até a atualidade, em que se relata sua batalha contra a poderosa e rica família Sackler, dona do conglomerado farmacêutico que fabrica remédios contra dor à base de opióides altamente viciantes.
Ficha Técnica
Título original e ano: All the Beauty and the Bloodshed, 2022. Direção: Laura Poitras. Elenco: Nan Goldin, David Armstrong, Marina Berio, Noemi Bonazzi, Harry Cullen, Megan Kapler, Patrick Radden Keefe, Annatina Miescher, Cookie Mueller, Sharon Niesp, Darryl Pinckney, Alexis Pleus. Gênero: Documentário. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Soundwalk Collective. Fotografia: Nan Goldin. Edição: Joe Bini, Amy Foote e Brian A. Kates. Produtora: Participant. Produtores: Howard Gertler, John Lyons, Nan Goldin, Yoni Golijov, Laura Poitras.Distribuição: Diamond Films Brasil. Duração: 01h53min.
Nan Goldin é uma pessoa admirável! Conhecer sua vida e suas lutas é um presente para o espectador. Uma das melhores fotógrafas do mundo, suas polaroides do cotidiano e momentos íntimos de seus amigos e família são belíssimos e fascinantes. Verdadeiros documentos de uma época, ela retrata a cultura LGBTQIA+ com fotos ao mesmo tempo ternas e atrevidas. Participante de todos os movimentos dos anos 70 para cá, ela presenciou a hecatombe da epidemia da AIDS, a tragédia das drogas e das overdoses, a pujança da cultura underground, a luta pelos direitos das minorias, toda a beleza e o sangue de uma Nova York considerada o centro do mundo.
Em duas narrativas paralelas, acompanha-se o passado da Nan e seu presente de lutas contra a família Sackler. Nos acontecimentos recentes, vê-se as manifestações da fotógrafa e seu grupo de ativistas, que vão aos principais museus do mundo protestar contra as galerias que homenageiam a família mafiosa. Os Sackler, com suas fortunas incalculáveis, doam muitos dólares aos museus, que nomeiam galerias com seus nomes. Nan, em happenings muito divertidos, protestam contra essa contradição. Como, por exemplo, o Louvre tem coragem de laurear uma família que causa tanto sofrimento ao mundo? A crise de opióides nos EUA já é algo tão sério que virou problema de saúde pública, se tornando responsável por muitas overdoses, suicídios e destruições de famílias.
O final comovente são as vitórias parciais da Nan, como ela e seus amigos, com muito esforço, conseguiram banir o nome Sackler dos museus. Entre glórias e derrotas, as contribuições dessa magnífica fotógrafa são apresentadas neste fascinante documentário. As tragédias familiares e dos seus amigos não derrotaram essa mulher inspiradora. Um trabalho belíssimo que o mundo inteiro pode conferir e apreciar. O recurso estilístico da diretora Laura Poitras de mostrar centenas de fotografias em trechos distribuídos nos segmentos do filme é muito didático, no sentido de apresentar o legado de Nan para quem não a conhece.
Nota: 9/10.
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