PERSPECTIVA INTERNACIONAL
Exibido na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes
Na década de 1970, o casal francês Philippe Ernaux e Annie Ernaux aproveitaram um período de bonança econômica e resolveram comprar uma câmera super 8. Com essa maravilha tecnológica, resolveram registrar as festas e férias da família, complementada por dois meninos e a mãe de Annie. Entre os anos 70 e 80, filmaram comemorações de natal, ano novo, aniversário, e também viagens ao Chile, a Marrocos, União Soviética, Bulgária e outros, além de passeios pelas províncias da França.
Na década de 80, com os filhos já adolescentes, o casal se separou, a câmera ficou com o homem, os filmes silenciosos com a esposa. Os registros em super 8 foram cuidadosamente guardados até que um dia, em 2022, um dos filhos, David, e Annie, mãe deste último, resolveram fazer um documentário, aproveitando o material filmado. A narração ficou a cargo da mulher, suprindo o material silencioso com um roteiro explicativo. Só que Annie Ernaux é uma fantástica escritora francesa, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 2022, adepta da autoficção, que utiliza relatos pessoais, vividos pelo autor, para mostrar sua visão do mundo, estilo usado aqui no Brasil com muito talento pelos escritores Julián Fuks e Ricardo Lísias. O documentário Os Anos do Siper 8, de apenas uma hora, usa esse método. Annie Ernaux consegue contar a história de sua família, mesclando-a com a história da França e do mundo nas décadas previas aos anos noventa, com muita argúcia e inteligência, numa visão analítica da vida da pequena burguesia francesa.
Título original e ano: Les Années Super 8, 2022. Direção: David Eernaux-Briot; Annie Ernaux. Roteiro: Annie Ernaux. Nacionalidade: França. Gênero: Documentário. Triha Sonora Original: Florencia Di Concilio. Som: Rim Debbarh Mounix e Melissa Petijean. Fotografia: Philippe Ernaux. Edição: Clement Pinteaux. Produtora: Les Films Pelleas. Produtores: David Thion, Philippe Martin. Duração: 60min.
É como se estivéssemos lendo um livro da escritora. O estilo é o mesmo. Fazendo uma análise da esquerda e direita na época, de ditaduras e democracias, da pequena burguesia e seu consumismo, da cultura da imagem e da aparência, ela não poupa ninguém, nem ela mesma. Marido, filhos, parentes, todos são dissecados e expostos nas suas idiossincrasias e falhas.
Não espere grandes feitos técnicos na montagem, edição e trilha sonora, aspectos técnicos do cinema, o que importa aqui é o texto dessa escritora difícil, implacável e racional. O bom de se assistir esse documentário é que somos impelidos em ler seus livros, assim que termina a exibição. Inteligência é sempre bem-vinda no mundo das artes, literatura ou cinema. Annie Ernaux é uma grande escritora, seu documentário é um puxadinho da sua literatura. Uma boa descoberta para o público.
Nota: 7/10.
Vinheta da Mostra SP
Horários de exibição
26/10
21:20
CINEMATECA - SALA GRANDE OTELO
27/10
14:00
CINE MARQUISE Sala 1
28/10
15:50
CINESESC
30/10
20:40
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
26/10
21:20
CINEMATECA - SALA GRANDE OTELO
27/10
14:00
CINE MARQUISE Sala 1
28/10
15:50
CINESESC
30/10
20:40
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
Mais informações e compra do ingresso, visite o site da Mostra SP.
Site Oficial: https://46.mostra.org/
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