PERSPECTIVA INTERNACIONAL
Exibido no Festival de Locarno
Alexander Sokurov é um diretor dos diretores. Um dos maiores do nosso tempo, este russo, nascido em 1951, é notável por seus avanços técnicos e filmes vanguardistas, sempre apontando novos caminhos para a sétima arte. Arca Russa (2002), Pai e Filho (2003), Fausto (2011), este último vencedor do Leão de Ouro em Veneza. E os prêmios de diversos outros festivais se acumulam, exemplo de sua arte inovadora.
Conto de Fadas é mais um a se somar à sua filmografia de grande destaque. Produção belgo-russa de 2022, é uma animação gráfica que apresenta um Purgatório aterrorizante cheio de cópias de Hitler, Mussolini, Churchill e Stalin. Esses gênios da carnificina e do mal da segunda guerra mundial atormentam-se uns aos outros, discursando para massas informes de soldados e civis mortos nesta guerra que matou milhões de inocentes.
Para apimentar o roteiro, neste Purgatório há ainda Jesus Cristo e um Deus que de vez em quando desperta a cobiça destes líderes de guerra, oferecendo a abertura das portas de saída deste limbo aterrorizante. Essa confusão de conceitos religiosos e políticos desperta o interesse do espectador, é pauta para discussões de bar e reflexões. Por exemplo, por que Jesus no Purgatório? Por que Churchill da Inglaterra democrática é comparado a ditadores como Hitler, Mussolini e Stálin?
Ficha Técnica
Título original e ano: Skazka, 2022. Direção e Roteiro: Alexander Sokurov. Narração: Alexander Sagabashi, Vakhtang Kuchava, Lothar Deeg, Fabio Mastrangelo, Tim Ettelt, Pascal Slivansky. Com imagens de arquivo de Adolf Hitler, Benito Mussolini, Iosif Stalin, Winston Churchill, Gênero: Fantasia. Nacionalidade: Bélgica e Rússia. Departamento de Som: Aleksandr Vanyukov. Música: Murat Kabardokov. Produtora: Intonations. Produção: Nikolay Yankin. Distribuição: Imovision. Duração: 78min.
Pulando as discussões ideológicas, a técnica de filmagem é pegar fotografias dos personagens históricos em anos distintos e dar-lhes movimentação através dos milagres da computação gráfica. Tem-se então várias figuras de Stálin conversando entre si. É um artifício aterrorizante, monstros quadruplicados, apresentando toda sua estupidez. Outro método assustador é quando as massas de soldados e civis mortos desfila pelas galerias do Purgatório, sem forma e sem rosto, bocas abertas em murmúrios e uivos.
O filme é uma experiência de pesadelo. Este Purgatório enxameado de ditadores, aterrorizados por mortos em batalha, em paisagens de Gustave Doré para A Divina Comédia de Dante, são imagens inesquecíveis do horror e do sofrimento que é uma guerra mundial. O roteiro deixa mais dúvidas do que as esclarece, exatamente como um sonho ruim.
Alexander Sokurov mais uma vez cumpriu sua missão e alargou a pontapés os limites do cinema. Excelente em fazer isso, este mestre russo lançador de tendências nunca decepciona. Seus filmes artísticos são exibidos em festivais e são os queridinhos da crítica por causa de suas ousadias. Nem sempre bem entendidos pelos espectadores, devem ser assistidos, pois fazem pensar, cumprindo um dos requisitos da arte, que inclui a reflexão como uma de suas missões.
Nota: 7/10.
1 comments:
Acabei de ver o filme. Compartilho de seu estupor. É bem isso mesmo. Achei esplêndido. Sokurov foi na veia!
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